O céu ainda estava cinza quando as quatro irmãs deixaram os altos da Seita Flor do Alvorecer.
Não houve cerimônia. Apenas o som suave das comodidades de seda sobre as pedras sagradas e o farfalhar dos mantos rituais ao vento. O caminho que desciam serpenteava entre penhascos floridos e pontes de corda trançadas por monges cegos. Era um caminho que poucos mortais já haviam tocado — e mesmo os imortais, raramente ousavam trilhar.
Shai Mei caminhou à frente, como sempre. Os olhos fixos na trilha, as emoções dobradas e escondidas sob camadas de disciplina. Yenara vinha logo atrás, seus dedos desenhando linhas no ar, como se as próprias correntes espirituais do mundo respondessem aos seus pensamentos. Kaela se mantinha alerta, as unhas reluzindo à luz fraca da manhã, e o olhar feroz de quem prefere enfrentar inimigos a enigmas.
Xian'er vinha por último. Em silêncio. Seus olhos perolados fixos em um ponto invisível à frente, como se pudesse ver algo que os outros não viam.
"Estamos cada vez mais próximo" — murmurou ela, de repente.
Kaela bufou.
"De quê, exatamente?"
"Do ponto de ruptura. Algo sob a terra... pulsa. Como se respirasse. Como se sonhasse."
"De novo com os sonhos" — disse Kaela, revirando os olhos. "Vocês dão ouvidos demais a vozes que não existem."
"E você dá ouvidos de menos" — respondeu Yenara, sem tirar os olhos do céu. "Esta manhã, os pássaros espirituais voaram para o sul. Todos. Ao mesmo tempo."
Kaela hesitou. Sentiu a dor no ar. Mesmo sem imaginar, percebia: algo havia mudado. Não era apenas mais uma missão.
Naquele momento, o vento mudou de direção.
E com ele, veio um cheiro que não chegou à montanha: ferro queimado e terra molhada.
Shai Mei parou.
"Nesta fenda, o véu se enfraquece. Foi por isso que a Matriarca escolheu este caminho. Menos resistência... menos olhos dos Deuses."
Ela indicou para um vale logo à frente onde árvores negras se contorcem entre neblina, como mãos antigas tentando alcançar o céu. O som dos sinos da seita já não era mais audível ali. Apenas o farfalhar das folhas... e um sussurro.
Xian'er estremeceu.
"Eu sonhei com um nome... e esse nome está vivo."
"Que nome?" —disse Yenara, com um tom de temor.
"Jian" — respondeu ela, em um fio de voz.
As três irmãs se olharam. Nenhum reconhecimento do nome. Mas algo nessa palavra... parecia ecoar. Como se o mundo tivesse sussurrado junto.
"Jian..." — repetiu Yenara, quase como um feitiço.
Shai Mei apertou os punhos.
"Não importa. Vamos ao vilarejo. Encontraremos o templo antigo. Executamos o ritual. Retornamos."
Mas mesmo enquanto dizia essas palavras, Shai Mei sentiu o peso do nome reverberando em seus ossos. E as outras... também sabiam.
Que nada daquilo era apenas um ritual.
Porque, naquela noite, todos sonharam com a mesma coisa: um estátua sem cabeça... e uma pena que caiu do céu, em silêncio.
Enquanto isso, no santuário interno da seita, a Matriarca observava tudo de longe, por meio de um espelho de obsidiana. Seu semblante era neutro, mas os dedos estavam tensos sobre o braço do trono.
"Vão, minhas filhas. Descubram se o passado ainda vive."