❄️ Capítulo 23 – O Guardião do Gelo Eterno
Na manhã seguinte, a neve caía mais densa, e o céu estava completamente branco. Reikan, com sua katana embainhada à cintura, guiava o grupo por uma trilha montanhosa, ainda dentro da área do treinamento.
— Onde estamos indo agora? — perguntou Piter, apertando o casaco.
— Ao limite do território onde o gelo se torna... vivo — disse Reikan. — Lá, vocês verão o que espera quem ousa atravessar a Zona Zero sem estar preparado.
Karina suspirou, olhando para o céu cinzento.
— Parece que cada passo a gente dá... o frio piora.
Julhian caminhava calado, os olhos atentos ao redor. Após a provação da Câmara, ele não queria ser pego de surpresa novamente.
— Se isso for mais uma provação psicológica, não estou com paciência — resmungou Kyouran, com as mãos dentro do manto.
— Desta vez, não. O que vocês vão ver... é real — respondeu Reikan.
Após horas de caminhada, o grupo parou diante de um abismo congelado, onde o vento soprava com força suficiente para cortar a pele. Do outro lado, uma enorme caverna jazia entre duas montanhas, coberta por cristais de gelo azulados que pulsavam levemente.
— Aquele é o local conhecido como A Cripta dos Sussurros Gélidos, — explicou Reikan. — Dentro dela repousa um dos Guardões Ancestrais da Zona Zero.
Mike franziu o cenho.
— E por que não entramos direto?
— Porque ele está acordado.
Um silêncio pesado caiu sobre o grupo.
Serena arregalou os olhos.
— Acordado...? Mas... ele está nos esperando?
— Não exatamente. Esse tipo de criatura não espera nem persegue. Ele existe. Um ser moldado pelas tempestades eternas. Se vocês se aproximarem demais... ele os destruirá sem sequer pensar. Não por maldade. Apenas... instinto.
Lentamente, os cristais da caverna começaram a brilhar mais forte, como se tivessem escutado o nome do Guardião. O chão tremeu levemente.
De dentro da escuridão da caverna, dois olhos surgiram: azuis como o próprio coração do inverno, brilhando intensamente.
O ar ao redor congelou. Até o som pareceu desaparecer.
Natália recuou um passo, instintivamente.
— Ele... nos viu?
Reikan fez um gesto para todos ficarem imóveis.
— Sim. Mas ele está... apenas observando. Se estivéssemos a alguns metros mais perto, ele nos atacaria.
Um rugido grave ecoou pelas montanhas. Não era apenas som — era pressão. Um aviso.
E então... a sombra dos olhos sumiu.
O cristal da caverna apagou seu brilho, como se o ser tivesse voltado a dormir.
Julhian engoliu em seco.
— Então... esse é o tipo de coisa que existe na Zona Zero?
— Sim — respondeu Reikan, sério. — E vocês ainda não estão prontos.
O grupo permaneceu parado por alguns minutos, em silêncio, sentindo a extensão do que haviam presenciado. Era diferente de tudo o que enfrentaram até agora. Não era um inimigo com ego, intenções ou planos — era uma força da natureza.
Mike apertou os punhos.
— Então é contra isso que vamos lutar?
Reikan olhou para ele, com um leve sorriso enigmático.
— Isso... e muito mais.
Eles se viraram e começaram a descer a montanha, voltando ao campo de treino.
Karina murmurou, sem olhar para trás:
— Aquilo não era um monstro... era um pesadelo acordado.
Serena assentiu, ainda com os olhos arregalados.
— E está apenas... esperando.
Continua...