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Capítulo 14 do princípio

No topo da montanha, com um pequeno galo nas mãos, Joaquim chega ofegante. O vento frio corta sua pele, a noite desce como um cobertor pesado. Ele havia caminhado quase dez quilômetros, e seu corpo clamava por descanso.

À frente, uma caverna escura o chama com sua boca aberta e úmida.

O pequeno galo vira-se em seus braços e sussurra com uma voz estranhamente humana:

— Por aqui, amigo… por aqui.

Joaquim hesita, mas entra.

Lá dentro, o breu é total. Seus olhos se acostumam aos poucos e então… dois olhos gigantes surgem na escuridão, faiscando como brasas. Um galo colossal se revela na penumbra, a crista se movendo como se fosse feita de carne viva.

— Bem-vindo, meu pequeno Joaquim…

Joaquim congela. O pavor paralisa seu corpo. Tudo o que ele quer é fugir.

— Q-quem é você?

— Sou um velho amigo do seu pai… E agora, sou seu amigo também.

O galo abaixa a cabeça, a crista roçando o chão de pedra.

— Chegue mais perto. Quero te enxergar melhor.

Joaquim caminha, as pernas tremendo como vara verde.

— Você foi escolhido para nos proteger.

— Proteger quem? Eu não sou herói. Nem quero ser.

O galo fala com voz grave e firme:

— Proteger do mal… do puro suco da maldade.

Uma pena branca cai do alto da caverna, flutuando lentamente até tocar o chão diante de Joaquim.

— Pegue-a. Coloque em sua testa.

Joaquim obedece, com a mão trêmula. Ao encostar a pena na testa, um clarão invade sua mente.

Ele cai no chão, gritando.

— AAARGH!!

Imagens passam diante de seus olhos: fogo, gritos, crianças queimando, casas em chamas, sufocando em fumaça e terror.

— O que foi isso?! O que eu acabei de ver?!

— Eu vi o inferno?

Ele se arrasta no chão, soluçando.

— Você é o quê? Um demônio?!

— Não. Nem divino, nem infernal. Sou como você… mas também sou o que está em todos os lugares daqui — e em lugar nenhum.

Joaquim se senta, os olhos vermelhos de chorar.

— Isso não faz o menor sentido. Eu tenho onze anos! Dá isso pra alguém mais velho, por favor. Eu tô ficando doido… só pode.

Ele encara o galo gigante, exausto e confuso.

— O que você quer de mim, afinal?

O galo então abre suas asas imensas e fala:

— Quero que evite o que viu. Esse futuro. Você, a partir de agora, é meu protegido.

Ele caminha lentamente pela caverna, seus passos fazendo eco como trovões abafados.

— Uma das minhas crias está perdida. Perto de você. Quando encontrá-la, apenas erga essa pena para a lua… e eu saberei.

Joaquim o encara, incrédulo.

— E se eu não quiser?

O galo vira lentamente os olhos faiscantes para ele.

— Então o que você viu... acontecerá. E não haverá mais ninguém para impedir.