CXLIX. AMEIXA

A caminho do Conclave, parei para comprar uma torta de frango marrom-dourada na carroça de um vendedor ambulante.

Eu precisava de cada lumen para a taxa escolar deste período, mas o preço de uma refeição decente não faria tanta diferença, de um modo ou de outro. A torta era quente e sólida, recheada de frango, cenoura e sálvia. Saboreei-a ao longo do caminho, deleitando-me com a pequena liberdade de adquirir algo que combinava com meu gosto, em vez de me contentar com o que o Grilo tivesse à mão.

Assim que terminei o último pedaço da crosta, o cheiro de amêndoas carameladas me atraiu. Comprei uma concha delas, acondicionada em um saquinho inteligente, feito de casca seca de milho. Custou-me quatro ocros, mas fazia anos que não saboreava amêndoas carameladas, e um pouco de açúcar no sangue não me faria mal na hora de responder às perguntas.

A fila para os exames de admissão serpenteava pelo pátio. Não era anormalmente grande, mas ainda assim irritante. Vi um rosto familiar da Ficiaria e me aproximei de uma moça de olhos verdes que também aguardava para entrar na fila.

— Olá — cumprimentei. — Você é a Amelia, não é?

Ela me deu um sorriso nervoso e um aceno.

— Eu sou o Vanitas — falei, fazendo uma pequena mesura.

— Sei quem você é. Já o vi na Artificiaria.

— Você deve chamá-la de Ficiaria — corrigi, estendendo o saquinho. — Quer uma amêndoa com mel?

Amelia negou com a cabeça.

— Estão gostosas mesmo — insisti, agitando-as tentadoramente no saquinho de casca de milho.

Hesitante, Amelia estendeu a mão e pegou uma.

— Esta fila é para o meio-dia? — perguntei, gesticulando.

Ela fez que não com a cabeça.

— Ainda temos mais uns dois minutos antes de podermos sequer entrar na fila.

— É ridículo eles nos fazerem ficar de pé desse jeito — comentei. — Como ovelhas num cercado. Esse processo todo é um desperdício do tempo de todo mundo e um insulto, ainda por cima.

Vi um lampejo de inquietação cruzar o rosto de Amelia.

— O que foi? — perguntei.

— É só que você está falando um pouquinho alto — respondeu ela, olhando em volta.

— Eu não tenho medo de dizer o que todos os outros estão pensando — rebati. — Esse processo de admissão é tão falho que beira a idiotia irracional. Mestre Kelvin sabe do que sou capaz. O Lal Mirch também. O Brandon não sabe me diferenciar de um buraco no chão. Por que a opinião dele deve ter o mesmo peso na minha taxa escolar?

Amelia encolheu os ombros, sem me encarar.

Mordi outra amêndoa e a cuspi nas pedras no mesmo instante.

— Eca! — exclamei, estendendo-as para ela. — Você acha que isso tem cheiro de ameixa?

Amelia lançou-me um olhar vagamente enojado, depois seus olhos se concentraram em algo atrás de mim.

Virei-me e vi Drazno caminhando pelo pátio na nossa direção. Era uma bela figura, como sempre, com seu linho, veludo e brocado limpos e brilhantes. Usava um chapéu com uma pluma branca alta, cuja visão me enraiveceu de forma irracional. Atipicamente, ele estava sozinho, sem seu contingente habitual de parasitas e lambe-botas.

— Que maravilha — falei, assim que ele pôde me ouvir. — Drazno, sua presença é a cobertura de estrume no bolo de estrume que é o processo de entrevistas de admissão.

Surpreendentemente, Drazno sorriu ao ouvir isso.

— Ah, Vanitas. É um prazer vê-lo também.

— Conheci uma das suas ex-amadas hoje — comentei. — Ela estava lidando com o tipo de trauma emocional profundo que presumo vir da visão de você nu.

A expressão dele azedou um pouco diante disso, e me inclinei, dirigindo-me a Amelia num sussurro de palco:

— Eu soube de fonte limpa que o Drazno não só tem o pênis pequenininho, como também só consegue ficar excitado na presença de um cachorro morto, um quadro de um duque Mitreziano e um batedor de tambor de galé sem camisa.

A expressão do rosto de Amelia endureceu.

Drazno olhou para ela.

— É melhor você ir embora — disse-lhe, em tom gentil. — Não há razão para você ouvir esse tipo de coisa.

Amelia praticamente fugiu.

— Uma coisa eu reconheço — comentei, vendo-a partir. — Ninguém consegue pôr uma mulher para correr como você. — Bati num chapéu imaginário e acrescentei: — Você poderia dar aulas. Poderia lecionar para uma turma.

Drazno apenas ficou parado, meneando a cabeça, satisfeito, e me observando com um ar curioso de proprietário.

— Esse chapéu lhe dá uma aparência de quem gosta de garotinhos — acrescentei. — E estou pensando em arrancá-lo a tapas da sua cabeça se você não cair fora. — Olhei para ele e indaguei: — Por falar nisso, como vai o braço?

— Vai muito melhor neste momento — disse ele, com prazer. E afagou o braço, distraído, parado ali, sorrindo.

Joguei outra amêndoa na boca, fiz uma careta e a cuspi de novo.

— O que foi? — perguntou Drazno. — Não gosta de ameixa?

E então, sem esperar resposta, girou nos calcanhares e se afastou, sorrindo.

Diz muito sobre meu estado de espírito que eu simplesmente o tenha observado afastar-se, sentindo-me confuso. Levei o saquinho ao nariz e respirei fundo. Senti o cheiro empoeirado da casca de milho, mais mel e canela. Nada de ameixa nem noz-moscada. Como é que o Drazno podia saber...?

E então, tudo se juntou com estrépito na minha cabeça. Ao mesmo tempo, tocou o sino do meio-dia, e todos os alunos com uma ficha parecida com a minha se movimentaram para entrar na longa fila que ondulava pelo pátio. Era a hora do meu exame de admissão.

Saí do pátio em disparada.