Ato 18 - Quanto Tempo?

Evelyn notou algo estranho assim que Oliver passou por ela na cozinha.

Seus olhos se estreitaram.

Tinha algo… diferente.

— Espera aí… — ela cruzou os braços. — Seu cabelo.

Oliver continuou mexendo na chaleira, sem nem virar o rosto.

— O que tem?

— Tá mais curto.

— Sim.

— Você não saiu ontem.

— Não.

Evelyn franziu o cenho.

— Como você cortou?

Oliver se virou, pegou a xícara e respondeu sem pressa:

— Um mistério.

Evelyn ergueu uma sobrancelha.

Aquilo não fazia sentido.

Ela não lembrava de ouvir o barulho de tesouras, máquinas de cortar cabelo ou lâminas na noite anterior.

— Tá, mas sério. Como?

Oliver tomou um gole de café, colocando a xícara na pia logo em seguida.

— Talvez eu tenha aprendido a cortar sozinho.

— Com qual tesoura?

— Com uma invisível.

Evelyn bufou.

— Você é insuportável.

Oliver deu um leve sorriso de canto.

— E você é curiosa.

Ela o encarou por alguns segundos, tentando arrancar alguma pista da expressão dele, mas como sempre, ele era uma parede.

— Eu devia ter filmado enquanto você dormia pra ver se esse cabelo cortou sozinho.

Oliver deu de ombros.

— Agora já foi.

Evelyn continuou desconfiada.

Mas, no fim, não importava como ele tinha cortado.

Importava que, de alguma forma, ele continuava a ser um mistério para ela.

A campainha tocou, mas Evelyn não desviou o olhar de Oliver.

Ele parecia despreocupado, como sempre. Mas ela sabia que algo estava diferente hoje.

— Vai atender? — Oliver perguntou, sem nem se virar.

Evelyn bufou, cruzando os braços.

— Você não tá nervoso?

— Por quê estaria?

— Porque você vai dar aula pra adolescentes.

— E?

Evelyn suspirou.

— Você é impossível.

Ela foi até a porta e a abriu.

Gerarld estava ali, segurando um crachá e uma pilha de papéis.

— Tá pronto?

Oliver olhou para ele, pegou a xícara de café e bebeu o resto em um gole só.

— Sim.

Gerarld ergueu uma sobrancelha.

— Sério? Sem ansiedade?

— Não.

— Sem insegurança?

— Não.

— Você ao menos se preparou?

Oliver pegou um casaco e caminhou até a porta.

— Não.

Evelyn e Gerarld se entreolharam.

Ele sempre foi assim?

Ou só gostava de irritar os dois?

— Tá bom então… — Gerarld suspirou. — Vamos logo.

Oliver saiu pela porta sem pressa, como se aquilo fosse apenas mais um dia qualquer.

E, para ele, talvez fosse.

Os dois seguiram para a escola, com Gerarld explicando algumas coisas no caminho.

— Certo, vou ser direto. Você vai pegar uma turma do segundo ano. São adolescentes, ou seja, podem ser um pesadelo ou podem simplesmente ignorar você.

Oliver continuava andando sem expressão, ouvindo tudo.

— A diretora já tá ciente da sua chegada. Você só precisa entrar, se apresentar e começar a aula.

— Fácil.

Gerarld riu pelo nariz.

— Veremos.

Eles chegaram ao prédio da escola, um lugar moderno, mas ainda assim com aquele cheiro clássico de educação pública. Os corredores estavam cheios de alunos indo para suas salas. Alguns olhavam para Oliver, talvez tentando entender se ele era um novo professor ou apenas alguém perdido.

No escritório da diretoria, uma mulher de meia-idade os recebeu com um sorriso cordial.

— Senhor Nash, certo?

— Sim.

— Seja bem-vindo. Sua turma já está esperando.

Oliver apenas acenou com a cabeça. Gerarld o acompanhou até a porta da sala, parando antes de entrar.

— Boa sorte.

— Não preciso.

Gerarld sorriu.

— Ah, você precisa sim.

Oliver abriu a porta e entrou na sala.

O burburinho cessou aos poucos. Todos olharam para ele.

Ele caminhou até a mesa do professor, colocou os papéis que Gerarld havia dado e olhou para os alunos.

— Meu nome é Oliver Nash. Hoje sou o professor de vocês.

Silêncio.

Até que uma voz do fundo se fez ouvir.

— Esse cara tem cara de que nunca sorri.

Algumas risadas se espalharam pela sala.

Oliver não reagiu.

Ele apenas olhou para a turma, cruzou os braços e disse:

— Vamos ver quem ri por último.

Os alunos se entreolharam, um pouco mais atentos agora.

A aula estava prestes a começar.

Oliver encarou a turma por alguns segundos. Ele podia sentir a energia dali: adolescentes inquietos, alguns entediados, outros analisando se valia a pena testar sua paciência.

Ele pegou um giz e escreveu no quadro:

"O que é arte para você?"

Virando-se para os alunos, ele falou com a mesma neutralidade de sempre:

— Quero respostas.

O silêncio durou uns cinco segundos antes que um garoto na frente levantasse a mão.

— Arte é desenhar bem.

Oliver olhou para ele por um momento e respondeu:

— Errado.

O garoto arregalou os olhos.

Outra aluna levantou a mão, um pouco hesitante.

— Arte é expressar sentimentos?

Oliver fez um leve aceno com a cabeça.

— Melhor. Mas ainda não está completo.

Os alunos começaram a ficar mais interessados. Alguns cochichavam entre si, outros começaram a rabiscar nos cadernos, tentando pensar numa resposta.

Uma garota mais ao fundo, de moletom grande e fones de ouvido pendurados no pescoço, falou sem levantar a mão:

— Arte é o que faz a gente sentir alguma coisa.

Oliver olhou diretamente para ela.

— Agora estamos chegando lá.

Ele pegou um pedaço de papel na mesa e amassou.

— Isso aqui é arte?

Alguns alunos riram.

— Claro que não! — um deles respondeu.

Oliver apenas sorriu de canto.

Ele jogou o papel no lixo e foi até o quadro, desenhando rapidamente uma figura abstrata. Linhas soltas, formas sem um significado claro.

— E isso?

Os alunos se entreolharam, confusos.

— Depende… — alguém murmurou.

— Exato. — Oliver apontou para o desenho. — Arte não precisa ser bonita, não precisa ser perfeita. Só precisa causar algo em quem vê.

O silêncio foi substituído por murmúrios de entendimento. Oliver podia perceber que alguns estavam começando a se interessar de verdade.

Mas foi quando ele disse a próxima frase que realmente chamou a atenção de todos:

— E agora, quero que vocês me mostrem a arte de vocês.

A reação foi imediata. Alguns gemeram em protesto, outros tentaram disfarçar o nervosismo, mas Oliver apenas cruzou os braços, esperando.

— Tem que desenhar? — um perguntou.

— Pode ser o que quiser. Escrever, desenhar, cantar, criar algo. Contanto que seja algo que te faça sentir.

O desafio estava lançado.

Agora ele queria ver do que eles eram capazes.

A sala ainda estava dividida. Alguns alunos já estavam rabiscando no papel, enquanto outros permaneciam de braços cruzados, claramente resistentes à atividade.

Mas foi naquele momento que a garota de moletom e fones pendurados no pescoço franziu a testa e olhou melhor para Oliver.

Seus olhos se arregalaram por um breve segundo.

Ela pegou o celular discretamente, digitando algo rápido. Seus dedos deslizaram pela tela até que encontrou o que procurava.

"Oliver Nash"

O nome não era apenas conhecido. Era lendário no meio das comissões.

Um artista que conseguia capturar detalhes com precisão absurda, como se suas mãos não pertencessem a este mundo. As sombras, a iluminação, os traços fluidos... tudo em suas obras parecia vivo.

E, mais importante, ele não mostrava muito o rosto.

Havia quem chamasse de mito, outros de lenda, mas entre aqueles que realmente acompanhavam o cenário, ele tinha um título específico:

A Sombra das Cores.

Um nome dado pela forma como suas pinturas e ilustrações pareciam transcendentes, como se fossem feitas por alguém que compreendia a arte em um nível sobre-humano.

A garota de moletom olhou do celular para Oliver, analisando-o de novo. Agora fazia sentido. O olhar analítico, a postura relaxada, mas confiante. Não era um professor comum.

Ela bateu na carteira para chamar atenção.

— Você é Oliver Nash? A Sombra das Cores?

O barulho na sala diminuiu imediatamente. Alguns alunos levantaram a cabeça, outros ainda estavam distraídos. Mas os que ouviram a pergunta ficaram intrigados.

Oliver, por sua vez, permaneceu impassível.

— Talvez.

E foi o suficiente para mudar completamente o ambiente da sala.

Os cochichos começaram. Alguns alunos pegaram os celulares para pesquisar o nome dele, outros pareciam não acreditar.

— Mentira… — um deles murmurou.

— Ele tá zoando, né?

A garota de moletom jogou o celular na mesa, a tela mostrando uma de suas artes mais populares.

— Você fez isso?

Oliver deu de ombros.

— Se jogar o celular assim vai acabar quebrando, mas respondendo sua pergunta... Talvez.

Agora sim ele tinha a atenção deles.

O garoto que antes se recusava a desenhar ergueu uma sobrancelha, agora genuinamente curioso.

Outro aluno, que já estava desenhando, olhou para seu próprio trabalho e depois para Oliver, com um novo respeito.

A garota de moletom sorriu de canto, como se tivesse acabado de resolver um enigma.

— Então é por isso que você acha que pode ensinar a gente.

Oliver olhou para ela, sem mudar a expressão.

— Eu não sei, talvez, me digam vocês.

Os alunos se entreolharam.

A resistência inicial estava se dissipando.

Agora, todos queriam ver do que aquele professor era capaz.

O clima na sala mudou.

Os alunos que antes estavam desinteressados agora encaravam Oliver com curiosidade. A garota de moletom cruzou os braços, ainda analisando-o, como se tentasse decifrar se ele estava apenas brincando ou se realmente era quem diziam ser.

— Se você é mesmo a "Sombra das Cores" — ela começou, inclinando a cabeça — então desenha alguma coisa agora.

Os outros alunos concordaram rapidamente.

— Boa! Se ele for quem diz ser, deve ser fácil.

— Isso vai ser interessante...

Oliver não demonstrou nenhuma reação exagerada. Apenas pegou um lápis e um papel, girando o lápis entre os dedos por um momento.

— Certo. Mas e se eu for mesmo? O que acontece?

A garota ergueu uma sobrancelha.

— A gente aprende de verdade.

Oliver sorriu de leve.

— Então prestem atenção.

Ele abaixou o lápis no papel e, em segundos, os traços começaram a surgir com uma fluidez impressionante.

Os alunos observaram em silêncio absoluto enquanto a figura ganhava forma. Oliver desenhava com uma precisão absurda, como se cada movimento fosse calculado, mas ao mesmo tempo natural. Não precisou apagar nada, não hesitou.

A imagem de um lobo surgiu no papel, seus olhos brilhando de maneira intensa, como se estivesse prestes a saltar da folha.

Alguém engoliu seco.

— Caralho...

A garota de moletom inclinou o rosto para observar melhor.

— Isso é impossível…

Oliver colocou o lápis sobre a mesa.

— Agora... — Ele olhou para os alunos. — Quem vai ser o primeiro a tentar?

O desafio estava lançado.

Dessa vez, ninguém recusou.

Os alunos se entreolharam. O silêncio foi quebrado pelo som de lápis sendo apanhados e folhas sendo ajeitadas.

A garota de moletom foi a primeira a se inclinar sobre o papel, mordendo levemente o lábio inferior enquanto começava a esboçar.

Os outros seguiram logo depois.

O garoto que antes cruzava os braços e se recusava a desenhar soltou um suspiro, pegou um lápis e, meio a contragosto, começou a rabiscar.

Oliver caminhou pela sala, observando os trabalhos sem fazer comentários imediatos. Ele queria ver como cada um deles interpretava o desafio.

Aos poucos, os sons dos lápis deslizando pelo papel preencheram o ambiente.

Até os alunos que não sabiam desenhar estavam tentando.

— Como tá? — um dos alunos perguntou, virando o caderno para o colega do lado.

— Melhor do que eu esperava…

A garota de moletom ergueu o olhar para Oliver.

— E aí, professor?

Oliver pegou um dos desenhos e o analisou por alguns segundos.

— Você tem noção de proporção, mas sua linha ainda está um pouco hesitante. É como se estivesse com medo de errar.

Ela franziu a testa.

— Então o que eu faço?

Ele pegou o lápis dela sem aviso e começou a desenhar ao lado do esboço original.

— Para melhorar o traço, precisa de confiança. Ao invés de riscar devagar, tente movimentar o lápis com mais fluidez. — Ele desenhou um círculo perfeito em um único movimento. — Quanto mais firmeza na mão, melhor a precisão.

A garota o observou atentamente e tentou imitar.

Não foi perfeito, mas já foi melhor que antes.

— Isso. Agora continua.

Ela assentiu, determinada.

Oliver seguiu pelo resto da sala, dando dicas sutis aqui e ali.

Ele não precisava dar longas explicações. Apenas apontava onde cada um podia melhorar e deixava que tentassem sozinhos.

O tempo passou rápido.

Quando o sinal tocou, alguns alunos se assustaram.

— Já?!

— Nem vi a hora passar…

A garota de moletom olhou para seu próprio desenho e depois para Oliver.

— Ok… admito, você sabe ensinar.

Os outros alunos concordaram.

O garoto que antes não queria participar coçou a nuca.

— É… foi mais interessante do que eu achei que seria.

Oliver sorriu de leve.

— Isso significa que amanhã vocês vão estar mais dispostos?

Os alunos se entreolharam.

Um ou dois deram de ombros.

— Talvez.

— Quem sabe…

Mas pelo brilho nos olhos deles, Oliver sabia a resposta.

Ele já os tinha conquistado.

Os alunos começaram a se levantar, ainda comentando sobre a aula.

A garota de moletom jogou a mochila no ombro e olhou para Oliver uma última vez antes de sair.

— Não some antes da gente aprender mais uns truques, Sombra das Cores.

Oliver não respondeu, apenas inclinou levemente a cabeça, como se fosse um gesto de despedida.

Gerarld estava na porta, observando tudo com um sorriso satisfeito.

— Você tem talento pra isso, hein?

— Não é difícil quando você sabe do que tá falando.

Gerarld riu.

— Então vai aguentar ficar aqui por mais uma semana?

Oliver suspirou.

— Desde que não me peçam pra corrigir prova.

— Fechado.

Os dois saíram da sala, caminhando pelos corredores enquanto conversavam.

Nos dias seguintes, a dinâmica da aula mudou completamente.

No segundo dia, os alunos chegaram mais cedo. Alguns trouxeram cadernos melhores, lápis novos. Até mesmo os que não se interessavam por desenho começaram a se envolver.

No terceiro dia, um deles trouxe uma tela e tintas, desafiando Oliver a pintar algo.

Ele aceitou sem hesitar.

Os alunos assistiram enquanto ele criava uma paisagem detalhada em poucos minutos, usando pinceladas rápidas e precisas.

Era hipnotizante.

No quarto dia, a turma inteira já estava participando ativamente.

Até Gerarld ficou impressionado com a mudança.

— Nunca vi essa sala tão animada antes.

— Eles só precisavam de alguém que falasse a língua deles.

No quinto dia, Oliver percebeu algo curioso.

A garota de moletom estava se esforçando mais do que os outros.

Ela ficava depois da aula, refazia os desenhos, buscava feedback.

No último dia da semana, quando Oliver entregou a aula final, ela se aproximou com um caderno em mãos.

— Você pode dar uma olhada nisso?

Oliver pegou o caderno e folheou as páginas.

Os desenhos eram bons. Muito bons.

Mas o que chamou sua atenção foi um detalhe específico.

Entre as ilustrações, havia uma série de esboços de alguém correndo pela cidade.

Um borrão escuro atravessando as ruas.

Oliver fechou o caderno lentamente e olhou para a garota.

Ela sorriu.

— Você corre muito rápido, sabia?

A garota continuou encarando Oliver, tentando decifrar algo.

Ele manteve a expressão neutra, pegando o caderno dela e analisando o desenho com calma.

— Um borrão, hein? — Ele devolveu o caderno, inclinando levemente a cabeça. — Gostaria de conhecer esse ser para aprender mais com ele.

A garota piscou algumas vezes, confusa.

Por um instante, ela teve certeza de que havia desvendado um segredo. Mas agora... estava incerta.

"Não faz sentido", pensou. "Ele é só um artista. E artistas não têm resistência para correr daquele jeito."

Ela afastou a ideia, dando de ombros.

— É... talvez eu tenha exagerado.

O assunto parecia encerrado, e a atenção na sala voltou para os desenhos.

Foi então que um dos garotos ergueu a mão.

— Professor, dá uma olhada no meu.

Oliver se aproximou e olhou para o caderno.

O desenho retratava um homem musculoso, vestindo apenas a parte de baixo do uniforme dos bombeiros do Esquadrão Especial. A jaqueta preta com detalhes brancos estava amarrada na cintura, deixando o tronco definido exposto.

O nível de detalhe era impressionante. Cada linha reforçava a presença forte do personagem.

Os outros alunos se aproximaram para ver.

— Caramba, tá muito realista!

— Parece até uma foto.

— Isso é do Esquadrão Especial, né?

O garoto que desenhou assentiu.

— Sim. Eu curto muito esse esquadrão. Eles são insanos, levantam escombros como se fossem de papel, passam pelo fogo sem medo...

— E esse cara aí? Ele existe mesmo?

O garoto hesitou.

Ele olhou para o próprio desenho, depois para Oliver.

E então, algo clicou em sua mente.

Seus olhos se arregalaram.

— Espera aí...

Ele olhou de novo para Oliver, como se estivesse vendo algo que não percebeu antes.

— Não... não pode ser...

Os outros alunos franziram a testa, confusos.

— O que foi?

O garoto olhou para seu próprio desenho, para Oliver novamente, e então murmurou, atordoado:

— O professor de artes...

Ele engoliu em seco.

— … é o líder do Esquadrão Especial?

O silêncio na sala foi instantâneo.

Os alunos trocaram olhares.

Depois, um a um, voltaram-se para Oliver.

Ele, por sua vez, permaneceu impassível.

— Talvez.

E então, o caos começou.

O caos foi instantâneo.

— O QUÊ?!

— VOCÊ TÁ BRINCANDO!

— O PROFESSOR É O LÍDER DO ESQUADRÃO ESPECIAL?!

Os alunos começaram a se levantar, puxando os celulares, procurando notícias, tentando confirmar.

A garota de moletom, que até então estava apenas observando, arregalou os olhos.

— …Isso explicaria muita coisa.

— Mas não faz sentido! — um dos garotos exclamou. — Como um artista de elite também é um bombeiro do esquadrão mais insano do país?!

Oliver permaneceu tranquilo, cruzando os braços enquanto os alunos surtavam ao redor dele.

Ele poderia simplesmente negar e encerrar o assunto. Mas, sinceramente… onde estava a graça nisso?

— Talvez eu só goste de manter a mente e o corpo ativos. — Ele deu de ombros.

Isso só piorou as coisas.

— MANO, ELE NÃO NEGOU!

— ISSO É LOUCURA!

— ESPERA, TEM FOTO DELE NA INTERNET?!

Os alunos começaram a abrir notícias, procurando imagens do esquadrão.

Foi aí que um deles encontrou algo.

— AQUI!

Todos se amontoaram ao redor do celular.

Na tela, havia uma foto de uma operação de resgate. No meio das chamas, um grupo de bombeiros do Esquadrão Especial trabalhava para salvar vítimas.

E bem no centro da imagem, lá estava ele.

Oliver Nash, sem capacete, com o uniforme meio aberto e a jaqueta amarrada na cintura.

A prova definitiva.

— É ELE!

— O PROFESSOR É UM MONSTRO!

— COMO ELE CONSEGUE FAZER TANTA COISA?!

Oliver olhou para a foto e sorriu de canto.

A turma estava oficialmente conquistada.

Oliver pede a Gerarld, mais uma semana, e o mesmo diz que tudo bem, os professores que haviam tentando entrar, não tinham notas boas

Oliver e ele ainda tinha uma semana inteira como professor.

Isso ia ser divertido.

O resto da aula foi um completo caos controlado.

Os alunos, antes indiferentes, agora estavam completamente engajados. As perguntas vinham de todos os lados.

— Como você entrou no esquadrão?

— Você já salvou muita gente?

— Alguma vez quase morreu?

— COMO VOCÊ TEM TEMPO PRA TUDO ISSO?!

Oliver não respondeu todas. Algumas ele ignorou, outras ele apenas sorriu de canto e mudou de assunto.

No entanto, uma coisa estava clara: ninguém mais o via como um simples professor substituto.

— Certo, agora que vocês já sabem disso tudo, voltem a desenhar.

— COMO ASSIM "VOLTEM A DESENHAR"? A GENTE DESCOBRIU QUE NOSSO PROFESSOR É UMA LENDA VIVA!

Oliver ergueu uma sobrancelha.

— E daí? O que isso tem a ver com o desenho de vocês?

O garoto que tinha feito o desenho do bombeiro olhou para a própria arte, como se visse algo novo nela.

— …Acho que nada.

— Exato. Agora continuem.

Os alunos ainda estavam animados, mas obedeceram. Mesmo em meio às conversas baixas e aos cochichos, todos voltaram a desenhar.

A garota de moletom observou Oliver por um tempo, antes de sorrir de canto.

— Esperto…

Ele ouviu, mas fingiu que não.

A aula terminou com um clima completamente diferente.

Na saída, enquanto Oliver arrumava seus materiais, o garoto do desenho do bombeiro se aproximou.

— Professor.

Oliver olhou para ele.

O garoto segurava o desenho com ambas as mãos, um pouco hesitante.

— Pode assinar?

Oliver piscou, surpreso por um instante. Então pegou o lápis, girou entre os dedos e assinou no canto do papel.

— Pronto.

O garoto sorriu, olhando para a assinatura como se fosse um prêmio.

— Valeu.

E saiu correndo para mostrar aos amigos.

Oliver soltou um suspiro.

Ele não tinha planejado essa revelação, mas agora que tinha acontecido… bom, não parecia tão ruim.

A segunda semana como professor ainda estava apenas começando.

Nos dias seguintes, Oliver percebeu que a dinâmica da sala tinha mudado completamente.

Antes, a maioria dos alunos via aquela aula como apenas mais uma matéria obrigatória, mas agora?

Agora eles prestavam atenção.

Havia um respeito diferente no ar.

Alguns alunos que antes sequer tocavam no lápis agora tentavam desenhar algo, nem que fosse um rascunho tosco. Outros, que já tinham alguma habilidade, começaram a testar coisas novas.

A garota de moletom era uma delas.

Ela passou a chegar mais cedo e a desenhar antes mesmo de a aula começar.

Em um dos dias, Oliver passou por trás dela e viu um esboço inacabado.

Eram mais desenhos daquele borrão.

Literalmente.

A silhueta de alguém correndo tão rápido que os detalhes desapareciam.

Ele não disse nada. Apenas observou por alguns segundos antes de seguir em frente.

— Oliver.

A voz dela o chamou antes que ele saísse completamente.

Ele se virou.

— O quê?

Ela apontou para o próprio desenho.

— Você acha que isso é real?

Ele olhou para o esboço por um momento.

— O que você acha?

Ela franziu a testa.

— Eu perguntei primeiro.

Oliver deu um pequeno sorriso.

— Então desenhe até descobrir a resposta.

Ela o encarou por um instante, tentando decifrar suas palavras.

Mas antes que pudesse perguntar algo, a aula começou.

Nos dias seguintes, a energia da sala se mantinha alta.

Os alunos estavam mais engajados, mais curiosos.

E, para Oliver, era interessante observar como pequenas mudanças de perspectiva podiam transformar completamente a forma como as pessoas enxergavam algo.

A garota de moletom, por exemplo, estava obcecada.

Não com ele, nem com a fama dele, mas com o mistério do "borrão".

Cada dia, seus desenhos ficavam mais detalhados.

A silhueta antes abstrata agora começava a ganhar forma.

Não um rosto, nem detalhes muito nítidos… mas proporções.

Altura.

Postura.

Era o suficiente para Oliver entender que ela estava chegando perto.

Mas perto de quê?

Naquela manhã, enquanto Oliver revisava alguns trabalhos, a garota se aproximou.

Ela jogou o caderno sobre a mesa dele, um olhar sério no rosto.

— Eu quero que você olhe isso.

Oliver ergueu uma sobrancelha e folheou o caderno.

A página mostrava uma sequência de esboços.

O mesmo borrão, mas agora com nuances diferentes.

Um deles mostrava a figura parada, como se estivesse desacelerando.

Outro destacava algo curioso: um longo casaco esvoaçante.

Oliver fechou o caderno com calma.

— E aí?

A garota cruzou os braços.

— Eu acho que descobri algo.

Oliver sorriu de leve.

— É mesmo?

Ela assentiu.

— Esse borrão... seja quem for, ele já esteve aqui.

Oliver manteve a expressão neutra.

— Interessante.

A garota inclinou a cabeça.

— E eu vou descobrir quem é.

Oliver se levantou, pegando o caderno e devolvendo para ela.

— Boa sorte com isso.

Ela estreitou os olhos.

— Você sabe de alguma coisa, não sabe?

Oliver deu de ombros.

— Eu sou só um professor de artes temporário.

A garota não respondeu. Apenas pegou o caderno e voltou para sua mesa, mas ele sabia que aquela conversa não terminaria ali.

Ela estava chegando cada vez mais perto.

E, eventualmente… ela descobriria.

Os dias passaram e o último da semana finalmente chegou.

A sala estava diferente.

O burburinho das conversas era mais animado. Os alunos pareciam à vontade. Até aqueles que no começo se recusavam a desenhar agora faziam pelo menos um rabisco ou outro.

Oliver observava aquilo com uma satisfação silenciosa.

Ele não era do tipo que precisava de reconhecimento, mas ver aquele progresso era inegável.

Ele pegou um dos cadernos deixados sobre a mesa.

E lá estava de novo.

A figura borrada.

A cada página, mais detalhes surgiam.

Agora a garota de moletom desenhava até sombras projetadas pelo movimento.

Oliver soltou um pequeno suspiro.

Ela era persistente.

E esperta.

O sinal tocou, mas em vez de todos saírem imediatamente, alguns alunos ficaram para conversar.

A garota se aproximou, puxando uma cadeira e se jogando nela sem cerimônia.

— Último dia, hein?

Oliver fechou o caderno.

— Pois é.

Ela apoiou o queixo na mão.

— Vai sentir falta?

— Talvez.

Ela deu um sorriso.

— Esse é o seu jeito de dizer sim, né?

Oliver não respondeu. Apenas ergueu uma sobrancelha, como se dissesse descubra você mesma.

A garota estalou a língua.

— Enfim, antes de você ir, quero te mostrar uma coisa.

Ela pegou o celular e deslizou o dedo na tela até parar em um vídeo.

Ela virou a tela para ele.

Era uma filmagem de segurança.

Uma rua vazia.

E então, de repente, um borrão atravessava a tela em alta velocidade.

Oliver ficou olhando.

Não precisou fingir surpresa, mas também não demonstrou nenhuma reação exagerada.

A garota apontou para o vídeo.

— Eu sabia. Ele é real.

Oliver olhou para ela.

— E o que você pretende fazer com isso?

Ela sorriu.

— Descobrir quem ele é, é claro.

Oliver soltou um pequeno riso nasal.

— Boa sorte com isso.

Ela se inclinou sobre a mesa.

— Você não tá nem um pouco curioso?

Oliver fechou o caderno e se levantou.

— Sou só um professor de artes temporário.

Ela estreitou os olhos.

— Você já disse isso antes.

Ele deu um meio sorriso.

— Porque é verdade.

E com isso, pegou seu casaco e saiu da sala, deixando para trás a garota e seu mistério inacabado.

Mas ele sabia.

Mais cedo ou mais tarde…

Ela iria descobrir.

A garota continuou andando, ignorando o vento frio da noite e a sensação incômoda na nuca, aquela sensação de que algo estava errado.

Não era paranoia.

Já tinha aprendido a confiar em seus instintos.

E quando dobrou a esquina, seu corpo congelou.

Dois homens estavam ali, bloqueando a passagem.

Eram altos, vestidos com roupas escuras.

Não olhavam para os lados, não pareciam apenas transeuntes.

Eles estavam esperando.

Ela apertou os lábios, forçando-se a não demonstrar medo.

— Com licença.

Nenhum deles se moveu.

O da direita sorriu de canto, um olhar que a fez sentir nojo imediato.

— Você tá sozinha, né, garotinha?

Um arrepio subiu pela espinha dela.

Seu coração disparou, mas sua expressão permaneceu fria.

— E?

O outro homem riu, dando um passo à frente.

— E a gente pode te fazer companhia.

Seus dedos tremiam dentro do bolso do moletom.

Droga.

Estava sozinha.

Sem ninguém por perto.

Sem testemunhas.

Seu corpo já estava se preparando para correr quando sentiu.

Uma mudança súbita no ar.

Algo pesado, denso, como uma presença invisível preenchendo cada canto do beco.

Os dois homens também perceberam.

O sorriso deles desapareceu.

E então…

— A companhia dela já chegou.

A voz veio de cima.

Antes que pudessem reagir, algo caiu do céu.

Não, não algo.

Alguém.

Uma figura aterrissou entre a garota e os dois homens, os joelhos dobrando suavemente antes de se erguer por completo.

Casaco corta-vento preto.

Cabelos escuros levemente bagunçados pelo vento.

E olhos afiados, analisando os dois homens sem qualquer traço de emoção.

Oliver Nash.

Um silêncio pesado tomou conta do beco.

O homem da direita deu um passo involuntário para trás.

— Quem diabos é você?

Oliver girou levemente o pescoço, como se estivesse se alongando.

— Só um professor de artes.

Então, sem aviso, ele se moveu.

E os dois homens não tiveram tempo nem de piscar.

O primeiro homem tentou reagir.

Mas antes que pudesse erguer as mãos, Oliver já estava em movimento.

Rápido demais.

Um soco no estômago.

O impacto foi seco, brutal.

O homem dobrou o corpo para frente, o ar escapando de seus pulmões em um engasgo.

O outro tentou correr.

Mas Oliver nem precisou se virar.

Seu braço se ergueu levemente, e o homem foi puxado para trás como se uma mão invisível o segurasse pelo colarinho.

Ele gritou, chutando o ar, mas não havia escapatória.

— Onde vocês pensam que estão indo? — Oliver perguntou, sua voz fria como o vento noturno.

Os olhos da garota estavam arregalados.

Ela sabia que Oliver era rápido, mas isso?

Isso era outra coisa.

Ele estava brincando com os dois como se fossem nada.

O primeiro homem, ainda se contorcendo no chão, tentou tirar algo do bolso.

Oliver não deixou.

A telecinese fez o objeto voar para fora da mão dele, batendo contra a parede com um estalo metálico.

Uma faca.

Oliver olhou para o homem de olhos semicerrados.

— Você ia mesmo tentar isso?

O homem engoliu em seco.

O outro continuava preso no ar, se debatendo como um peixe fora d'água.

Oliver suspirou.

— Olha, eu poderia dar um sermão sobre como vocês fizeram uma péssima escolha hoje…

Ele inclinou a cabeça levemente.

— Mas acho que vocês já perceberam.

Com um gesto simples, ele jogou o segundo homem contra o primeiro, os dois caindo no chão com um baque surdo.

Eles não tentaram mais se levantar.

A garota continuava parada, absorvendo tudo.

A adrenalina ainda pulsava em suas veias, mas o alívio começou a se instalar.

Oliver virou-se para ela, as mãos nos bolsos, como se nada tivesse acontecido.

— Vem.

Ela piscou.

— O quê?

Ele apontou com o queixo para a rua.

— Vou te levar para casa.

Por um segundo, ela hesitou.

Então, com um último olhar para os dois homens caídos, respirou fundo e seguiu Oliver para fora do beco.

A caminhada até a casa da garota foi silenciosa.

Ela não disse uma palavra, e Oliver respeitou isso.

Mesmo assim, seus olhos analisavam o ambiente ao redor. Cada rua, cada esquina, cada detalhe. Ele precisava garantir que ninguém mais os seguia.

Quando chegaram à porta da casa, ele fez um leve movimento com os dedos.

A energia ao redor respondeu.

Nenhum som de passos dentro. Nenhuma vibração estranha.

A casa estava vazia.

Ele se virou para a garota.

— Você mora sozinha?

Ela hesitou por um momento antes de se sentar no chão, bem em frente à porta.

A cabeça abaixada, os ombros levemente curvados.

— Desde que eles me abandonaram.

Oliver permaneceu em pé, observando-a.

— Eles quem?

Ela soltou uma risada fraca, sem humor.

— Meus pais.

Um silêncio pesado se instalou entre os dois.

Oliver olhou para a porta fechada, depois para a garota.

O jeito como ela segurava as próprias mãos, os dedos apertando o tecido do moletom.

Ela estava acostumada a isso.

Acostumada a não esperar nada de ninguém.

— Então… você cuida de tudo sozinha?

Ela assentiu.

— Aprendi a lavar minhas roupas, a dar um jeito na casa… Mas comida é mais difícil.

Ela suspirou.

— Eu como na escola. É o suficiente pra passar o dia.

Oliver ficou ali, parado, sem dizer nada.

Então, calmamente, se sentou ao lado dela.

A garota não olhou para ele.

Foi apenas quando Oliver soltou um suspiro leve que ela percebeu.

Ele estava olhando para o céu, as mãos nos bolsos, a expressão tranquila.

E então ele simplesmente disse:

— Eu sou o borrão.

A garota piscou, surpresa.

A cabeça se ergueu um pouco, e ela finalmente o olhou.

— O quê?

Oliver não repetiu.

Ele apenas permaneceu ali, esperando a ficha cair.

E quando caiu, os olhos dela se arregalaram.

A garota ainda estava processando as palavras de Oliver.

Ela piscou algumas vezes, olhando para ele como se tentasse encontrar uma mentira em seu rosto.

Mas não havia nenhuma.

— Você… — ela murmurou. — Você tá falando sério?

Oliver soltou um leve suspiro, ainda olhando para o céu.

— Você viu como eu cheguei aqui.

A garota se lembrou.

Lembrou-se da forma como ele simplesmente apareceu ao lado dela, sem que seus olhos o captassem chegando.

Como se ele fosse um borrão.

Como se o vento o carregasse.

Ela apertou as mãos nos joelhos.

Isso explicava tudo.

Como ele era o líder do Esquadrão Especial dos Bombeiros.

Como ele surgiu do nada para salvá-la naquela noite.

Como ele sempre parecia estar no lugar certo, na hora certa.

Ela abaixou a cabeça, sentindo o coração bater forte.

Oliver continuou:

— Você pode ficar aqui, continuar com sua rotina... ou pode vir comigo.

Ela ergueu os olhos para ele.

— Com você...?

Oliver se levantou, tirando o pó da calça.

— Tenho um apartamento. Divido com uma conhecida.

Ele olhou para a casa vazia atrás dela.

— Tem espaço pra mais uma pessoa.

A garota não respondeu.

Ela não sabia o que dizer.

Por tanto tempo, tinha aprendido a não esperar nada dos outros.

A cuidar de si mesma.

A aceitar a solidão.

E agora, esse cara, que ela mal conhecia, estava oferecendo um lugar.

Uma casa.

Uma chance.

Oliver não pressionou.

Ele apenas deu alguns passos para longe, as mãos nos bolsos, e começou a caminhar.

Sem olhar para trás.

Deixando a decisão para ela.

A garota ficou ali, sentada na soleira da porta, observando Oliver se afastar.

O vento frio da noite soprou, e ela sentiu um arrepio.

Não era apenas por causa do clima.

Era a sensação de estar sozinha.

De novo.

Ela abaixou a cabeça, fechando os olhos com força.

Ela podia simplesmente ignorar isso.

Fingir que aquela conversa não aconteceu.

Que Oliver nunca esteve ali.

Que ele nunca ofereceu nada.

Mas, pela primeira vez em muito tempo, alguém notou sua existência.

E agora, aquele alguém estava indo embora.

Ela mordeu o lábio, apertando as mãos nos joelhos.

O som dos passos de Oliver foi ficando mais distante.

Mais fraco.

Até que...

Ela se levantou de repente.

— Espera!

Sua voz cortou a noite.

Oliver parou.

Mas não se virou.

A garota deu um passo hesitante para frente.

Seu coração batia forte no peito.

— Você... — ela respirou fundo. — Você jura que não tá fazendo isso só por pena?

Oliver soltou um pequeno suspiro.

— Eu nunca faço nada por pena.

A garota o analisou por um momento.

Ela queria acreditar.

Mas acreditar significava se permitir confiar.

E confiar... significava se arriscar.

Ela fechou as mãos em punho.

Então, deu mais um passo.

Depois outro.

E outro.

Até que estava ao lado dele.

Oliver, enfim, olhou para ela.

A garota desviou o olhar, um pouco desconfortável.

— Se eu for... não significa que eu vou depender de você.

Oliver deu um pequeno sorriso de canto.

— Bom. Porque eu também não sou babá.

Ela soltou um leve riso pelo nariz.

Então, olhou para sua casa uma última vez.

O lugar onde passou tanto tempo sozinha.

E, sem dizer mais nada, começou a seguir Oliver.

Dessa vez, sem hesitar.

Oliver parou por um momento, observando a garota à sua frente.

Então, sem dizer nada, levantou o mindinho.

— Não conte a ninguém sobre o que descobriu. Esse vai ser o nosso pequeno mistério, certo? Ayla.

Ayla olhou para ele, surpresa no início, mas logo abriu um sorriso raro. Ela levantou seu próprio mindinho e entrelaçou no dele.

— Fechado.

Era um acordo silencioso, mas significativo.

Eles seguiram juntos até o apartamento, onde Evelyn estava esperando. Assim que Oliver entrou, ela notou imediatamente a presença da menina.

— Quem é essa?

A garota abaixou um pouco a cabeça, ainda tímida, e respondeu num tom baixo:

— Ayla.

Evelyn olhou para Oliver, esperando uma explicação.

Ele suspirou, cruzando os braços.

— Ela morava sozinha, os pais abandonaram. Desde então, se virava como podia.

Evelyn arregalou um pouco os olhos, surpresa.

— Sozinha? Mas ela parece ter uns treze, quatorze anos...

Oliver assentiu.

— Sim. Mas agora ela está aqui.

Evelyn franziu as sobrancelhas.

— E onde ela vai dormir?

Oliver apontou para o quarto.

— Com você. É só puxar a parte de baixo da cama.

Evelyn piscou, um pouco relutante no início, mas logo deu de ombros.

— Bem… Tudo bem.

Oliver olhou para Ayla.

— Amanhã eu vou comprar um pequeno armário pra você guardar suas roupas.

Ayla, que vinha se mantendo mais reservada, arregalou os olhos. Sem hesitar, ela avançou e envolveu Oliver num abraço forte.

— Obrigada… De verdade.

Oliver ficou um pouco surpreso no começo, mas logo retribuiu o gesto com um tapinha leve na cabeça dela.

— Então, já que vai morar aqui… Que tal Ayla Nash?

Os olhos dela brilharam.

— Sério?

Ele sorriu.

— Sim. Agora você tem um sobrenome.

Ayla segurou firme o casaco de Oliver, ainda digerindo a emoção daquele momento.

Evelyn, que acompanhava tudo, teve que esconder um sorriso atrás da mão.

— Isso foi… extremamente fofo.

Oliver apenas olhou para ela, sem dizer nada, enquanto Ayla ainda se agarrava a ele como se tivesse encontrado um novo lar.