Parte 1: A mitologia da terra 2
A luz suave da manhã atravessava as cortinas, aquecendo lentamente o quarto silencioso. Soohyun abriu os olhos, sentindo o corpo levemente dolorido pela intensidade dos últimos dias. Ele permaneceu deitado por alguns segundos, encarando o teto, até reunir forças para se levantar.
O chão frio tocou seus pés enquanto caminhava até o banheiro. A água do chuveiro escorreu pelo seu corpo, lavando o cansaço e despertando sua mente. O vapor preenchia o ambiente, trazendo uma breve sensação de paz.
Ao sair do banho, secou-se com calma e seguiu até o guarda-roupa. Soohyun vestiu um conjunto moderno e casual, perfeito para para aquele dia na Terra 2, afinal estava fazendo muito frio. Ele usava uma jaqueta bomber verde-oliva de tecido robusto, com punhos e barra ajustados, transmitindo uma presença firme e discreta. Por baixo, uma blusa de moletom branca com capuz destacava-se levemente, o capuz repousando sobre a gola da jaqueta, dando um toque urbano ao visual.
A calça preta de moletom ajustava-se confortavelmente ao corpo, com punhos elásticos no tornozelo, ideal para seus movimentos ágeis. Detalhes sutis na lateral da calça sugeriam um estilo esportivo, sem exageros. Nos pés, Soohyun usava um par de tênis cinza com detalhes brancos e sola reforçada, perfeitos para caminhadas longas ou para fugas repentinas caso alguém apresenta-se ameaça para ele ou para Lucy.
Era uma roupa simples, mas carregava a energia de alguém que estava pronto para enfrentar qualquer desafio... com estilo.
Após terminar de se vestir, Soohyun abriu a porta de seu quarto e seguiu pelo longo corredor até parar diante da porta da rainha Lucy Guinevere. Ele bateu com suavidade.
Lucy: Já está pronto?
Lucy vestia um longo e elegante manto azul royal com detalhes ornamentais em cinza escuro e preto. O tecido tem um caimento fluido, que confere movimento e imponência, reforçando sua posição de nobreza e autoridade como rainha da Terra 2. A peça se abre levemente na frente, revelando uma calça ajustada com desenhos sutis e luxuosos, além de botas de couro preto de cano alto.
Na parte superior, ela usa um corpete preto rendado com amarrações delicadas, que realça sua silhueta e traz um ar de sofisticação. O cinto largo com fivela prateada marca bem sua cintura e segura a bainha de uma espada fina e ornamentada – símbolo de liderança e preparo para batalhas.
Complementando o visual, Lucy usa brincos longos azul-turquesa e um colar com uma pedra brilhante do mesmo tom, adicionando um toque místico à sua aura. Seus cabelos brancos estão soltos, caindo em ondas largas sobre os ombros, reforçando a imagem de uma rainha poderosa, bela e mágica.
Soohyun se vira ao ouvir os passos ecoando pelo quarto de Lucy iluminado por cristais flutuantes. Seus olhos se fixam em Lucy.
Ela caminhava com postura firme, usando um manto azul profundo que se movia como ondas em torno do corpo. A espada presa à cintura reluzia sutilmente, mas o que mais chamou a atenção dele foram os olhos dela intensos e serenos, como se carregassem o peso de séculos e, ao mesmo tempo, a leveza do vento.
Soohyun: Estou... Pronto...
Sua voz saiu um pouco hesitante. Ele desviou o olhar, pigarreando discretamente.
Soohyun: Essa roupa combina com você. Transmite exatamente quem você é… forte, digna. Uma verdadeira rainha.
Lucy sorriu levemente, grata e elegante, sem dizer nada. Mas por dentro, Soohyun sentiu o coração acelerar por um segundo.
Soohyun: pensando "Ela está… linda. Incrivelmente linda. Como uma personagem camponesa daqueles jogos de RPG. Mas… que droga, por que estou pensando nisso? Se ela está bonita ou não, não é da minha conta."
Ele fechou os olhos por um momento, respirando fundo, tentando apagar o pensamento antes que se formasse completamente.
Mas mesmo com os olhos fechados, a imagem dela permanecia gravada em sua mente.
Lucy observou Soohyun na porta de seu quarto com aquele conjunto diferente. Seus olhos percorreram cada peça com curiosidade, a jaqueta verde, o capuz branco saindo por cima, as calças escuras e os tênis de aparência leve, quase futurista para os padrões do Reino de Asura.
Lucy: Essa é... sua vestimenta comum na de onde você vem?
Ela perguntou, erguendo uma sobrancelha, enquanto seus olhos ainda analisavam os detalhes do zíper e o corte moderno da jaqueta.
Soohyun: olhando para roupas em que estava vestido Tá tão ruim assim?
Lucy: Não, Não! Longe disso. É só que... É bem... diferente.
Ela deu um passo mais perto, com um sorriso sutil nos lábios.
Lucy: Confesso que esperava algo mais... cerimonial, com camadas e insígnias douradas.
Então tocou levemente no tecido da jaqueta com a ponta dos dedos.
Lucy: Mas essa roupa tem um certo charme... tem algo de prático, confortável... até ousado. Combina com você.
Soohyun poderia ficar levemente envergonhado com a análise dela, mas Lucy logo riria com leveza, jogando os cabelos para o lado.
Lucy: Se você andasse assim pelos reinos, provavelmente seria confundido com um viajante do tempo.
Ela então se virou, mas antes de descer as escadas, lançou um último olhar para ele por cima do ombro:
Lucy: Quem sabe um dia eu também experimente algo da Terra 1. Mas duvido que me ficaria tão bem quanto fica em você.
Lá fora, no jardim interno, Lucy apontou para uma espada negra fincada no chão.
Lucy: Está vendo aquilo? É uma Necro Espada.
Soohyun: confuso Necro... O quê?! Me parece ma espada no chão.
Lucy: Não é uma espada comum. Ela é um portal.
Soohyun franziu o cenho, observando melhor.
Lucy: Essas espadas teletransportam qualquer pessoa que toque nelas, desde que a espada reconheça a alma. É um tipo de magia quântica. Há uma outra Necro Espada em Finsury, e essa aqui está conectada a ela.
Soohyun: Espera... então se eu tocar nessa espada, eu apareço onde a outra está?
Lucy: Exato. Basta pensar no destino... Finsury, nesse caso.
Soohyun: Certo... pra onde vamos, então?
Lucy: Finsury. A capital mágica. Recentemente recebi informações sobre os artefatos místicos dos guardas reais aqui do castelo.
Soohyun: Quantas dessas espadas existem por aí?
Lucy: Não se sabe com exatidão. Elas existem desde antes do reinado do meu pai. Sabemos de 145 Necro Espadas registradas pelo mundo. Já investigamos muitas... são inofensivas, só servem para teletransporte.
Soohyun: O que acontece se eu tocar na espada e não pensar em um lugar exato?
Lucy: Você simplesmente não é teletransportado.
Soohyun: Entendi.
Lucy se aproximou da espada, tocou a bainha com a palma da mão e, em um instante, foi puxada para dentro dela por uma energia densa.
Soohyun hesitou por um segundo, sentindo o ar ao redor vibrar.
Soohyun: pensando "Vamos lá... Finsury, né..."
Ele tocou a espada. No mesmo momento, ele foi puxado para dentro dela, seu corpo foi arremessado como se atravessasse um túnel de vento em um vazio imenso. A sensação era intensa, diferente daa invocações de portais de Akari ou dos teletransportes de Locart. Quando abriu os olhos, estava ao lado de Lucy.
Soohyun: Isso foi... Muito estranho.
Lucy: Bem-vindo a Finsury.
O lugar onde estavam tinha um estilo medieval forte. Diferente do castelo limpo e elegante, ali as construções eram rústicas, o ar carregado de cheiro de álcool e madeira queimada. Estavam dentro de uma taberna lotada. Pessoas bebiam, riam e dançavam ao som de instrumentos agitados. A música era vibrante, os passos dos dançarinos rápidos e cheios de energia.
Soohyun observava tudo com fascínio, até sentir a mão de Lucy puxá-lo com firmeza.
Soohyun: Onde estamos indo?
Lucy: Falar com o dono da taberna. Ele tem informações sobre os artefatos.
No segundo andar, Lucy bateu na porta de um quarto. Um homem aparentando ter uns cinquenta anos atendeu, franzindo o cenho ao vê-los.
Lucy: Viemos tratar de assuntos importantes. Meus soldados escutaram rumores sobre o paradeiro da Pedra Filosofal.
Richard: Bom dia pra você também, Rainha Lucy. E quem é o seu amiguinho? Parece alguém bem próximo para estar de mãos dadas com a rainha...
Soohyun soltou a mão de Lucy no mesmo instante, surpreso. Ela corou discretamente, percebendo só agora que ainda estavam de mãos dadas.
Lucy: Você não o reconhece? Esse é Soohyun Joh Park, o herói enviado.
Richard ajustou os óculos, analisando o rosto do jovem.
Richard: Pelas barbas do dragão... é ele mesmo! Pensei que você fosse aparecer só daqui a meses! Ainda bem que chegou cedo. Grandes coisas estão por acontecer...
Lucy: Então é verdade? O boato sobre a Pedra Filosofal?
Richard: Sim. Supostamente, está dentro de uma Dungeon... de nível Mestre Lendário.
Lucy: O quê?! Isso é sério?
Soohyun: Dungeon? O que é isso?
Lucy: São locais antigos e mágicos onde habitam monstros ou guerreiros. Algumas são extremamente perigosas.
Soohyun: E o que significa esse "Mestre Lendário"?
Richard: As Dungeons são ranqueadas de acordo com os guerreiros que enfrentaram seus desafios e saíram ilesos. Os níveis são: Bronze, Prata, Ouro, Mestre, Mestre Lendário... e o mais alto, Ameaça Dragão.
Soohyun: E os guerreiros ganham esse rank de que maneira?
Richard: Pela Universidade de Magia. É lá que recebem o certificado de classe que futuramente usam para diversas coisas nos reinos. Só quem tem isso pode entrar numa Dungeon.
Soohyun olhou para si mesmo, refletindo.
Lucy: Pelo nosso treino de ontem, diria que você está no mínimo no meu nível... Ouro, ou talvez até superior.
Soohyun: Então... onde ficam essas Dungeons?
Lucy: Espera! Mesmo sendo o herói, sem o certificado, você é só um civil. Não pode entrar em nenhuma delas.
Soohyun: Tsc... então como consigo esse certificado?
Lucy: Passando no exame de admissão da Universidade de Magia de Asura.
Soohyun: E quando vai ser?
Lucy: Daqui a uma semana.
Soohyun sorriu, animado.
Soohyun: Perfeito. Eu vou participar.
Lucy: Com seu talento, tenho certeza de que vai conseguir o certificado em seis meses. A maioria demora mais, mas você... você é diferente.
Ambos já haviam conseguido a informação que precisavam. Não havia mais razão para permanecerem ali, músicas barulhentas e um cheiro forte de álcool no ar. Assim, Soohyun e Lucy deixaram a taberna, descendo as escadas de madeira rangente com passos calmos, enquanto a luz suave do pôr do sol tingia as ruas de Finsury com tons alaranjados e dourados.
O vilarejo era simples, mas encantador. As casas de madeira e pedra formavam um labirinto de ruas estreitas, decoradas com bandeiras coloridas e vasos de flores pendurados em janelas. Comerciantes ainda gritavam as últimas ofertas do dia, crianças corriam entre as barracas, e um trovador tocava uma melodia suave perto da fonte central.
Lucy caminhava ao lado dele com uma postura firme, mas com um leve sorriso no rosto, mostrando cada canto com certo orgulho.
Lucy: Aqui é a praça central de Finsury. Às vezes fazemos feiras aqui, e nos tempos antigos, era onde cavaleiros prestavam juramentos à coroa.
Soohyun olhava ao redor com interesse, mas uma dúvida crescia em seu peito. Ele olhou de soslaio para Lucy, franzindo levemente o cenho.
Soohyun: Ei... Você é uma rainha. Como é que pode simplesmente sair do castelo, vir pra um vilarejo afastado, andar comigo pelas ruas e ainda perder tempo resolvendo tudo pessoalmente? Não tem coisas mais importantes pra fazer?
Lucy parou por um momento. O vento soprou levemente os fios dourados do seu cabelo, e ela olhou para Soohyun com serenidade, como se já esperasse aquela pergunta.
Lucy: Soohyun… Na Terra 2, os reinos talvez não funcionam como na sua dimensão. Aqui, reis e rainhas que se afastam do povo perdem o direito de governar.
Ela desviou o olhar brevemente para a praça, observando uma criança correr com um pedaço de pão na mão.
Lucy: Quando meu pai morreu, e eu subi ao trono, prometi que não seria apenas uma rainha de salão, protocolos mandamentos. Finsury é parte do Reino de Asura, e mesmo sendo um vilarejo menor, ainda assim é meu dever cuidar pessoalmente do que acontece aqui. Além disso…
Ela voltou a encará-lo, agora com um sorriso mais suave.
Lucy: Você não é uma perda de tempo. Se está aqui, é porque o destino tem planos pra você. E se eu puder ajudar… então essa também é minha responsabilidade.
Soohyun desviou o olhar, meio sem saber o que dizer. Parte dele se sentia tocado com aquelas palavras, outra parte ainda tentava entender como alguém tão importante conseguia ser tão humana.
Eles continuaram caminhando, e Lucy começou a contar histórias antigas sobre Finsury, dos tempos em que dragões passavam voando pelos céus do leste e quando os reinos ainda viviam em guerra.
Parte 2: Sentimentos que pulsam em incertezas
Enquanto caminhavam pelas ruas de Finsury, Lucy naturalmente se aproximava mais de Soohyun. Os ombros quase se tocavam. Em alguns momentos, ela sorria e soltava pequenas risadas enquanto explicava as tradições do vilarejo, e Soohyun, mesmo ainda confuso com tudo ao seu redor, se sentia confortável com aquela proximidade. Era estranho… mas agradável.
Depois de algum tempo, os dois pararam em frente a um restaurante rústico, com uma fachada de madeira escura e luzes mágicas flutuando na entrada. O cheiro que vinha de dentro era irresistível.
Lucy: Vamos comer alguma coisa? Você precisa experimentar a comida típica daqui.
Soohyun: Não vou recusar isso… tô faminto desde manhã.
Os dois entraram no restaurante e sentaram-se numa mesa perto da janela. O ambiente era acolhedor, com velas encantadas levitando levemente no ar e mesas cheias de moradores locais sorrindo e conversando. A comida chegou logo: um ensopado espesso feito com carne de Árethos, raízes azuis de Nalverin e pães doces recheados com frutas do bosque encantado.
Eles comeram, riram, falaram sobre histórias do passado e curiosidades da Terra 2. Era como se por um momento, Soohyun tivesse esquecido das dores que carregava. Lucy, por sua vez, parecia cada vez mais leve, como se cada sorriso de Soohyun fosse um presente inesperado.
Do lado de fora, uma movimentação diferente chamou a atenção dos dois. Uma garotinha havia tropeçado e caído no chão de pedra da praça. Chorava alto, com os joelhos ralados.
Lucy levantou-se instintivamente e correu até ela. Com cuidado, agachou-se e colocou a mão sobre o machucado da criança.
Lucy: Espíritos de cura, me dêem parte de seu poder humildemente para que os fortes possam se levantar novamente...
Uma luz suave e dourada emanou da palma da mão de Lucy, envolvendo a ferida. Em poucos segundos, a criança parou de chorar, olhou para o machucado que havia sumido e abriu um sorriso.
Criança: Muito obrigada, Rainha Lucy!
Lucy: Nada de rainha. Pode me chamar só de tia Lucy.
Criança: Obrigada, tia Lucy!
A pequena então saiu correndo em direção à sua casa. Soohyun assistia a cena em silêncio, o sorriso da criança ainda refletido em seus olhos. Mas, por algum motivo, aquele momento tocou algo dentro dele.
Um aperto no peito. Uma onda de calor atravessando sua alma. Ele levou a mão ao rosto sem perceber que lágrimas começavam a escorrer por seus olhos.
Lucy: Soohyun…? O que aconteceu?
Ele tentou disfarçar rapidamente, limpando as lágrimas com o antebraço.
Soohyun: N-não foi nada... só... só entrou um cisco no meu olho...
Lucy percebeu, mas respeitou o silêncio dele. Um silêncio carregado demais para ser interrompido com perguntas. Seus olhos demonstraram preocupação, mas ela apenas assentiu com a cabeça.
Continuaram andando por mais alguns minutos, até chegarem a um campo nos arredores do vilarejo, onde uma segunda Necro Espada estava fincada no chão, negra e pulsante, como se tivesse vida própria.
Lucy: Já quer descansar? A gente saiu de manhã, e... bem, enquanto você se divertia comigo, já está anoitecendo.
Soohyun olhou pro céu, de fato já tingido de tons roxos e azulados. Nem tinha percebido o tempo passar. Estava tão distraído com a presença dela...
Soohyun: É... acho que sim.
Em um estalar de dedos, Lucy os teleportou de volta ao castelo. As luzes estavam acesas, e um aroma delicioso vinha da cozinha.
Lucy: O jantar vai ser servido em alguns minutos. Vem pra sala de jantar quando estiver pronto, tá?
Soohyun assentiu com a cabeça, e uma das empregadas se aproximou, indicando onde ficava a sala de jantar. Depois disso, ela se retirou. Lucy também caminhou até o corredor e seguiu para seu quarto, deixando Soohyun em silêncio.
Ele entrou no quarto reservado para ele. A cama parecia confortável demais para o caos que estava sentindo por dentro. Se jogou nela, encarando o teto, tentando entender.
Mas a verdade é que nem ele mesmo conseguia explicar.
Veio até ali com um único propósito: trazer Sayuri e Akari de volta. Era por isso que lutava. Era por isso que suportava a dor. Mas então… por que seu coração bateu mais forte quando viu aquela mulher curando uma criança? Por que ele se sentiu seguro com ela, mesmo cercado por tantas incertezas?
Ele cerrou os punhos e levou a mão ao rosto, sentindo uma mistura de culpa e raiva. Ele não queria aquilo. Não podia. Seu coração ainda pertencia a Sayuri… mas algo estava mudando. Algo estava renascendo dentro dele, e isso o aterrorizava.
__
Fim do capítulo 26