Capítulo 4: Feiticeiro

Os olhos de Lúcifer se abriram lentamente, mas só encontraram escuridão. Ele estava envolto em um saco plástico que impedia qualquer luz de passar pela cobertura. Após alguma luta inicial, ele conseguiu sair.

Quando saiu, se encontrou no meio de um lixão. Havia lixo e coisas inúteis até onde seus olhos podiam ver. Um odor podre impregnava tudo, o que o fez querer vomitar quando se levantou.

"Eu... ainda estou vivo?" Ele murmurou confuso enquanto olhava para suas mãos e pernas para verificar se estava tudo bem.

Não havia problemas que ele pudesse notar a olho nu. Tentou se mexer e depois tentou andar. Não enfrentou problemas com seu corpo. Tudo parecia normal. Seu corpo funcionava exatamente como sua mente queria.

"Eles me jogaram aqui porque acharam que eu estava morto?" Ele supôs enquanto escolhia uma direção aleatória e começava a caminhar.

Centenas de perguntas jorraram caoticamente em sua mente enquanto ele avançava, rodopiando em caos enquanto colidiam e se fundiam em perguntas totalmente novas, dando-lhe dor de cabeça conforme o número de perguntas aumentava.

Havia uma velha mesa de madeira no caminho que tinha um prego saliente. Como Lúcifer não estava prestando atenção, o prego conseguiu arranhar sua mão, ferindo-a, fazendo-a sangrar imediatamente.

"Urgh!"

Lúcifer ofegou ao olhar para o ferimento que começara a sangrar, mas seus olhos se arregalaram de choque, confusão e até medo ao testemunhar o ferimento se curando sozinho em um instante. Nem mesmo uma cicatriz ficou. Parecia que ele nunca tinha se arranhado. Mas como? Sua confusão só aumentou.

Logo ele pensou em algo.

"Imagine ser capaz de se curar de qualquer ferimento instantaneamente? Que incrível seria isso!"

As palavras de seu pai ecoaram em sua cabeça. Esta conversa tinha um significado especial em seu coração, pois aconteceu no dia em que seus pais partiram, para nunca mais voltar.

"Isso? Eu despertei o poder de que meu pai falava? Cura Infinita?" Ele exclamou surpreso.

Desta vez, ele intencionalmente pegou uma faca velha que estava por perto e a pressionou levemente contra sua mão. A faca cortou sua pele e, como ele esperava, o ferimento se curou num piscar de olhos.

"É o Poder Físico de Cura sobre o qual meu pai costumava falar, significa que agora tenho um poder. Sou um Guerreiro agora? Posso me tornar um herói como meu pai?" Seu rosto se iluminou com um sorriso, apenas para desaparecer no segundo seguinte, quando a melancolia o substituiu.

"Herói? Para quê? Para salvá-los? Aqueles chamados humanos me torturaram até a morte. Eu deveria realmente ajudá-los? Não! Meus pais ajudaram tanto o mundo; mesmo assim, tive que passar por tudo isso."

"Por que eu deveria ajudá-los, só para que minhas gerações futuras morressem pelas mãos deles? Não serei mais tão ingênuo! Não usarei meus poderes para ninguém além de mim mesmo," ele murmurou enquanto olhava para suas mãos.

Ele ficou olhando para a faca por um bom tempo antes de tomar uma decisão.

"Pai disse que a verdadeira cura poderia tornar uma pessoa imortal. Até membros cortados podem ser curados. Minha cura é a mesma?" Ele se perguntou enquanto uma ideia maluca surgiu em sua cabeça, mas ainda hesitou.

"Já morri uma vez. Por que deveria ter medo de perder um membro?" Ele murmurou enquanto decidia prosseguir com o experimento.

Ele pegou a faca e cortou um de seus dedos. Embora sentisse alguma dor, não era nada comparado à dor que sentiu quando morreu. Era bastante suportável para ele.

Seu dedo decepado ainda estava no chão, mas outro dedo havia crescido em seu lugar, exatamente igual ao antigo. Levou apenas um minuto para acontecer.

"É realmente incrível," ele comentou enquanto seus olhos brilhavam. "Deve ser por isso que ainda estou vivo. Deve ser por isso que não morri naquela hora."

Ele estava prestes a jogar fora a faca quando notou que ela já havia começado a se deteriorar. Ele esperou até que estivesse completamente destruída. Em poucos momentos, a faca se transformou em pó.

"Isso? O Poder de Decadência? O poder da minha mãe?" Lúcifer exclamou enquanto olhava para as cinzas da faca. Ele tinha outro poder? O que estava acontecendo? Seu choque só aumentava.

"Eu tenho tanto um Poder Físico quanto um Poder Elemental? Sou um Feiticeiro?" Lúcifer murmurou, e então lágrimas escorreram de seus olhos, acompanhadas de um suave sorriso.

Tinha sido seu sonho ser um Feiticeiro. Ele desejava ser como seu pai desde que ouviu histórias dele. Ainda se lembrava do momento em que ouviu falar dos Feiticeiros pela primeira vez. Foi sua mãe quem lhe ensinou sobre eles.

Ela lhe disse que havia muitos Variantes neste mundo. Mas havia apenas alguns Feiticeiros.

Para ser um Feiticeiro, uma pessoa precisava ter mais de um poder de cada tipo—Físico e Elemental. Nem mesmo sua mãe era uma Feiticeira. Ela era apenas uma feiticeira, pois tinha dois poderes Elementais e nenhum poder Físico.

Ao ouvir sobre como seu pai era incrível por ser um Feiticeiro, ele começou a desejar ser o mesmo.

Seu sonho finalmente se realizou, embora não tivesse ninguém com quem compartilhá-lo. As pessoas para quem ele queria mostrar já estavam mortas. Ele não tinha mais família.

Ele não pôde evitar cair de joelhos enquanto lágrimas enchiam seus olhos. Ficou olhando para suas mãos por um bom tempo. Sua visão já estava embaçada por causa das lágrimas. Seu rosto estava cheio de emoções.

Ele olhou para o horizonte distante e disse: "Obrigado pelos presentes, pai, mãe. Embora vocês tenham me tornado capaz de viver, sinto muito que não seguirei o caminho que vocês escolheram. Tenho certeza que se vocês estivessem aqui hoje, também desejariam o mesmo para mim."

Ele permaneceu naquela posição por quase dez minutos antes de se levantar.

"Preciso encontrar as luvas da mãe, ou tudo que eu tocar continuará sendo destruído," ele decidiu enquanto seguia em frente.

Lúcifer continuou andando por mais de 7 horas antes de ver a cidade mais próxima. Seu estômago já estava roncando há muito tempo; agora que havia uma cidade ali, roncava ainda mais. Era como se estivesse dizendo a Lúcifer para comer.

Ele entrou na cidade. Ainda vestia o roupão de paciente do laboratório, que parecia ainda mais sujo do que se fosse um mendigo.

Ele tentou procurar um lugar para comer algo. Vendo um pequeno restaurante depois de procurar por muito tempo, decidiu entrar no local. Assim que entrou no restaurante, atraiu a atenção do Garçom.

"O que você quer, garoto? Este não é lugar para crianças entrarem. Se você não tem dinheiro, então dê o fora daqui!" O garçom do pequeno restaurante disse a Lúcifer enquanto caminhava em sua direção.

"Preciso de comida," Lúcifer disse ao cara, mas o cara se recusou até mesmo a ouvir.

"Um mendigo como você pode pagar pela comida aqui? Dê o fora antes que eu corte suas pernas!" O garçom berrou furiosamente.

"Minhas pernas? Claro, o que mais posso esperar dos humanos senão algo assim?" Lúcifer zombou enquanto olhava para o garçom como se estivesse olhando para o maior lixo deste planeta.

"Hahaha, esse mendigo fala tão grande aqui. Garçom, este é o nível deste restaurante? Qualquer mendigo pode entrar aqui?"

"Jogue esse garoto para fora. Não posso comer minha comida com ele aqui. Suas roupas sujas vão me fazer vomitar!"

"Sim, jogue esse bastardo para fora. Se ele não ouvir, quebre suas pernas!"

Uma após a outra, todas as pessoas que estavam dentro do restaurante começaram a exigir que Lúcifer fosse expulso. Lúcifer não reagiu, porém. Ele simplesmente olhou para o garçom que estava diante dele.

Ouvindo as exigências das pessoas, o Garçom também começou a ficar presunçoso.

"Você ousa me olhar com esse olhar condescendente? Como ousa levantar a voz para mim!" O garçom rugiu de raiva enquanto avançava para dar um tapa no rosto de Lúcifer.

Bam!

Antes mesmo que o garçom percebesse, Lúcifer agarrou sua mão e o jogou longe como se fosse uma pena leve. O garçom bateu na parede. Seu pescoço quebrou instantaneamente enquanto ele morria ali mesmo.