Capítulo 38.2 - A Espada do Caos e do Ódio

As tochas iluminavam a taverna de Lyoness, lançando sombras dançantes pelas paredes de madeira robusta. O cheiro de hidromel e carne assada misturava-se ao riso estridente dos frequentadores. Sentado ao centro, com um copo quase vazio na mão e o rosto levemente corado pelo álcool, estava Sir Malcon Bedivere, Cavaleiro da Távola Redonda e um dos mais antigos companheiros do Rei Arthur.

Sir Bedivere: "E então." - Começou Bedivere, com um tom carregado de orgulho. - "Cercados por bárbaros ao norte, lutamos até o último homem! Eu, claro, decapitei pelo menos uma dúzia... talvez duas!" - Ele soltou uma risada exagerada enquanto gesticulava, quase derrubando o copo.

Midoki, encostado no balcão, observava com uma expressão mista de ceticismo e curiosidade.

Midoki: "Você sempre tem uma história nova, não é?" - Comentou Midoki, sorrindo de lado.

Sir Bedivere: "Ah, mas nenhuma história supera a maior de todas!" - Bedivere recostou-se na cadeira, olhando para o teto como se estivesse se preparando para revelar um grande segredo. - "Aquele dia em que Arthur... meu rei... puxou uma espada da pedra! Nenhum homem, nenhum mortal, conseguiu sequer movê-la. Mas Arthur... ele tirou aquela lâmina como se fosse feita de ar."

O sorriso de Midoki vacilou por um momento. Ele se inclinou levemente para frente.

Midoki: "Espada na pedra? Ouvi lendas sobre isso."

Antes que Bedivere pudesse continuar, Merlin, sentado em silêncio ao lado, levantou a mão e murmurou algo em uma língua arcaica. Bedivere parou de falar abruptamente, movendo a boca como se estivesse tentando gritar, mas sem som algum.

Merlin: "Já chega de histórias, Bedivere." - Disse Merlin calmamente, mas com um tom de reprovação.

Midoki: "Merlin, por que o silenciou?" - Perguntou Midoki, erguendo uma sobrancelha.

Merlin sorriu enigmaticamente.

Merlin: "Bedivere tem o hábito de falar demais quando bebe. E certos segredos não devem ser tratados com tamanha leviandade."

Midoki não desistiu.

Midoki: "Então, é verdade? Essa espada... é mesmo a Excalibur?"

Após um breve instante de silêncio, Merlin suspirou, fez um gesto rápido no ar e removeu o feitiço de Bedivere.

Merlin: "Sim. A espada que Arthur retirou da pedra é Excalibur, uma lâmina imbuída de poder que transcende o mortal. Mas saiba disto, Midoki, não é a espada que faz o rei, mas a virtude e justiça que ele carrega em seu coração."

Midoki ponderou as palavras, mas antes que pudesse fazer outra pergunta, Merlin se levantou.

Merlin: "Hora de voltarmos para o quarto."

A cena mudou para o castelo de Lyoness, onde o Rei Arthur e Rei Melyadus Vine sentavam-se em lados opostos de uma mesa de jantar imponente. Candelabros iluminavam os rostos de ambos, mas a tensão na sala era palpável.

Arthur, sentado à cabeceira da mesa, estava focado em seus planos de batalha, sua mente fervilhando de estratégias e preocupações. Melyadus, por outro lado, mantinha uma postura relaxada, com um cálice de vinho entre os dedos. Ele girava o líquido escarlate lentamente, como se contemplasse um segredo oculto dentro da taça.

Melyadus: "Não vai beber do vinho, Arthur?" - Disse Melyadus, arqueando uma sobrancelha com um sorriso quase provocador. - "Dizem que é o melhor do continente. Um presente raro das vinhas ao sul de Lyoness. Talvez até digno de um rei."

Arthur ergueu os olhos, sua expressão austera não se suavizando nem por um momento.

Arthur: "Vinho não ajuda a proteger o reino ou a erradicar demônios, Melyadus."

Arthur, vestido em sua armadura de batalha, mantinha uma expressão rígida, seus dedos tamborilando levemente na mesa.

- Arthur: "Sua força militar, aliada ao poder de Camelot, poderia finalmente erradicar os demônios de uma vez por todas."

Melyadus, com um ar de elegância quase sobrenatural, inclinou-se ligeiramente para frente.

Melyadus: "E por que eu deveria sacrificar meus homens para lutar contra criaturas que só estão defendendo suas terras?"

A resposta de Arthur foi imediata e furiosa. Ele bateu a mão na mesa com força, o som ecoando pela sala.

Arthur: "Defendendo suas terras? Eles são monstros! Matam nossos homens, saqueiam nossas vilas e ameaçam nossa paz. Você só diz isso porque está confortável aqui, protegido! Ou seria porque... seu irmão é um deles?"

O silêncio que seguiu foi ensurdecedor. Melyadus manteve sua compostura, mas seus olhos brilharam com algo que poderia ser raiva ou um controle quase sobrenatural de suas emoções.

Arthur se levantou de repente, a madeira da cadeira rangendo sob a força. Sua mão repousou no cabo de Excalibur, enquanto sua voz ecoava pela sala.

Arthur: "Não compare monstros a homens, Melyadus. Você os defende porque seu irmão é um deles. Mas eu não terei a mesma fraqueza. Se você não ajudar, farei isso sozinho."

Enquanto Arthur falava, a Excalibur, embainhada ao lado, começou a brilhar com uma luz dourada, quase opressiva. Merlin, entrando na sala, percebeu o brilho anômalo. Seus olhos se estreitaram. A espada estava absorvendo o ódio de Arthur.

Melyadus: "Fracos são aqueles que deixam a raiva consumir seus corações." - Disse ele calmamente, bebendo um gole do vinho. - "Mas eu o avisei, Arthur. Escolhas feitas no calor do ódio costumam ter consequências... imprevisíveis."

A cena mudou novamente, agora para Midoki, que andava sozinho pelas ruas de Lyoness, os pensamentos pesando sobre sua mente.

Por que aquela bruxa me disse aquilo? Ele recordava vagamente as palavras, ditas a ele quando era apenas uma criança de nove anos.

*Flashback:*

Bruxa Misteriosa: "Cuidado com aquele que carrega a espada da luz, pois as sombras se escondem em seu coração." - No entanto, a verdade oculta é que Arthur, longe de ser um herói, se transformou em uma figura sombria, um vilão cujas ações reverberam através do tempo.

*Fim do Flashback*

Ele balançou a cabeça, como se tentando afastar as memórias, mas a inquietação permanecia. Se Arthur era tão aclamado, tão justo... o que significava essa profecia?

No Submundo, em uma sala escura iluminada apenas por tochas roxas, o Rei dos Demônios estava sentado em um trono feito de ossos e sombras. Sua voz ressoou pelo salão.

Rei dos Demônios, Satan: "Arthur Pendragon..."

Marcos Vine, ajoelhado diante do trono, ergueu a cabeça.

Marcos: "Ele pretende invadir, meu senhor... meu pai."

O Rei sorriu, um sorriso cruel que parecia atravessar dimensões.

Satan: "Então que ele volte para um reino em ruínas. Leve os exércitos. Devastem Camelot. Destruam tudo."

Marcos inclinou a cabeça, aceitando a ordem.

Marcos: "Sim, Senhor Satan."

A última cena mostrou Arthur, Merlin e Bedivere, discutindo os preparativos para a invasão. Midoki aproximou-se, carregando suas próprias incertezas.

Midoki: "Eu vou continuar por aqui." - Disse Midoki casualmente. - "Mas talvez um dia eu passe por Camelot."

Arthur olhou para ele com um pequeno sorriso.

Arthur Pendragon: "Você será bem-vindo."

Enquanto Midoki se afastava do acampamento em direção à Lyoness, ele sentiu o peso da profecia em seu coração. Algo estava por vir, algo maior do que ele poderia imaginar. Contudo, o que mais o intrigava era qual seria o seu teste ali, na Zona Espiritual, para justificar ter sido levado de volta há 7 mil anos no passado.