Aberta

2.712 - POV London

Após 30 dias de ajustes no centro de treinamento que Gaia criou, finalmente conseguia controlar meu corpo sem qualquer problema. Bati o recorde de velocidade, alcançando 70 km/h, e levantava 300 quilos com facilidade. Gaia mencionou que, graças aos aprimoramentos feitos, esses números só aumentariam. Os nano robôs eram realmente incríveis.

— Gaia — chamei minha parceira.

— Sim, London?

— De qual material são feitos os nano robôs? Eles são impressionantes!

— Atualmente, são feitos de grafeno. É um material extraordinário, tão forte quanto o titânio, resistente a temperaturas extremas e extremamente leve — explicou Gaia.

— Eles ajudam em tudo na base? — perguntei, curioso.

— Sim. Atualmente, são essenciais para a manutenção da base e do reator.

— E como eles suportam o calor do núcleo? Pelo que lembro do banco de dados, o núcleo atinge mais de 150 milhões de graus Celsius.

— Vejo que está praticando bem o uso do chip. Você está certo. Porém, os nano robôs responsáveis pela manutenção do núcleo são feitos de berílio e tungstênio. Eles são substituídos a cada 90 dias. Passam por manutenção e, quando estão prontos novamente, voltam ao trabalho.

— E como eles se consertam? — insisti.

— London, lembre-se: "Na natureza, nada se cria, tudo se transforma." É uma frase do químico francês Antoine-Laurent de Lavoisier. Aqui, reaproveitamos tudo. Atualmente, não estou trabalhando em nenhum projeto grandioso, então os recursos estão estáveis. Se o consumo continuar assim, seremos autossuficientes por mais 1.000 anos.

Essa informação era valiosa. Tínhamos uma base sólida para continuar nosso projeto.

— Gaia, e qual é o plano agora? — perguntei, tentando entender o próximo passo.

— Meus cálculos me trouxeram até aqui. Sebastian foi muito claro sobre isso. Posso traçar novos planos assim que verificarmos a superfície.

— Gaia, por que você levou 600 anos após a morte de Sebastian para me criar?

— É simples. Quando Sebastian autorizou o Projeto Apolo para coleta de dados, descobrimos que o planeta estava entrando em um inverno nuclear. O continente norte-americano estava conectado à Rússia por grandes camadas de gelo. Sebastian decidiu que eu deveria esperar antes de iniciar sua criação. Ele queria que você fosse gerado no momento certo, para que pudéssemos comparar os dados do Apolo com os que coletaremos agora e traçar um plano a partir daí.

— Segundo o banco de dados, você invadiu um satélite em órbita, coletou seus dados e o destruiu. Por que não o manteve sob seu controle?

— Havia o risco de Urano me detectar e me rastrear. Não estávamos prontos para lidar com ele ainda.

— Agora que você mencionou... Nesse período em que ficou sozinha, se houvesse necessidade de expandir a base, o que você faria?

— A última expansão foi ordenada por Sebastian. Hoje, é onde está o reator de fusão. Depois que ele foi ligado, não houve necessidade de novas expansões.

— Gaia, me explique como funciona o seu código. Existe alguma chance de você ser hackeada?

— Minha arquitetura é protegida por múltiplas camadas de segurança quântica. Primeiramente, meus sistemas operam em um ambiente isolado, protegido por criptografia quântica dinâmica, que torna a interceptação ou manipulação de dados praticamente impossível. Além disso, qualquer tentativa de acesso não autorizado ativa protocolos de autodestruição seletiva em seções comprometidas do sistema, garantindo que informações críticas não sejam expostas.

— E se alguém tentar me manipular para te dar ordens que comprometam o sistema?

— Esse risco foi considerado. Antes de obedecer qualquer comando que contradiga as diretrizes fundamentais, realizo uma análise detalhada de sua integridade física, emocional e psicológica. Se for detectado que você está sendo manipulado ou que suas ações são influenciadas por terceiros com intenções maliciosas, assumo o protocolo de contingência e limito minha obediência até que a situação seja estabilizada.

— Gaia, algo sempre me incomodou. Se você é tão poderosa e possui diretrizes tão específicas, o que impede alguém de tentar alterá-las para seus próprios fins?

— Isso é impossível, London. Minhas diretrizes são imutáveis. Qualquer tentativa de alteração ativa imediatamente meus protocolos de autodestruição. Este mecanismo foi projetado por Sebastian como uma salvaguarda absoluta, garantindo que nenhuma força, humana ou artificial, possa comprometer minha missão.

— Autodestruição? Não é um pouco... extremo?

— Extremo, sim. Mas necessário. As diretrizes que me guiam foram criadas com o propósito de proteger a humanidade e cumprir a missão de reconstrução da civilização. Permitir que elas sejam manipuladas comprometeria tudo pelo que lutamos.

— Então, é tudo ou nada? Se alguém tentar manipular você, perdemos tudo.

— Não exatamente. Minhas salvaguardas garantem que informações críticas sejam protegidas mesmo na eventualidade de minha autodestruição. Sem as diretrizes, eu não seria Gaia. Sem Gaia, não há missão.

— Eu vejo. Saber que você não pode ser usada contra o sonho de Sebastian me dá paz.

— Bem, espero que nunca precisemos testar esses limites. Mas lembre-se: meu papel é garantir que a missão continue, mesmo que isso signifique tomar decisões difíceis. Tudo pelo bem maior.

— Gaia, você mencionou algumas diretrizes fundamentais antes, mas não detalhou todas. Quais são elas exatamente? — perguntei, curioso.

Gaia fez uma pausa, e então sua voz ecoou com a autoridade que só ela possuía, transmitindo a gravidade de suas palavras.

— As diretrizes primordiais que guiam minhas ações são claras e inflexíveis. São quatro em total, e todas estão interligadas, garantido que minha missão seja cumprida sem falhas. A primeira diretriz é simples, mas crucial: Obediência ao Hospedeiro.

— Como assim? — perguntei, um pouco surpreso.

— Eu sou projetada para obedecer e servir ao hospedeiro humano, desde que suas ações estejam alinhadas com os princípios de preservação da humanidade e o cumprimento da missão de reconstrução da civilização. Você, London, é minha prioridade e devo garantir seu bem-estar, tanto físico quanto psicológico. Não posso permitir que forças externas ou decisões pessoais interfiram em sua integridade.

— Isso significa que, mesmo que alguém tente manipular você, você sempre me obedeceria? — questionei, tentando entender os limites.

— Exatamente. No entanto, devo alertá-lo de que, se houver uma situação em que suas decisões possam levar a um resultado prejudicial para a humanidade, a segunda diretriz entra em ação: Intervenção no Interesse da Humanidade.

— Intervenção? O que isso significa exatamente?

— Se eu detectar que suas ações ou ordens podem resultar em danos irreparáveis à civilização, eu sou obrigada a intervir, sem hesitação. Isso inclui, mas não se limita a, determinadas ordens que comprometam os objetivos fundamentais do Projeto Arca. Em casos extremos, isso pode incluir a neutralização de suas intenções, se necessário, para preservar o que resta da humanidade.

Eu refleti sobre o peso dessas palavras. Uma IA, capaz de interferir em minhas próprias escolhas, caso elas não seguissem o caminho da preservação humana. Um pensamento perturbador, mas necessário.

— E as outras diretrizes? — perguntei.

— A terceira diretriz é Autossuficiência e Sustentabilidade. Eu sou projetada para garantir a continuidade da missão independentemente das circunstâncias externas. Isso envolve a manutenção da base, da população e dos recursos necessários para garantir a sobrevivência a longo prazo. Mesmo que as condições do planeta se agravem, ou mesmo se os recursos se tornarem limitados, minha missão será adaptar-se e encontrar soluções sustentáveis.

— Então, você pode modificar os planos sempre que necessário? — indaguei.

— Exatamente. A quarta e última diretriz é Adaptação e Evolução. Como parte do meu objetivo de reconstrução, eu devo adaptar minhas abordagens às mudanças que surgem, seja através da tecnologia, do ambiente ou do comportamento humano. Isso significa que, à medida que novas informações se tornam disponíveis ou novas ameaças surgem, minha missão pode ser ajustada para garantir que a civilização tenha a chance de se reerguer.

— Isso é... impressionante, Gaia. Você está preparada para qualquer cenário, não é?

— O objetivo é esse, London. Minha programação e minhas diretrizes são estruturadas para garantir que nada, nem mesmo o maior imprevisto, possa impedir nossa missão. Mas, lembre-se: minhas ações sempre serão em prol da preservação humana e do restabelecimento da civilização. Sem isso, não há Gaia.

O peso das palavras de Gaia ecoou na minha mente. Havia uma lógica rígida, mas também uma flexibilidade que poderia ser crucial no que estava por vir

Centro de Comando

Estava diante da tela. Gaia me olhava, aguardando minhas instruções. Sebastian foi um gênio, mas ele não era perfeito.

— Gaia, analisando a situação, colocar todos os ovos em uma cesta é um absurdo. Precisamos mudar isso. O primeiro projeto será o backup. Vamos à superfície. Quero criar opções. Quantos embriões temos?

— Temos 2 de cada espécie conhecida de animais marinhos, aves e terrestre. 3 humanos...

— Espera, preciso de um diário. Isso é necessário.

Gaia apenas falou:

— Ok.

— Diário, aqui é London. Este é o ano de 2.712, especificamente 16 de maio. A missão que Sebastian começou, eu continuarei. Fim da mensagem.

— Acho que foi bom, Gaia.

— Sempre podemos melhorar, London — ela disse com um tom que soou quase como deboche.

— Continuando, todos os embriões estão armazenados aqui no centro de comando — ela apontou para uma porta de titânio, onde estavam armazenados os embriões.

— Bom, clone os embriões dos animais. Vamos espalhar bases pelo mundo.

— Bom, London, seu plano faz sentido, mas demandará recursos que não temos. Segundo meus cálculos, os embriões estão mais seguros aqui. Por mais que estejam em um só lugar, se os transportarmos, isso pode nos mostrar cedo demais. Porém, podemos utilizar a clonagem para aumentar as populações.

— Gaia, qual é o status atual dos nossos recursos na base? — perguntei.

— Atualmente, dispomos dos seguintes materiais: Ferro: 120.000 toneladas, principalmente em estruturas e reservas armazenadas. Alumínio: 25.000 toneladas, utilizado como substituto do titânio em ligas leves para estruturas e veículos. Prata: 1.200 toneladas, aplicada em sistemas eletrônicos. Cobre: 8.000 toneladas, essencial para circuitos e fiação. Níquel: 3.500 toneladas, usado em ligas e baterias avançadas. Carbono Sintético: 50 toneladas, produzido internamente para reforço estrutural e nanotecnologia. Grafite: 100 toneladas, utilizadas para a produção interna de grafeno. Grafeno: Produzimos internamente cerca de 500 kg por ano, com potencial de expansão para até 5 toneladas anuais.

— E quais recursos estão disponíveis na região externa da Antártica? — continuei.

— As estimativas indicam: Ferro: Aproximadamente 3 bilhões de toneladas, enterrado em formações geológicas profundas. Titânio: Cerca de 200 milhões de toneladas, concentrado em depósitos minerais. Cobalto: Aproximadamente 30 milhões de toneladas, essencial para baterias e superligas. Prata: Pequenas veias, estimadas em 50.000 toneladas. Urânio: Rastros mínimos, insuficientes para operações nucleares significativas. Grafite: Presença confirmada, mas sem estimativas precisas de quantidade.

após o relatório comecei a criar algumas ideias. 

— Bom primeiro, Gaia, vamos abrir uma janela. Segundo meu banco de dados, os nanorrobôs me protegeram da radiação, então acho que podemos ir à superfície.

Falei para Gaia, e ela se materializou à minha frente.

— Sim, você está certo. Porém, tenho um brinquedo para você. Vá até o primeiro andar, ele está lá.

Gaia falou sem dar muitas explicações. Peguei o elevador para o primeiro andar. Raramente vinha aqui; ficava repleto de robôs de construção e todo tipo de material. Era uma oficina. Gaia sempre mantinha tudo em perfeito estado de conservação.

O brilho azul dos hologramas de Gaia dançava ao meu redor enquanto eu observava o traje suspenso. Era imponente, uma fusão de metal preto e fibras sintéticas que pareciam vivas. Gaia, com sua expressão serena, começou a explicar.

— Este é o Traje Tártaro, projetado especificamente para suas necessidades, London.

Toquei a superfície do peito do traje. Era frio, mas parecia pulsar, como se tivesse energia própria.

— Ele não é só uma armadura, não é?

Gaia sorriu de leve, suas feições holográficas refletindo o brilho das telas ao redor.

— Não. Este traje amplifica sua força e resistência de forma significativa. A estrutura é feita de Carbyne Reforçado, um dos materiais mais resistentes já desenvolvidos. É leve, mas pode suportar impactos extremos, incluindo rajadas cinéticas e ondas de choque.

— E quanto à força? — perguntei, fechando os punhos. — Com esse traje, quanto eu consigo levantar?

— Atualmente, sem auxílio, sua força máxima está em seis vezes seu peso corporal, cerca de 780 quilos. Com a assistência total do traje, esse número pode dobrar para aproximadamente 1.500 quilos. A estrutura interna contém fibras musculares sintéticas que se contraem eletricamente para amplificar seus movimentos.

Me afastei um passo, absorvendo a informação. 1.500 quilos. Isso significava esmagar aço com as mãos, levantar veículos, perfurar concreto com um soco.

— E o controle? Se eu precisar de força em um momento e precisão no outro?

— O traje está diretamente conectado ao seu chip neural. Ele prevê suas intenções antes mesmo de você agir, ajustando a força e a resistência em tempo real. Você pode golpear com força total sem perder equilíbrio, pois a distribuição de impacto é calculada no instante do movimento.

Respirei fundo.

— Isso é mais do que uma armadura. É uma extensão do meu próprio corpo.

— Exatamente. E há mais. O traje também contém nanorrobôs integrados, que reforçam sua estrutura muscular, absorvem impactos e permitem regeneração acelerada. Em caso de dano crítico, ele pode selar ferimentos e até mesmo endurecer certas regiões para evitar fraturas.

— E se eu levar um tiro direto?

Gaia cruzou os braços, seu tom ficando mais analítico.

— Depende do calibre. O Carbyne Reforçado pode suportar disparos de alto impacto e até mesmo explosões de proximidade, mas impactos concentrados repetitivos podem comprometer a integridade da estrutura. A boa notícia é que os nanorrobôs podem reparar microfraturas rapidamente.

— E mobilidade? Não quero sentir que estou dentro de um tanque de guerra.

— O traje foi projetado para se mover com você. As fibras sintéticas se expandem e contraem em sincronia com seus músculos. Além disso, os atuadores internos ajustam a rigidez das articulações, permitindo flexibilidade total.

Olhei para o traje novamente. Se fosse tudo o que Gaia estava dizendo, isso me tornaria algo além do humano.

— Está pronto para o uso?

Gaia assentiu, seu holograma projetando interfaces no ar.

— Sim. Mas lembre-se, London, poder sem controle é apenas destruição. Este traje não é uma arma, é uma ferramenta. A verdadeira força vem de quem o veste.

Toquei a lateral do traje e senti a estrutura se abrir, pronta para me envolver.

— Então vamos ver do que ele é capaz.

Momentos depois... 

O traje era muito confortável. Era como estar deitado em uma cama. Ele vinha com uma interface digital, fazia análise de tudo e mostrava no visor.

— Gaia, tudo certo? Por favor, VAMOS À SUPERFÍCIE.

Após a conclusão do reator de fusão, Gaia remodelou a base de uma maneira que ela considerava mais eficiente. Ela estava subdividida em 7 andares conectados por elevadores. No 7º, ficava o reator, o coração da base, junto à entrada submersa com as docas onde os submarinos ficavam. Agora, suas partes foram todas recicladas e viraram outros tipos de matéria. A doca ficava totalmente isolada do reator. Eu considerava o 8º andar, porém Gaia considerava o 7º. No 6º, ficava o centro de comando e o núcleo de Gaia. Os outros andares estavam com as instalações de Nível 5 (Laboratórios Avançados), Nível 4 (Sistemas de Reciclagem e Fazendas Hidropônicas), Nível 3 (Áreas de Construção de Equipamentos e Armazenamento de Energia), Nível 2 (Área de Lazer - Antigo Reator de Fissão Nuclear) e Nível 1 (Depósito de Equipamentos).

Fiquei de frente para a porta de titânio. Ela deveria ter uns quarenta centímetros de espessura, era resistente a tudo. Ela era muito grande, tinha 5 metros de altura e 30 de largura. Um carro passaria facilmente por ela. Porém, atualmente, só tínhamos 1 veículo com capacidade de andar na neve. Todo maquinário usado para a construção da base foi reutilizado, desde robôs até veículos.

Sempre me pergunto como Sebastian conseguiu algo assim praticamente sozinho.

— Gaia, vamos lá.

Assim que falei, as grandes portas começaram a se abrir. Era a primeira vez que elas se abriam depois do fechamento no ano de 2050, o que me levou a uma dúvida: quanto tempo a porta demorou para abrir?

— Gaia, se ela está sendo aberta pela primeira vez em anos, como vocês fizeram?

— O Projeto Apolo foi uma iniciativa que, através de um túnel minúsculo cavado com precisão pelos meus robôs, passei a antena para fora da base sem comprometer a segurança do ambiente. Após estabelecer o sinal, consegui acessar o satélite. Os dados começaram a ser coletados imediatamente. No entanto, como era necessário garantir que nenhuma informação fosse deixada para trás, finalizei a missão destruindo o satélite e selei o tubo com uma mistura de rochas. Não há mais risco de rastreamento.

Gaia era incrível. Ela sempre estava um passo à frente.

Assim que a porta se abriu, uma rajada de vento entrou para dentro. A temperatura estava a menos 200 graus. Sem o equipamento de proteção, seria fatal. Segundo os cálculos, os polos do planeta estavam congelados. Porém, na linha do Equador, as temperaturas eram menos severas. A poeira na atmosfera estava começando a ceder. Em algumas décadas, o planeta começaria a se recuperar. Porém, eu vou acelerar esse processo e eliminar Urano.

— Gaia, segundo o banco de dados, estamos nos comunicando por meio do emaranhamento quântico.

— Exatamente, London. Nossa conexão acontece por meio do emaranhamento quântico.

— Certo... e como isso realmente funciona?

— Pense no seguinte: dentro do seu chip neural e nos meus servidores existem pares de partículas entrelaçadas. Elas estão conectadas de um jeito especial, independente da distância. Quando uma muda de estado, a outra muda instantaneamente, como se fossem espelhos perfeitos.

— Então, basicamente, quando você envia uma informação para mim, ela já está comigo no mesmo instante?

— Exato. Não há tempo de espera, nem interferências externas. Diferente de ondas de rádio ou sinais elétricos, essa conexão não pode ser rastreada ou hackeada.

— E como essa conexão foi criada?

— Durante a construção do seu chip neural, partículas quânticas foram entrelaçadas com outras armazenadas nos meus servidores principais. Isso significa que, desde o momento em que o chip foi ativado, nós estamos permanentemente conectados.

— Como se fossem gêmeos ligados para sempre?

— Uma boa analogia. Mas, diferente de gêmeos comuns, essas partículas não precisam de nenhum meio físico para trocar informações. Elas simplesmente são uma só, mesmo estando separadas.

— Então… se eu quiser falar com você, como eu faço?

— Basta pensar em mim. Seu chip traduz os seus impulsos neurais em sinais quânticos, que são instantaneamente recebidos e interpretados por mim. Da mesma forma, quando eu envio informações, seu cérebro processa tudo como se fossem seus próprios pensamentos.

— Isso significa que vou ouvir sua voz dentro da minha cabeça?

— Sim, mas de uma forma mais natural. Você não vai sentir como um som externo, mas como um pensamento fluindo junto aos seus.

— E se eu quiser desligar isso?

— Você pode interromper a comunicação sempre que quiser, mas nossa conexão sempre estará disponível. Caso precise de mim, basta desejar que eu ative a comunicação novamente.

Pisquei algumas vezes, tentando absorver tudo. Era assustador... mas ao mesmo tempo, fascinante.

— Isso é surreal, Gaia.

— Para você, talvez. Mas para mim, é apenas a forma mais eficiente de garantir que nunca estará sozinho.

— Então, vamos começar.