A Ava rebelde

Beep-Beep-Beep...

O som monótono e rítmico dos bipes preenchia o ar, penetrando a névoa na mente de Ava. Ela franziu a testa enquanto recuperava lentamente a consciência. Olhou ao redor e viu-se deitada numa cama de hospital, com lençóis brancos aconchegantes ao seu redor.

'Estou viva ainda!' ela murmurou para si mesma, estupefata.

Ela se lembrava claramente de estar morrendo. Como poderia estar viva? Quem a havia salvado?

Sentou-se atordoada e checou seu pulso. Mas a pele estava lisa, sem marcas, como se nunca tivesse sido ferida. "Uh!" ela exclamou surpresa. "Como isso é possível? Onde foi parar a marca?"

"Você está acordada." Uma voz feminina a despertou de seu devaneio.

Ava virou a cabeça rapidamente e viu uma enfermeira entrando.

"Você sabe que é alérgica a amendoim. Por que estava comendo tanto creme de amendoim? Você quer se matar?" a enfermeira a repreendeu.

"Creme de amendoim!" Ava murmurou, chocada.

De fato, ela tinha tentado se machucar comendo isso num momento de raiva. Mas isso foi há quatro anos. Por que a enfermeira estava falando sobre isso agora? Ela não comia creme de amendoim há anos, muito menos recentemente.

'Ela bateu a cabeça em algum lugar?' pensou, olhando-a com suspeita.

"Você teve sorte de ter sido trazida aqui a tempo," a enfermeira continuou enquanto trocava o frasco vazio do soro por um cheio. "Se não, estaria deitada num caixão agora. Não repita essa loucura."

Ava sentiu um calafrio na nuca enquanto um pensamento selvagem surgia. Era absurdo demais, irreal demais para aceitar. Seria possível que ela tivesse voltado no tempo?

Seu coração martelava em sua garganta. Não, não podia ser. Não era possível.

"Qual a data de hoje?" ela perguntou instintivamente, com antecipação e medo percorrendo-a.

"É treze de outubro de 2020."

O coração de Ava pareceu parar de bater. Ela renasceu. Quatro anos atrás, ela havia comido muito creme de amendoim no seu primeiro aniversário de casamento.

Ela se lembrava de esperar ansiosamente por Dylan, esperando que ele voltasse da viagem de negócios a tempo para o aniversário deles. Mas ele não voltou. Ele simplesmente ignorou suas ligações e mensagens. Num acesso de frustração e sofrimento, ela tentou se machucar.

Quão tola ela fora!

Mas agora, com essa segunda chance, ela jurou mudar tudo. Ela não desperdiçaria sua vida com Dylan. Ela ficaria longe dele e de sua família.

"Papa está vivo ainda!" ela refletiu em voz alta.

"Hm? Disse alguma coisa?" A enfermeira estava atônita.

Sem prestar atenção nela, Ava pegou o telefone na mesa ao lado e discou o número de seu pai.

"Alô?" A voz rouca de Thomas encheu seus ouvidos.

Ava não conseguiu conter as lágrimas. "Papa!" ela disse, trêmula. Havia tanto tempo que ela não ouvia sua voz.

"Ava? Por que você está chorando? Dylan te maltratou?"

Ava chorou mais forte e não conseguiu dizer uma palavra.

"Querida, fale comigo. Você está me assustando. Onde você está? Está machucada?"

"Estou bem, Papa," ela finalmente conseguiu, enxugando as lágrimas com as mãos trêmulas. "Eu só… eu senti sua falta. Só isso."

Thomas riu, aliviado. "Se você sentiu tanto a minha falta, venha jantar comigo. Faz muito tempo desde sua última visita."

Ava mordeu o lábio inferior, sentindo-se culpada. Ela tinha sido tão consumida em cuidar das necessidades de Dylan que ignorou completamente o pai e raramente o visitou. Mas ela não cometeria os mesmos erros novamente. Não desta vez.

"Sim, eu vou," ela disse firmemente. Ela protegeria o pai e os negócios da família.

Encerrando a ligação, ela olhou para a enfermeira. "Ajude-me a ter alta."

"Você realmente deveria ficar mais um dia," a enfermeira aconselhou. "Você precisa descansar."

"Estou bem," Ava insistiu. "Apenas me ajude a sair." Ela já estava decidida.

Vendo a determinação em seus olhos, a enfermeira cedeu e deu um pequeno aceno. "Certo, eu vou falar com o médico." Ela saiu.

Ava deitou-se, sentindo-se esgotada. Foi quando a porta rangeu e duas mulheres entraram tempestuosamente. O estômago de Ava se retorceu ao ver Erica e Gianna.

"Você! O que está fazendo deitada aí?" Erica, prima de Dylan, repreendeu. "Levante e venha para casa."

Erica agarrou o braço de Ava tentando arrancá-la da cama. Ava afastou sua mão e a empurrou.

Erica caiu no chão e encarou Ava com raiva e incredulidade.

"Erica! Você está bem?" Gianna correu para ajudá-la. Virando-se para Ava, ela disse, "Você ficou louca? Você a empurrou!"

"Você está flertando com a morte," Erica cuspiu, com os olhos em chamas de fúria. "Como ousa me empurrar." Ela avançou com um ímpeto tempestuoso e levantou a mão para bater nela.

Com reflexos rápidos, Ava segurou seu pulso no ar e a empurrou para trás com uma força que fez Erica cambalear.

Erica e Gianna ficaram paralisadas, olhando para Ava incrédulas. Elas nunca tinham visto Ava revidar. Ela não era mais a mulher submissa e frágil que costumavam intimidar. Algo havia mudado nela.

Ava fitou-as severamente enquanto descia da cama. Em sua vida passada, ela tinha suportado as humilhações e tormentos delas em silêncio. Mas não mais. Desta vez, ela resistiria.

"Não ouse mexer comigo," ela sussurrou, seus olhos cheios de aviso. "Se vocês não saírem agora, eu vou registrar uma queixa de assédio. Saia."

"Você!" Erica disse, o rosto se contorcendo de raiva. "Você está indo longe demais."

Gianna colocou uma mão confortante no ombro de Erica e sinalizou para ela se acalmar.

"Ava, não fique chateada," ela entrou no diálogo, sua voz suave como manteiga. "Não é culpa da Erica. Ela só ficou furiosa quando soube que você tentou se suicidar. Você sabe que Dylan está numa viagem de negócios importante. Se ele souber do que você fez, só vai distraí-lo. Erica não queria incomodá-lo, então ela te repreendeu."

Ava revirou os olhos. Sempre era assim – Gianna fingindo ser inocente. "Ah, não se preocupe. Ele não ficará preocupado. Mesmo que eu morra, ele não sentirá nada."

"Ava! Como você pode dizer isso?" Gianna lamentou. "Você está chamando Dylan de insensível?"

Antes de Ava responder, a voz de Erica cortou o ambiente. "Sua vadia! Você está tentando difamar Dylan. Só espere até ele voltar. Eu vou contar tudo para ele e vamos ver como você se sai então."

"Eu não quero lidar com ele nunca mais," Ava contra-atacou, perdendo a paciência. "Eu vou me divorciar dele."

"Você está falando sério?" Gianna exclamou, os olhos arregalados de descrença.

Ava soltou um risinho de desprezo, os lábios formando um sorriso trocista. "Você deve estar muito feliz, certo?" Ela se aproximou e deu um tapinha no ombro dela. "Eu lhes desejo uma vida feliz com o homem que decidi descartar."

Ela afastou-as e saiu da sala, deixando-as atônitas.

Gianna piscou, ainda em choque. "Você viu isso? Ela está completamente diferente… não é nada submissa."

A transformação era gritante e não passou despercebida por elas.

"É só uma encenação," Erica murmurou com os dentes cerrados. "Deixe Dylan voltar para casa. Vou ver até quando ela consegue continuar fingindo ser rebelde."