Capítulo 34 – Encontro na Escuridão

A atmosfera na academia estava diferente. Os ventos noturnos carregavam uma energia estranha, quase opressora.

Cael sabia que aquilo não era apenas uma impressão. Algo realmente estava se aproximando.

Ele se levantou, caminhando até a janela do quarto. O céu continuava encoberto, as nuvens escuras rodopiando como se respondessem a uma força invisível.

Seraphine o observou com um olhar preocupado.

— "Tem certeza de que quer ir atrás dele agora? Esse tipo de coisa… você não pode simplesmente enfrentar como se fosse um duelo qualquer."

Cael olhou para ela, um sorriso de canto surgindo em seu rosto.

— "E desde quando eu luto 'duelos comuns'?"

Seraphine bufou, cruzando os braços.

— "Você entendeu o que eu quis dizer. Isso é diferente. Estamos falando de algo que pode estar além do nosso entendimento."

Cael deu um passo à frente, seus olhos dourados brilhando na penumbra do quarto.

— "Então eu vou entender."

Antes que Seraphine pudesse responder, ele desapareceu.

Fwooosh!

O ar ao seu redor ondulou enquanto Cael se movia entre os véus da realidade, sua presença se tornando quase inexistente. Ele atravessava o espaço sem precisar de portais ou feitiços. Apenas sua vontade era suficiente.

Em segundos, ele estava longe da academia, em um local completamente diferente.

Ruínas Esquecidas

O vento assobiava entre as pedras antigas, os restos de uma civilização que ninguém mais lembrava. O chão estava coberto por símbolos desgastados pelo tempo, mas ainda pulsando com energia residual.

Cael olhou ao redor.

"Eu sei que você está aqui."

O silêncio foi sua única resposta por alguns instantes. Então…

Passos.

Lentos. Frios. Ecos que pareciam vir de todas as direções.

Uma voz grave e distorcida soou, reverberando pelo ambiente.

"Então você veio."

Cael manteve sua expressão calma.

— "Era o mínimo que eu poderia fazer, já que estava sendo tão insistentemente observado."

A escuridão à sua frente se distorceu, e uma figura emergiu das sombras.

Ele era alto, envolto por um manto negro que parecia feito da própria noite. Seu rosto estava oculto, mas seus olhos brilhavam em um tom vermelho-sangue, cortando a escuridão como duas lâminas afiadas.

A pressão ao redor aumentou, como se o próprio espaço estivesse tentando se dobrar sob sua presença.

Cael permaneceu firme.

O estranho inclinou levemente a cabeça.

"Você é… diferente."

Cael sorriu de canto.

— "Ouvi isso algumas vezes."

O ser deu mais um passo à frente, a energia ao seu redor pulsando como um coração sombrio.

"Você não é deste mundo."

Cael estreitou os olhos.

— "E você é?"

Um silêncio pairou no ar. Então, a figura riu.

"Eu fui, uma vez."

Cael cruzou os braços.

— "E agora?"

Os olhos vermelhos brilharam ainda mais intensamente.

"Agora… Eu sou algo além."

A aura negra ao redor da entidade ondulou, e o chão sob seus pés começou a rachar.

"Mas não estamos aqui para falar de mim. Estamos aqui… por sua causa."

Cael sentiu a energia ao seu redor se intensificar. A criatura estava testando-o, sondando sua essência, tentando entender o que ele realmente era.

Ele não se moveu.

— "Então diga logo. O que quer comigo?"

A entidade permaneceu em silêncio por um instante. Então, suas palavras vieram como um sussurro carregado de poder.

"Quero ver até onde você pode ir."

Fwooosh!

Sem aviso, a escuridão explodiu ao redor deles.

Cael sentiu o ataque vindo antes mesmo que ele se materializasse. Com um simples pensamento, uma barreira invisível surgiu à sua frente, dissipando a onda de energia negra como se fosse nada.

A entidade observou a cena, seus olhos brilhando com algo próximo de curiosidade.

"Interessante. Você sequer precisou se mover."

Cael descruzou os braços, seus olhos dourados queimando com intensidade.

— "Se queria testar minha paciência, já conseguiu."

A entidade inclinou a cabeça.

"Paciência? Não. Quero testar sua… essência."

BAM!

A escuridão ao redor tomou forma, criando dezenas de lâminas negras que dispararam em direção a Cael.

Desta vez, ele se moveu.

Fwooosh!

Seu corpo desapareceu e reapareceu instantaneamente em outro ponto das ruínas, como se a própria realidade estivesse respondendo ao seu desejo. As lâminas atravessaram o espaço onde ele estava, colidindo contra o chão e abrindo crateras.

A entidade riu novamente.

"Então é assim que você lida com o perigo?"

Cael suspirou, sua expressão permanecendo calma.

— "Se tudo que tem para mostrar são truques visuais, estou decepcionado."

A energia negra ao redor da entidade ondulou, como se sua própria existência estivesse se ajustando.

"Você ainda não entendeu, não é?"

Cael estreitou os olhos.

— "O que exatamente?"

A entidade ergueu uma das mãos. No instante seguinte…

A lua desapareceu.

Tudo ao redor foi engolido por uma escuridão absoluta.

Cael piscou. Por um instante, ele não existia mais dentro do tempo e espaço.

E então, uma voz ecoou diretamente dentro de sua mente.

"Você pode ser um deus…"

"Mas mesmo deuses têm limites."

A realidade se distorceu violentamente.

Cael sentiu algo pressionando sua própria essência. Não seu corpo, não sua magia, mas algo mais profundo.

Algo que ele não sentia há muito, muito tempo.

Uma presença que podia realmente… ameaçá-lo.

Seus olhos brilharam.

Ele sorriu.

"Finalmente…"

"Algo interessante."

BOOM!

Sua aura explodiu, dissipando a escuridão.

E o verdadeiro embate começou.