Meu nome é Oliver Nash. Tenho vinte anos e, atualmente, me sustento com comissões de arte digital e escrevendo livros.
Minha vida é boa... Ou pelo menos tranquila.
Divido um apartamento com Evelyn, uma advogada de vinte e quatro anos.
Quem a vê no trabalho pensa que ela é séria, madura e focada. Mas basta cruzar a porta de casa para a realidade bater.
— Ei, Evelyn, não deixe suas roupas jogadas pela sala. — Reclamei, pegando uma blusa largada no sofá.
Jogado no tapete, um salto de um lado, o outro perto da mesa de centro.
A bolsa dela estava caída na entrada, como se tivesse sido arremessada na pressa.
— Me deixa... Hoje foi um dia cansativo. — Sua voz veio abafada do sofá, onde ela estava largada, de bruços.
Ela ainda estava com a roupa social de trabalho, mas a camisa já estava meio desabotoada, e o cabelo curto, normalmente arrumado, estava uma bagunça.
Suspirei e joguei a blusa em cima dela.
— Se tem energia pra jogar as coisas, tem energia pra guardar.
Evelyn fez um som que parecia um grunhido e se virou de lado, me encarando com um olhar cansado.
— Acha que é fácil lidar com um monte de processo o dia todo?
— Acha que é fácil desenhar o dia todo?
— Você trabalha deitado.
— E você joga as roupas por todo lado.
Ela apenas soltou um suspiro longo e fechou os olhos, ignorando a discussão.
Eu sabia que não adiantava insistir.
Quando ela entrava nesse modo, só voltaria ao normal depois de dormir ou de sair para se divertir... E hoje era um desses dias.
— Vou sair com as meninas hoje. — Ela murmurou, ainda sem abrir os olhos.
— Vai voltar que horas?
— Não sei. Não me espera acordado, mãezinha.
Revirei os olhos e voltei para o meu quarto.
Meu quarto era meu refúgio.
A tela do computador brilhava com um rascunho de uma ilustração inacabada, e ao lado, o editor de texto aberto com algumas linhas do meu novo livro.
Peguei a caneca de café ao lado do teclado, mas só restava um gole frio no fundo.
Respirei fundo e me concentrei no trabalho.
Mas, é claro, minha concentração não durou muito.
O celular vibrou ao lado do teclado.
Evelyn: "Se eu for sequestrada, tá no meu histórico do Uber."
Suspirei.
Oliver: "Se sequestrassem você, iam te devolver rapidinho."
Evelyn: "Haha, engraçado. Vou beber. Se eu te ligar, atende."
Ou seja, o de sempre.
Continuei trabalhando, mas mantive o celular perto.
Não seria a primeira vez que Evelyn saía para um bar com as amigas e depois me ligava pedindo para buscá-la.
Algumas vezes, era só porque ela estava cansada, outras, porque exagerava na bebida.
Olhei para a tela do computador, depois para o celular.
Eu já sabia como essa noite ia terminar.
As horas passaram, o único som no quarto era o barulho das teclas enquanto eu digitava e a leve trilha sonora instrumental que deixei tocando de fundo.
A ilustração no meu monitor já estava ganhando forma, e o arquivo do livro agora tinha pelo menos três parágrafos novos. Nada mal.
Olhei para o celular, 01:37 da manhã.
Nenhuma mensagem da Evelyn.
"Talvez hoje ela volte por conta própria."
Mas então, como se estivesse esperando que eu pensasse isso, o celular vibrou.
Evelyn (chamada de voz)
— E lá vamos nós... — murmurei antes de atender.
— Olliverrr! — A voz dela veio meio arrastada do outro lado da linha.
— Quantos drinks foram?
— Poucos. Talvez alguns. Não sei. Não faz pergunta difícil.
Revirei os olhos. Ela estava bêbada.
— Onde você tá?
— Bar... do lado da pracinha... a coisa da estátua...
Tentei puxar pela memória. Provavelmente era aquele pub que ela gostava de ir com as amigas.
— Tá sozinha?
— As meninas já foram. Mas eu queria mais uma dose.
— É melhor você ficar onde está. Tô indo te buscar.
Ela riu do outro lado da linha.
— Ah, você me ama mesmo, hein?
— Não se ilude. Só não quero te ver no noticiário amanhã.
Ela riu de novo e desligou.
Suspirei, levantei da cadeira e peguei meu corta-vento. Eu já sabia que essa noite ia terminar assim.
O bar estava quase fechando quando cheguei.
As luzes estavam mais fracas, os funcionários começavam a limpar o lugar e os clientes restantes estavam divididos entre os que conversavam baixinho e os que claramente já tinham passado do limite.
Evelyn estava sentada em um banco no balcão, girando um copo vazio com os dedos.
O cabelo curto dela estava um pouco bagunçado, e o rosto levemente corado pelo álcool.
Ela me viu e sorriu de canto.
— Ah, meu cavaleiro de armadura negra chegou.
— Vamos logo. — Falei, pegando o celular dela do balcão antes que esquecesse.
— Nem um boa noite, Evelyn, você está deslumbrante hoje?
— Boa noite, Evelyn, você está bêbada hoje.
Ela riu e se levantou, mas deu um leve tropeço.
Segurei seu braço antes que caísse.
— Whoa... ok, talvez eu esteja um pouquinho alterada.
— Só um pouquinho.
Saímos do bar, e o ar frio da madrugada fez Evelyn estremecer levemente.
Ela se aproximou mais de mim, encostando o ombro no meu.
Conforme Evelyn ia pressionando meu ombro, suspirei e tirei o corta-vento, colocando sobre os ombros dela.
— Toma. Antes que comece a reclamar do frio.
Ela olhou para mim de canto, com um sorrisinho.
— Olha só... tão atencioso.
— Anda logo. Se eu soubesse que ia te buscar, tinha deixado você trazer um casaco.
Ela riu baixinho, puxando o corta-vento para si enquanto continuávamos andando.
Depois de alguns minutos, passamos por uma loja de eletrônicos que ficava aberta 24 horas.
Olhei para dentro e lembrei de algo.
— Vou entrar rapidinho. Preciso de uma caneta nova para a mesa digitalizadora.
Evelyn fez um som de desinteresse.
— Hmm, tá bom.
Entrei na loja e fui direto para a seção de acessórios. Peguei a caneta que precisava e fui até o caixa.
Mas quando olhei para o lado... Evelyn não estava lá.
Olhei ao redor, franzindo a testa.
Onde essa mulher se enfiou agora?
Saindo da loja, percebi o brilho fraco de uma máquina de bebidas na calçada. Evelyn estava ali, apertando os botões.
Por um segundo, relaxei. Mas então notei três caras se aproximando.
— E aí, moça, sozinha essa hora? — Um deles disse, com um tom casual demais.
Evelyn riu, sem se virar.
— Não, eu tenho um namorado gigante e musculoso, que faz MMA nas horas vagas.
Os caras riram.
— Ah é? Então cadê ele?
Evelyn virou para responder com outro deboche, mas congelou. O jeito que eles estavam olhando para ela... algo não estava certo. O ar ao redor ficou pesado.
Ela tentou dar um passo para trás, mas a máquina bloqueava o caminho.
— Ei, calma. Eu só tô pegando uma água.
— A gente pode ajudar com isso.
Os três deram um passo à frente ao mesmo tempo.
Evelyn sentiu o peito apertar. Droga.
A visão dela começou a escurecer nos cantos. O álcool, o cansaço, a tensão... tudo veio de uma vez.
Ela tentou falar, mas o mundo girou, e então— desmaiou.
Antes que um dos caras pudesse sequer levantar a mão para tocar nela, minha voz cortou o ar.
— Se eu fosse vocês, não faria isso.
Os três viraram, confusos.
Eu estava parado na calçada, segurando a sacola da loja, olhando direto para eles.
— Quem diabos é você?
Não respondi. Em vez disso, levantei levemente a mão.
— Hã? Tá querendo brigar, otário?
Eles deram mais um passo...
E então, com um movimento sutil dos meus dedos, os três foram jogados para trás como se tivessem sido atingidos por um caminhão invisível.
Foram arremessados alguns metros, caindo desajeitados no chão.
O silêncio pesou.
Me aproximei de Evelyn e me abaixei ao lado dela. Ela respirava fundo, desacordada.
Peguei a garrafa de água que caiu no chão e a guardei no bolso.
Depois, olhei para os três idiotas que ainda estavam no chão, tentando entender o que aconteceu.
Me inclinei levemente para frente e sorri.
— Podem sair sem ferimentos graves, mas se eu souber de alguma coisinha, podem ir garantido o caixão.
Peguei Evelyn no colo e segui para casa, deixando os três sem entender o que diabos tinham acabado de presenciar.
Evelyn se mexeu nos meus braços enquanto eu destrancava a porta do apartamento com o ombro.
Ainda estava brisando, murmurando algo inaudível. Assim que entrei, fui direto para o quarto dela.
Coloquei-a na cama com cuidado, ajeitando os travesseiros para que ficasse confortável.
Ela soltou um suspiro leve e se virou de lado.
Peguei o cobertor dobrado no pé da cama e o puxei sobre ela.
— Boa noite, bêbada.
Me afastei, saindo do quarto com o máximo de silêncio possível.
Assim que fechei a porta, soltei um suspiro e passei a mão no rosto.
A noite ainda estava longa. E eu tinha trabalho para fazer.
Fui direto para meu quarto, liguei o computador e coloquei meus fones.
A tela branca do programa de desenho brilhou na minha frente. Peguei minha nova caneta digital e comecei a trabalhar.
E assim, o tempo passou.
[Manhã seguinte]
O sol já invadia o apartamento quando Evelyn acordou.
Ela piscou algumas vezes, o quarto ainda meio desfocado. A boca estava seca, e a cabeça pulsava levemente.
Sentou-se devagar, passando a mão no rosto.
— Ugh... que merda aconteceu ontem?
Aos poucos, as memórias voltavam.
Bar... amigas... voltando para casa... os caras.
Seus olhos se arregalaram. Ela se lembrou do jeito que eles a encurralaram. Do mal-estar súbito. Do desmaio.
E então, de Oliver.
— Espera...
Ela franziu a testa. Como eu cheguei em casa?
Levantou-se devagar, ainda sentindo o corpo pesado, saiu do quarto e foi até a sala. Estava vazia.
Então, notou a porta do quarto de Oliver entreaberta.
Com passos silenciosos, se aproximou e espiou lá dentro.
Ele estava apagado na cadeira, a cabeça apoiada nos braços cruzados sobre a mesa.
O monitor do computador ainda estava ligado, exibindo um esboço quase finalizado.
Ao lado do teclado, um copo de café esquecido.
Evelyn ficou parada ali, olhando para ele por alguns segundos.
Oliver... cuidou dela.
Seu peito apertou.
A expressão séria que sempre mantinha em público desmoronou completamente.
Seu rosto esquentou, e seus olhos brilharam de um jeito quase doentio.
Ela mordeu o lábio, segurando um riso bobo.
— Meu Deus... ele é perfeito.
Seus dedos roçaram levemente os próprios braços enquanto ela se contorcia internamente.
— Ele me carregou no colo até em casa... — murmurou para si mesma. — Isso foi tão quente.
Aproximou-se mais, inclinando o rosto para observá-lo dormir.
O cabelo bagunçado, a respiração calma, o jeito que as costas dele subiam e desciam levemente...
Ela queria tanto esmagá-lo em um abraço.
Mordeu o lábio de novo, cruzando as pernas sem nem perceber.
— Se ele soubesse o que eu penso dele...
Um sorriso perigoso surgiu em seus lábios.
— Não. Ele não pode saber.
Respirou fundo, tentando acalmar seu coração acelerado.
Ainda não era hora de perder o disfarce.
Mas não conseguiu evitar.
Inclinou-se um pouco mais e sussurrou, baixinho, quase como uma confissão secreta:
— Obrigada, Oliver... Você é só meu.
Então, com um sorriso suave—mas completamente obcecado—ela saiu do quarto, deixando ele dormir.
Depois de sair do quarto de Oliver, Evelyn foi direto para a cozinha, ainda sentindo o corpo quente e o coração acelerado.
Sentou-se na bancada e apoiou o queixo nas mãos, se balançando de um lado para o outro com um sorriso meio bobo nos lábios.
— Ele me carregou no colo... me cobriu... me protegeu...
Os dedos tamborilavam contra o balcão enquanto sua mente rodava em círculos com a lembrança da noite anterior.
— Eu nunca vou deixar ele escapar de mim. Nunca.
Então, tentou se recompor.
Respirou fundo, tomou um copo d'água e decidiu que precisava agir normalmente.
Pegou seu celular para ver as mensagens das amigas, mas antes que pudesse abrir o aplicativo, sentiu um cheiro vindo da sala.
O café.
O café que ela mesma fez para Oliver.
Virou-se lentamente para encarar o corredor que levava ao quarto dele.
— ... Ele já acordou?
Largou o celular e foi até lá, abrindo a porta devagar.
Oliver ainda estava sentado na cadeira, mas agora acordado, segurando a xícara de café com uma expressão sonolenta.
— Ah... foi você que fez? — perguntou, tomando um gole.
Evelyn travou na porta.
Ele parecia... bagunçado.
O cabelo ainda um pouco desgrenhado, a camisa meio aberta, os olhos sonolentos... Porra.
Ela quase se jogou nele ali mesmo.
Mas manteve a compostura.
— Hm? Ah... É. Eu fiz.
— Valeu. — Ele deu um pequeno sorriso antes de bocejar.
Evelyn teve que se segurar na porta para não desmaiar.
Ele estava tão fofo.
Ela adorava quando ele ficava assim, meio vulnerável, sem perceber o efeito que tinha sobre ela.
Se aproximou devagar e apoiou um cotovelo na mesa dele, olhando o monitor.
— Virou a noite de novo?
— Óbvio. — Ele riu de leve. — Mas consegui terminar a ilustração.
Evelyn olhou para a tela.
Era uma arte incrível.
Mas ela não estava prestando atenção nisso.
Ela estava olhando para ele.
Observando os detalhes do rosto, o jeito que a luz do monitor iluminava seus traços, o jeito que os olhos dele ficavam meio pesados de sono.
Ele nem fazia ideia de que estava sendo devorado pelos olhos dela.
Respirou fundo, fingindo estar apenas interessada na arte.
— Ficou bom.
— Se eu não fizesse algo bom, não ia pagar as contas.
— Hm...
Ela ficou ali mais um tempo, só o encarando.
Então, do nada, disse:
— Vamos sair hoje.
Oliver piscou.
— O quê?
— Você passou a noite trabalhando. Se ficar preso aqui o dia inteiro, vai acabar morrendo. Vamos sair.
Ele soltou um suspiro, passando a mão no rosto.
— Você só quer me arrastar para um bar de novo.
— Talvez.
— Então não.
Ela cruzou os braços e fez bico.
— Só um passeio, então. Anda. Você precisa de sol.
Oliver a encarou por um momento e depois bufou.
— Tá, tá... me dá uma hora.
Evelyn sorriu de canto, satisfeita.
Ela tinha conseguido o que queria.
Enquanto ele se levantava para se espreguiçar, ela saiu do quarto e voltou para a cozinha.
Mas, ao invés de pegar algo para comer, se encostou no balcão, mordeu o lábio e abraçou o próprio corpo, rindo baixinho.
Oliver era dela.
E ela não ia deixar ninguém chegar perto dele.