Templo dos Dez Mil Deuses

Quando William abriu os olhos, ele se viu deitado em cima de uma pequena nuvem dourada que voava pelo céu.

No início, ele pensou que ainda estava sonhando, mas as memórias de como Belle desabou na frente dele vieram inundando sua mente. Junto com o fluxo de memórias, uma realização se fez presente.

"É verdade. Eu já estou morto," William murmurou. Ele inconscientemente colocou a mão sobre o peito para sentir seu coração bater, mas ele não sentiu nem ouviu nada.

Depois de suspirar profundo, o garoto sentou-se de pernas cruzadas em cima da nuvem como se fosse a coisa mais natural do mundo a se fazer. Após fazer isso, memórias de sua vida passaram diante de seus olhos.

William viu memórias felizes, tristes e memórias que ele não queria ver nunca mais. No fim de sua reminiscência, a imagem de uma bela garota, com longos cabelos negros, fez ele morder o lábio de frustração.

Para dizer a verdade, ele estava muito preocupado com ela.

A operação foi bem-sucedida? Os médicos chegaram a tempo? O Diretor do Hospital vai cumprir sua promessa?

Muitas perguntas surgiram em sua mente. Contudo, ele sabia que não havia mais nada que pudesse fazer para afetar o desfecho dos eventos que haviam ocorrido. A razão? Ele já estava morto. Não adiantava se preocupar com coisas que estavam além de seu controle.

"Espero que você esteja segura, Belle," William disse enquanto levantava a cabeça.

Um portal dourado brilhava à sua frente e ele sabia que sua jornada havia chegado ao fim. Ele nunca havia acreditado em Deus antes, porque Deus nunca havia feito nada por ele quando estava vivo. Ele também não acreditava no Céu e no Inferno.

A única coisa em que ele acreditava era na Reencarnação.

Talvez, ele tenha sido influenciado pelos incontáveis romances que leu enquanto estava no hospital. Seu único passatempo era ler histórias sobre cultivação, construção de reinos, fatias da vida, transmigração, romance histórico e muitos outros temas.

"Se realmente existe um Deus, então é melhor ele se preparar para levar um soco meu." William estreitou os olhos enquanto olhava para o portal dourado que aumentava a cada segundo. "Se eu descobrir que Ele também levou Belle, eu vou bater Nele até mesmo Sua Mamãe não reconhecê-lo mais."

Essas foram as últimas palavras que William disse antes da nuvem entrar no portal dourado.

O que ele viu do outro lado do portal o deixou espantado. Isso o fez lembrar do tempo que sua turma foi ao planetário na Excursão de Ciências.

"Mas que mundo é esse?" William perguntou distraidamente enquanto encarava a vastidão do espaço. Incontáveis estrelas, planetas e galáxias podiam ser vistas ao longe.

Antes que o adolescente pudesse processar tudo o que estava vendo, a nuvem acelerou e se dirigiu para um gigantesco planeta que parecia muito com a Terra.

Surpreendentemente, várias outras nuvens douradas apareceram ao lado de William à medida que a nuvem se aproximava do planeta.

Uma procissão de nuvens douradas, contando aos milhões, foi formada em menos de um minuto.

Cada uma delas também carregava uma pessoa — cada uma de idades variadas. Alguns eram velhos, alguns eram jovens e alguns eram incrivelmente jovens. Crianças com menos de três anos olhavam para William com um olhar curioso, enquanto chupavam seus polegares.

William sentiu uma dor no peito enquanto olhava para as crianças jovens com uma expressão triste. Elas o lembravam de seus irmãos e irmãs mais novos no orfanato.

À medida que se aproximavam do planeta, uma mudança surpreendente aconteceu à procissão de nuvens douradas.

As nuvens que carregavam as pessoas idosas se soltaram da formação e se dirigiram para o Lado Leste do planeta. As nuvens que carregavam as crianças com menos de cinco anos voaram para o Sul.

Não demorou muito para William perceber que eles estavam sendo "segregados" por algum poder desconhecido que parecia estar manipulando a ordem das nuvens.

A nuvem que William estava montado não mudou de direção e continuou indo direto para o centro do planeta. Algumas outras pessoas estavam no mesmo grupo que ele, mas eram menos de cem.

Conforme as nuvens em que estavam montados desciam do céu. Um magnífico templo apareceu diante de seus olhos. Um velho, com longos cabelos brancos e barba, estava de pé na frente da entrada e os olhou com um sorriso no rosto.

"Saudações a cada um de vocês," disse o velho com uma voz gentil e tranquilizadora. "Sei que todos vocês têm muitas perguntas. Embora eu não tenha as respostas para todas elas, ficarei mais do que feliz em responder as que sei. Há algum de vocês que gostaria de fazer uma pergunta?"

"Eu!" um jovem magro que parecia estar no início dos vinte anos levantou a mão.

"Prossiga," O velho respondeu.

"Você é Deus?" o jovem magro perguntou.

"Não," o velho respondeu. "Eu sou apenas um dos muitos ajudantes Deles."

"Os ajudantes Deles? Você quer dizer que existe mais de um Deus?" uma senhora bonita perguntou.

"Oh sim." o velho sorriu. "Alguns deles são velhos e alguns são novos. Aliás, o nome deste templo é o Templo dos Dez Mil Deuses. Embora eu diga Dez Mil Deuses, o número exato de Deuses que residem aqui é desconhecido."

O velho fez uma pausa antes de continuar sua explicação. "Já faz Éons que este templo foi nomeado, e muitos Deuses nasceram durante a passagem do tempo. É claro, também é verdade que muitos Deuses pereceram também."

William e os outros ficaram em silêncio enquanto digeriam as palavras do velho. Mesmo assim, sendo jovens como eram, a curiosidade deles prevaleceu.

"Por que tantos?" um garoto bonito com cabelos loiros e olhos azuis perguntou. "Não existe apenas um Deus Verdadeiro?"

"Boa pergunta." O velho assentiu com a cabeça em apreciação. "Você veio da Terra, correto?"

"Sim," o garoto bonito respondeu.

"Vamos supor que na Terra existe um Deus Verdadeiro." o velho sorriu. "Então, e quanto a outros mundos? Se cada mundo tivesse um Deus Verdadeiro, isso não significaria que existem incontáveis Deuses Verdadeiros nos vários mundos dentro deste universo?"

O garoto bonito arregalou os olhos em compreensão. Ele entendeu do que o velho estava falando e não fez mais perguntas.

O velho fez um gesto em direção ao Templo dos Dez Mil Deuses e continuou sua explicação.

"Vejam, um Deus nasce das crenças das pessoas. Com essa lógica, também significa que um novo Deus nasce de vez em quando. Quanto mais forte a crença, mais forte será o Deus."

"Com o passar do tempo, muitos Deuses nasceram e muitos Deuses foram perdidos. O momento em que um Deus é esquecido, é o momento em que esses Deuses deixarão de existir."

"Em resumo, em vez de ir diretamente para o Ciclo da Reencarnação, todos vocês serão dados a chance de escolher um Deus patrono antes de vocês seguirem em direção à próxima vida," o velho adicionou.

"Espera! Eu conheço isso!" O garoto nerd ajustou seus óculos enquanto se preparava para dizer seu palpite. "Se formos de acordo com o que li em light novels, esses Deuses nos darão poderes de trapaça, artefatos poderosos, armas divinas e outras bênçãos que nos darão uma vantagem em nossa próxima vida, correto?"

"Algo assim," o velho respondeu enquanto brincava com sua longa barba. "Cada Deus tem sua própria especialidade e a maioria deles dá aos seus seguidores os mesmos itens ou habilidade."

"Eu sabia!" O garoto nerd levantou o punho com empolgação. Seus olhos brilhavam enquanto ele olhava para o portão atrás do velho com antecipação.

"Como não temos muito tempo sobrando, vou direto ao ponto," o velho anunciou. "Todos vocês estão aqui porque os Deuses olharam para todos vocês favoravelmente. Talvez vocês tenham feito algo em suas vidas que mereceu o reconhecimento deles."

O velho fez uma pausa por um breve momento para permitir que o significado de suas palavras fosse assimilado.

"Bem, se não há mais perguntas, vamos entrar." O velho acenou com a mão e o portão do templo se abriu. "Deixe-me dar-lhes as boas-vindas mais uma vez ao Templo dos Dez Mil Deuses!"