Ecos Gélidos da Zona Zero

❄️ Capítulo XXI: Ecos Gélidos da Zona Zero

O silêncio após a batalha era quase sepulcral. Flocos de neve caíam suavemente sobre os corpos dos três guerreiros congelados que agora juncavam o chão, partidos e derretendo lentamente. Mike caminhou entre os destroços, os olhos tingidos de roxo sombrio, e parou diante do corpo do guardião principal.

Ele se ajoelhou, colocando a mão no chão gelado. Um círculo de energia negra se expandiu ao redor dos corpos, envolto em runas antigas que tremeluziam como brasas escuras.

Retornem ao vazio… e sirvam novamente sob minha vontade.

O solo tremeu levemente. Das sombras projetadas pelas formas derrotadas, três novas figuras se ergueram. Eram semelhantes aos guerreiros gélidos, mas agora seus olhos brilhavam em roxo espectral, e as armaduras de gelo foram transfiguradas em versões mais escuras e sinistras.

Kyouran observou com interesse contido.

— Essas sombras… parecem muito mais resistentes do que as anteriores.

— Sim — respondeu Mike, ainda concentrado. — Guerreiros forjados na essência do frio absoluto. Agora são parte da minha legião.

Piter sorriu com o canto da boca.

— Sessenta e nove sombras não são mais suficientes, hein?

Mike se ergueu, satisfeito.

— Nunca são. Cada uma representa uma arma a mais para vencermos os horrores que virão.

Reikan, mais adiante, observava a cena em silêncio, os braços cruzados. Ele se virou, caminhando lentamente até um paredão natural de gelo diante deles — um portão de pedra parcialmente enterrado na neve, marcado com símbolos arcaicos e runas que giravam lentamente em azul.

— Aqui é onde a Zona Zero começa oficialmente — disse Reikan. — A temperatura cairá drasticamente. O frio já não é apenas físico. Ele começa a invadir a mente… e o coração.

Mike franziu o cenho.

— O que isso quer dizer?

— Vocês vão entender. Ou não.

Com um gesto rápido, Reikan traçou uma linha com a ponta dos dedos. As runas se iluminaram e a passagem de gelo se abriu com um som sibilante, revelando um túnel estreito e escuro. Um vento cortante soprou dali de dentro, tão frio que parecia congelar até a luz.

— Sigam-me. Julhian está lá dentro, se ainda estiver vivo.

Sem hesitar, Mike avançou, seguido por Kyouran e Piter. As sombras recém-incorporadas marchavam em silêncio atrás deles, enquanto Torax, Luan e Ragnar lideravam a retaguarda como verdadeiros generais sombrios.

Atravessaram longos corredores de gelo, cavernas que se dobravam em espirais e túneis verticais. Algumas passagens eram tão estreitas que Kyouran teve que deixar as espadas nas costas para passar. A escuridão parecia sussurrar coisas inaudíveis. Vozes. Risos. Gritos.

— Isso não é só frio... — murmurou Piter, suando mesmo no congelante ambiente. — É como se o próprio lugar estivesse... nos olhando.

Reikan caminhava à frente, firme como sempre.

— A Zona Zero tem consciência. Ela sabe que vocês são intrusos. Vai testar suas forças. Vai provocar seus medos. E, se tiverem fraquezas, ela as fará sangrar.

Mike manteve o olhar adiante, mas não pôde evitar a lembrança de Luze — sua irmã, sozinha em sua vila natal. Será que ela estava segura?

Kyouran por sua vez respirava fundo, tentando conter o tremor em suas mãos. Não era de frio. Era outra coisa… como se pressentisse uma ameaça à sua mãe, mesmo tão distante.

Eles chegaram a uma câmara natural — uma clareira congelada no interior da montanha de gelo. Pilares formados por cristais azuis erguiam-se em círculos, e no centro havia um altar coberto de geadas com inscrições antigas.

Mike se aproximou com cautela.

— O que é isso?

— Um marco da Zona Zero — disse Reikan. — Indica que a partir daqui, não há mais civilização. Só ruínas, relíquias, e horrores que até os deuses esqueceram.

Piter olhou ao redor, o punho na katana.

— E Julhian?

— Ele está perto — disse Mike, os olhos fixos em seu mapa mágico. — A marca está próxima. Muito próxima…

Reikan estreitou os olhos, desconfiado.

— Preparem-se. A partir deste ponto… nada mais será fácil.

E com isso, seguiram adiante, mergulhando de vez nas entranhas da Zona Zero — em busca de um amigo, e de verdades enterradas no gelo.