Os ventos estavam mais pesados naquela noite. Cael sabia que as coisas estavam mudando, mas não imaginava o quão rápido o tabuleiro de xadrez estava se movendo.
Quando ele saiu da conversa com Seraphine, uma sensação de urgência cresceu dentro de si. Ele não podia mais esperar. Algo estava prestes a acontecer, e ele não seria pego desprevenido.
Ele se dirigiu ao pátio, onde a neblina se erguia do solo. O céu estava mais escuro do que o normal, uma noite sem estrelas, como se o próprio universo estivesse em silêncio. Cael respirou fundo, tentando sintonizar sua mana com o ambiente.
Ele podia sentir a tensão no ar.
De repente, um som abafado que vinha de trás o fez virar. Ele estava sendo observado de novo.
— "Você não perde uma chance de aparecer nas sombras, não é?" — Cael falou sem se virar.
A figura que se aproximava não era surpresa. Seraphine emergiu das sombras, seu rosto parcialmente coberto por seu capuz. Mesmo assim, Cael podia sentir o olhar dela sobre ele.
— "Não estou sozinha agora, Cael." — A voz de Seraphine soou baixa, quase como um sussurro no vento.
Cael se virou para ela, um pouco mais alerta. Algo na maneira como ela falou o fez desconfiar. Havia algo errado no ar.
Antes que pudesse perguntar o que ela queria dizer, um feixe de luz cortou a escuridão. Cael se posicionou de imediato, mas a luz não era uma flecha, nem um feitiço ofensivo. Era uma carta, que flutuou até ele com uma precisão estranha.
Cael a pegou com uma sobrancelha arqueada e leu:
"Se quer saber a verdade, venha ao salão da Câmara dos Nobres. Sozinho."
Não havia assinatura, mas ele sabia quem estava por trás disso. A Família Von Auster.
Seraphine observava atentamente, sem tentar esconder sua preocupação.
— "Você não vai cair nessa, vai?" — ela perguntou, os olhos estreitados.
Cael riu suavemente, como se a situação fosse um pouco mais leve do que realmente era.
— "Sei que é uma armadilha. Mas, Seraphine, se alguém realmente souber o que está acontecendo nos bastidores, preciso ir até lá. Não posso esperar mais."
Seraphine balançou a cabeça, hesitante.
— "E se for um golpe para te pegar desprevenido? Isso é um convite para a sua morte, Cael. Eles não brincam."
— "Sim, eles não brincam." — Cael murmurou, olhando para o céu. Ele sentiu sua mana pulsando em resposta ao seu desejo de ação. — "Mas se querem me matar, vão precisar tentar muito mais do que apenas um truque de salão."
Seraphine se aproximou dele com um olhar preocupado, mas ao ver a determinação nos olhos de Cael, ela suspirou.
— "Eu não vou deixar você ir sozinho. Mas, seja qual for o jogo deles, jogaremos também."
Cael sorriu levemente. Seraphine tinha uma chama própria. Embora fosse difícil entender suas motivações, ele sabia que ela não estava aqui por conveniência. Ela acreditava em algo maior. No fundo, ele sabia que ela estava disposta a se arriscar ao lado dele.
— "Me acompanhe então, mas lembre-se: não podemos confiar em ninguém no caminho."
Seraphine fez um gesto afirmativo com a cabeça.
— "Entendido."
O Salão da Câmara dos Nobres
A noite estava mais fria enquanto os dois se dirigiam à Câmara dos Nobres. Os corredores vazios pareciam ecoar seus passos enquanto a tensão aumentava a cada movimento. O silêncio era opressor, como se o próprio ambiente estivesse esperando por algo grande.
Chegando à grande porta de madeira escura do salão, Cael e Seraphine se entreolharam.
— "Isso é uma armadilha. Não há outra explicação." — disse Seraphine, com os olhos fixos na entrada.
Cael assentiu, mas seus olhos estavam penetrantes, como se já estivesse antecipando qualquer movimento. Ele não podia se dar ao luxo de ser pego de surpresa. Sua habilidade para perceber qualquer mudança ao seu redor estava em seu ápice. Ele estava pronto para o que quer que fosse.
— "Estou indo primeiro." — Cael se aproximou da porta e empurrou-a levemente, entrando sem hesitação.
O salão estava vazio, exceto por uma figura sentada no trono de pedra no centro. Era um homem de idade avançada, vestido com roupas nobres. Seu rosto era conhecido por Cael: O Patriarca Von Auster.
O velho olhou para ele com um sorriso frio.
— "Bem-vindo, jovem Cael. Ou seria mais apropriado chamá-lo pelo nome verdadeiro?" — O Patriarca sorriu, como se soubesse exatamente o que Cael estava pensando.
Seraphine entrou logo atrás de Cael, mantendo a distância, mas observando tudo atentamente.
— "Eu sabia que uma hora alguém chegaria até você. Você é mais do que um simples estudante." — O Patriarca continuou, sua voz profunda e autoritária.
Cael não respondeu imediatamente. Ele sabia que a conversa que estava prestes a acontecer seria crucial. O Patriarca, embora parecesse um velho fraco, estava claramente muito mais atento e astuto do que Cael imaginava.
— "Você sabe o que quer de mim?" — Cael perguntou, sua voz calmamente controlada.
O Patriarca levantou-se do trono, seus olhos agora brilhando com uma intensidade ameaçadora.
— "Eu sei mais do que você pensa, Cael. E sei também que você não pode mais esconder sua verdadeira natureza."