Afrodisíacos

Soleia esperava que sua noite fosse ruim, mas justamente quando achou que suas expectativas não poderiam ficar mais baixas, a divindade lá em cima decidiu provar que ela estava errada.

Em poucos minutos depois de Lily e Soleia terem tentado se acomodar no minúsculo colchão, o frágil vidro da janela se estilhaçou sem aviso, fazendo com que cacos de vidro caíssem sobre suas cabeças.

"Oh querida!" Lily gritou. "Sua Alteza, não se mexa, eu vou pegar os cacos primeiro!"

Soleia sacudiu a cabeça para se livrar dos fragmentos como um cão molhado e, em seguida, espirrou como um também. Com a janela quebrada, o vento gelado e a neve não tiveram problemas para invadir, mergulhando seu quarto já frio em temperaturas congelantes.

"Não jogue os cacos fora, talvez eu possa usá-los no futuro," Soleia disse com um espirro. Lily lhe lançou um olhar desamparado, mas juntas começaram a salvar o que podiam. Mas como Soleia não podia fazer magia, ela não conseguia consertar o vidro da janela, nem gerar calor próprio.

Em vez disso, Soleia só podia se encolher mais perto de Lily no fino colchão, tremendo como ratos afogados. O vento não mostrava sinais de diminuir, e Soleia temia que uma tempestade de neve estivesse a caminho.

"Sua Alteza…" Lily espirrou de maneira patética. "Não podemos continuar assim! Vamos pedir ajuda ao Sir Byrone!"

Soleia balançou a cabeça. "Vamos procurar outro quarto primeiro. Eu me recuso a acreditar que não podemos encontrar outro para ficar!"

Elas saíram do quarto e atravessaram os sombrios aposentos dos servos. Havia apenas um quarto com luz de vela, e esse pertencia a Jerome. Soleia tinha certeza de que ele tinha uma cama funcional com cobertores grossos, mas ela preferiria perecer a expulsá-lo e privá-lo de uma boa noite de sono, mesmo que Jerome estivesse disposto a aceitar.

Claro, compartilhar um quarto tão pequeno estava fora de questão, a menos que quisessem se empilhar um sobre o outro como um baralho de cartas.

Soleia e Lily continuaram sua busca com desalento. Parecia que Sir Byrone não estava mentindo quando afirmou que tinha comandado o melhor quarto para elas.

Os outros quartos ou não tinham portas funcionais ou ostentavam janelas igualmente quebradas. Alguns tinham uma infestação de ratos que esboçavam uma sinfonia de boas-vindas, enquanto outros tinham aranhas e todo tipo de insetos como inquilinos. Todos estavam empoeirados, e todos estavam gelados.

"Princesa…" Lily disse, lançando um olhar preocupado para Soleia. "Talvez haja um quarto de hóspedes disponível na ala principal?"

"Pouco provável," Soleia disse com um suspiro. "Lucinda e os outros já se apossaram de todos os outros quartos."

"Por favor, Princesa," Lily pediu quase suplicando. "Você não pode voltar para os aposentos dos servos. Se não…"

Se não, seus corpos frios e congelados seriam jogados para fora pela manhã na floresta para os cães-espinhos se alimentarem como um agradável agrado invernal.

Soleia só podia suspirar. Elas poderiam se aquecer e sobreviver por uma noite, talvez milagrosamente duas, mas não para sempre. Não havia outra escolha. Qualquer que fossem os escândalos em que pudessem se envolver, pelo menos ainda estariam vivas.

"Volte e pegue nossas coisas, Lily," Soleia instruiu. "Eu vou procurar por Sir Byrone."

Lily imediatamente assentiu com entusiasmo, correndo de volta para seus aposentos esfarrapados, quase escorregando na pressa. Soleia só podia observar sua figura desaparecendo com um balançar de cabeça. Sua criada teria vivido uma vida muito melhor se tivesse permanecido no palácio, servindo uma das outras irmãs de Soleia.

Com Lily fora para arrumar suas coisas, Soleia marchou de volta para o prédio principal, olhando para a esquerda e direita em busca de Ralph Byrone. Ela vagamente se lembrou dele mencionar que estava hospedado em um anexo separado da ala principal, mas ainda dentro das dependências da propriedade, e se perguntou se seria capaz de encontrá-lo lá.

Baseada puramente na memória do tour de Jerome quando ela chegou, Soleia seguiu naquela direção. No entanto, antes que ela pudesse sair da varanda sinuosa, ouviu um baque vindo de um canto e virou a cabeça para olhar.

Seus olhos se arregalaram de alarme.

"Sir Byrone!"

O homem estava desabado em um dos bancos, seu corpo superior apoiado contra a pedra fria. Ao se aproximar, Soleia percebeu que seus botões haviam sido arrancados, revelando a pele por baixo do tecido. Ele estava pressionado contra a superfície lisa, suas bochechas levemente vermelhas, possivelmente tingidas de rosa por causa do ar frio ao seu redor.

"Sir Byrone, você está bem?" ela perguntou, ajoelhando-se ao lado dele para observar melhor.

Sua respiração estava ofegante e seus olhos estavam fechados. Mas no momento em que ouviu a voz de Soleia, seus olhos se abriram ligeiramente. Eles se arregalaram significativamente quando ele percebeu quem estava na sua frente, e ele empurrou Soleia para longe.

Ela recuou um pouco, mas não o suficiente para fazer grande diferença. Ele não tinha colocado força naquele empurrão - mas parecia mais que ele não podia, em vez de não querer.

"Sua Alteza…" Ralph disse ofegante, lutando. "Por favor… fique longe."

"Você está fervendo!" disse Soleia, se aproximando para ajudá-lo a se levantar. Ele ofegou quando os dedos dela acidentalmente roçaram sua pele, estremecendo. "O que aconteceu?"

"Afrodisíaco," foi tudo o que ele disse, mas foi o suficiente para causar um arrepio de entendimento em Soleia. Isso explicaria por que ele tinha rasgado suas roupas - seu corpo inteiro estava queimando por dentro!

"E... Existe uma cura?" Soleia perguntou, passando a mão pelos cabelos para penteá-los para trás em frustração. Ela olhou para os lados. O que ela estava dizendo? Claro que havia uma cura - só que não era algo que ela pudesse oferecer.

"A menos que você queira arriscar seu renome por mim, não acho que me dar a cura seja uma boa ideia, Princesa," Ralph disse fracamente, tentando sorrir, mas a dor se infiltrava em cada curva dos seus lábios.

Ele de repente fechou os olhos, apoiando seu peso na borda do banco numa tentativa de se erguer.

"A neve," ele disse, com a voz ofegante. Uma nuvem de fumaça branca emergiu de seus lábios ao respirar. "Ela deve ser capaz de me esfriar. O suficiente para aguentar."

No entanto, Ralph não tinha energia para se manter em pé adequadamente. Qualquer afrodisíaco que lhe tinha sido dado, tinha tornado seus membros fracos e moles. Somado ao fato de que ele tinha estado sentado no chão por um tempo, ele perdeu o equilíbrio assim que se levantou. Se não fosse pelo raciocínio rápido de Soleia, ele teria batido os joelhos contra a pedra.

"Cuidado!" ela gritou, apoiando seu braço superior para oferecer algum tipo de suporte. Ele assentiu em agradecimento, e assim, ela o apoiou por todo o caminho pela varanda.

Estavam quase na área aberta quando uma rajada de vento particularmente forte soprou. Soleia fechou os olhos por reflexo, e um passo em falso rapidamente fez os dois tombarem no chão.

Em vez da pedra áspera contra a palma de suas mãos, sua queda foi amortecida. Soleia soltou um gemido de dor, e quando tentou se mover, suas mãos tocaram algo particularmente duro, provocando um gemido debaixo dela.

Seus olhos imediatamente se arregalaram, mas para seu horror, antes que pudesse se levantar, um grito cortou a noite.

"O escândalo!"