O Adeus das Neves

A Academia de Cavaleiros Perlasca nunca mais foi a mesma após a perda de Lucius Perlasca, o respeitado e temido diretor que moldara a instituição com suas próprias mãos. A ausência dele pairava sobre a academia como uma sombra, criando uma atmosfera de luto silencioso e de reflexão entre alunos e professores. Os corredores, antes cheios de vida e entusiasmo, agora estavam mais silenciosos, com os estudantes movendo-se com uma gravidade que nunca tinham sentido antes. A notícia de sua morte, que se espalhara rapidamente, afetou profundamente não apenas os alunos, mas também os professores e cavaleiros veteranos, que perderam um líder, um mentor, e um símbolo de força e tradição.

Mas, apesar da tristeza que impregnava o ar, a academia continuava funcionando. Havia uma determinação silenciosa entre todos para honrar a memória de Lucius através do sucesso e do empenho nas últimas provas do ano. Para Léo, Alex, Lucas, Lumina e Greg, este era o momento decisivo de suas vidas. A perda do diretor havia os abalado, mas também os uniu em uma missão comum: concluir seus estudos e se tornarem cavaleiros dignos do legado de Perlasca.

Na arena de treinamento, Léo e seus amigos enfrentavam o desafio final na arte da espada. O clima era tenso, mas Léo sentia que cada golpe que desferia carregava consigo a força de tudo o que havia aprendido. O som de espadas se chocando ecoava pelo campo de treino. Greg, que sempre foi visto como o rival arrogante, lutava com uma intensidade que mostrava uma nova faceta de seu caráter — mais focado, mais determinado, como se quisesse provar algo a si mesmo e aos outros.

Lucas, com sua habilidade tática, usava sua espada de forma calculada, cada movimento sendo parte de uma estratégia maior. Alex, com sua técnica precisa e rápida, parecia dançar ao redor de seus oponentes, sua espada uma extensão de sua vontade. Lumina, com uma graciosidade quase mágica, canalizava sua energia mágica em cada golpe, tornando seus ataques não apenas físicos, mas também espirituais.

Na aula de História da Cavalaria, o ambiente estava carregado de reverência. A matéria sempre havia sido uma das preferidas de Lucius, que acreditava que entender o passado era fundamental para moldar o futuro. Léo sentia o peso das palavras do professor enquanto ele falava sobre os grandes cavaleiros do passado, muitos dos quais Lucius havia estudado profundamente. O professor Willis, normalmente enérgico, falava com uma voz mais baixa, quase em um tom de respeito. Os alunos escutavam atentamente, absorvendo cada lição, como se cada história fosse um último tributo ao homem que havia guiado a academia por tantos anos.

A aula de Magia Elemental era sempre um espetáculo de cores e energia. Cada aluno dominava um elemento diferente, e Léo, Lumina, e Alex se destacavam em seus respectivos domínios. Léo, que havia aprimorado suas habilidades com o fogo após sua transformação bestial, agora controlava chamas com uma precisão assustadora. Suas mãos tremiam levemente ao conjurar o fogo, mas ele mantinha o controle, sabendo que não poderia se deixar dominar pela ferocidade da magia.

Lumina, por outro lado, canalizava o elemento luz, suas mãos brilhando com uma energia pura que iluminava a sala inteira. Ela parecia tranquila, em paz, mas Léo podia ver nos olhos dela uma determinação feroz para usar seus poderes para o bem, talvez uma forma de compensar as perdas que todos haviam sofrido.

Alex, com seu domínio do vento, movia-se rapidamente, utilizando rajadas de ar para conjurar lâminas invisíveis que cortavam o ar com precisão. Ela era impetuosa e confiante, mas também profundamente consciente da responsabilidade que vinha com o poder.

Na aula de Estudos de Criaturas Místicas, os alunos foram apresentados a uma série de criaturas fascinantes e perigosas. Léo, ainda refletindo sobre as criaturas que ele mesmo enfrentou, prestava atenção especial aos detalhes sobre fraquezas e comportamentos de cada uma. O professor, um homem idoso com vasta experiência em campo, falava com paixão sobre as criaturas. As descrições vívidas de bestas que habitavam as florestas e montanhas de Lumirian cativavam a sala, mas também serviam como um lembrete de que o mundo era vasto e cheio de perigos.

Lumina, com seu intelecto afiado, fazia perguntas perspicazes sobre as estratégias de combate contra essas criaturas, enquanto Greg anotava meticulosamente cada detalhe. A sala estava cheia de curiosidade, mas também de uma tensão latente — todos sabiam que, uma vez formados, essas criaturas deixariam de ser apenas parte de estudos acadêmicos e se tornariam uma realidade com a qual teriam que lidar.

Nas aulas de Contra-feitiços e Proteção Mágica, os estudantes foram desafiados a neutralizar encantamentos perigosos e a conjurar barreiras protetoras que poderiam resistir aos ataques mais devastadores. Lumina, com seu talento natural para magia defensiva, criou uma barreira de luz que envolveu todo o grupo. A barreira não só os protegia, mas também parecia purificar o ambiente ao seu redor, dissipando qualquer energia negativa.

Léo, ainda aprendendo a controlar a energia caótica que corria por suas veias desde sua transformação, lutava para equilibrar sua força bruta com a precisão necessária para lançar contra-feitiços eficazes. Com a ajuda de Alex, ele conseguiu conjurar um escudo flamejante que poderia dissipar magias de gelo e sombra, uma façanha que lhe rendeu aplausos dos colegas.

A disciplina de Mana e Energia Espiritual era uma das mais exigentes da academia. Aqui, os alunos aprendiam a canalizar sua energia interior e a usá-la de forma consciente e eficaz. Léo, que havia experimentado o poder descontrolado de sua transformação, encontrou um novo desafio em aprender a canalizar essa energia de maneira segura e produtiva. Sentado em posição de meditação, ele sentia o calor de sua própria mana circulando por seu corpo, e, pela primeira vez, sentiu que estava começando a dominar aquela força primitiva.

Alex, com sua afinidade natural para manipular energia espiritual, era uma líder nata nesse campo. Ela guiava os outros, ajudando-os a encontrar o equilíbrio interior necessário para controlar sua mana. Lucas, sempre o estrategista, abordava a energia espiritual como uma equação, encontrando maneiras de maximizar sua eficácia em combate.

Greg, embora mais focado no poder bruto, também encontrou valor na disciplina, usando-a para controlar melhor sua própria energia e evitar excessos em batalha.

Ao final do dia, Léo, Lumina, Lucas e Alex se reuniram no campo de treinamento, onde tantas batalhas haviam sido travadas. Eles estavam exaustos, física e emocionalmente, mas sabiam que tinham passado pelas provas mais difíceis de suas vidas. A academia estava mudando, e eles, junto com ela. O legado de Lucius Perlasca estava nas mãos deles agora, e cada um sabia que tinha uma missão a cumprir.

Léo, olhando para o horizonte, sentiu uma paz que não experimentava há muito tempo. Apesar das perdas, ele sabia que estava exatamente onde precisava estar. Seus amigos ao lado, ele se preparava para o que viesse a seguir, certo de que juntos poderiam enfrentar qualquer desafio.

O último sino do dia tocou, e os quatro começaram a caminhar de volta para o interior da academia. Atrás deles, o sol se punha, tingindo o céu de vermelho e dourado, como uma promessa de um novo amanhecer para todos eles e para o Reino de Lumirian.

O tempo passou rapidamente após o término das provas finais na Academia de Cavaleiros Perlasca. Os corredores antes preenchidos com a tensão dos exames agora estavam cheios de sorrisos, risadas e celebrações discretas. O ciclo do ano letivo havia chegado ao fim, e com ele, novas histórias e novos desafios se preparavam para nascer.

Cedric, com seu inabalável espírito e determinação, conseguiu superar os obstáculos do penúltimo ano na academia e foi promovido ao último ano, pronto para enfrentar o que viria a seguir. Ele se tornou uma figura inspiradora entre os estudantes, conhecido por sua inteligência tática e coragem nas situações mais críticas. Seu próximo ano na academia seria decisivo, não apenas para sua formação como cavaleiro, mas também para o legado que pretendia deixar para os futuros alunos.

Enquanto isso, Annie e seus colegas de classe finalmente se formaram com louvor, alcançando o título de Cavaleiros do Reino. A cerimônia de formatura foi um evento emocionante, marcado pela presença de líderes do reino que vieram prestar suas homenagens aos novos cavaleiros. Annie, em particular, destacou-se entre os formandos, sua trajetória marcada por bravura e inteligência. O nome dela agora era conhecido em todo o Reino de Lumirian, e sua reputação como uma cavaleira justa e dedicada já começava a se espalhar.

Para Léo, o fim do ano letivo trouxe uma mistura de emoções. Agora no segundo ano da academia, ele se via mais experiente e mais preparado para os desafios que estavam por vir. No entanto, com o término das aulas, ele voltou seus pensamentos para seu vilarejo natal, San Gimignano. Decidido a passar as férias ao lado de sua família, Léo convidou Alex para acompanhá-lo, uma proposta que ela aceitou com entusiasmo.

Quando os dois chegaram a San Gimignano, o vilarejo estava envolto em uma calma quase etérea. As primeiras neves do inverno começaram a cair, cobrindo os telhados das casas e as ruas de pedra com uma camada branca e macia. O ar era fresco e cheio de promessas de um novo começo. No entanto, ao chegar, Léo recebeu a notícia que o abalou profundamente: a morte de seu tio havia sido anunciada no Gazeta Lumirian. O herói que ele sempre sonhou em ser foi, em seu último ato, reconhecido por todo o reino.

No centro do vilarejo, uma estátua havia sido erguida em homenagem ao tio de Léo. A figura, esculpida com detalhes meticulosos, representava o homem que deu sua vida em serviço ao reino, uma espada erguida ao céu como símbolo de sua bravura e dedicação. Ao ver a estátua, Léo sentiu uma onda de emoções conflituosas — orgulho, tristeza e, acima de tudo, uma determinação renovada de honrar o legado de sua família. Alex, ao seu lado, ficou em silêncio, compreendendo a profundidade do momento para Léo.

— Ele foi um grande homem, Léo — disse ela, com uma voz suave e cheia de respeito. — E você também será.

Lumina, por outro lado, havia retornado para sua família. Após os eventos traumáticos na antiga capital, sua família sofreu muito, tanto emocionalmente quanto politicamente. Precisavam estar unidos agora mais do que nunca. O retorno de Lumina foi recebido com alívio e alegria, pois sua presença era uma luz em tempos sombrios. As férias seriam um tempo para recuperação, reflexão e, acima de tudo, para relembrar o que realmente importava: a força dos laços familiares e a responsabilidade que ela tinha como membro da família real.

Greg, ao contrário dos outros, preferiu ficar na academia. Sempre um pouco distante, Greg encontrou conforto na rotina e no treinamento, e sentia que a academia era o lugar onde ele poderia continuar a crescer. Para ele, as férias eram uma oportunidade de se preparar ainda mais, de aprimorar suas habilidades e de se tornar o cavaleiro que ele sabia que podia ser.

Lucas, fiel a seu espírito bondoso, voltou para casa de seu avô. O idoso, que sempre fora um pilar de sabedoria e amor em sua vida, precisava agora de cuidados. Lucas sabia que esse era seu dever, e ao mesmo tempo, uma forma de agradecer ao avô por tudo que ele havia feito por ele ao longo dos anos. Embora tivesse sido um ano difícil, Lucas encontrou conforto na simplicidade da vida ao lado de seu avô, onde os dias eram preenchidos com conversas, histórias antigas e o calor de um lar.

Enquanto a neve continuava a cair suavemente sobre o Reino de Lumirian, a certeza de que um novo ano traria novos desafios e oportunidades pairava no ar. A academia, assim como o reino, estava em um período de transição, reconstruindo-se tanto fisicamente quanto espiritualmente após as devastadoras batalhas e perdas recentes.

O reino precisava se erguer novamente, mais forte, mais unido. E era exatamente isso que cada um dos jovens cavaleiros se preparava para fazer. De volta ao vilarejo de San Gimignano, Léo observava o horizonte, o coração aquecido pelas memórias e pelos sonhos de um futuro melhor. Ao seu lado, Alex, sempre a amiga leal e confiante, olhava para ele com um sorriso tranquilo.

— O próximo ano será decisivo, Léo. E nós estaremos prontos.

Léo assentiu, um sorriso se formando em seus lábios enquanto ele olhava para a vasta extensão de neve diante deles. A quietude do inverno era apenas o prelúdio para a força do que estava por vir.

— Sim, estaremos prontos — ele respondeu, sentindo-se, pela primeira vez em muito tempo, em paz consigo mesmo e com o caminho que havia escolhido.

O próximo ano traria novos desafios, novas batalhas, mas também novas alianças e um renovado senso de propósito. Com a neve caindo ao seu redor e o reino se preparando para se reerguer, Léo, Alex, e todos os seus amigos estavam prontos para o que viesse, prontos para construir um futuro onde a justiça, a honra e a coragem prevalecessem. O Reino de Lumirian, com seus heróis antigos e novos, estava destinado a florescer novamente.