03: O Templo Esquecido

A rotina na Vila dos Pedregulhos continuava, como se nada estivesse prestes a mudar.

Mas Jian... sentiu algo diferente. Não era exatamente esperança. Era inquietação.

Acordou cedo, como sempre, e executou suas tarefas em silêncio. Mas agora, seus olhos buscavam mais. Olhava para o horizonte com mais frequência. Observava as caravanas que passavam. Notava os mercadores, os viajantes, os andarilhos.

Cada um carregava algo que ele não tinha: um destino.

Nos olhos de Jian, o mundo parecia suspenso. Como se estivesse preso à espera de algo que não vinha. Mas, em algum lugar dentro dele, algo batia diferente. Como se uma corda invisível estivesse sendo puxada, cada vez com mais força.

No fim de uma tarde, decidi visitar novamente o templo da Deusa esquecida. Levava consigo alguns pães duros e uma jarra com água. Gostava de sentar-se aos pés da antiga estátua decapitada, onde o vento sussurrava como se contasse histórias há muito perdidas.

Entre musgos e pedras partidas, ele encontrou algo que o resto do mundo não oferece: silêncio verdadeiro.

Enquanto mordiscava o pão, escolhia passos leves, como se pisasse sobre memórias antigas. Foi então que uma figura conhecida se mudou.

"Outra vez aqui?" — disse Lin, uma jovem da vila, com um sorriso cansado.

"Aqui está tranquilo. Ninguém gritou comigo" — respondeu Jian, olhando o horizonte.

Ela se sentou ao lado dele e desembrulhou um tecido velho. Dentro, havia dois bolinhos de arroz.

"Peguei na cozinha da Mei Chun. Não conta pra ela."

Ele pegou um, hesitante.

"Obrigado..."

Silêncio.

O sol descia devagar, tingindo as nuvens de vermelho, como se o céu sangrasse lembranças esquecidas.

"Você nunca pensou em sair daqui?" — perguntou Lin, depois de um tempo.

Jian proteína silenciosa.

"Já pensei, sim. Mas sair... pra onde?"

Ela deu de ombros.

"Não sei. Mas talvez... não seja aqui que você deveria estar."

Ele olhou para a estátua da Deusa decapitada. O vento uivou levemente, como se escutasse.

"Eu sinto que tem algo me chamando. Mas não sei o que é. Só... sinto."

Lin ficou em silêncio por alguns segundos, depois sussurrou:

"Minha mãe disse que o destino sussurra antes de gritar. Que às vezes, o primeiro sinal é o silêncio mudando de tom."

Jian franziu o cenho.

"E o que isso quer dizer?"

Ela sorri, triste.

"Que talvez o mundo esteja falando com você. Só que baixinho, ainda."

Ele mordeu o bolinho de arroz, mastigando devagar. Depois de um tempo, disse:

"Eu sonhei de novo."

"Como é que é?"

"Uma voz. Chamava meu nome... não o apelido, o nome mesmo. Mas acordei antes de ouvir o fim."

Lin o observou por um instante. Seus olhos brilharam na penumbra do crepúsculo.

"Talvez esteja na hora de parar de fugir disso."

"Fugir?"

"Do que você sente. Você é você. Você pode ser mais do que o "menino do chão", Jian."

Ele não respondeu. Apenas olhei para o horizonte, onde o céu começava a apagar as cores do dia.

Um raio de vento soprou entre os dois, frio e sutil, fazendo as folhas estremecerem. Jian sentiu um leve arrepio. No chão, ao lado da estátua, algo brilhou por um instante — como se refletisse uma luz que não existia ali.

Era uma pena branca.

Novamente.

Mas agora, parecia mais nítido. Mais viva.

Ele parou, lentamente. Ainda pulsava. Como se estivesse... esperando.

Lin franziu o cenho.

"Essa pena... você já viu ela antes, não?"

Jian assentiu, lentamente.

"Ela me encontra. Sempre."

E juntos, em silêncio, olharam para o horizonte que se tingia de escarlate.

Dessa vez, algo mudou. Eles não sabiam o quê. Mas sentim.

O mundo respirava diferente.