A Fuga

"Por quê?" a enfermeira perguntou, perplexa com esse anúncio repentino.

O médico encheu a seringa de um pequeno frasco escuro e disse, "Eu tenho que te dar uma injeção. Mas desta vez será via intravenosa."

"Não, eu não vou permitir que você faça isso," respondeu Dawn, fazendo uma careta para ela. O ar entre eles estava tão tenso que Dawn poderia estourar a qualquer momento.

"Isso precisa ser feito porque o médico da sua família lhe receitou o medicamento. Nós não somos ninguém para interferir nessa programação. Temos que fazer o que ele escreveu na sua receita..."

"Não, você não vai."

"Por que você está sendo tão teimosa? Estamos apenas te tratando," disse o médico em um tom ríspido. Ele deu um passo à frente para arregaçar as mangas de Dawn, mas ela afastou a mão dele. Cole sentou-se, confuso por sua irmã recusar a medicação.

"Olha, é hora de tomar seu remédio," insistiu o médico.

"Você é mesmo um médico?" perguntou Dawn, estreitando os olhos para ele. "Porque se você for, então me mostre seu ID." Dawn estava desconfiada porque não viu o habitual crachá de médico nem ele estava usando as roupas comuns de um médico.

"Eu não sou, mas sou o enfermeiro e posso dar-lhe a injeção."

As dúvidas dela aumentaram ainda mais. "Nesse caso, não vou permitir que você me toque."

"Dawn," Cole puxou suavemente a camisola do hospital dela. "Aceite isso."

"Enfermeira, segure-a," o enfermeiro disse entre dentes cerrados.

A enfermeira se aproximou e segurou a mão de Dawn, mas Dawn chutou a enfermeira com toda a força de sua perna esquerda. A enfermeira foi arremessada ao chão e escorregou até a parede. Ela desmaiou, deixando Dawn chocada ao descobrir tanta força se acumulando em seu corpo.

O enfermeiro se lançou em direção a Dawn e estava prestes a forçar a injeção nela.

O braço de Dawn veio em um golpe que acertou bem entre os pulmões dele no esterno. Deixou o médico de joelhos, ofegante.

"Se você chegar mais perto, vou piorar a situação," Dawn disse, arrancando seus tubos. Ela se virou para olhar para seu irmão, "Cole, onde estão minhas roupas?"

Cole estava chocado até o âmago, observando sua irmã em ação. Tremendo, ele apontou para o armário.

"Empacote nossas coisas. Estamos saindo agora," ela ordenou e rapidamente foi se trocar.

Ela pegou algumas coisas para colocar na única mala do quarto. Ficou surpresa ao ver um maço grosso de dólares em seu bolso.

O homem tentou se levantar novamente, mas desta vez, Dawn puxou a barra de metal do lado da cama com a qual a cama era levantada e abaixada, e acertou-o nas costas. O enfermeiro gemeu de dor e caiu no chão quando todo o oxigênio saiu de seus pulmões.

Dawn pegou a mala e olhou pela janela. Ela viu o fino crescente da lua pairando sobre os carvalhos. As estrelas brilhavam intensamente, como se provocassem a lua por perder seu brilho para o sol. Bem à frente, à distância, estava o oceano, cujas ondas se chocavam contra a costa. Dawn não conseguiu identificar onde estavam, mas viu uma estrada iluminada fazendo curvas ao longo da costa do oceano. Ela olhou para baixo e percebeu que estava no quinto andar.

Os irmãos saíram do quarto do hospital e caminharam para a escada mais próxima. Eles saíram do prédio pela parte de trás.

"Dawn, para onde estamos indo?" perguntou Cole, de olhos arregalados e ainda confuso pra caramba. Afinal, eles estavam bastante seguros há uma semana naquele quarto. Por que Dawn estava fugindo agora?

"Precisamos nos afastar o máximo possível daqui, Cole."

"Por quê?"

"Tenho a impressão de que o enfermeiro e o médico ouviram sobre a recompensa que nossa família ofereceu para nos encontrar."

"Então, vamos voltar para nossa casa," ele argumentou.

"Você não entende," ela disse enquanto caminhava para a estrada, na esperança de encontrar uma carona. "Por que nossa família colocaria uma recompensa sobre nós? Por que eles já não sabem da nossa condição?" Os raios da lua ajudaram a acalmar surpreendentemente a temperatura de seu corpo. "Por que o pai pediu para você ficar no hospital e estar comigo? Ele sabia que estava prestes a ser morto?"

"Nesse caso, vamos encontrar nossa Avó. Ela deve estar nos esperando."

"Não!" Dawn gritou. "Quero evitar ir para qualquer lugar perto de nossa família. Você não entende? Eles querem nos matar também."

"Estávamos seguros no hospital," ele resmungou enquanto tentava acompanhar o passo dela.

"Tenho a impressão de que a enfermeira e o homem com ela estavam prestes a entregar nossa localização para a família." Dawn parou e Cole também. "Por favor, Cole, apenas confie em mim." Ela precisava manter seu irmão seguro. Ele era o legítimo herdeiro do Império Wyatt.

"Ok," ele assentiu, olhando para sua irmã com seus olhos negros.

Dawn acariciou seu cabelo preto, e eles continuaram a caminhar para a estrada.

Alguns minutos depois, a visão de Dawn estava novamente ficando turva. Seu corpo estava mudando. Ela olhou para a mão e quase reprimiu um grito quando notou uma garra sobressaindo. O que era aquilo? Ela estava chocada para caramba. Seus olhos e boca se abriram de surpresa pela transformação que estava ocorrendo em seu corpo. Ela tinha ouvido falar sobre ser mordida por lobisomens nas lendas, mas isso não era vida real. Ela fechou a mão rapidamente, na esperança de que Cole não tivesse visto. Sentindo a temperatura de seu corpo subir novamente, ela cavou os bolsos e pegou um Advil. Engoliu dois deles.

Quando chegaram à estrada, Dawn percebeu que era na verdade uma rodovia ao ler as placas acima. A rodovia cheirava a tinta fresca. Ela notou que as paredes laterais estavam recém-pintadas de amarelo. Era preta, estendendo-se em ambas as direções em duas faixas.

Dawn nunca tinha saído sem escolta na vida. Ela tinha pelo menos duas pessoas que sempre a acompanhavam, e agora, quando viu a rodovia preta com os carros passando rapidamente, ficou com medo. Seu coração começou a bater forte. Ela se lembrou da barra de metal que tinha guardado em sua bagagem. Enquanto os pneus deslizavam sobre a estrada negra como carvão, Dawn sabia que seria extremamente difícil conseguir uma carona.

Os irmãos esperaram por quinze minutos em uma calçada até que um SUV Mercedes preto com uma pequena bandeira no capô parou à sua frente. Dawn olhou nervosa para a van, tentando descobrir quem estava lá.

O vidro escuro, com insulfilm, desceu, e Dawn pôde ver um homem ao volante. Seu rosto estava coberto pela sombra, e apenas seu queixo quadrado era visível à luz do poste que passava pelo vidro da frente. Dawn deu um leve suspiro.

"Um... senhor?"