Você já se perguntou como uma simples viagem com seu pai pode virar sua vida de cabeça pra baixo? Não? Que sorte a sua meu amigo, porque eu também queria que fosse uma PIADA de muito MAL gosto! Num momento, eu tinha um pai, uma mãe, uma casa… no outro, BUM! Sem família, sem meu braço favorito, sem vida normal, sem nada.
Ah, mas calma, nem tudo foi perdido! Ainda sobrou alguma coisa... A dor e culpa! Gibis? Videogame? O Sanduiche de presunto Diet que meu pai adorava? Puff! Foram juntos no pacote. Porque, né, quando a vida resolve ferrar com você, ela faz o serviço completo.
A parte "boa"? Minhas chances de ficar famoso eram altíssimas! O problema era o tipo de fama. Mas, aí, se você não liga de ser: vaiado, xingado, jogarem coisas em você, a parte boa é que as vezes jogavam comida, então eu saia no lucro.
E claro, e para fechar com chave de bosta! Ser reconhecido como:
O MANIACO QUE APAGOU OS PRÓPRIOS PAIS DA EXISTÊNCIA! (Sons de trovões ao fundo!)
Tinha mais fotos e reportagens sobre mim, do que qualquer outra coisa. Me sentia quase como um daqueles Idols que os adolescentes têm no quarto… Tirando o detalhe de que, se um me visse, sairia correndo.
(A foto definitivamente não ajudou.)
Com tudo isso explicado, acho que já posso contar como vim parar aqui, né? Dou 4 estrelas para o lugar, a estética deixa a desejar. contudo, até que tem seu charme: gotas caindo sem parar, canos rangendo, crianças chorando ao fundo... e Pah! Ambiente acolhedor. Posso citar vários motivos para você "morar" aqui.
De vez em quando, me jogam no quarto de luxo, acolchoado, o ruim, que é meio desconfortável por conta das amarras. Tirando isso definitivamente é melhor do que dividir um quarto minúsculo, abafado e apertado, com um monte de outras crianças problemáticas como eu. E quando digo problemáticas, não estou falando só de comportamento… algumas têm individualidades que definitivamente não ajudam quando você ta querendo dormir.
Já tentou pegar no sono com alguém encarando até gelar sua alma? Sussurrando palavras sem sentido no seu ouvido sem nem abrir a boca? Ou dividir o quarto com um colega que brilha no escuro como um letreiro de motel? Sem contar aqueles que simplesmente… dão medo. Não é culpa deles, eu sei. Mas quando você acorda no meio da noite e vê um garoto com olhos brilhantes e múltiplos braços te encarando, bom… o sono some rapidinho.
E quando finalmente consigo dormir, sou brindado com pesadelos nada agradáveis: insetos gigantes rastejando pelo meu corpo, mandíbulas estalando, pernas finas e peludas me prendendo como numa teia invisível. Às vezes, eu os sinto, mesmo depois de acordar. Meu cérebro insiste que algo está se mexendo debaixo da minha pele… e nessas horas, dormir de novo não é mais uma opção muito agradável.
Acho que to me perdendo aqui, você não deve tá muito interessado na minha estadia 5 estrelas aqui, e sim em como diabos terminei aqui.
Bom....
Eu… Eu não queria lembrar disso. Não queria nem pensar (por mais que seja minha culpa...) Sempre que eu fecho os olhos, volto a ver aquela cena...
Quando acordei, ainda meio zonzo, senti algo me segurando e, por instinto, olhei para cima.
E então… eu vi.
Minha mãe.
Ou, melhor, o que restava dela.
A carne já havia desaparecido; restavam apenas sobras, pedaços grudados no osso. O cheiro ainda estava ali, queimando minha garganta.
Eu queria tocá-la. Queria abraçá-la. Mas, por mais que eu negasse, ela não estava mais ali.
Não era ela. Não podia ser.
Minha mãe irradiava calor, sorria, tinha aquela voz que me chamava pra comer, mesmo quando eu perdia a noção do tempo.
Ela… ela não merecia aquilo.
Meu corpo travou. Meus pulmões esqueceram como puxar o ar. Por um segundo, pensei que fosse um pesadelo. Mas, não importava o quanto eu tentasse me negar, aquilo era real. Eu desejava que tudo aquilo fosse apenas um sonho, que em instantes minha mãe viesse me chamar para o café.
Com esse choque, sem pensar, toquei nela com aquela mão...
Puff..
Ela simplesmente… sumiu. Esfarelou-se em segundos entre meus dedos, levado pelo vento, como se nunca tivesse existido.
Aí está! O grande truque de mágica: eu, o maravilhoso Menino-Desintegrador de Pais, fazendo minha própria mãe desaparecer diante dos meus olhos.
Alguém me dá um prêmio?
(.... Eu queria de verdade que nada dessas coisas tivessem acontecido, eu realmente amava muito minha mãe..., e ver o que eu fiz com ela sem saber como eu fiz dói e dói muito..)
Sem família, sem casa, com um braço amaldiçoado que destrói tudo o que toca e quase completando um bingo de traumas, fiquei lá, deitado no chão. Dias e dias. Esperando a morte chegar.
Prévia do segundo capítulo: Saí no soco com uma gangue de Macacos raivosos.
Após um bom tempo, talvez dias, eu percebi que a morte não era muito pontual com suas tarefas.