Corrida [4]

A paisagem no 50º andar era semelhante à dos andares anteriores, mas por um motivo diferente.

Manchas de vegetação exuberante podiam ser vistas aqui e ali, mas a parte mais chocante da área eram as zonas aleatórias de árvores e terra destruídas. Parece que o 50º andar era originalmente algo semelhante a uma pequena floresta, mas o que quer que vivesse aqui tinha derrubado tudo.

Casca de madeira estava espalhada, com alguns pedaços em um estado meio chamuscado, grama e plantas que costumavam ser altas estavam murchas e mortas, e um fedor fétido permeava o ar. No centro de tudo isso estava uma criatura diferente de tudo o que Damien tinha visto antes.

Ela tinha 3 cabeças, cada uma de um animal diferente, um leão, uma cobra e um bode, e um corpo enorme que ocupava uma boa parte do espaço disponível na caverna. Seu corpo era parecido com o de uma pantera, especializado em velocidade, seus pés eram garras como as de um pássaro, e seu rabo era o de um escorpião. Também possuía um par de asas massivas.

Suas 3 cabeças giraram como uma só quando sentiram a presença de Damien, e sem qualquer suspense, ele atacou.

A quimera se aproximou enquanto cada uma de suas cabeças preparava um ataque separado. O leão soltou um rugido massivo que sacudiu a terra, o bode canalizou energia entre seus chifres para disparar como um feixe, e sua cabeça de cobra exalou um sopro venenoso.

No entanto, ataques de feixe não eram mais eficazes contra Damien. Especialmente daqueles que estavam na mesma classe que ele.

Durante os 3 meses em que passou se ajustando a seu corpo, Damien não ficou ocioso em seu outro treinamento. Seu controle sobre vetores havia melhorado a ponto de poder desviar esses ataques sem se queimar como na última vez e ele havia criado um segundo passo para a sua arte da espada.

Porém, como essa seria sua última luta dentro do calabouço, Damien decidiu ser um pouco imprudente. Já que Zara já havia se movido para atacar a besta, ele só tinha que distraí-la. Damien abriu a boca e inspirou um grande fôlego.

Seu peito expandiu, suas bochechas incharam, sua garganta se contraiu, e quando seu movimento atingiu seu ápice, Damien soltou um rugido ainda mais feroz que o da quimera.

Com este rugido veio um feixe etéreo de energia ondulante coberto em arcos de relâmpagos negros que fendia até mesmo o próprio espaço, como se apenas ele pudesse existir.

Quando o feixe colidiu com os ataques da quimera, uma explosão abafada balançou o inteiro 50º andar.

Os restos despedaçados de árvores e a grama murcha que já estavam à beira da morte foram todos incinerados em nada, e até mesmo o chão rachou em centenas de pedaços, provocando reações até mesmo das bestas no 49º e 51º andares que só podiam sentir os efeitos colaterais do embate.

Enquanto o sopro venenoso da cobra e o feixe de energia do bode foram ambos aniquilados no confronto, o ataque de sopro de Damien ainda reteve um pouco da sua energia. Ele continuou avançando e perfurou a cabeça do meio, a cobra, fazendo-a explodir em incontáveis pedaços.

A quimera rugiu de dor. Embora suas 3 cabeças fossem conectadas ao mesmo corpo, elas apenas compartilhavam uma parte de sua consciência. Pela maior parte, elas podiam pensar independentemente. Por essa razão, ao invés de sentir como se tivesse perdido uma de suas cabeças, a cabeça do leão e do bode sentiram como se tivessem perdido um irmão.

Isso as enfureceu tremendamente e a quimera decolou do chão e começou a voar, usando sua velocidade para tentar pegar Damien de surpresa. Uma chuva de feixes de energia e bolas de fogo foi lançada em direção a Damien de todas as direções. Damien, no entanto, simplesmente abusou de sua teleportação.

Sempre que estava prestes a ser atingido, ele desaparecia e reaparecia à distância. Já que havia decidido se divertir durante essa luta, Damien sequer contra-atacou, enfurecendo ainda mais a quimera.

Será que essa besta bípede estava subestimando-a? Quando esse pensamento cruzou sua mente, a quimera quase se perdeu em fúria. Intensificou ainda mais seu ataque, destruindo quaisquer áreas restantes da caverna que não estavam quebradas.

Neste momento, Damien parou de desviar de todo ataque que vinha em sua direção. De vez em quando, ele parava e se permitia ficar na trajetória de um ataque, apenas desviando com um leve toque de dedo. Agora que tinha duas mãos, ele tinha ainda mais liberdade para fazer isso.

Embora os movimentos das mãos não fossem necessários para afetar vetores nas suas proximidades, eles eram uma espécie de intermediário que Damien usava para se acostumar mais ao seu poder. Uma vez que tivesse melhorado em certo nível, ele seria capaz de bloquear quaisquer ataques direcionados a ele sem sequer se mexer.

Damien continuou a mover seus braços, parecendo um maestro conduzindo uma orquestra, no entanto, isso não era uma sinfonia. Em vez disso, era uma cacofonia de destruição que faria qualquer um querer citar uma certa referência de 'arte é uma explosão'.

Com nenhum de seus ataques sequer afetando Damien levemente, a quimera decidiu descer e usar pura força, mas antes que pudesse fazer isso, notou que sua cauda havia sido congelada. No momento seguinte, toda a cauda se estilhaçou e sangue esguichou do ponto onde costumava se conectar com seu corpo.

Em seguida, tentáculos feitos de sombras agarraram suas asas e as prenderam, antes de outra porção de sombras se juntar na forma de uma besta. Esta era naturalmente Zara, que tinha usado suas próprias asas para voar ao lado da besta em ocultação, esperando pela oportunidade de atacar.

Embora ela pudesse ter atacado muito mais cedo, ela podia sentir o quanto Damien estava se divertindo e decidiu deixá-lo brincar um pouco mais. No entanto, ele já havia estado teleportando sem controle e manipulando trajetórias de ataque pelos últimos 20 minutos, e ela estava ficando entediada.

Uma vez que Zara materializou, ela rapidamente usou seus dentes afiados para arrancar uma das asas da quimera enquanto usava suas garras para incapacitar a outra. Enquanto a quimera caía no chão, Zara foi para um ataque fatal, antes de parar abruptamente e desaparecer de volta à ocultação.

Isso foi naturalmente obra de Damien. Agora que a brincadeira havia acabado, ele decidiu que essa besta era o melhor boneco de prática para o segundo passo da sua arte da espada.

Com a besta caindo, Damien correu para o ar para encontrá-la, deixando imagens residuais em seu rastro. Então, sua figura tornou-se etérea enquanto ele dançava ao redor das bestas.

Mesmo com sua elegância, esta era uma dança de sangue.

Se o primeiro passo de sua arte da espada era um único golpe para causar dano crítico, o segundo passo era uma dança de espada para acumular ferimentos no oponente e fazê-lo sangrar.

À medida que sua figura piscava para dentro e para fora do espaço ao redor da besta, pedaços de seu corpo começaram a desaparecer. Eles não estavam despedaçados ou cortados como uma espada normal faria, mas sim tinham sido banidos da existência, flutuando em algum lugar no infinito vazio.

Quando Damien terminou, apenas cerca de um terço do corpo da besta restava. Damien pousou no chão, seus passos nem mesmo levantando poeira, enquanto atrás dele, a figura da besta caía com um estrondo retumbante.

'Arte da Espada do Vazio Segundo Passo: Dança do Vazio'

Sua inteira dança da espada que cortou uma besta de 75 metros de comprimento em um saco de carne de 25 metros havia durado apenas o tempo que levou para a besta cair ao chão após suas asas serem cortadas.

Em primeiro lugar, a luta inteira foi inútil. Damien poderia ter terminado em apenas 5 minutos se quisesse, mas ele tinha se apegado bastante ao calabouço que foi seu lar pelos últimos 2 anos. Por esse motivo, decidiu que a melhor maneira de se despedir seria com uma grande batalha.

Enquanto a experiência fluía, Damien aproximou-se para devorar o corpo da quimera, mas antes que pudesse, ele se transformou em partículas de luz antes de afundar no chão.

No espaço que antes ocupava, apareceu uma grandiosa formação, que parecia um círculo gigante preenchido com padrões misteriosos.

Damien podia sentir as flutuações espaciais emanando da formação e queria estudá-la, mas sabia que não era o momento. Este calabouço tinha 100 andares e ele só havia limpo 50. Ele naturalmente planejava voltar uma vez que seus assuntos estivessem resolvidos e terminar o que começou. Ele poderia estudar a formação então.

Olhando para a formação, Damien sentiu sua antecipação aumentar junto com uma leve ansiedade. Ele então verificou rapidamente seu inventário para se certificar de que havia trazido tudo o que precisava.

Nele estava todos os livros que ele achava que seriam relevantes mais tarde que ele pegou do Subespaço do Kurt, sua espada quebrada que o havia acompanhado desde o início de sua jornada, e as carcaças de centenas de bestas que Zara havia abatido nos últimos 9 andares.

Embora ele quisesse ir mais para cima e pegar mais carcaças, ele só tinha tanto espaço em seu inventário, então ele se contentou com o que podia.

Damien então se resolveu e começou a caminhar em direção à sua salvação para sair do calabouço. "Zara, esta é nossa passagem para sair. A superfície que te falei na nossa primeira reunião está logo após essa formação."

Sentindo as emoções turbulentas de Damien, Zara emergiu de sua sombra e se aninhou nele, mostrando seu apoio. Damien sorriu para o pequeno gesto dela. 'É isso aí. Tudo já está planejado e nós já somos fortes. Do que estou mesmo preocupado?'

Depois de tranquilizar Zara de que estava bem, ela voltou para sua sombra. E sem mais delongas, ele entrou na formação.

O que cumprimentou Damien foi uma luz intensamente brilhante e o belo cheiro da natureza.

Após dois extenuantes anos, ele finalmente havia alcançado a superfície.