Ato 3 - Minhas Memórias

O sol entrava pelas janelas do apartamento, aquecendo a sala onde Evelyn estava esparramada no sofá, o celular em uma mão e uma xícara de café na outra.

Uma notificação no visor indicava que mais um pagamento havia caído na conta, a sorriu de canto.

Trabalhar pouco e ganhar bem era o que fazia a profissão valer a pena.

O silêncio do apartamento só era interrompido pelo som das teclas do computador vindo do quarto ao lado. Ela já sabia o que encontraria.

Levantando-se preguiçosamente, caminhou até a porta entreaberta e se encostou no batente.

Oliver estava sentado na cadeira, olhos fixos na tela, com fones no ouvido e uma pilha de papéis rabiscados na mesa ao lado.

O cabelo estava preso, mas algumas mechas soltas caíam sobre seu rosto. Ele parecia exausto.

Evelyn cruzou os braços.

— Sabe que ainda tem uma cama, né?

Sem desviar o olhar da tela, Oliver respondeu simplesmente:

— Sei... Só não usei.

Evelyn revirou os olhos.

— Inacreditável.

Foi até a cozinha e serviu duas xícaras de café, voltando para entregar uma a ele.

Oliver aceitou sem questionar, tomando um gole enquanto finalmente se encostava na cadeira.

Evelyn se sentou na beira da mesa e observou o quanto ele parecia tranquilo, mesmo depois de passar a noite acordado.

Ela girou a colher dentro da xícara e jogou a pergunta casualmente:

— Ei, você lembra como a gente se conheceu?

Oliver arqueou uma sobrancelha.

— Claro. Sorveteria, quatro anos atrás.

Evelyn sorriu.

— Boa memória.

[ Sorveteria – 4 anos atrás ]

A pequena sorveteria de esquina tinha um cheiro doce e acolhedor.

Evelyn, então com 20 anos, entrou bufando, estressada por causa da faculdade.

Direito não era para qualquer um, e naquele dia ela só queria um pouco de açúcar para esquecer o inferno de processos e provas.

Foi então que notou o garoto sozinho em uma mesa no canto. Oliver Nash, 16 anos, tomando um sorvete como se não tivesse pressa no mundo.

Evelyn não pensou muito antes de puxar a cadeira e se sentar do outro lado da mesa.

— Ei, moleque, por que tá sozinho?

Oliver olhou para ela com uma expressão completamente neutra.

— Porque eu gosto.

Ela ergueu uma sobrancelha, mas não se incomodou. Pelo contrário, começou a falar sozinha, reclamando da faculdade, dos professores e de como a vida de estudante era um inferno.

Oliver apenas ouvia, de vez em quando soltando um "hm" ou um aceno discreto.

No fim, quando já tinha terminado o sorvete dela e ele ainda saboreava o próprio, Evelyn chamou a atendente e pagou a conta dos dois.

Oliver olhou para o recibo e depois para ela.

— Não precisava.

— Eu sei.

Ela deu de ombros e saiu antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa.

[ Trabalho na empresa – 2 anos atrás ]

Dois anos depois, Evelyn já era advogada e Oliver, com 18 anos, tinha conseguido um emprego na mesma empresa que ela, trabalhando como designer gráfico.

Era impressionante o quão rápido ele trabalhava, mas a falta de paciência com prazos e burocracia era evidente.

Evelyn, por outro lado, estava estabilizada no cargo e gostava de ver Oliver se irritando com as reuniões intermináveis.

— Você é um doido — disse ela um dia, quando ele falou que estava saindo da empresa.

— Ou esperto — ele rebateu.

Evelyn revirou os olhos, mas no fundo sabia que ele tinha razão. Em menos de um ano, Oliver estava ganhando mais com suas comissões do que qualquer um na empresa.

[ De Volta ao Presente ]

Evelyn riu ao lembrar do passado.

— Você era um pirralho quieto e eu já era folgada.

Oliver tomou mais um gole de café.

— E nada mudou.

Ela fez uma careta, mas não negou.

Foi então que o clima mudou. A mente dela voltou a um momento mais recente, um evento que mudou tudo… O motivo pelo qual ela estava ali, dividindo um apartamento com ele.

Ela respirou fundo antes de falar:

— Você se lembra por que eu vim morar com você?

Oliver abaixou a xícara e olhou para ela.

— Claro. O caso do Sr. Vasquez.

[ O Sequestro de Evelyn, 1 ano atrás ]

O caso Vasquez foi um dos mais perigosos da carreira de Evelyn. O empresário, envolvido com lavagem de dinheiro e fraudes, tinha muitos inimigos, e ainda mais aliados poderosos.

Evelyn sabia que trabalhar contra ele era arriscado, mas nunca imaginou que chegaria ao ponto em que sua vida estaria em perigo.

Naquela noite, tudo aconteceu rápido demais.

Ela estava saindo do escritório tarde da noite quando sentiu um puxão brusco.

Um pano foi pressionado contra seu rosto... O cheiro forte a fez perder os sentidos quase instantaneamente.

O cômodo fedia a mofo e suor. A única lâmpada pendurada no teto piscava, lançando sombras irregulares nas paredes rachadas.

Evelyn estava amarrada à cadeira, a cabeça tombando para o lado. Ela mal conseguia manter a consciência, mas sabia que estava em perigo.

Os sequestradores conversavam entre si... Riam... Um deles chutou a cadeira onde ela estava, fazendo-a inclinar para trás por um instante.

— Parece que a princesinha já tá desistindo — um deles zombou.

Evelyn tentou responder, mas sua boca ainda estava coberta. Sua mente estava turva, o corpo dolorido.

Então, algo mudou.

Um barulho distante.

Baixo, quase imperceptível.

Os homens se entreolharam.

— O que foi isso?

O silêncio preencheu o espaço por um instante.

Depois, outro som.

Passos.

Não vinham da porta principal. Não do corredor. Mas de dentro do próprio cômodo.

Como se alguém estivesse ali o tempo todo.

As sombras começaram a se mover.

A lâmpada piscou novamente, e naquele breve instante de escuridão, um deles viu algo—ou melhor, alguém—de pé, no canto da sala.

— Quem diab—

Antes que pudesse terminar a frase, o homem sentiu algo invisível o empurrar contra a parede com força. O impacto foi seco, o ar escapando de seus pulmões.

O outro tentou sacar uma arma, mas o objeto voou de suas mãos antes que pudesse reagir.

— O quê...?

Foi então que todos o viram.

Saindo das sombras, Oliver Nash estava parado ali, seu olhar frio e vazio.

Ele não disse nada.

Não precisava dizer nada.

Havia algo errado com aquela cena.

Não era apenas o fato de Oliver estar ali.

Era como ele estava ali.

Os sequestradores sentiam como se o ar tivesse ficado mais denso, como se algo invisível estivesse os pressionando, tornando cada respiração mais difícil.

Um deles tentou correr.

Não deu dois passos antes de seu corpo ser lançado contra a parede, como se uma força invisível o puxasse.

— O quê... o que é você?!

Oliver não respondeu. Apenas deu um passo à frente, e o chão rangeu sob seu peso.

Os homens estavam apavorados. Nenhum deles conseguia se mover.

Ele não precisava tocá-los.

Eles já estavam nas mãos dele.

Evelyn, ainda meio consciente, tentou abrir os olhos.

Viu a silhueta de um homem, viu os sequestradores tremendo, viu... as sombras se contorcendo ao redor dele.

O que... estava acontecendo?

Oliver estendeu a mão.

Um dos homens foi erguido do chão sem que ninguém o tocasse.

Ele tentou gritar, mas o ar foi arrancado de seus pulmões.

O segundo homem tentou atacar, mas seu próprio braço torceu contra sua vontade, fazendo-o gritar de dor.

Oliver apenas observava.

Ele nunca sentiu tanta raiva na vida.

Quando viu Evelyn naquela condição, seu corpo agiu antes de sua mente.

Ele sentiu tudo naquele cômodo, o ar, os objetos, os corpos.

E naquele momento, ele soube que poderia controlar tudo ali.

O chão tremeu levemente.

As sombras engoliram a luz da lâmpada por um instante.

E então… tudo ficou escuro.

Um silêncio profundo tomou conta do cômodo.

Quando a lâmpada piscou de novo, Oliver já estava carregando Evelyn nos braços.

Os sequestradores?

No chão. Inconscientes.

Ele saiu sem dizer uma palavra.

[ No Quarto de Oliver ]

Evelyn piscou algumas vezes, tentando focar sua visão. O teto familiar do quarto de Oliver.

O cheiro de café no ar.

A dor no corpo ainda estava lá, mas não havia mais gritos, não havia mais escuridão.

Ela tentou se sentar, mas sentiu algo em sua cabeça.

Oliver estava ao lado dela, uma mão repousando suavemente em seus cabelos, como se tivesse ficado ali por horas.

Quando percebeu que ela havia acordado, ele apenas murmurou:

— Você está bem agora.

Evelyn nunca perguntou.

Nunca quis saber como ele a encontrou.

Mas uma coisa era certa: a partir daquele dia, ela nunca mais quis sair dali.

E o motivo não era apenas segurança.

Era Oliver.

[ De Volta ao Presente ]

A mulher saiu do quarto, o ar dentro do apartamento parecia mais pesado do que o normal.

Evelyn então se deitou no sofá, encarando o teto, enquanto sua mente ainda processava as lembranças que acabara de reviver.

Oliver estava ali, sentado na poltrona ao lado, tranquilo como sempre, mexendo no celular.

Para qualquer um, parecia que nada tinha acontecido. Mas Evelyn sabia.

Ela sabia que ele sempre sabia de tudo.

Respirou fundo e, antes que seus pensamentos começassem a devorá-la de novo, virou o rosto para ele e sorriu.

— Hey, Oliver…

Ele levantou o olhar, arqueando uma sobrancelha.

— Que foi?

Evelyn se sentou, apoiando os braços no encosto do sofá.

— Que tal darmos um rolê na praia?

Oliver piscou uma vez. Depois outra.

— Agora?

— Sim, agora.

— Evelyn, são quase dez da noite.

— E daí?

Ele suspirou, cruzando os braços.

— Você acabou de reviver um trauma pesado e a primeira coisa que pensa é na praia?

— Exatamente! — Ela abriu um sorriso. — Se eu ficar aqui, vou pensar demais. Eu só quero esquecer um pouco, sabe?

Oliver ficou em silêncio por alguns segundos, analisando-a.

— Você só quer me obrigar a dirigir pra algum lugar.

Evelyn deu de ombros.

— Também…

Ele suspirou de novo, passou a mão pelo cabelo e se levantou.

— Tá bom… Mas você paga o lanche depois.

— Feito!

Evelyn pulou do sofá animada, pegando sua jaqueta. Ela não sabia o motivo exato de querer tanto ir à praia.

Talvez o som das ondas ajudass, talvez fosse só uma desculpa para passar um tempo com Oliver.

De qualquer forma, ela não queria ficar ali parada.

[ No Caminho para a Praia ]

A moto rugiu baixo quando Oliver acelerou suavemente, e o vento frio da noite bateu contra o rosto de Evelyn.

Ela segurava firme na cintura dele, sentindo o calor do corpo de Oliver contrastar com o frio da estrada.

— Você nunca pensou em pegar uma moto mais confortável? — ela perguntou, elevando a voz para superar o som do vento.

— Você que pediu para ir à praia, não para um passeio de luxo — Oliver respondeu, sem tirar os olhos da estrada.

Evelyn sorriu, apertando um pouco mais o abraço ao redor dele, ela não se importava. Na verdade, gostava dessa sensação.

As luzes da cidade passavam rápido ao redor deles, e, por um momento, Evelyn desejou que o caminho fosse um pouco mais longo.

A moto parou suavemente no estacionamento próximo à praia, e Evelyn desceu primeiro, ajeitando os cabelos bagunçados pelo vento.

Oliver desligou o motor e tirou o capacete, olhando para o horizonte onde o mar se estendia, iluminado pelo brilho suave da lua e das estrelas.

— Nada mal para um passeio de última hora — ele comentou, guardando as chaves no bolso da jaqueta.

Evelyn respirou fundo, sentindo o cheiro salgado do mar. O som das ondas quebrando na areia e o vento fresco da noite criavam uma atmosfera tranquila.

— Vem cá — ela disse, puxando Oliver pela manga da jaqueta.

Ele não resistiu e a acompanhou até a areia.

Evelyn tirou os sapatos e sentiu a areia fria entre os dedos, olhando para Oliver com um sorriso provocativo.

— Você não vai tirar os seus?

— Estou bem assim.

Ela revirou os olhos e começou a andar em direção à água, sem se importar se o vestido longo balançava ao vento de um jeito um pouco teatral.

— Sabia que eu gosto mais da praia à noite? — Evelyn disse, olhando para trás.

— Menos gente, menos barulho… faz sentido.

— E é mais romântico.

Oliver ergueu uma sobrancelha.

— Você está tentando me seduzir com esse papo?

Evelyn riu, cruzando os braços.

— Talvez…

Ele apenas suspirou, observando como a lua refletia nos olhos dela, ela estava linda, ele nunca negaria isso.

Evelyn se virou para o mar, respirando fundo. O que ela não dizia em voz alta era que adorava esses momentos com ele.

Pequenos, simples, mas que ficavam marcados.

— Ei, Nash… Você nunca pensou em namorar?

Oliver piscou, surpreso com a pergunta repentina.

— Que tipo de pergunta é essa?

— Uma normal.

Ele olhou para o mar por um instante, depois voltou os olhos para Evelyn.

— Nunca achei que fosse uma prioridade.

Evelyn fez um bico discreto, mas logo disfarçou.

— Sei… Então você nunca gostou de ninguém?

Oliver deu um passo para o lado, ficando mais perto dela.

— Nunca disse isso.

Evelyn sentiu o coração acelerar. Droga, ele fazia isso de propósito?

O vento ficou um pouco mais forte, e uma onda maior veio, molhando os pés dela.

Evelyn estremeceu, e antes que pudesse se afastar, Oliver segurou sua mão.

— Frio?

Ela olhou para ele, surpresa, mas logo sorriu de lado.

— Nem um pouco.

A praia estava quase vazia, apenas algumas poucas pessoas ao longe.

O silêncio entre os dois durou mais do que o normal, mas Evelyn não queria quebrá-lo.

Pela primeira vez em muito tempo, ela sentia que não precisava esconder nada.

Mas será que Oliver sentia o mesmo?

Oliver olhou para o céu e soltou um suspiro leve.

— Já está ficando tarde, Evelyn. Vamos voltar.

Evelyn olhou para ele com um olhar de súplica.

— Só mais um pouco…

— Se ficarmos mais, você vai reclamar que está com sono amanhã.

Ela revirou os olhos.

— Tá bom, tá bom. Mas antes… — Evelyn apontou para o outro lado da rua. — Tem uma sorveteria aberta! Vou comprar uns picolés pra gente!

Oliver fez menção de ir junto, mas ela ergueu a mão.

— Relaxa, não sou uma criança.

— Discutível.

Ela deu um soquinho no braço dele antes de sair caminhando até a sorveteria.

Oliver ficou parado perto da moto, observando a rua. Ele nunca relaxava completamente.

Foi então que seus olhos captaram movimento do outro lado da calçada. Três sujeitos.

Andando devagar, olhando diretamente para Evelyn.

— Aquelas caras de novo... — Disse Oliver suspirando.

Os caras continuaram avançando, um deles meteu a mão no bolso, claramente procurando algo.

O problema era que Evelyn, distraída escolhendo os picolés, não tinha notado nada.

Oliver ergueu a mão levemente, e num instante, uma força invisível atingiu os três.

Os caras foram jogados para trás com um impacto brutal, como se tivessem sido empurrados por uma onda invisível, direto para o mar.

O som dos corpos caindo na água fez Oliver soltar uma risada baixa. Isso nunca ficava velho.

Evelyn voltou no instante seguinte, segurando dois picolés.

— Tô de volta! Escolhi um de morango pra mim e um de chocolate pra você.

Oliver pegou o picolé sem tirar os olhos dela.

— Você tá muito animada por algo tão simples.

— Ei, picolés são sérios! — Ela deu uma lambida no dela. — Mas enfim, antes de irmos… Vamos ficar aqui até terminarmos.

Oliver olhou para a praia e depois para ela. No fundo, ele já sabia que não iria negar.

— Tá bom...

Os dois sentaram na mureta perto da areia, saboreando os picolés enquanto o vento da noite soprava.

Evelyn, como sempre, falava sobre coisas aleatórias, e Oliver apenas ouvia, respondendo de vez em quando.

Ela não fazia ideia de que, enquanto falava sobre sabores favoritos, ele tinha acabado de salvá-la de um possível problema.

E, como sempre, ele não pretendia contar.

Após terminarem os picolés, os dois se levantaram da mureta e caminharam em direção à moto.

Evelyn subiu atrás de Oliver, apertando seus braços em volta de sua cintura, como sempre fazia, mas com um pouco mais de carinho do que o normal.

Oliver, como sempre, não reagiu, seus olhos ainda fixos à frente, como se nada no mundo pudesse tirá-lo de seu estado de alerta constante.

O som da moto preencheu a rua quieta enquanto eles voltavam para casa, o vento noturno batendo em seus rostos.

Evelyn, aconchegada atrás de Oliver, deixava os pensamentos flutuarem livremente, mas o calor do momento a fazia querer se perder em seus braços.

Mesmo assim, ela permanecia em silêncio, preferindo o conforto da proximidade do que palavras desnecessárias.

Chegaram em casa, e enquanto subiam as escadas, Evelyn sentiu seus pés vacilarem um pouco.

A exaustão a pegava de surpresa, e antes que pudesse se apoiar em qualquer coisa, sua visão escureceu por alguns segundos.

Oliver, no entanto, foi mais rápido. Com um movimento ágil, ele a segurou antes que caísse, a levantando facilmente nos braços, como se ela não pesasse nada.

Com um olhar atento, ele a levou até o quarto dela, deitando-a cuidadosamente na cama.

Evelyn mal teve tempo de se acomodar, ainda sem entender muito bem o que acontecia, quando sentiu algo diferente no ar.

Antes de sair do quarto, Oliver se virou e, sem aviso, inclinou-se sobre ela. Com a suavidade de quem sabia exatamente o que estava fazendo, ele depositou um beijo carinhoso em sua testa.

O gesto foi breve, mas carregado de uma ternura que Evelyn nunca imaginara que ele poderia demonstrar.

O toque de seus lábios na testa de Evelyn foi o suficiente para deixá-la completamente atordoada.

Oliver saiu do quarto, fechando a porta com cuidado. Mas no momento em que a porta se fechou, Evelyn não pôde conter.

Ela levantou-se da cama, os olhos arregalados e o coração batendo forte.

— O que foi isso?! — Vermelha de vergonha

Ela ficou em pé por alguns segundos, ainda tentando processar o que havia acabado de acontecer.

O beijo na testa.

Algo tão simples, mas tão carregado de significado.

Evelyn estava perdida.

Com um grito abafado, ela deu alguns passos descontrolados pelo quarto, mãos passando pelos cabelos, não conseguindo entender o que estava se passando dentro de si.

— Ele... Ele me beijou! — Ela gritou para si mesma, mas a resposta que veio foi apenas o silêncio da noite. Não havia ninguém ali para responder, ninguém para explicar o que aquele gesto significava. E, no fundo, ela sabia: aquilo não ia ser esquecido tão cedo.

O pensamento de que talvez, apenas talvez, Oliver sentisse algo mais por ela a consumiu por completo, e ela caiu na cama, abafando um grito de frustração no travesseiro.

Como era possível que ele tivesse feito algo tão simples, mas ao mesmo tempo tão impactante? Ela estava completamente surtada.

E naquele momento, Evelyn soubera que, dali para frente, as coisas entre ela e Oliver nunca mais seriam as mesmas. Ela só não sabia o que fazer com isso.

No dia seguinte, o sol já começava a entrar pela janela quando Oliver, com o semblante usualmente sério, se preparava para sair.

Ele pegou sua mochila, colocou os fones de ouvido e se dirigiu para a porta. Quando estava prestes a sair, parou por um momento, virando ligeiramente a cabeça para o lado.

— Eu sabia que você estava acordada, Evelyn — disse ele, sem se virar completamente.

Evelyn, que estava encostada na parede do corredor, congelou por um segundo.

Não tinha como esconder, ele sempre a via.

Mas, ao invés de responder, ela apenas o observou em silêncio enquanto ele, com uma leve sombra de sorriso, saiu pela porta, deixando-a sozinha com seus pensamentos.

E, de novo, ela surtou.