Pista (1)

'Ela já deu seis voltas em círculo... Ela realmente me toma por tolo...'

Leonel fitou as costas esguias de Joan.

Na verdade, talvez não fosse culpa de Joan. As habilidades calculistas de Leonel eram muito aguçadas e ele ainda não havia revelado nada sobre seus verdadeiros poderes.

No entanto, onde ela estava errada era no fato de que, embora Leonel se retratasse como inocente e um tanto ignorante, ele nunca fingiu ser estúpido. Esta Joan o estava subestimando demais. Leonel tinha certeza de que veria algo errado em suas ações mesmo sem suas habilidades.

O conflito interno na mente de Leonel continuava. Por um lado, ele realmente não conseguia vê-la como inimiga. Mas, outro lado dele estava constantemente escondendo os aspectos mais importantes de si mesmo como que por instinto.

Leonel sentiu que sua habilidade estava moderando seu lado mais emocional, e decidiu que não desgostava particularmente desse fato. Mas, ainda precisava tomar uma decisão.

Deveria continuar seguindo Joan? Ou... Deveria se endurecer e matá-la aqui?

Sem Joan, completar a missão secreta seria praticamente impossível. O moral dos Franceses dependia quase inteiramente dela. E Charles não estava ansioso para atacar Paris desde o início.

No entanto, uma missão secreta era, no final das contas, uma missão secreta. Eles poderiam deixar este lugar sem completá-la. Embora Leonel não estivesse exatamente certo das ramificações de fazer isso.

Tinha que ser dito que, embora isso fosse estruturado como um jogo, Leonel estava perfeitamente ciente de que não era. As missões 'secundárias', 'principais' e 'secretas' tinham todas seu próprio propósito. Sua tarefa final era lidar com a anomalia na linha do tempo e salvar o presente de ser consumido por ela. Quão importante era completar a missão secreta para esse fim... Leonel não sabia.

Ele só podia tomar decisões baseadas nas informações que tinha. E, segundo Aina, esta Zona Subdimensional poderia muito bem ser uma Zona Única. Em tal caso, com tantas variáveis potenciais, quanto mais rápido pudessem sair... melhor.

O maxilar de Leonel se contraiu. Este era provavelmente o primeiro teste real que sua nova moral enfrentava. Sua consciência estava realmente bem em assumir esse fardo? Ele estava realmente bem em tirar a vida de uma mulher com quem havia jantado? Compartilhado vida e morte? Trocado risadas?

'... Não. Não estou bem com isso...'

Leonel tomou uma decisão. O relacionamento que ele havia construído com ela, por mais superficial que fosse, justificava que Leonel seguisse até o fim deste caminho. Se o perigo estivesse no final, Joan seria sua inimiga. Era tão simples assim.

Era uma decisão ingênua, até mesmo tola. A coisa mais inteligente a fazer era pegar a lança que ele havia usado os bolsos especiais de Aina para ajudar a esconder e apunhalar seu coração pelas costas neste exato momento.

Se fizesse isso, as vidas dele e de Aina estariam garantidas. Quer tivessem sucesso ou fracassassem em recapturar Paris, eles poderiam deixar este lugar. Mas... Ele não o fez.

"Chegamos."

Joan parou em uma porta de madeira trancada mais baixa que o normal. Era quase impossível de ver nas sombras, alguém poderia facilmente perdê-la se vagasse por aí aleatoriamente... quase como o sorriso escondido de Joan nesta escuridão. Leonel mal conseguia distinguir o branco de seus dentes e o azul de seus olhos mesmo com seus sentidos aguçados.

"Não posso segui-los, o Arcebispo tem regras muito rígidas. Nem mesmo eu tenho permissão para vê-lo livremente. Aproveitem bem esta oportunidade, ela pode mudar suas vidas."

Joan não esperou depois de destrancar a porta para Leonel e Aina, curvando-se levemente para eles quase como um hábito estranho que não parecia se encaixar na situação. Então, desviando-se para contorná-los, ela se preparou para partir.

"... Espero estar errado."

As palavras de Leonel foram pronunciadas em um inglês marcante. A mudança foi tão brusca que Joan congelou. Ela tinha acabado de alinhar seus ombros com os de Leonel, mas não ousou se virar para encará-lo apesar de sua bochecha estar a apenas um metro da dela.

Aquele tom... Continha um nível de comando e convicção que Joan não conseguia associar ao Leonel que ela havia conhecido.

Em sua opinião, Leonel era quase perfeito em todos os aspectos. Suas habilidades, seu comportamento amoroso e atencioso, ele era até bonito. Seu único defeito era que ele era um pouco simples, para dizer o mínimo.

Para dizer claramente... ela gostava dele muito mais do que gostava de Charles.

No entanto, no momento em que suas palavras entraram em seus ouvidos, apesar de não poder entender o que significavam, ela sentiu uma sensação de perda que não conseguia explicar. Por um longo tempo, ela nem mesmo tinha certeza se havia simplesmente ouvido mal ou imaginado tudo. Quando as batidas de seu coração pararam, a porta de madeira trancada havia sido aberta e fechada.

**

Leonel e Aina apareceram no que parecia ser um sistema de esgoto subterrâneo construído em pedra. Havia muitos arcos semicirculares ao longo dos lados, ramificando-se em vários outros túneis com seus próprios caminhos sinuosos. Mas, havia uma distinta falta do cheiro horrível ou umidade que se esperaria. Na verdade, estava estranhamente impecável.

Se as passagens ramificadas fossem ignoradas, o corredor tinha pelo menos 20 metros de largura. Cerca de 200 metros à frente, havia um beco sem saída. Sua parede parecia impossivelmente alta, o tipo de estrutura que não tinha motivo para estar no subsolo. Mas, lá estava.

Ainda assim, mesmo com esse sendo o caso, havia algo mais que desviava a atenção de Leonel. Era uma simples escrivaninha de madeira. Tinha três gavetas presas às suas duas pernas do lado direito, e duas pernas nuas do lado esquerdo. Não tinha nem dois metros de largura e tinha apenas uma única vela iluminando toda sua superfície.

Diante desta escrivaninha, um velho de cabelos grisalhos vestindo vestes cinzentas gastas estava sentado, de costas para eles, curvando-se como se estivesse muito desgastado para sentar-se ereto.

"Então vocês vieram... Digam-me, sempre tive curiosidade. Como é o mundo daqui a mil anos?"