"Acho que não quero saber, mas por que diz isso senhora Sofi?"
Ivan perguntou em um tom apreensivo, irritado e temeroso. Ele nunca parece que deixa de ficar irritado.
"A profundidade das marcas, e a quantidade de excremento que ele deixou servem como indicativo de que ele estava com pressa. Ele queria voltar o mais rápido para a tribo dele relatar sobre a fonte de alimento que encontrou, mas provavelmente quis pegar algo para comer antes. E foi daquele jeito que ele acabou."
Disse apontando para a marca negra no chão.
"Mas isso só confirma que ele estava animado com a nova fonte de alimento não é? Como isso pode nos ajudar a saber quantos são e você pode ter tanta certeza que estamos com problemas?"
O caçador retrucou.
"A pressa dele indica que eles precisam de novos alimentos urgentemente, e olhe um pouco para as fezes que ele deixou aqui, vê essas pequenos pontos meio esbranquiçados?"
Ela apontou para a fenda onde o goblin espalhou os próprios excrementos sem esboçar reação com o cheiro, coisa que Ivan já não conseguiu, muito menos Gerard e o guia. Felizmente Ivan no precisou se aproximar para ver os pontos que eles se referia.
"Sim oque tem eles?"
"Isso é pele de goblin digerida, querendo dizer que eles ao mesmo tempo estão tanto desesperados por comida ao ponto de recorrer ao canibalismo quanto que eles ainda tem população o suficiente para ser diminuída sem afetar a força da tribo como um todo."
A mulher falou em um tom decisivo.
"M-mas senhora Sofi, não é possível que os goblins simplesmente estejam se predando simplesmente para saciar a fome e decidir os mais fortes? Eles são conhecidos por fazer isso também não é?"
O aldeão que os giou até o campo disse.
E ele não estava errado, goblins são tão férteis quanto coelhos ou ratos, uma goblin fêmea pode ter ate 10 crias em uma gestação, e elas levam apenas 1 semana para maturarem em membros minimamente produtivos da tribo, um jovem adulto por assim dizer.
Logo eles estabeleceram uma lei do forte sobre o mais fraco, já quando nascem os mais rápidos e fortes conseguem amamentar os que não conseguem ficam cada vez mais e ao fim da semana se eles não derem um jeito de conseguir se fortalecer, os mais fracos são comidos pelos irmãos, isso é algo que todos os goblins fazem segundo oque se sabia.
"Verdade eles fazem isso, mas apenas com os mais jovens para separar os mais aptos, se eles continuassem com isso mesmo adultos sua tribo teria problemas para continuar ativa e nem teriam a necessidade de caçar eles simplesmente se devorariam."
Ela disse calma mas decidia.
"Como eles mesmo tem ciência de que consumir outros membros da tribo só vai enfraquece-los a longo prazo, eles não incentivam o canibalismo, apenas quando estão desesperados, e vendo o tamanho dessas pegadas—"
"—Ele provavelmente já era um adulto que estava caçando e por acaso encontrou nosso vilarejo. E como tem restos de goblins nos próprios excrementos eles estão sim desesperados e vendo a quantidade, não foram poucos os que ele comeu, não e mesmo?"
"Não, não foram, e se eles podem se dar ao luxo de um desperdício desse nível..."
"Eles tem membros suficientes para compensar a perda."
Gerard terminou o raciocínio de ambos.
Realmente eles estavam com problemas.
"""""""""""""""""""""""""""""
"Como vamos lidar com isso?? Como podemos lidar com isso???!!!"
Gerard andava de um lado para o outro na casa do chefe da aldeia. Logo depois que eles voltarem do campo ouviram que o chefe tinha acordado e foram contar oque tinham descoberto. Ele desmaiou outra vez quando terminaram.
"Primeiro temos que armar todos que são fisicamente capazes, preencher as falhas do muro, colocar barricadas, obstaculos pelo caminho. Pessoalmente acho que seria bom uma torre para ter mais visão e poder acertamos mais facilmente mas como não sabemos quando vão vir não sabemos se daria tempo de faze-la."
"Mesmo que fizéssemos dificilmente seria útil, temos apenas 4 arqueiros no vilarejo e apenas 30 flechas por aljava no armazem."
A esposa do chefe, Gertrude, disse mesmo com 70 anos ainda tinha uma mente afiada para números.
"Você sabe que eu sou o melhor arqueiro que tem nessa região inteira não é? Com certeza eu sozinho numa torre daria conta de um bom número de goblins mesmo com 10 flechas."
Era um exagero é claro, mas de fato Ivan era o melhor arqueiro da região, quantas pessoas conseguiam acertar uma lebre a quase 200 metros apenas com os olhos.
"Humildade é uma virtude pequeno Van"
A idosa respondeu com um acenar de mão.
"Mas é verdade que devemos maximizar as nossas chances, uma torre é impossível, mas um poste com uma plataforma já não seria tão difícil."
Sofi disse revendo sua bolsa de ervas para ver se tinha algo útil.
"Humnn, é possível mas teríamos que separar muito pessoal para fazermos isso e não somos a comunidade mais numerosa."
A idosa disse, e também estava certa, a vila deles podia ternos dois jovens mais belos e gentis da região, o melhor arqueiro e até a melhor herbologista e bruxa (nunca confirmado mas já aceito como verdade por todos). Mas parecendo querer manter um certo equilíbrio os deuses fizeram com que eles tivessem uma população que nunca desse que a vila foi fundada que passasse de 100 indivíduos, contando adultos e crianças.
Pelo menos também com a falta de mão de obra eles sempre tiveram ótimas colheitas e dificilmente já aconteceram fomes severas, já aconteceram períodos de fome mas não ao ponto de pessoas chegarem a morrer.
"Então é melhor irmos pedir a ajuda da aldeia das sequoias?"
Gerard perguntou, lembrando do jovem lenhador e filho do chefe da aldeia "irmã", que por mais que fosse proximo ainda era preciso pouco mais de um dia a pé para chegar lá.
Um ponto interessante para ressaltar lá é que ambos os assentamentos inciais foram fundados ao mesmo tempo por dois irmãos, um ficou nessa planície com morros férteis para cultivo e o outro fundou outro vilarejo mais afastado em uma floresta cheia de sequoias, uma das maiores árvores que produziam uma das melhores madeiras do reino inteiro, com um domínio quase total desse tipo de madeira o vilarejo "irmão" se desenvolveu rápido e logo virou uma aldeia enquanto o assentamento deles pode virar apenas um vilarejo.
Mas novamente como ponto de equilíbrio, em troca da floresta fornecer madeira de alta qualidade o solo para cultivo era muito restrito. Então eles desenvolveram uma relação mútua de interdependência, madeira e serviços em troca de alimentos e carnes, já que o trabalho dos lenhadores afungentou a maior parte dos animais da floresta deles. Ironicamente a maioria se instalou na floresta perto do vilarejo deles.
"É possível mas por quanto teríamos que pagar para eles?"
"Poderiamos derreter algumas das armaduras dos cavaleiros e dar os lingotes para usarem nos machados."
"Não acha que eles iriam fazer perguntas sobre de onde vieram esse lingotes?"
Rebateu Gertrude para os dois homens.
"Dificilmente todos sabemos que quando se tem um item essencial a disposição, raramente se fazem perguntas de onde ele veio."
Sofi disse em um tom de certeza que não deixava espaço para discussão, coisa que os demais também sabiam que era verdade.
"Muito bem vou falar com Horan sobre isso, talvez ele leve mais tempo para conseguir derreter as cotas de malha então vamos começar o quanto antes."
"É o melhor."
Com um curso de ação pronto todos se preparam para suas respectivas tarefas.
Ivan iria patrulhar a floresta procurando rastros de mais goblins e se possível o local do ninho, Sofi iria voltar para sua cabana e prepar mais remédios e hemostasicos para o confronto e se tivesse tempo estudar um pouco da poção que tinha discretamente coletado na noite anterior, Gerard iria supervisionar o reforço do pequeno muro, além da redistribuição de armamentos. E Gertrude iria ficar responsável pelo chefe do vilarejo como sempre.
Quando estavam prestes a sair o mesmo aldeão (N/A: eles são de um vilarejo mas prefiro ficar chamando os habitantes de aldeia que vilarejo antes ou coisa assim) que tinha guiado eles até a marca negra na plantação apareceu outra vez, e outra vez com uma rosto que mostrava agitação, surpresa e suspeita.
"Honestamente temos que perguntar?"
Ivan disse olhando o homem de meia idade recuperando o fôlego.
"Não... Huff...Mas vão querer vir... Aafff... Principalmente você Gerard."
"Porque?"
Depois de tomar fôlego o aldeão respondeu.
"Tem um comboio grande vindo da direção da aldeia das sequoias.... Aafff... Todos parecem cansados e arrasados... Várias mulheres e crianças... Huuuff... E na frente está o Dan... Bem machucado..."