Um medo poderoso.

Seu trajeto de retorno transcorreu sem problema até sua base avançada entre a planície e a floresta. Quando chegou lá, o Sol já estava se pondo e a última parte de sua viagem seria no escuro. Como ele já fez esse trajeto diversas vezes nos últimos dias, não seria um problema para ele.

— "Isso está um pouco diferente do que eu me lembro" Disse Edart ao chegar e ver seu acampamento avançado.

Ao olhar para sua base, percebeu que o solo estava remexido, como se alguém estives procurando algo. Havia pequenos galhos quebrados espalhados no chão, que não estava ali antes.

— "Éris, você consegue ver algum animal ou pessoa por perto?" Embora estivesse perto da 'Planície Gosmenta' os slimes que viviam nela raramente saíam da planície. Então, seria difícil para eles bagunçarem seu acampamento.

— ["Não vejo nenhum sinal de mana nas proximidades."]

Ouvindo isso, Edart relaxou e deixou isso de lado, era mais importante voltar para seu abrigo, logo os últimos rios de luz sumiriam e o mundo cairia na escuridão.

Edart já conhecia essa trilha como a palma de sua mão, mesmo assim, ocasionalmente ele olhava para as marcas que ele fez nas árvores para ter certeza de que estava no caminho certo.

Ele apenas olhava sem parar de andar, só para ter uma confirmação do caminho. Em uma dessas olhadas para a marca na árvore, Edart percebeu algo diferente.

— "Isso não estava aqui antes." Chegando perto, ele passou a mão pelos sulcos cravados na árvore. Havia 3 ranhuras profundas e em cada lado dessas ranhuras havia mais uma, um pouco menor e mais superficial. Alguma coisa passou por aqui e também deixou sua marca.

Ao passar a mão, Edart sentiu a seiva da árvore ainda úmida e pegajosa, além disso, havia algum tipo de óleo preto junto à marca. O que quer que tenha passado por aqui, ainda poderia estar por perto.

— "Éris!" Ele não precisou falar mais nada, ela já sabia o que ele queria.

— ["Não há nada por perto, mas tenha cuidado, eu sinto algo estranho vindo dessa mancha na árvore."]

Edart assentiu e se afastou.

Como não tinha nada por perto, ele continuou seguindo em direção do seu abrigo, no entanto, agora ele estava indo mais vagarosamente e atento a tudo o que acontecia em seu entorno.

Ele procurou por mais marcas de arranhões nas árvores, contudo logo escureceu e ficou muito difícil para ele ver qualquer coisa. Com sua 'Percepção de Mana', ele conseguiu se guiar até sua base.

Edart ficou parado a 30 metros de seu acampamento, escondido atrás de uma árvore. Ao chegar perto de sua base, ele ouviu barulho de coisas sendo jogadas e caindo no chão, sons de arranhões, respirações e gurnidos.

Ele não sabia que animal era, pois estava muito escuro, mas parecia ser um animal grande e feroz.

Edart queria ter uma visão melhor do animal, mas não era burro para se aproximar da criatura. Olhando em volta, 10 metros à frente, ele viu uma árvore, que ele poderia subir e vigiar de longe.

Não perdendo tempo, ele avançou com cuidado para não ser detectado até a árvore e começou a subir. Desde que ele chegou perto de sua base, sua habilidade 'Camuflagem' estava ativa, diminuindo suas chances de ser detectado pelo que quer que esteja mexendo em suas coisas.

Sentado no galho, ele tinha visão para sua base a baixo, no entanto, apenas escuridão e barulhos podiam ser visto e ouvidos. Para sua sorte ou não, logo as luas desse planete subiram no palco e trouxeram luz ao mundo novamente.

Embora essa luz não pudesse ser comparada com a luz do sol, era o suficiente para poder enxergar as coisas no chão.

— "Todo meu trabalho foi jogado fora…"

Seu acampamento estava uma bagunça, as lanças que estavam organizadas e empilhas anteriormente foram espalhadas por todos os lados, várias delas haviam sido quebradas. A lenha para a fogueira estava na mesma situação.

Edart olhou para a bagunça que sua base tornou, procurando pelo responsável. Quando chegou ao seu abrigo de terra, um grande animal preto estava tentando quebrar a cúpula. Ele não entendeu o que esse animal queria.

Confusos, ele continuou a observar de longe. A criatura continuou tentando entrar no abrigo, ocasionalmente mudava sua posição e tentava entrar por outro lugar.

Ao observar isso, Edart finalmente conseguiu identificar o que era.

— "Um urso negro…" Edart sussurrou para si.

Esse urso era grande, com uma altura de aproximadamente 1,3 metros, seus pelos eram escuros como se toda a luz fosse sugada para ele. Seus golpes eram poderosos e, se o atingisse, Edart ficaria profundamente ferido.

— ["Edart!!! A mana desse animal…"]. Edart não conseguiu escutar tudo o que Éris queria dizer, pois nesse momento o urso virou a cabeça para sua direção, e ele conseguiu ver seus olhos. Olhos vermelhos, um vermelho sangue que exalava uma sensação de loucura e ódio.

No momento em que seus olhos se encontraram, o mundo de Edart ficou quieto, um medo profundo começou a tomar conta dele e ele não conseguia falar e nem se mover um milimetro sequer.

Sentimentos de perda e destruição também se instalavam em seu coração e tudo o que ele queria era sentar em posição fetal e chorar, mas nem isso ele podia.

O abismo estava tomando conta de seu ser novamente e ele se sentia fraco e impotente contra essa grande lacuna de poder que o abismo tinha.

Por sua sorte, o urso apenas tinha se cansado e estava se virando para ir embora, assim, seu contato visual durou apenas alguns segundos.

Edart tremia em cima do galho, olhando para o vazio, por sorte não caiu lá de cima. Em seus ouvidos, ele podia ouvir Éris gritando preocupada com ele.

— ["Edart!!!!, Edart!!!! …"].

Voltando a si, ele a respondeu.

— "Calma, eu estou bem agora, se acalme." Não era verdade, ele ainda estava tremendo de medo.

— ["Você voltou, eu estava tão preocupada. Aquele urso, ele foi tocado pelo…"]

— "Pelo Abismo… Sim, eu senti aquele medo novamente…"

Ele completou o que ela ia dizer e, por um tempo, um silêncio se instalou sobre eles.

Desde que teve aquele sonho, Edart se esqueceu do Abismo, além da maldição que ele sofreu, não encontrou mais nada relacionado sobre isso, então sentir esse medo novamente o deixou preocupado.

Aquele pequeno coelho tocado pelo abismo não era forte, e mesmo tendo sua força cortada pela metade, ele podia enfrentá-lo, mas esse urso estava em um patamar totalmente diferente, mesmo com sua força total, ele tinha certeza de que não poderia vencer.

 O que ele deveria fazer ao enfrentar isso com suas forças pela metade?

Sabendo que ele estava em uma possível ilha, era questão de tempo até encontrar esse urso novamente e, quando isso acontecesse, ele acabaria provavelmente morto.

Edart ficou pensando no que fazer a seguir, quado Éris interrompeu seus pensamentos.

— ["O urso foi para o norte, se evitarmos aquela área, podemos ficar seguros."] Éris percebeu o quão mal ele estava e tentou mudar sua atenção para outro lugar, assim ela continuou.

— ["Podemos ir mais para o sul. Talvez para perto do pomar. De lá, podemos caçar mais slimes e ficar duas vezes mais forte que esse urso, aí não terá problemas ao enfrentá-lo."]

Percebendo que Éris falava algo, Edart se concentrou nela.

— "Ele é muito forte, não sei se teremos tempo para isso até ele nos encontrar." Ele não estava confiante de que poderia vencer.

— ["Não importa, basta fazer o melhor até ele aparecer novamente. Ele foi para o norte, vamos para o sul, matar slime está cada vez mais fácil, podemos ficar fortes rapidamente, eu acredito em você, não precisamos vencer ele, só ficar vivos para viver mais um dia"].

Edart sabia de sua força, e matar um urso, não era algo que ele poderia fazer, mas sobreviver, isso ele poderia fazer, ele tinha um título com esse nome. Então, se ele precisasse fugir, ele não se importava em fazer isso.

Tudo o que ele desejava era viver uma vida tranquila e não queria ter que lutar, se fugir lhe desse a vida que ele desejava, era isso que ele ira fazer.

Tendo melhorado um pouco e pensado sobre o que fazer a seguir, Edart tomou uma descidão. Ele fugiria por enquanto, ficaria forte e um dia voltaria para acertar contas com esse urso, que o intimidou e forçou a deixar seu lar recém-construído.

— "Obrigado Éris, amanha nós começaremos novamente e dessa vez, nada vai nos impedir."

— ["Estarei sempre aqui para você, Edart."]

— "Sim, eu também, vou tentar dormir, me acorde se algo acontece. Boa noite!"

Não havia muito o que fazer agora, ele não queria ariscar e descer. Se aquele urso voltasse, ele não queria estar lá em baixo e ser a janta dele.

Se acomodando da melhor maneira possível, Edart tentou dormir, mas o sono demorou a vir.

Sua noite foi difícil, cada pequeno som da floresta o acordava e o deixava em alerta. Para ele dormir novamente, levaria um bom tempo. Tudo isso tornou seu descanso horrível.

Edart observou o céu por um tempo. O Sol já estava no céu brilhando alto e forte, havia algumas nuvens perdidas, no entanto, tudo levava a crer que hoje seria um belo dia.

Olhando para baixo ele viu seu acampamento devastado, era hora de ver o que sobrou, rapidamente ele chegou ao chão.

Tudo estava uma bagunça e poucas de suas lanças poderia ser recuperada, pelo menos tudo poderia virar lenha para a fogueira que ele tinha que fazer.

Chegando ao seu abrigo, que além de vários arranhões das garras do urso, rachaduras que se espalhavam pela cúpula e algumas janelas quebradas, dentro tudo parecia no lugar que ele deixou antes de sair.

Olhando para o interior, Edart tentou descobrir o que o urso queria, aqui só havia comida e seus núcleos. Depois de um tempo, ele percebeu o que era que o urso queria.

Não sabia dizer o porquê, mas o urso estava atrás de seus núcleos, todas as rachaduras e arranhões estavam perto dos núcleos dos slimes, tornando obvio o que ele queria.

— "Éris, você acha que podemos absorver os núcleos de slime?"

— ["Não acho que seja possível, mas como meu conhecimento é limitado pelo que você sabe, não posso dizer com certeza. Talvez os animais tenham alguma maneria, mas acho que você não possas."]

Intrigado ele a questionou.

— "Por que você pensa assim?"

— ["Quando você estava mexendo com os núcleos, eles não reagiram de maneira alguma e você não os absorveu, posso estar errada, temos que pesquisar mais no futuro."]

— "Sim, teremos mais tempo no futuro." Edart não queria tentar absorver os núcleos agora, se ele conseguisse e tivesse alguma reação, poderia ser perigoso com o urso por perto. Era melhor tentar fazer isso quando ele estivesse num lugar seguro.

— "Muito bem, não vamos mais perder tempo aqui." Dizendo isso, Edart começou a juntar suas coisas e partiu em busca de um novo lar.

Ele não queria perder todo o investimento colocado aqui, mas não queria ficar e ver esse urso voltar. Partir foi a melhor coisa em que podia pensar.