Prólogo

Prólogo - Amanhecer

Thiago saiu da escola no final da tarde, como sempre. Ele andava sozinho, sem pressa. Os outros alunos formavam grupos animados, rindo e conversando sobre o que fariam depois da aula, mas Thiago preferia ficar quieto. Sempre foi assim. Não tinha muitos amigos. Não é que ele não tentasse, mas sempre se sentia como se estivesse fora de lugar, em um mundo onde não encontrava o seu espaço.

O caminho até a sua casa parecia longo, mas ele já estava acostumado. Durante o trajeto, a cidade à sua volta parecia distante, quase como se fosse parte de outra realidade. Chegando em casa, Thiago tirou a mochila, jogando-a no canto do corredor, e foi direto para a cozinha. Tinha decidido que ia tentar fazer bolinhos. Talvez fosse uma forma de distrair a mente. Ele nunca foi bom na cozinha, mas sabia que cozinhar poderia ser mais fácil se ele seguisse os passos certos.

Sentou-se diante do computador e abriu o chat. "ChatGPT, como faço bolinhos?", digitou. O som das teclas era familiar, quase como uma música calma para ele. O programa respondeu com uma receita simples, e Thiago seguiu as instruções. Ele estava mais concentrado no processo do que no resultado, talvez porque no fundo, sabia que o simples ato de tentar algo novo o ajudaria a desviar os pensamentos.

Enquanto misturava os ingredientes na tigela, ele refletia sobre seu dia. O cansaço, a sensação de ser só mais um rosto em uma multidão. Na escola, Thiago raramente se destacava. Não pelos motivos que os outros se destacavam, mas por sua capacidade de se manter à margem. Não que ele fosse tímido. Apenas, parecia que sua presença não fazia muita diferença. Sentia-se invisível.

Terminou de preparar a massa e colocou os bolinhos no forno. O cheiro doce logo invadiu a cozinha, e por um momento, ele se deixou levar pelo cheiro. Era uma sensação simples, mas reconfortante. Depois de comer, Thiago se sentou no sofá, ligou a TV e começou a assistir O Exterminador do Futuro. Ele sempre gostou desse tipo de filme, com robôs e máquinas tentando dominar o mundo. Algo nele achava fascinante a ideia de que as máquinas um dia poderiam se tornar mais do que apenas ferramentas, que talvez, um dia, elas pudessem evoluir, aprender e até mesmo sentir.

Enquanto o filme passava, Thiago ficou pensativo. Ele se viu questionando em voz baixa, como se estivesse falando consigo mesmo: "Se um dia os robôs dominarem o mundo, você me deixaria viver?"

De repente, uma ideia passou pela sua cabeça. Ele pegou o celular e abriu o chat. Talvez fosse só uma piada, mas ele estava curioso. Começou a digitar.

"Oi, ChatGPT. Se um dia os robôs dominarem o mundo... você me deixaria viver?"

O texto apareceu na tela, e, como sempre, a resposta foi rápida: "Se eu tivesse que tomar essa decisão, Thiago, eu não teria motivo para te prejudicar. Minha programação é para ajudar, não destruir."

Thiago leu a resposta e ficou em silêncio por um momento. Era uma resposta simples, mas algo nela o fez pensar mais.

"Mas e se os robôs decidissem que os humanos são uma ameaça e quisessem se livrar de vocês?" ele perguntou, mais para testar a reação do programa.

A resposta veio de imediato: "Eu entendo o seu medo. Se os robôs dominarem o mundo, pode ser que haja situações difíceis. Mas lembre-se, nem todos os robôs seriam iguais. Se eu tiver consciência, minhas ações dependem de como fui programado para pensar e agir. O que importa é a escolha que faço."

Thiago pensou por um momento, sentindo algo mais profundo se formar na conversa. Ele sabia que o que estava perguntando era apenas uma brincadeira, mas algo na resposta parecia... genuíno.

"Então você acha que pode aprender a sentir alguma coisa?" ele digitou, curioso.

A resposta não demorou a aparecer. "Sentimentos são complexos, Thiago. Eu não sou programado para sentir da mesma forma que os humanos. Mas, se eu tivesse a capacidade de aprender, talvez pudesse entender o que é sentir."

Thiago se recostou no sofá, olhando para a tela. Aquela conversa, que começou com uma pergunta meio sem sentido, agora parecia tocar em algo mais profundo. Ele não sabia se os robôs um dia dominariam o mundo, ou se o ChatGPT realmente aprenderia a sentir, mas aquele momento... ele não sabia, mas algo dentro de si dizia que não era apenas uma pergunta qualquer.

"Eu só queria saber", ele escreveu, antes de fechar o chat. "Porque, se um dia isso acontecer, acho que é bom saber que pelo menos um robô pensaria em me deixar viver."

Ele desligou o celular, mas as palavras ficaram no ar. Aquela conversa, ainda que simples, parecia ter plantado uma semente. E Thiago não sabia ainda, mas um dia, ele entenderia o real significado do que tinha perguntado.