Riyeon entrou em casa apressada. O dia havia sido caótico, e mesmo assim, ainda precisava se trocar e pegar seus materiais para a aula extra. Já estava visivelmente atrasada. No entanto, algo estava estranho. Não havia nenhum empregado à vista. Geralmente, ao entrar, era recebida por pelo menos um. Mas agora, a casa estava silenciosa demais.
Ao passar pela sala de estar, parou abruptamente. Seu pai estava ali, de pé, de costas para ela, observando a janela enquanto segurava um copo com uma bebida. Riyeon estranhou sua presença naquele horário. Ele nunca estava em casa a essa hora. Pensou em subir direto para o quarto sem se dirigir a ele, como sempre fazia, mas sua voz ecoou pela sala, cortando seu plano pela raiz.
— Precisamos conversar. — Sua voz era firme, mas calma.
Riyeon hesitou, os dedos apertando as alças da bolsa.
— Eu estou atrasada para a minha aula extra. — Sua resposta foi automática, uma tentativa de escapar.
— Cancele. — A ordem veio alta e clara.
Seu coração deu um salto. O dia já estava ruim, e parecia que só iria piorar. Engolindo em seco, ela largou a bolsa no sofá e permaneceu em pé, esperando o que viria a seguir.
— Me siga até o escritório. — A voz do pai não deixava espaço para discussões.
Riyeon obedeceu em silêncio. O escritório dele era amplo e sofisticado, com tons de azul e móveis brancos impecáveis. Ele quase nunca o utilizava, o que tornava o ambiente ainda mais intimidante. Assim que se sentou atrás da mesa, abriu uma gaveta e retirou um envelope, colocando-o diante dela com um movimento calculado.
Riyeon sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Depois do que havia acontecido na academia, já suspeitava do que se tratava. Com mãos firmes, o pai empurrou o envelope em sua direção.
— Me explique o que isso significa. — Sua voz era neutra, mas carregava um peso sufocante.
Sem demonstrar emoção, Riyeon pegou o envelope e o abriu. Dentro, fotos. Fotos dela e de Anya em um momento íntimo. Eram as mesmas que haviam aparecido na escola, mas estas tinham ângulos diferentes, mais próximos, mais comprometedores. Estava claro que era ela. Não tinha como negar.
Ela respirou fundo antes de responder.
— Não tenho nada a dizer. A situação é exatamente essa que o senhor está vendo. — Sua voz saiu firme, sem tremores.
O pai permaneceu em silêncio, os olhos frios sobre ela.
— Você sabe quem me entregou isso? — perguntou, finalmente.
— Não. — Ela mentiu.
— O pai de Dae-Hyn. Ele tentou nos intimidar. — Sua voz continuava neutra, mas havia uma tensão crescente no ar.
Riyeon abaixou os olhos brevemente. Sentia-se culpada, mas não pelo que havia feito. Apenas pelo problema que aquilo poderia causar a Anya.
— Sinto muito. — Sua voz saiu baixa, mas determinada.
O pai não respondeu imediatamente. Apenas estudou-a, como se analisasse todas as possíveis reações que ela poderia ter. Então, recostou-se na cadeira e cruzou os dedos sobre a mesa.
— Quero saber de tudo. De onde ela veio, quem são seus pais, que tipo de pessoa ela é. Qual a sua pontuação no ranking escolar. Quero todos os detalhes. — Seu tom era calculista, avaliador.
Riyeon franziu o cenho, surpresa.
— O senhor… não se importa que ela seja uma garota? — A pergunta saiu antes que pudesse impedi-la.
Seu pai a encarou, pensativo. Eles nunca tiveram diálogos longos. Durante toda a sua vida, ele manteve controle absoluto sobre sua educação e futuro. Essa sempre foi sua maior preocupação. Afinal, Riyeon e a irmã herdariam um legado de gerações. E isso deveria ser administrado com perfeição.
— Não. — A resposta foi simples. — Não me importo com o gênero com quem você se relaciona. Mas, para entrar nesta família, a pessoa precisa ser digna. Preciso saber com quem estamos lidando. Não somos qualquer família, e você não é uma garota qualquer. Você tem responsabilidades.
Riyeon sentiu o choque percorrer seu corpo. Nunca esperaria ouvir algo assim do próprio pai.
— Ela vem de uma família simples e honrada. Não fazem parte da alta sociedade. São imigrantes tailandeses que vivem uma vida discreta no centro da cidade. — A resposta saiu medida, mas honesta.
— E como ela entrou na Academia Seonhwa? — O pai questionou com interesse renovado.
— Conquistou uma bolsa integral. Ela tomou o lugar da Dae-Hyn e está na segunda colocação, atrás apenas de mim. — Seu orgulho por Anya era evidente em sua voz.
O pai assentiu, satisfeito.
— Hum. Isso é impressionante. Uma bolsista. — Ele ponderou por alguns segundos, antes de continuar: — Mas escute bem, Lee Riyeon. Você não pode perder o foco do que realmente importa. Seu desempenho acadêmico vem em primeiro lugar. Espero que esse relacionamento não tire sua atenção do que é essencial. E por favor, seja discreta sobre esse relacionamento. Eu não acompanho as redes sociais, mas ouvi burburinhos no hospital. O único motivo da minha tolerância foi saber que você é bastante popular positivamente. Isso é o suficiente para uma futura gestão próspera dentro da comunidade.
Riyeon manteve a postura firme.
— Não precisa se preocupar. Sei minhas prioridades. — Mas, no fundo, sabia que era mentira. Anya já havia se tornado sua prioridade número um. Disso, não tinha dúvidas. Porém, seu pai não precisava saber disso.
Ele permaneceu em silêncio por alguns segundos, apenas analisando-a, antes de fazer um gesto para que saísse.
— Pode ir. — Sua voz estava novamente fria, distante.
Riyeon acenou com a cabeça e se virou para sair. Mas, antes que pudesse dar o primeiro passo, ouviu sua voz novamente.
— Traga ela e os pais para um jantar. Quero conhecê-los pessoalmente.
Ela parou, surpresa. Seu coração acelerou. Isso era o início de algo muito maior. E ela não sabia se estava pronta para lidar com as consequências.