O sol já iluminava o quarto quando Evelyn abriu os olhos.
Por alguns segundos, ela ficou confusa, sentindo algo quente ao seu redor. Então, a memória da noite passada bateu como um trovão.
Ela estava nos braços de Oliver.
E, pior ainda… ainda não tinha se soltado.
O rosto dela pegou fogo na hora. Seu coração começou a disparar.
"Merda, merda, merda! Como isso aconteceu?!"
Com muito cuidado, ela tentou se afastar, mas antes que conseguisse…
— Tá acordada já?
A voz dele soou baixa, ainda sonolenta.
Evelyn congelou.
— E-Eu… N-Não! Quer dizer, sim! Quer dizer… esquece!
Ela se afastou rápido, sentando na cama e olhando para o outro lado, tentando recuperar a compostura.
Oliver se espreguiçou, parecendo despreocupado.
— Dormiu bem?
— Não te interessa!
Ele riu.
— A resposta é sim.
— Cala a boca!
Ela levantou da cama rapidamente, pegando as próprias coisas.
— Eu vou tomar um banho.
E saiu do quarto antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa.
Oliver observou a porta se fechar e sorriu de leve.
— Ela tá toda nervosa…
Depois de alguns minutos, ele também se levantou, se espreguiçando.
Era um novo dia.
E, de alguma forma, as coisas entre os dois pareciam estar mudando.
Evelyn saiu do banheiro ainda secando os cabelos. A água quente ajudou a acalmar seus nervos, mas a lembrança de ter acordado nos braços de Oliver ainda fazia seu coração acelerar.
"Por que eu não percebi antes?! Por que não saí de lá mais cedo?! Agora ele deve estar se achando demais!"
Ela passou as mãos no rosto, frustrada consigo mesma.
Ao chegar na sala, encontrou Oliver na cozinha, casualmente preparando algo para comer. Ele parecia completamente normal, como se nada tivesse acontecido.
— Já que acordamos tarde, fiz algo mais rápido — ele disse, colocando um prato com torradas e ovos mexidos na mesa.
Evelyn cruzou os braços.
— Como assim acordamos tarde? Você tá dizendo que dormiu até agora?
Ele ergueu uma sobrancelha.
— Sim. Tem algum problema?
Evelyn sentiu uma leve pontada de irritação. Ele não parecia nem um pouco abalado com o que aconteceu.
— Nem um pouco — ela respondeu, tentando esconder o incômodo.
Oliver puxou uma cadeira e começou a comer.
— Ah, mais tarde vamos dar uma volta.
— Hein? Desde quando?
— Desde agora.
Evelyn bufou.
— Você nem pergunta, né? Só decide e pronto.
— Você quer ou não?
Ela suspirou, derrotada.
— Tá… Mas onde?
— Surpresa.
Ela estreitou os olhos.
— Se for algum lugar estranho, eu juro que…
— Não é — ele interrompeu. — Agora come logo.
Evelyn pegou o garfo, ainda desconfiada.
— O que esse desgraçado tá aprontando agora?
Evelyn terminou de comer, ainda sem entender o que Oliver tinha em mente. Ele era assim mesmo, direto ao ponto e misterioso ao mesmo tempo.
Depois de lavar a louça rapidamente, ela voltou para o quarto para se trocar.
Se Oliver queria sair, então ela ia se arrumar direito.
Escolheu uma roupa confortável, mas estilosa, e arrumou o cabelo, tentando ignorar o fato de que sua mente ainda estava presa na noite anterior.
Quando voltou para a sala, Oliver já estava pronto, vestindo seu habitual corta-vento preto e segurando as chaves da moto.
— Vamos.
— Espera, de moto?
— Sim.
— Você sabe que eu não sou muito fã de moto, né?
— Sim.
Evelyn suspirou, revirando os olhos.
— Você pelo menos tem um capacete extra?
Ele ergueu um segundo capacete, já prevendo a pergunta.
— Claro.
Sem ter mais desculpas, ela pegou o capacete e seguiu Oliver até a moto.
Assim que subiu, sentiu o corpo dele firme na sua frente.
— Segura.
— Não precisa…
Antes que pudesse terminar a frase, Oliver acelerou um pouco, fazendo a moto dar um leve solavanco.
Instintivamente, Evelyn segurou na camisa dele.
— Desgraçado! — sussurrou entre os dentes, ouvindo Oliver dar um sorriso discreto.
Eles partiram pela cidade, o vento fresco batendo contra o rosto de Evelyn. Aos poucos, ela relaxou, percebendo que, apesar do seu receio inicial, estar ali com Oliver era… bom.
Depois de alguns minutos de silêncio, ela se inclinou levemente para falar no ouvido dele.
— Tá, agora me diz… pra onde estamos indo?
Oliver apenas acelerou um pouco mais.
— Surpresa.
Evelyn suspirou.
— Eu odeio quando você faz isso.
Oliver não respondeu, apenas continuou dirigindo, enquanto um pequeno sorriso se formava no canto dos seus lábios.
A moto seguiu pelas ruas da cidade, iluminadas pelas luzes dos postes e letreiros de lojas.
Evelyn percebeu que estavam indo para uma parte menos movimentada da cidade, o que só aumentou sua curiosidade.
Depois de alguns minutos, Oliver desacelerou e estacionou perto de uma colina com uma vista panorâmica da cidade.
Era um lugar tranquilo, longe do barulho e das multidões.
Evelyn tirou o capacete e olhou ao redor, intrigada.
— Por que aqui?
Oliver desceu da moto, tirando o próprio capacete e apoiando-o no banco.
Ele olhou para a cidade lá embaixo, como se estivesse pensando em algo.
— Você sempre reclama que não tem tempo pra respirar — ele disse, finalmente. — Então achei que seria um bom lugar.
Evelyn piscou, surpresa.
— … Você presta atenção nisso?
— Eu presto atenção em tudo o que você faz.
Ela sentiu o rosto esquentar por um segundo, mas disfarçou, cruzando os braços.
— Tá me espionando agora?
— Só observando.
Oliver caminhou até uma parte mais elevada da colina e sentou na grama, apoiando os braços para trás e encarando o horizonte.
Evelyn hesitou, mas acabou se aproximando e sentando ao lado dele.
O silêncio se instalou por alguns instantes, apenas o vento e o som distante da cidade enchendo o ar.
— Você sempre gostou desse tipo de lugar? — Evelyn perguntou.
— Desde pequeno. Lugares altos me ajudam a pensar.
Ela o observou por um momento.
— E você tem muita coisa pra pensar?
Oliver soltou um pequeno riso pelo nariz.
— Sempre.
Evelyn virou o rosto para a cidade, deixando-se perder na vista.
— Isso é… legal. Obrigada.
— Hm?
— Pelo que você disse antes. Sobre prestar atenção.
Oliver não respondeu de imediato. Depois de um tempo, ele apenas soltou um "hm" baixo, sem desviar os olhos da cidade.
Evelyn ficou ali, ao lado dele, sentindo um estranho conforto naquela quietude compartilhada.
Talvez, só talvez… aquele momento fosse mais significativo do que ela queria admitir.
O vento fresco soprava levemente, bagunçando os cabelos soltos de Evelyn. O silêncio entre os dois não era desconfortável, pelo contrário, parecia que eles estavam exatamente onde deveriam estar.
Evelyn respirou fundo e soltou um longo suspiro.
— Você sempre faz isso?
Oliver desviou o olhar da cidade e a encarou com a expressão neutra de sempre.
— Isso o quê?
— Me surpreender.
Ele sorriu de canto.
— É um talento.
Ela revirou os olhos, mas o sorriso discreto no rosto dela denunciava que não estava realmente incomodada.
Por um momento, tudo ficou tranquilo de novo. A cidade abaixo parecia um mar de luzes cintilantes, e o céu noturno sem nuvens deixava as estrelas bem visíveis.
Evelyn nunca tinha parado para notar como aquele lugar era bonito.
— Você já trouxe alguém aqui antes? — perguntou, quase sem pensar.
Oliver desviou o olhar e ficou em silêncio por alguns segundos antes de responder.
— Não.
Ela arqueou uma sobrancelha.
— Sério?
— Nunca tive motivos pra isso.
Evelyn sentiu algo estranho no peito ao ouvir isso, mas não soube explicar o que era.
Oliver se levantou, esticando os braços.
— Vamos? Tá ficando tarde.
Evelyn também se levantou, batendo levemente nas próprias roupas para tirar a poeira da grama.
— É, acho que sim.
Os dois voltaram para a moto, e Oliver a ligou. Evelyn subiu na garupa sem hesitar e segurou na jaqueta dele, como sempre fazia.
Dessa vez, no entanto, ela apertou um pouco mais forte.
E o que ela não viu foi o pequeno sorriso de Oliver antes de acelerar de volta para casa.
Chegando em casa, Oliver foi direto para a cozinha, abrindo a geladeira sem pressa, procurando algo para comer.
Evelyn, por outro lado, ficou parada na entrada, os olhos fixos nele, mas sua mente longe.
Ela se pegou pensando. Durante todo esse tempo, desde o começo, ele sempre tomava a frente.
Fazia algo inesperado, dizia algo que a deixava sem reação, tocava nela sem hesitar, e ela apenas… aceitava.
Onde estava aquele lado obsessivo dela?
Afinal, ela sempre quis ele. Sempre desejou estar perto, sentir sua presença, tê-lo só para ela.
Mas agora que tinha, por que estava apenas assistindo?
Oliver pegou uma garrafa de água e deu um gole, encostando-se na pia.
— Tá encarando por quê?
A voz dele a trouxe de volta. Evelyn piscou algumas vezes, sentindo o calor subir pelo corpo.
Ele estava tão relaxado, tão natural, e isso só a deixava mais irritada. Como se fosse óbvio que ele a tinha nas mãos.
Sem responder, ela se aproximou lentamente, cada passo ecoando na cozinha silenciosa. Oliver ergueu uma sobrancelha, curioso, mas não se moveu.
— O que foi?
Evelyn parou na frente dele, próxima o suficiente para que ele sentisse a respiração quente dela.
— Você sempre toma a iniciativa, não é?
Oliver inclinou a cabeça, o canto dos lábios puxando um sorriso.
— Alguém tem que fazer isso.
Ela soltou um riso curto.
— Isso é tão irritante…
Antes que ele respondesse, Evelyn segurou a gola da jaqueta dele e puxou para si, seus lábios colidindo nos dele com uma intensidade repentina.
Oliver não ficou surpreso, na verdade, parecia estar esperando por isso.
Ele retribuiu o beijo sem hesitação, as mãos naturalmente deslizando pela cintura dela, puxando-a para mais perto.
O calor entre os dois aumentava a cada segundo, a respiração acelerava.
Evelyn sentiu um arrepio percorrer seu corpo quando Oliver inclinou a cabeça, aprofundando o beijo com mais controle, mais intensidade.
Quando se afastaram, ela estava ofegante, os olhos brilhando de desejo e provocação.
— Finalmente tomando a frente? — Oliver murmurou, a voz levemente rouca.
Evelyn lambeu os lábios, um sorriso perigoso se formando.
— Você não faz ideia.
Oliver apenas sorriu, sentindo que a noite ainda estava longe de terminar.
Oliver manteve a expressão neutra enquanto observava Evelyn se aproximar, sentindo o toque leve dos dedos dela deslizarem pela sua jaqueta antes de removê-la com calma e jogá-la sobre o balcão. Ele não disse nada, apenas observava.
— Você sempre me deixa sem reação, sabia? — Evelyn murmurou, os olhos fixos nele. — Mas eu acho que já estou cansada disso.
Ela puxou a barra da camisa dele, levantando-a lentamente, sem desviar o olhar.
Oliver permaneceu imóvel, deixando-a continuar.
— E agora? O que você vai fazer? — Ele perguntou, a voz calma, mas carregada de algo diferente.
— Te mostrar como é irritante ser provocado o tempo todo — respondeu ela, deslizando as mãos pelo abdômen dele antes de se encostar na bancada da cozinha.
Oliver deu um passo à frente, reduzindo ainda mais a distância entre eles, apoiando uma das mãos ao lado do corpo dela, sem pressa.
— Você finalmente decidiu agir — ele comentou, com um tom neutro.
Evelyn sorriu, puxando-o mais para perto.
— E você não vai fugir disso.
Oliver não recuou. Apenas a observou por um longo momento, analisando cada detalhe do rosto dela. Então, inclinou-se levemente, sem quebrar o contato visual.
Mas antes que algo acontecesse—
DING DONG!
A campainha.
O silêncio tomou conta da cozinha.
Evelyn fechou os olhos por um segundo, respirando fundo. Oliver apenas se afastou devagar, pegando a camisa e vestindo-a sem pressa.
— Quem resolve aparecer agora? — Evelyn murmurou, irritada.
Oliver apenas ajeitou a gola da camisa e foi até a porta. Ao abri-la, deu de cara com Thomas, segurando uma sacola.
— Opa. Interrompi alguma coisa?
Oliver piscou lentamente, sem qualquer reação visível.
— Sim.
Thomas soltou uma risada.
— Ah, foi mal. Mas eu trouxe refrigerante.
Oliver apenas olhou para ele por um segundo antes de pegar a sacola de sua mão e dar um passo para o lado.
— Evelyn gosta de refrigerante. Entra logo.
Thomas entrou, ainda sorrindo.
— Você nunca muda, hein?
Oliver apenas fechou a porta sem responder.
Thomas jogou-se no sofá com a naturalidade de quem já estava acostumado a estar ali. Evelyn, ainda tentando recuperar a compostura depois da interrupção, lançou-lhe um olhar afiado.
— Você tem um timing péssimo, sabia? — ela resmungou, cruzando os braços.
Thomas abriu uma lata de refrigerante e deu um gole antes de responder.
— Nah, eu acho que meu timing é perfeito. Vai que eu acabei salvando o Oliver de alguma coisa perigosa?
Oliver, que estava guardando algumas coisas na geladeira, respondeu com seu tom neutro de sempre:
— Eu nunca precisei ser salvo.
Thomas riu curto.
— Tá, tá. Só vim ver se vocês estavam vivos depois da festa de ontem. Sei que passaram a noite juntos e—
Evelyn tossiu alto de propósito, interrompendo.
— Não aconteceu nada! — cortou rapidamente.
Thomas levantou as mãos em rendição, mas o sorriso malicioso permaneceu no canto dos lábios.
— Certo, certo. Só estou dizendo que vocês estão demorando.
Oliver, que pegava um lanche da geladeira, ergueu uma sobrancelha.
— Demorando pra quê?
— Pra oficializar essa coisa toda. — Thomas apontou para Evelyn e depois para Oliver. — Todo mundo já percebeu que vocês são um casal, mas falta aquele momento de "sim, estamos namorando".
Evelyn desviou o olhar, sentindo as bochechas esquentarem, enquanto Oliver permaneceu inexpressivo por um instante.
Então, para a surpresa dela, ele assentiu levemente e disse:
— Hm. É verdade.
Evelyn piscou, confusa.
— O quê?!
Oliver deu um gole na bebida, como se não tivesse soltado uma bomba.
— Faz sentido. Eu deveria ter feito um pedido mais formal.
Thomas arregalou os olhos.
— Opa, peraí, é sério?
Evelyn olhou para Oliver, ainda tentando processar se ele estava falando sério ou só se divertindo às custas dela. Ele manteve a expressão neutra, mas ela notou o brilho discreto no olhar dele.
— Você tá tirando com a minha cara? — ela perguntou, desconfiada.
Oliver deu de ombros.
— Talvez.
Thomas caiu na gargalhada, enquanto Evelyn bufava, jogando uma almofada em Oliver, que desviou sem esforço.
— Você é um desgraçado!
— Você que caiu fácil — ele retrucou, pegando um pedaço do lanche e mordendo como se nada tivesse acontecido.
Thomas ainda ria.
— Cara, vocês são ridículos. Mas, sinceramente, isso foi hilário.
Evelyn cruzou os braços e olhou feio para Oliver, que apenas seguiu comendo, completamente impassível.
Ela ia se vingar dessa.
Verdade, erro meu. Vou refazer considerando que era refrigerante.
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A tensão ainda pairava no ar depois do pequeno jogo entre Oliver e Thomas. Evelyn continuava encarando Oliver, cruzando os braços, mas ele, como sempre, mantinha a expressão neutra enquanto terminava de beber o refrigerante.
Thomas, percebendo a atmosfera carregada, deu um último gole na sua própria lata e se levantou.
— Certo, já atrapalhei o suficiente. Vou deixar vocês a sós.
Evelyn bufou.
— Não somos um casal.
Thomas arqueou a sobrancelha, olhando diretamente para os anéis e colares deles.
— Sei… Boa noite pros dois.
Oliver apenas acenou de leve.
— Boa noite.
Thomas saiu rindo, fechando a porta atrás de si, deixando apenas Oliver e Evelyn na sala.
Ela não disse nada por um tempo, apenas ficou encarando ele, que continuava agindo normalmente, como se nada tivesse acontecido. Isso a irritava mais do que qualquer outra coisa.
— Você fez isso só pra me provocar.
Oliver, sem demonstrar emoção alguma, apenas respondeu:
— E funcionou.
Evelyn pegou uma almofada do sofá e atirou nele. Oliver desviou sem esforço, como se já esperasse o ataque.
— Você é impossível!
Ele terminou o refrigerante e colocou a lata sobre a mesa.
— Eu vou dar uma volta.
— A essa hora?
Ele pegou as chaves da moto e deu de ombros.
— Eu gosto do silêncio da cidade à noite.
Evelyn bufou novamente.
— Você quer que eu vá junto?
Oliver olhou para ela e apenas deu um meio sorriso.
— Se quiser, pode vir.
Ela apertou os lábios, pensativa. Estava irritada? Sim. Mas também não queria ficar sozinha em casa.
— Tsk. Espera eu pegar minha jaqueta.
Oliver abriu a porta e saiu primeiro. Evelyn foi logo atrás, ainda emburrada, mas no fundo… bem no fundo, ela gostava desse lado dele.
Mesmo que nunca fosse admitir.
A noite avançava lentamente, o céu limpo, sem nuvens, apenas algumas estrelas tímidas piscando no alto. A cidade estava mais calma, as ruas levemente movimentadas, iluminadas por postes e letreiros de lojas que ainda estavam abertas.
Oliver estava encostado na moto, observando Evelyn com um olhar neutro. Ela, por outro lado, estava animada.
— Eu quero pilotar. — Evelyn disse, cruzando os braços.
Oliver arqueou uma sobrancelha.
— Você sabe pilotar?
— Não.
Ele soltou um suspiro, mas sem dizer nada, ativou o modo automático da moto.
— É só escolher um local e segurar.
Evelyn não hesitou. Segurou firme no guidão e, sem olhar para Oliver, apenas sorriu. Mas não era um sorriso comum…
Era aquele sorriso.
O brilho obsessivo nos olhos, a excitação quase maníaca… Oliver, distraído, não percebeu. Apenas se acomodou atrás, segurando nas alças da moto enquanto ela começava a se mover.
A viagem foi silenciosa. Oliver, relaxado, aproveitava o vento batendo contra seu rosto, sem prestar atenção ao trajeto. Evelyn, por outro lado, mantinha-se completamente focada, o sorriso ainda presente nos lábios.
A moto continuou o percurso por alguns minutos, passando por ruas cada vez mais vazias. Oliver percebeu que os arredores estavam diferentes… letreiros de neon começaram a aparecer, menos prédios residenciais, mais estabelecimentos específicos…
Então, ele finalmente viu.
O letreiro piscante logo à frente, iluminando o estacionamento.
Um motel.
A moto parou suavemente, desligando o motor assim que alcançou a vaga. Evelyn soltou o guidão e virou-se para Oliver com o mesmo brilho intenso nos olhos.
Ele, por sua vez, permaneceu imóvel, a expressão neutra inalterada.
— Eh…
Evelyn inclinou a cabeça, fingindo confusão.
— O que foi? Você disse que eu podia escolher qualquer lugar.
Oliver olhou para a entrada do motel, depois para Evelyn, e então suspirou.
— Meh...
Evelyn desceu da moto com um sorriso vitorioso nos lábios. Oliver, por outro lado, permaneceu sentado, encarando o letreiro piscante por alguns segundos antes de suspirar e levantar-se.
Ela cruzou os braços, ainda esperando alguma reação além da expressão neutra dele.
— O que foi? Vai amarelar agora?
Oliver apenas arqueou uma sobrancelha.
— Você tem dinheiro?
Evelyn revirou os olhos, puxando a carteira do bolso.
— Oliver, pelo amor de Deus…
Ele deu de ombros.
— Só conferindo.
Sem mais enrolação, Evelyn seguiu até a recepção, enquanto Oliver caminhava ao lado, as mãos nos bolsos. A atendente, uma mulher de óculos e uniforme, levantou a cabeça ao vê-los entrar.
— Bem-vindos. Gostariam de um quarto por quantas horas?
Evelyn já estava abrindo a boca para responder quando Oliver, com a mesma calma de sempre, interrompeu.
— Por um segundo, imaginei que ela ia pedir um quarto por uma semana.
A atendente soltou uma risada discreta, mas Evelyn apenas lançou um olhar de advertência para Oliver.
— Para de ser chato. — Ela voltou-se para a recepcionista. — Vamos querer o pernoite.
A mulher registrou o pedido, pegou o pagamento e entregou a chave.
— Quarto 207. O estacionamento é ao lado, fiquem à vontade.
Evelyn pegou a chave e, sem perder tempo, puxou Oliver pelo pulso em direção ao elevador.
Ele não resistiu, apenas acompanhou os passos dela com sua calma habitual.
Assim que a porta do elevador se fechou, Evelyn virou-se lentamente, encarando Oliver de perto.
— Desde quando você é tão obediente?
Oliver piscou, como se considerasse a pergunta.
— Desde que percebi que você ia me arrastar de qualquer jeito.
O brilho obsessivo nos olhos dela ficou ainda mais intenso.
— Então você se entregou, foi isso?
— Nah. Só achei mais eficiente assim.
Evelyn sorriu de lado, deslizando a mão até segurar a gola da jaqueta dele.
— Mais eficiente…?
Oliver piscou, como se considerasse a pergunta.
— Desde que percebi que você ia me arrastar de qualquer jeito.
O brilho obsessivo nos olhos dela ficou ainda mais intenso.
— Então você se entregou, foi isso?
— Nah. Só achei mais eficiente assim.
Evelyn sorriu de lado, deslizando a mão até segurar a gola da jaqueta dele.
— Mais eficiente…?
Oliver permaneceu imóvel, olhando para ela com a mesma neutralidade de sempre.
— Se eu dissesse não, você teria me sedado e me jogado dentro do quarto?
Evelyn fingiu pensar por um momento antes de dar um sorriso sacana.
— Não posso nem confirmar, nem negar.
A porta do elevador abriu. Evelyn não soltou Oliver, puxando-o para fora em direção ao quarto 207.
Oliver apenas suspirou.
— Se isso for um sequestro, tenho que admitir que é o mais confortável que já vi.
Evelyn abriu a porta do quarto com um movimento ágil, puxando Oliver para dentro antes de trancá-la atrás deles.
O ambiente era elegante e bem iluminado, com uma cama espaçosa no centro, lençóis impecáveis e um espelho estrategicamente posicionado na cabeceira.
Havia uma pequena mesa com um balde de gelo e algumas garrafas de água e vinho à disposição. O clima era perfeito para… bem, o que Evelyn tinha em mente.
Oliver olhou ao redor, tirando a jaqueta e jogando-a sobre a poltrona ao lado.
— Você já tinha um plano pra isso?
Evelyn sorriu enquanto tirava os sapatos, deixando-se cair sobre a cama com uma expressão satisfeita.
— Digamos que eu gosto de estar preparada.
Oliver arqueou uma sobrancelha, mas não disse nada. Caminhou até a mesa e pegou uma garrafa de água, abrindo-a e bebendo tranquilamente, como se estivesse em casa.
Evelyn o observava com atenção, os olhos brilhando com aquele toque obsessivo que ele já conhecia bem.
— Você tá bem calmo pra alguém que acabou de ser arrastado pra um motel.
Oliver colocou a garrafa de volta na mesa e deu de ombros.
— Eu já disse que resistir seria inútil.
Evelyn soltou uma risada baixa.
— Finalmente percebeu como as coisas funcionam entre nós, né?
Oliver apenas lançou um olhar lateral para ela antes de se sentar na beirada da cama, sem se apressar.
— E agora? Vai me atacar ou quer conversar primeiro?
Evelyn rolou os olhos, levantando-se e ficando de joelhos sobre a cama, se aproximando dele lentamente.
— E se eu quiser fazer os dois?
Ele inclinou a cabeça levemente, os olhos analisando cada movimento dela.
— Então você quer conversar enquanto me ataca? Interessante…
Evelyn deslizou as mãos pelos ombros dele, puxando-o ligeiramente para mais perto.
— Oliver…
— Evelyn.
Ela apertou os lábios, percebendo que ele não demonstrava nenhuma resistência, mas também não facilitava as coisas para ela.
— Você realmente não vai me dar uma reação, vai?
Oliver sorriu de canto.
— Depende do que você tentar.
O olhar dela brilhou com um misto de desafio e desejo.
— Então acho que vou ter que tentar um pouco mais.
Oliver apenas cruzou os braços.
— Vá em frente. Estou curioso pra ver o que você tem em mente.
Evelyn sorriu de um jeito que faria qualquer um repensar suas decisões, mas Oliver manteve sua expressão neutra, observando enquanto ela se inclinava mais perto, seus olhos fixos nos dele.
— Você é impossível, sabia? — ela murmurou, deslizando as mãos lentamente pelo peito dele.
— Já me disseram isso algumas vezes.
Ela estreitou os olhos, percebendo que ele ainda estava jogando no modo "difícil". Então, sem hesitar, segurou a gola da blusa dele e puxou, forçando-o a se inclinar mais.
O espaço entre os dois se dissolveu, e por um breve momento, Oliver realmente pensou que ela fosse tomar a iniciativa ali mesmo.
Mas Evelyn apenas ficou ali, os rostos quase colados, o olhar cravado no dele.
— Você quer que eu continue? — sua voz saiu baixa, carregada de expectativa.
Oliver piscou devagar.
— Não é como se eu tivesse escolha.
Evelyn soltou um suspiro exagerado.
— Você é muito irritante quando quer.
— E você é muito insistente quando quer algo.
Ela inclinou a cabeça, mordendo o lábio.
— E se eu quiser você?
Oliver apoiou uma das mãos no colchão, mantendo a postura relaxada.
— Isso já ficou bem óbvio.
Evelyn bufou e, em um movimento rápido, empurrou Oliver para trás, fazendo-o cair contra o colchão.
Ela se moveu rapidamente, ficando por cima dele, os cabelos caindo ao redor de seu rosto como uma cortina escura.
— Ah, então você percebeu? — a voz dela tinha um tom levemente divertido, mas os olhos brilhavam com uma determinação perigosa.
Oliver olhou para ela de baixo, ainda sem demonstrar muito, mas Evelyn conhecia ele o suficiente para saber que sua mente estava ativa, analisando tudo.
— Não sou burro.
Ela inclinou-se ainda mais, quase roçando os lábios contra os dele.
— Então para de agir como se fosse.
Oliver ergueu uma sobrancelha.
— Isso foi um insulto ou um pedido?
Evelyn sorriu.
— Os dois.
Ele soltou um suspiro.
— Você não vai desistir disso, vai?
— Nem um pouco.
Oliver ficou em silêncio por um momento, apenas olhando para ela. Então, muito lentamente, ele levantou uma das mãos e tocou o rosto dela, os dedos deslizando pela linha do maxilar.
— Então me convença.
O sorriso de Evelyn se alargou.
— Com o maior prazer.
E dessa vez, ela não hesitou.
A porta do quarto se fechou atrás deles. O silêncio pesado era cortado apenas pelo som sutil da respiração de Evelyn, ainda acelerada pelo trajeto.
Oliver permaneceu neutro, mas algo em seu olhar entregava que ele sabia exatamente o que estava acontecendo.
Evelyn deu um passo à frente, a luz baixa do ambiente destacando cada detalhe do seu rosto.
Os olhos dela, intensos, famintos, brilhavam com aquela obsessão que ele já conhecia. Ela mordeu o lábio inferior, hesitou por um segundo e então tomou a decisão.
— Você realmente não vai fazer nada? — A voz dela saiu quase como um desafio, carregada de expectativa.
Oliver arqueou uma sobrancelha, fingindo considerar a pergunta enquanto se encostava na parede.
— Você que me trouxe até aqui. Eu só tô esperando pra ver até onde isso vai.
Evelyn riu, um riso baixo e perigoso. Aquela resposta só serviu para atiçá-la ainda mais.
Sem perder tempo, ela encurtou a distância entre eles, apoiando as mãos no peito dele.
— Então eu vou te mostrar.
O tempo parecia desacelerar enquanto os movimentos dela ficavam mais ousados, mais diretos. As mãos exploravam com firmeza, como se quisessem memorizar cada detalhe.
Oliver, por sua vez, manteve sua expressão controlada, mas não se afastou. Evelyn sabia que ele estava se segurando, e isso a deixava ainda mais determinada.
A proximidade se tornou insuportável. O calor dos corpos, o toque sutil, a respiração compartilhada… Era impossível ignorar.
— E então? — Evelyn murmurou, os lábios perigosamente próximos aos dele.
Oliver olhou nos olhos dela, e, por um instante, a expressão neutra cedeu a um brilho diferente. Uma faísca de provocação.
— Você sabe o que tá fazendo, né?
Evelyn sorriu.
— Nunca tive tanta certeza.
O resto da noite... bem, foi uma noite longa, quente... E o calor não era da temperatura da cidade.
O sol já se infiltrava pelas frestas da cortina, tingindo o quarto com uma luz suave e quente. O ambiente ainda carregava o resquício da noite anterior, o ar denso, a desordem dos lençóis, o calor que ainda persistia.
Evelyn abriu os olhos lentamente, sentindo o corpo relaxado, mas… algo estava estranho. Quando a consciência finalmente despertou por completo, foi como se um raio atravessasse sua mente.
As memórias vieram de uma vez.
Seu rosto esquentou instantaneamente.
Ela se mexeu, sentindo o tecido macio da cama contra sua pele, o calor familiar ao seu lado. Quando virou o rosto, viu Oliver ali, tranquilo, os cabelos bagunçados, os olhos entreabertos, observando-a com aquela neutralidade típica.
— B-bom dia… — A voz dela saiu trêmula, carregada de vergonha.
Oliver apenas a encarou por um momento, então, antes que ela tentasse se afastar, puxou-a para mais perto. O braço dele a envolveu com naturalidade, e Evelyn sentiu queimar ainda mais por dentro.
— O-Oliver, espera… eu…
Ele pousou a testa contra a dela, um gesto simples, mas que a fez prender a respiração.
— Relaxa. — A voz dele era baixa, quase um sussurro. — É nosso.
Ela piscou, confusa, os olhos arregalados.
— O quê…?
Ele abriu um pequeno sorriso de canto, um daqueles quase imperceptíveis, mas que carregava significado.
— Nosso pequeno mistério.
Evelyn sentiu algo dentro dela estremecer. Não era só sobre aquela noite, era sobre tudo. Sobre eles. Sobre como tinham chegado até ali.
Seu coração bateu forte, e, mesmo sem saber como responder, mesmo sem conseguir organizar os próprios sentimentos, ela apenas sorriu. Um sorriso tímido, mas genuíno.
Porque sim… aquilo era deles. Um pequeno mistério.