Prólogo - Meu nome era Emanuel

Meu nome era Emanuel Bennett.

Eu passei toda minha infância vivendo com os meus pais, foi normal, eu acho.

Mas aos 16 tudo mudou, meus pais começaram a brigar mais, e eu tentei me manter longe disso, sempre tentava ficar mais tempo na escola, e saía pra tentar matar o tempo pelo vizinhança quando meus pais começavam a brigar.

Eu achava que com o tempo ia melhorar e uma tudo ia se resolver.

Errado, eu estava errado, tudo só piorou.

Com 17 anos, meus pais se separaram, e eu mudei cidade com meu pai. Eu fiquei triste quando tive que me separar da minha mãe, mas já fazia um tempo desde que tínhamos virados estranhos morando sob o mesmo teto, tudo o que restou foi um sentimento ambíguo.

E meu pai? Ah, mesmo morando na mesma casa, eu quase não o via, sempre no trabalho ou em qualquer outro lugar menos em casa.

Parece estranho, mas não me sentia solitário, ou talvez eu só não sabia, mas eu sentia que faltava algo, um espaço vazio, que parecia me devorar, aos poucos.

Até ela aparecer.

Ela era o exato contrário de mim, extrovertida e alegra, parecia brilhar como uma estrela no céu escuro, fácil de conversar e fazia amizade com todos ao seu redor.

Ela era linda como seu próprio nome, ela me disse que seus pais escolheram antes dela nascer, parece até que tinham previsto.

Linda, por algum motivo, se aproximou de mim, e pouco a pouco, aquele vazio foi se preenchendo.

Meio inacreditável, mas alguns meses depois de me conhecer ela me pediu em namoro, eu fiquei sem entender, mas alguma coisa gritou dentro de mim me dizendo para aceitar, e assim começou nossa vida a dois.

Nunca consegui acompanhar completamente o ritmo dela, me misturar com seus amigos, nem gostar das mesmas coisas que eles, mas eu tentava, e ela não desistiu de mim, com o tempo também fui fazendo amigos e me abrindo mais com os outros.

Então, finalmente, resolvi sair de casa, nunca tive problemas financeiramente, e consegui um trabalho facilmente na mesma empresa que o meu pai, e ela veio comigo.

Mesmo sem nos casarmos, começamos a morar juntos, sendo bem sincero, foi como viver um sonho.

Ela iluminava meu dia, mesmo depois de um dia cansativo de trabalho, o seu sorriso deslumbrante era o suficiente pra recarregar minhas baterias.

Isso até eu receber aquela mensagem.

"Você tem que ver isso", uma mensagem de um contato desconhecido, com um vídeo anexado.

Era ela, Linda, aos beijos com outro cara, que andava com ela e os amigos as vezes, eu entrei em choque, meu coração disparou, e minha mente ficou nublada, mas tentei pensar que talvez fosse mentira, ou talvez fosse um vídeo antigo, mas a tatuagem no pescoço, que ela tinha feito na semana anterior, estava lá.

Assim que terminei de ver o vídeo, o mesmo contato me mandou uma localização e não disse mais nada, a duvida ecoou na minha cabeça.

Eu tinha que ver.

E então deixei tudo que tinha pra fazer no trabalho pra trás, e saí apressado, acho que ouvi alguém me chamando, mas nem olhei pra confirmar.

Entrei no carro e abri o GPS do smartphone, e antes de chegar no local, recebi outra mensagem.

"Olha no quarto 12", eu olhei rapidamente e depois foquei na rua de novo, a localização era de um motel escondido num canto da cidade, eu entrei sem nem falar com a recepcionista, ela correu atrás de mim, mas não conseguiu me alcançar.

O motel não era grande, e não demorei para achar o quarto, a porta não estava trancada, o tempo quase parou e a porta era leve mas parecia pesar uma tonelada, milhares de pensamentos ecoavam na minha cabeça naquele pequeno espaço de tempo.

E quando a porta finalmente abriu, o tempo voltou a passar normalmente.

Ele estava lá, o homem do vídeo, e como ele estava outra mulher, eu senti um imenso alívio, como se tivessem tirado o peso do mundo das minhas costas.

Mas antes que eu pudesse aproveitar aquele sentimento, enquanto todos olhavam pra mim tentando entender o que estava acontecendo.

Ela apareceu, saindo do banheiro, ainda terminando de se secar com a toalha.

Meu mundo desabou, o peso que eu achava ter sido tirado das minhas costas voltou pra me esmagar com toda a forca.

Meu coração disparou, minha respiração ficou pesada, e de novo o tempo parou, minha mente foi inundada por pensamentos, até que um deles falou mais alto.

"Corre", e então, eu corri e corri, até minha mente ficar em branco.

Quando acordei, eu estava deitado, no chão de um parquinho na mesma vizinhança onde eu ia quando meus pais começavam a brigar.

Eu estava de volta.

De volta ao começo, antes dela. Antes dela aparecer na minha vida.

Foi o que pensei no começo, mas era pior, muito pior.

Diferente de antes, agora eu sabia o que me faltava, eu já tinha sentido o gosto de como era se sentir completo.

E aquele vazio passou a me consumir novamente, e um novo relacionamento era fora de cogitação.

Depois de vender tudo o que eu tinha, eu parei de trabalhar, aquele lugar me lembrava ela, e tentei encontrar algo pra ocupar a mente, tentei de tudo, esportes, música, pintura, tentei até esculpir, mas nada funcionou, até que eu simplesmente desisti.

Depois de anos quase sem sair de casa, já chegando perto dos meu 30 anos, eu era alguém totalmente diferente, ainda tinha a aparência saudável, mas os olhos vazios e voz desprovida de qualquer emoção.

Depois de usar todo o dinheiro que tinha, passei a trabalhar em pequenos trabalhos de meio-período, ganhando só o suficiente, sem muito luxo.

Quando chegava em casa, me abrigava nos braços da minha querida internet.

Até encontrar algo diferente, "Faigorn Chronicles", era só uma novel qualquer na lista de recomendações, como qualquer outra. Era o que pensava até que eu finalmente comecei a ler.

Foi mágico, uma sensação única, eu comecei a ler e não consegui mais parar, quando eu percebi, eu já vivia para aquela novel. Eu precisava de mais dinheiro, então procurei um trabalho fixo, até encontrar um trabalho como um atendente em um café.

Para manter meu trabalho me empenhei em melhorar minha comunicação com as outras pessoas, sem nem perceber, meu olhar já não era tão vazio e minha voz voltou a ter sentimentos.

Quando a novel finalmente acabou, eu procurei outras obras do mesmo autor, ele era bem famoso entre os leitores, algumas obras tinham ganhado adaptações, mangas, animes, jogos e até filmes, então a quantidade de fãs não era baixa, pelo contrário, era enorme.

Mas tinha um pequeno problema com o autor, ele tinha alguns parafusos a menos.

Ele alegava ter vindo do mesmo mundo das obras que ele escrevia, e não só isso, ele também dizia ser o protagonista da primeira novel que ele fez, "Faigorn Chronicles", a mesma que me fez virar um fã.

E que, além disso, as outras obras foram baseadas em visões que ele recebe desse outro mundo.

Mas mesmo que o mundo o chamasse de louco, ninguém negava o fato que eles era dos melhores escritores da história, muitos menos eu, já que de certa forma as obras obras dele me ajudaram quando eu mais precisava de algo pra me ajudar.

Por isso, eu me esforcei para acompanhar todas as suas obras, mesmo as que eu não gostava, o que não era exatamente um problema, já que eram poucas.

Trabalhei mais, me empenhei mais, mantive a minha saúde em dias, e finalmente, achei algumas pessoas para chamar de amigos, dessa vez de verdade, não só para tentar seguir o ritmo de outra pessoa.

E assim cheguei nos meus 50 anos de idade, infelizmente a ferida que Linda deixou nunca se fechou, e nunca procurei um par romântico, mas o que eu tinha já era mais que o bastante pra mim.

E parece que a vida concordava com isso.

Durante um dia normal no café onde eu trabalhava, onde agora eu ocupava o cargo de gerente, enquanto eu estava resolvendo um problema com uma entrega de mercadoria, um dos clientes frequentes entrou normalmente, não percebi nada de errado na hora, mas logo em seguida ouvi vozes altas do lado de dentro, quando olhei, eu vi o homem que tinha acabado de passar por mim apontando uma para uma das atendentes.

Não sei o que aconteceu mas ele estava alterado, com raiva de algo, a atendente chorava enquanto pedia desculpas. Não sabia qual era o motivo, talvez fosse um ex-namorado, talvez um stalker, talvez um assaltante qualquer, seja o que fosse, não importava.

A atendente era só uma jovem, ainda no seu primeiro emprego, eu não precisava pensar muito pra chegar numa conclusão, eu tinha que resolver aquilo e rápido, antes que alguém se machucasse.

Sem pensar muito, eu corri na direção do homem armado, numa tentativa desarma-lo tentei tirar a arma da mão dele, mas ele não soltou a arma, então tentei derruba-lo com todas forças que tinha, e consegui, mas arma disparou antes de cairmos, os outros clientes e funcionários pegaram a arma que estava no chão e me ajudaram a render o homem, depois disso fui em direção a atendente que estava assustada e ela parecia bem, a bala não havia atingido ela.

Alivio.

Foi a ultima coisa que senti antes de desmaiar, depois disso só me lembro de fragmentos, vozes distantes, nem sei quem estava falando e nem entendi muita coisa do que disseram, mas parece que a bala tinha me atingido. Lembro de sentir alguém me levantar, barulho de sirenes, e cheiro de álcool, e depois disso... só escuridão, pura e completa escuridão.

Minha mente vagou nessa escuridão nem sei por quanto tempo, pouco a pouco senti minhas memorias sumindo e minha mente desaparecer.

 E então quando pensei ser o fim, eu acordei novo...

Mas agora, eu tinha outro nome.