Muito antes do sol tocar os picos da Seita Flor do Alvorecer, o salão interno já se encontrava iluminado por lanternas espirituais. A brisa da montanha soprava entre os pilares de jade, trazendo o aroma das flores celestes e o som distante dos sinos.
Em um terraço suspenso, onde o vento carregava o perfume das flores sagradas e a reverberação do mundo espiritual, quatro figuras estavam reunidas: Shai Mei, Yenara, Kaela e Xian’er. Filhas da Matriarca. Irmãs moldadas sob o rigor dos imortais e pela perfeição esperada daqueles que caminham acima das nuvens.
Yenara girava um talismã de papel entre os dedos, observando as linhas mágicas dançando como fumaça viva. Xian’er cochilava encostada a uma coluna, os cabelos espalhados como névoa. Kaela afiava suas garras em sílex ancestral. Shai Mei permanecia de pé, em silêncio, diante do mapa celeste estendido sobre a mesa cerimonial.
Shai Mei foi a primeira a falar. A voz era tão reta quanto sua postura:
"A Matriarca nos deu uma ordem. Quer que partimos amanhã ao amanhecer."
"Ela não deu nenhuma informação sobre por que precisamos descer ao Mundo Mortal?" — perguntou Kaela, sem erguer os olhos.
"Não precisamos saber. Basta obedecer" — respondeu Shai Mei, firme.
"Mas algo está errado." — murmurou Yenara. "O caminho espiritual estremeceu ontem. Algo se abriu... ou acordou."
"Não é sobre aquela pessoa de novo, é?" — disse Kaela em tom de brincadeira, mas com um leve tremor na voz.
"Algo desperta abaixo. Ecos do que foi perdido. Sonhei com um altar antigo... e com um nome que ninguém ousa dizer."
Kaela resmungou, impaciente:
"Bah! Tão sérias, todas vocês. É só um ritual de homenagem a um morto que nem conhecemos. Vamos, fazemos as reverências, fingimos ser cerimoniais... e voltamos."
Xian’er não disse nada. Seus olhos perolados estavam fixos no horizonte, como se algo invisível a chamasse. Ou a esperasse.
"Xian’er?" — disse Yenara, gentilmente.
Xian’er piscou, como quem desperta de um sonho.
"Eu... senti algo. Uma dor antiga. Mas não é minha. É como se estivesse preso no tempo... esperando ser lembrado."
Kaela tentou rir, mas havia tensão no gesto.
"Você anda lendo demais aqueles pergaminhos dos monges sonhadores."
Shai Mei cruzou os braços.
"O que sentimos não importa. A ordem foi dada. Partiremos ao amanhecer."
O silêncio que se seguiu foi pesado como pedra de altar. Shai Mei então fechou o mapa com firmeza.
"Não se atrasem."
E assim foi decidido. O cortejo da Seita Flor do Alvorecer desceria aos domínios dos mortais. O motivo oficial: um ritual de luto e honra. Mas a verdade... talvez fosse mais profunda. Mais silenciosa.
Algo as chamava.
Algo antigo demais para ser ignorado.