06: Encruzilhadas

O céu ainda se desfazia em névoa quando as quatro irmãs da Seita Flor do Alvorecer pisaram na estrada de pedra que levava à Vila dos Pedregulhos. Nenhuma delas falou. O silêncio pesava como um presságio.

À frente, Jian fechava a pequena trouxa com seus poucos pertences: um pedaço de pão, um pano seco, uma garrafa com água... e uma pena branca — tão branca que parecia brilhar mesmo sob a luz pálida da manhã. Ele não sabia por que ainda a guardava. Só sabia que, sempre que a tocava, algo dentro dele estremecia.

Lin o esperava diante da estalagem, os braços cruzados para conter o vento.

"Tem certeza?" — Disse ela.

"Não sei o que vou encontrar... mas sei que não posso mais ficar" — respondeu Jian.

"Você parece diferente" — disse ela, observando-o com um ar curioso.

"Me sinto... como se finalmente me tivesse libertado."

Ela apenas concordou. Não compreendia completamente, mas respeitava.

Na outra ponta da vila, as irmãs avançavam lentamente. As portas se abriram à sua presença como se fossem levadas por uma brisa invisível. Shai Mei andava com a dificuldade de quem sabe que não deve hesitar. Yenara murmurava encantos sob a respiração. Kaela rangia os dentes, desconfiada.

Mas Xian'er... parou.

Seus olhos perolados se alargaram. O ar parece vibrar. Ela sentiu algo familiar — uma batida no mundo que ecoava dentro de si. Um vazio que, por um segundo, pareceu se preencher.

"Ele está aqui" — murmurou.

"Ele quem?" —disse Kaela, já irritada.

Mas Xian'er não respondeu. Apenas caminhou, como em transe, até a praça.

Naquele exato momento, Jian seguiu com Lin até a carroça dos mercadores. O condutor, um velho simpático, já ajeitava os pacotes. Lin falava algo sobre fronteiras e passagens seguras, mas Jian não ouvia. Um arrepio o percorreu. Seus olhos buscaram instintivamente a praça.

E foi quando ele a viu.

Ela também o viu.

Seus olhos se encontraram. Um instante eterno. Havia algo ali — não reconhecimento exato, mas a lembrança esquecida de um laço mais antigo que palavras.

Ela, com cabelos como neve recém-caída.Ele, com cabelos escuros como a noite antes da criação.

O tempo pareceu parar.

Xian'er levou a mão ao peito.

"Jian..." — disse, em voz tão baixa que só o vento escutou.

Mas antes que pudesse se mover um para o outro, o céu estalou. Um trovão sem chuva cortou o horizonte. As folhas do templo sagrado dançaram em redemoinhos.

"Vai!" — disse Lin, puxando Jian de volta ao presente. — "Você precisa ir!"

E ele foi. Sem saber por quê. Sem saber quem ela era. Mas com o coração disparado como tambor de guerra.

A carroça se moveu lentamente, levando Jian rumo ao Reino Baichu.

E no centro da vila, diante do templo renovado, Xian'er encontrou imóvel. Olhando para o ponto onde ele estava desaparecido. Sem saber por que sente esse aperto no peito. Como se uma parte de si fosse tão próxima... e ao mesmo tempo, tão longe.