Já era noite quando Emery terminou seus deveres diários. Ele estava do lado de fora, deitado na grama enquanto observava as três estrelas brilhantes alinhadas em uma fileira. Ele tentou entender o que aconteceu na noite anterior no castelo, mas depois de passar o dia todo na biblioteca de seu pai e até perguntar ao estudioso, que se recusou a responder, as respostas para suas perguntas só poderiam ser reveladas por seu pai.
Emery foi ao salão principal e viu seu pai ainda bebendo. Ele o tinha visto bebendo desde a tarde, mas ele ainda continuava naquela noite. Simplesmente silencioso, bebendo álcool.
Emery aproximou-se de seu pai e disse a ele quase num sussurro, "Pai... Me desculpe..."
Geoffrey levantou a cabeça atordoado e respondeu, "Está tudo bem, meu filho. Não foi sua culpa. Nunca foi sua culpa..."
Emery perguntou, "Se não foi minha culpa, então o que aconteceu, pai? Por favor, me diga."
Geoffrey abriu a boca, fechou-a, antes de dizer, "Não é—nada meu garoto. Eu só sinto muita falta de sua mãe, só isso."
"Pai, eu sei que tem algo acontecendo. Não sou mais criança."
Por um momento, seu pai ponderou algo antes de tomar outro gole de sua cerveja e disse, "Está bem... Amanhã. Eu te conto amanhã. Já está tarde agora, você deveria dormir um pouco."
Emery estava prestes a insistir no assunto quando o som da corneta de batalha ressoou à distância. Ele e seu pai foram até a janela e viram silhuetas ao longe carregando tochas.
A porta do salão principal se abriu violentamente e um dos cavaleiros entrou. "Meu Senhor! Os Saqueadores vieram para—"
Uma espada atravessou o peito do cavaleiro. A espada foi puxada de volta e sangue espirrou no chão. Três saqueadores ensanguentados chegaram; seus rostos estavam cobertos com panos.
"Ali estão eles, rapazes!" exclamou o saqueador da frente. "Matem esses amantes de chrutin!"
"Emery! Se esconda!" gritou Geoffrey enquanto sacava a espada pendurada em sua bainha.
"Não! Eu quero te ajudar!" protestou Emery.
"Não é hora de discutir! Faça o que eu peço!" disse Geoffrey, chocando-se com a lâmina de um dos Saqueadores.
Os outros dois tentaram flanquear pelos lados, Geoffrey empurrou o primeiro saqueador e pulou para trás, esquivando-se dos ataques laterais. Ele balançou sua espada e duas cabeças rolaram pelo chão de madeira. Em questão de segundos, os companheiros do saqueador haviam morrido. O saqueador então deu um passo para trás e fugiu.
Geoffrey já havia sido um nobre de alto escalão. Ele nunca jogou o jogo político do reino para se tornar um nobre de alta patente, em vez disso, suas grandes contribuições em grandes batalhas com outros reinos eram bem conhecidas por toda a terra, rendendo-lhe o título 'Presa do Leão'. Então, mesmo quando Geoffrey estava bebendo desde a tarde, suas habilidades com a espada ainda eram incomparáveis.
Geoffrey disse a seu filho, "Me siga!"
"Mas!!"
"Agora!" rugiu seu pai.
Emery e Geoffrey fizeram seu caminho até a adega. Seu pai foi até a tocha no canto mais distante e puxou-a, revelando uma passagem atrás do armário.
Geoffrey disse, "Depressa! Vai estar escuro, então preciso que você continue andando em linha reta com a mão na parede. No final da passagem, haverá uma escada levando aos estábulos. Pegue um cavalo, vá para oeste e siga o rio. Você estará seguro lá."
"E quanto a você?" perguntou Emery.
"Vou segurá-los aqui e garantir que ninguém o siga. Quando eu tiver certeza que está tudo limpo, eu vou—"
"Por aqui!" gritou uma pessoa desconhecida.
Passos apressados se aproximaram de onde eles estavam e Geoffrey interrompeu suas palavras. Ele sussurrou antes de empurrar a tocha, "Você é meu mundo, meu filho. Cresça e seja forte. Vá, agora!"
"Eu—" Emery não terminou suas palavras porque seu pai o empurrou para trás do armário que se fechava. Ele se levantou e notou a fenda quebrada por onde podia espiar. Ele colocou seus olhos nela e observou enquanto dezenas de saqueadores entravam na adega.
"Onde está seu garoto? Amante de chrutin?" perguntou o saqueador. Era o mesmo saqueador que havia fugido. Ele voltou depois de chamar seus companheiros.
"Vocês nunca o encontrarão! Agora, chega de conversa, e me mostrem do que são capazes!" declarou Geoffrey, brandindo sua espada de aço.
"Matem ele!" disse o saqueador.
Emery testemunhou o poder de seu pai. Um por um os saqueadores caíram, mas eram muitos deles. Lentamente, a respiração de seu pai ficou ofegante, e ele caiu sobre um joelho. O primeiro saqueador conseguiu se esgueirar por trás dele e cortar Geoffrey nas costas.
Geoffrey caiu de cara no chão empoeirado e lutou para se levantar, mas o saqueador pisou em suas costas, impedindo Geoffrey de se levantar.
"Pa—" Emery se impediu de gritar colocando as mãos contra sua boca. Lágrimas brotavam de seus olhos. Ele se sentiu impotente assistindo seu pai ser derrubado.
O saqueador virou seu pescoço na direção onde estava o armário e sorriu maliciosamente.
Os olhos de Geoffrey se arregalaram. Ele havia dito a seu filho para fugir, mas ele ainda estava aqui! Com o último resquício de sua força, ele se empurrou para cima, fazendo o saqueador perder o equilíbrio. Geoffrey então apertou o punho de sua espada e empalou o saqueador na parede.
Ele gritou com toda força que pôde, "CORRA!!!" antes de ser atingido com múltiplas espadas nas costas.
Ele ainda estava vivo, sangue em seus lábios, peito e costas, ele balançou sua espada mais uma vez mas não acertou ninguém. Geoffrey murmurou, "Corra..."
Finalmente, Geoffrey caiu imóvel no chão.
Emery congelou, ele não sabia o que fazer. As últimas palavras de seu pai finalmente se registraram em sua mente. Corra. E foi isso que ele fez. Ele correu e correu. Subiu a escada até onde ficavam os estábulos, mas todos os cavalos estavam mortos. O crepitar das chamas, o choque das espadas, os gritos de seu povo, ecoavam por todo lugar onde Emery havia vivido sua vida inteira.
Emery olhou para onde ficava sua casa e as chamas rugindo engoliam tudo que tocavam. Ele então correu para oeste, em direção à floresta, como seu pai havia pedido. Assim que entrou na floresta, no entanto, ele ouviu cavalos galopando. Um dos saqueadores tinha realmente visto Emery de longe e começou a persegui-lo.
Ele continuou correndo em direção ao rio, mas suas pernas fracas não aguentavam mais, fazendo-o tropeçar em uma das raízes das árvores. Emery rolou para dentro do rio gelado. Ele lutou para se manter à tona e involuntariamente bebeu água, fazendo cada respiração doer como agulhas perfurando seus pulmões.
Havia dois saqueadores que o alcançaram e desceram de seus cavalos. Eles observaram Emery se afogando na forte correnteza do rio.
"Vamos embora, o garoto não vai conseguir sobreviver a este rio gelado," disse o saqueador.
"Não deveríamos pelo menos confirmar?" perguntou o outro saqueador.
"Você é burro? Não consegue ver como a corrente é forte? Se ele não morrer afogado, então morrerá congelado. Tenho certeza que ele morrerá de um jeito ou de outro."
"Tá bem, o que você disser."
Os dois saqueadores montaram em seus cavalos e partiram.
Emery afundou, ele não conseguia fazer nada contra a corrente e caiu em um lago quando o rio terminava. Seu coração batia contra seu peito, parecia que seus pulmões iam explodir. Ele desejou por algo, alguém, qualquer coisa para salvá-lo. Logo, ele parou de lutar, estava perdendo a consciência até chegar ao fundo do lago.
"É este o fim..."
Ele não percebeu, no entanto, que uma trepadeira estava serpenteando em sua direção. A trepadeira se enrolou em sua perna e o puxou de volta para terra. Alguns segundos depois, ele tossiu violentamente, cuspindo toda a água que havia bebido. Emery não sabia como havia sobrevivido. Ele então se arrastou pelo chão lamacento.
Ele estava agora deitado, olhando para o céu noturno. Cada parte de seu corpo doía. Ele estava tremendo, sua visão estava embaçando, mas seu olhar caiu mais uma vez sobre as três estrelas alinhadas em uma fileira.
Ele desejou sobre as três estrelas, "Por favor, me salvem... Eu não quero morrer. Pai..."
Emery lutou para manter seus olhos abertos, mas havia como um peso puxando-os para fechar até que ele não conseguiu mais abri-los. Ele estava fraco, com frio e morrendo. Mas então, as estrelas pareceram ter respondido seu desejo. A estrela no meio das três acendeu quando um raio de luz atingiu o corpo frágil de Emery e flutuou antes de desaparecer.