Ato 30 - O Nosso Pequeno Mistério

O sol ainda estava baixo, seus raios suaves invadindo o apartamento, iluminando as sombras da noite. O dia começava tranquilo, como tantos outros, mas havia algo diferente no ar, uma sensação de calmaria que parecia anunciar algo.

Christopher estava estendido no sofá, seu corpo relaxado, ainda imerso nos últimos resquícios do sono. No quarto de Oliver, ele ainda dormia com a expressão de sempre, a mesma neutralidade que ele usava como escudo para enfrentar o mundo.

Evelyn e Ayla estavam no outro quarto, as portas fechadas, mas o silêncio entre eles era momentâneo.

Oliver acordou primeiro, como sempre fazia. Seus olhos se abriram lentamente, absorvendo o ambiente ao redor.

Nada havia mudado, e nada realmente parecia incomodar. Ele se levantou com calma, arrumando a cama e seguindo para a cozinha, onde começou a preparar uma simples merenda.

Seus gestos eram metódicos e precisos, como se o movimento fosse uma rotina que não permitia falhas. Ele sabia o que fazer, sabia onde tudo estava, e isso lhe dava um certo conforto.

Algum tempo depois, Christopher despertou. Seu corpo se esticou no sofá, e ele abriu os olhos com preguiça, ainda tentando se ajustar à realidade.

Olhou em volta e, por um momento, não soube onde estava. Quando seus olhos finalmente se focaram em Oliver, que estava ocupado na cozinha, ele se levantou com um leve sorriso.

— E aí, o sofá era bom? — perguntou Oliver, com sua expressão de sempre, sem qualquer vestígio de emoção, mas com um tom curioso, como se fosse apenas mais uma pergunta trivial.

Christopher deu uma risada baixinha e, com um sorriso relaxado, se espreguiçou.

— Sim, foi ótimo, cara. Melhor que muitos dos hotéis onde já passei. — Ele deu uma piscadela e foi até a mesa, sentando-se ao lado de Oliver, que já estava com um café na mão. — Sabe, estive pensando... ouvi dizer que um novo jogo está para ser lançado, algo meio revolucionário. Você gosta desses jogos, né? — Christopher perguntou, tentando puxar uma conversa descontraída.

A conversa fluiu fácil, e uma expressão de leve diversão surgiu no rosto de Oliver.

Ele estava rindo de uma forma genuína, algo raro. O olhar neutro que sempre dominava seu rosto parecia ter sido suavizado por um momento, uma fração de tempo onde ele se sentia apenas… humano.

— É, eu já vi algo sobre isso. Parece interessante. — Oliver respondeu, os olhos brilhando um pouco mais enquanto ele conversava com Christopher, o tom da voz revelando mais animação do que o usual.

A risada e as palavras entre eles continuaram por alguns minutos, com os dois discutindo sobre o jogo, suas mecânicas e o que esperavam do lançamento.

A tensão que havia pairado nos dias anteriores parecia ter se dissipado um pouco naquele momento.

A simples conversa sobre algo trivial e distante parecia ajudar a suavizar o peso de tudo.

Enquanto isso, no quarto ao lado, Evelyn e Ayla começaram a acordar.

O som suave das cobertas sendo afastadas e os passos em direção ao banheiro sinalizavam que o dia estava prestes a começar para elas também.

Evelyn, com seus cabelos bagunçados e a expressão sonolenta, saiu do quarto e passou pelo corredor, seus olhos caindo automaticamente sobre Oliver.

Sem pensar duas vezes, ela se aproximou dele, a mão tocando sua bochecha antes de ele reagir.

Seus lábios se encontraram com a pele de Oliver de forma suave e rápida, um beijo na bochecha que parecia ser um gesto espontâneo, mas carregado de carinho.

Oliver, surpreso por um segundo, não sabia o que dizer ou fazer.

O gesto foi simples, mas cheio de significado. Ele não se moveu, mas sentiu um calor suave surgir no peito.

Ele se questionou por um momento se merecia aquele carinho, se era digno disso.

Seu cérebro e seu coração estavam em desacordo, mas, no fundo, ele aceitou o gesto.

— Bom dia, Oliver. — Evelyn disse, sorrindo de maneira descontraída, como se aquele beijo fosse o mais natural do mundo.

Ayla apareceu logo depois, seus passos mais leves e rápidos, até que ela se lançou contra Oliver, o abraçando forte.

Ele sentiu o abraço apertado e, por um momento, ficou parado, como se ainda tentasse processar o que estava acontecendo.

— Bom dia, pai! — Ayla disse com uma voz doce, cheia de afeto, apertando-o ainda mais. O apelido "pai" soava tão natural quanto se ela tivesse o chamado assim por toda a sua vida.

Oliver se sentiu um pouco deslocado, como se ainda estivesse tentando entender o que estava acontecendo.

O peso da situação o atingiu novamente, o questionamento de merecer ou não aquilo, mas a sensação reconfortante no abraço de Ayla e no sorriso de Evelyn fez com que ele aceitasse, mesmo que relutante.

Por mais que a mente de Oliver quisesse resistir, algo dentro dele dizia que ele estava no caminho certo, mesmo que não fosse fácil.

Ele ainda se questionava, mas, ao olhar para Evelyn e Ayla, uma parte de si sentia um alívio, como se o amor e a aceitação delas fossem o que ele realmente precisava, algo que talvez ele jamais tivesse esperado ou compreendido antes.

— Bom dia, meninas. — Ele respondeu, com a voz um pouco mais suave, mas ainda mantendo sua expressão usual.

Evelyn e Ayla se afastaram, mas o clima no apartamento havia mudado. Uma sensação de pertencimento, de algo novo e inesperado, estava começando a se formar, e Oliver, mesmo sem entender completamente, se sentiu pela primeira vez em muito tempo, aceito.

Ele olhou para as duas, para Christopher e para a vida que ainda estava diante dele, e, por um breve momento, ele percebeu que talvez, só talvez, ele não estivesse mais sozinho.

O dia seguiu seu curso com a tranquilidade que Oliver tanto apreciava. Após o café da manhã, ele se levantou, pegou o capacete e se preparou para sair.

Ayla apareceu rapidamente, já vestida e pronta para o dia, e Oliver, sem dizer muito, fez um gesto com a mão indicando que ela se aproximasse.

Ela pegou sua mochila e, em um momento, já estava sentada atrás dele na moto, a sensação de liberdade preenchendo o ar ao redor deles.

A moto ronronou suavemente, e eles seguiram juntos pela cidade, o vento fresco da manhã cortando seus rostos.

O trajeto até a escola de Ayla era curto, mas sempre havia algo de especial naquele momento: a sensação de que, apesar de tudo o que Oliver havia vivido, ele tinha algo que valia a pena agora.

Quando Ayla foi deixada na escola, Oliver deu-lhe um rápido aceno de cabeça, um gesto simples, mas cheio de carinho.

Ele assistiu Ayla entrar na escola, ainda um pouco perdido em seus próprios pensamentos, mas sabia que ela estava em boas mãos. Ela estava crescendo bem, talvez até mais forte do que ele poderia imaginar.

E, por mais que duvidasse de si mesmo em vários momentos, ele sabia que estava fazendo algo certo por ela.

No caminho de volta para o apartamento, ele se perdeu nos pensamentos por alguns minutos.

A cidade ainda estava calma, com as ruas vazias e o trânsito suave. Foi então que algo chamou sua atenção. Uma casa.

Grande, imponente, com um jardim espaçoso. Havia uma placa de "Vende-se" bem visível. Oliver passou pela casa, seus olhos fixos no imóvel, analisando cada detalhe.

Ele sentiu algo… uma intuição, talvez. A casa parecia perfeita para o que ele imaginava para o futuro.

Ele desacelerou a moto e, ao passar por ela, seus olhos percorreram a extensão do terreno.

O jardim seria ótimo para Ayla brincar, e a casa era grande o suficiente para comportar muitas pessoas, caso um dia a família quisesse se reunir ou até mesmo fazer uma festa.

Oliver podia facilmente imaginar os momentos felizes ali, longe da tensão de tudo o que acontecera no passado.

Sem hesitar, ele parou a moto e deu uma olhada no número de contato na placa. O número foi discado no celular, e em poucos minutos, ele estava em contato com o corretor.

A conversa foi direta e prática. Oliver fez perguntas rápidas, e, após ouvir sobre o valor e as condições, algo o fez seguir em frente.

A decisão foi simples: comprou a casa. Não pensou muito, como se fosse algo normal, um passo mais na jornada de sua vida que, de alguma forma, estava começando a seguir um caminho mais estável, mais... normal.

Ao concluir a compra, Oliver desligou o celular, colocou o capacete novamente e, em silêncio, seguiu de volta para o apartamento.

Enquanto dirigia, uma sensação de satisfação tomou conta de si. Ele não tinha muitas certezas, mas, naquele momento, sabia que tomar decisões simples, como comprar uma casa, fazia parte de sua busca por algo mais. Algo que, ele acreditava, Ayla e todos ao seu redor mereciam.

Oliver estacionou a moto e entrou no apartamento com um olhar calmo, mas um tanto introspectivo. Ao entrar, foi recebido por Evelyn, que estava saindo da cozinha com uma xícara de café na mão.

— Oi, Oliver. — Evelyn sorriu, mas percebeu rapidamente que algo estava diferente. — Como foi a entrega da Ayla?

Oliver deu um sorriso discreto, apenas um leve movimento nos lábios.

— Foi tranquilo. Ela está bem. — Ele respondeu, retirando o capacete e colocando-o sobre a bancada.

Evelyn notou que ele estava distraído, parecia pensativo, e a sua mente curiosa logo percebeu que algo não estava certo.

— O que aconteceu? Está pensando em algo? — Ela perguntou, inclinando a cabeça levemente, seus olhos fixos em Oliver.

Ele suspirou, um leve sorriso nos lábios.

— Nada demais. Só... comprei uma casa. — Ele disse, casualmente, como se fosse a coisa mais comum do mundo.

Evelyn ficou em silêncio por um momento, olhando para ele, como se tentasse compreender a resposta.

— Como assim comprou uma casa? — Ela perguntou, incrédula. — Uma casa, de verdade?

Oliver deu um leve aceno de cabeça, seu olhar vazio, mas com uma certa satisfação por dentro. Ele parecia aceitar mais a ideia do que as palavras transmitiam.

— Vi uma casa pela cidade, perto da escola da Ayla. Grande o suficiente para nós. Se algum dia quisermos fazer algo, festas, ou apenas... ter espaço, seria ideal. — Ele disse com um tom neutro, como se estivesse falando sobre uma coisa qualquer.

Evelyn arqueou a sobrancelha, sentindo que ele estava mais tranquilo do que o normal.

Evelyn ainda parecia processar a ideia, uma expressão de surpresa misturada com uma leve dúvida no rosto.

Ela deu um passo à frente, olhando para Oliver com uma curiosidade crescente.

— Você... comprou uma casa, Oliver? Sem pensar muito? — Ela repetiu, quase como se estivesse tentando confirmar o que ele acabara de dizer.

Oliver deu um suspiro e se encostou na bancada, olhando para o chão por um momento, antes de levantar os olhos para ela.

— Sim. Não sei, talvez seja um passo para algo mais... normal. — Ele disse, com uma leve hesitação, como se o conceito de "normal" fosse algo que ele ainda estava tentando entender. — Um lugar para nós, para a Ayla. Algo estável, algo... simples.

Evelyn ficou em silêncio por um momento, seus olhos estudando a expressão de Oliver.

Ela sabia que ele não era exatamente o tipo de pessoa a fazer esse tipo de compra por impulso, ainda mais depois de tudo o que acontecera com ele.

Isso a fazia sentir que, talvez, ele estivesse começando a se abrir para uma vida diferente, uma vida com mais segurança, mais conforto.

— Isso é um grande passo, Oliver. Você... está realmente pensando em futuro, não é? — Evelyn disse, a voz suave, mas com um toque de admiração.

Oliver deu um pequeno sorriso, embora fosse apenas um leve curvar dos lábios.

— Talvez. — Ele respondeu, como se estivesse considerando a ideia pela primeira vez. — Não é sobre a casa em si. É sobre o que ela representa. Para mim, para a Ayla, para todos nós. Algo que podemos chamar de nosso, sem ter que olhar para o passado o tempo todo.

Ela se aproximou mais, colocando a xícara de café sobre a bancada e se virando para Oliver.

— E o que você pensa para o futuro, além disso? — Ela perguntou, com a curiosidade bem estampada no rosto. Ela sabia que, para Oliver, cada escolha vinha com um peso enorme, e essa nova decisão não era diferente.

Oliver deu um olhar distante, quase como se estivesse olhando para algo muito além da janela.

— Eu não sei. — Ele disse, em um tom mais baixo, quase imperceptível. — Só... não quero mais viver fugindo do que aconteceu. Quero que Ayla tenha algo diferente, algo que eu nunca tive. E, por mais que isso soe... estranho, a casa me faz sentir que talvez eu tenha mais controle sobre o que vem pela frente.

Evelyn o observava com atenção, sentindo a sinceridade nas palavras de Oliver.

Ele estava mudando, de alguma forma, e isso fazia com que ela se sentisse um pouco mais otimista sobre o que viria a seguir.

— Se você acha que isso é o que você precisa... — Evelyn começou, sorrindo levemente. — Então é o que você precisa.

Oliver, como sempre, não respondeu de imediato, mas o sorriso suave em seus lábios indicava que ele estava, finalmente, começando a aceitar a ideia de ter algo mais estável e, talvez, mais feliz pela frente.

Aquele dia começou com uma decisão inesperada e com uma promessa silenciosa de que, apesar de todos os obstáculos, talvez houvesse algo de bom por vir.

Algo que, de alguma forma, ele merecia.

O futuro, ainda incerto, agora parecia um pouco mais próximo.

A noite começou a cair lentamente.

Oliver foi buscar Ayla na escola, como de costume.

Mas, ao invés de seguir para o apartamento, ele se desviou em direção à casa próxima à escola.

Ayla, curiosa, olhou para ele.

— Pai, o que estamos fazendo aqui? — Perguntou, estranhando a mudança de planos.

Oliver olhou para ela, com um sorriso tranquilo no rosto.

— Esse é o nosso novo lar. — Ele respondeu calmamente, apontando para a casa.

Os olhos de Ayla brilharam de empolgação.

Ela não perdeu tempo e correu em direção à porta, entrando rapidamente na casa.

Ao entrar, ela viu Evelyn relaxando no sofá, assistindo TV.

Christopher estava na cozinha, mexendo nas coisas e pegando algo para comer.

Ayla correu até o sofá onde Evelyn estava.

— Mãe! Mãe! — Ela exclamou, empolgada. — A gente tem uma casa agora!

Evelyn sorriu, levantando-se para abraçar Ayla.

— Eu sei, querida. Eu sei. — Ela disse, acariciando o cabelo de Ayla.

Oliver entrou, observando a cena de longe, sem dizer nada.

Ele se sentou no sofá, seus olhos atentos à dinâmica da família se estabelecendo.

O lugar estava diferente, mas de alguma forma, mais... acolhedor.

Era uma nova etapa, mas Oliver não sabia ainda o que o futuro realmente reservava.

Ayla se aproximou do sofá, com um sorriso largo no rosto.

— Não posso acreditar que a gente tem uma casa agora! — Ela disse, animada, olhando para os dois com os olhos brilhando de felicidade.

Evelyn, que estava de pé, sorriu para Ayla e se aproximou dela.

— Eu também não posso acreditar, mas é real. — Ela respondeu, com um sorriso suave, enquanto acariciava os cabelos de Ayla.

Oliver, que estava sentado no sofá, observava com a mesma expressão neutra de sempre. Porém, algo dentro dele se aquecia ao ver Ayla e Evelyn tão felizes.

Christopher apareceu da cozinha com um prato de comida nas mãos e parou, surpreso, ao ver que a mudança já havia acontecido.

— Ué, vocês já estão em casa? — Ele perguntou, confuso.

Oliver, ainda sentado no sofá, olhou para ele com calma.

— Sim, acabamos de chegar. — Respondeu, mantendo seu tom tranquilo.

Ayla, com entusiasmo, se virou para Christopher.

— Olha, a gente tem uma casa agora! Não precisa mais se preocupar com o apartamento. — Ela disse, saltitando de empolgação.

Christopher olhou para Oliver, tentando entender a situação.

— Caramba, então é sério. — Ele comentou.

Oliver deu de ombros, como se fosse algo normal.

— Às vezes é necessário agir rápido. — Ele respondeu, com seu tom característico.

Evelyn se aproximou e se agachou ao lado de Oliver, olhando para ele com um olhar suave.

— Eu sabia que isso significava algo, Oliver. — Ela disse carinhosamente. — E, para ser honesta, acho que todos nós precisávamos disso. Um novo começo.

Oliver olhou para Evelyn, um olhar mais suave do que o normal. Ele acenou com a cabeça, em um gesto silencioso de concordância.

A casa não era apenas uma mudança física. Para Oliver, era o início de uma nova fase, uma que, embora ele não soubesse exatamente como seria, sentia que era a escolha certa.

Oliver permaneceu sentado no sofá, observando a cena ao seu redor.

Ayla estava visivelmente animada, correndo de um lado para o outro, explorando os cantos da sala e tocando em tudo, como se a casa fosse um grande playground.

Evelyn, com um sorriso genuíno, observava Ayla com carinho, enquanto Christopher se sentava à mesa da cozinha e começava a devorar o que tinha pegado.

— Então, Oliver... — Christopher disse, quebrando o silêncio. — O que mais você tem em mente para esta casa?

Oliver se recostou no sofá, olhando para ele com um olhar tranquilo.

— Por enquanto, apenas aproveitar o espaço. — Ele respondeu, seu tom simples. — A ideia é dar conforto, principalmente para Ayla.

Evelyn, que estava observando Ayla brincar e explorar a nova casa, se aproximou lentamente, sentando ao lado de Oliver no sofá. Ela olhou para ele com curiosidade.

— Isso significa que teremos mais espaço para todos nós? — Ela perguntou, com um leve sorriso.

Oliver olhou para ela e deu um leve sorriso, o mais próximo de um sorriso sincero que Evelyn já havia visto.

— Se precisarmos, claro. — Ele respondeu, sem deixar transparecer muito, mas a gentileza de suas palavras ainda era clara.

Ayla, que estava passando pela sala, se jogou no sofá ao lado de Evelyn, sorrindo de orelha a orelha.

— Eu já adorei essa casa! — Ela disse, toda animada. — Parece até que estou sonhando.

Evelyn riu e acariciou os cabelos de Ayla.

— Eu também estou começando a acreditar que é real. — Ela comentou, olhando para Oliver.

O clima estava mais leve, e a sensação de uma nova fase parecia preencher o ambiente.

Era uma sensação estranha para Oliver, mas ele não podia negar que se sentia... em paz. Algo que ele não sentia há muito tempo.

Christopher, observando a cena, deu uma risada baixa.

— Bom, se vocês estão felizes, eu também tô. — Ele disse, com um sorriso irônico. — E, para ser sincero, essa casa tem um ótimo potencial para festas.

Oliver, ainda sentado no sofá, olhou para ele com seu olhar neutro, mas não pôde deixar de sorrir levemente.

— Vai ser um bom lugar para relaxar, também. — Ele disse, finalmente quebrando a rigidez de sua expressão.

Evelyn sorriu para Oliver, sentindo a leveza na conversa.

Ela não precisava de muito para entender que aquela mudança significava mais do que apenas um novo lar.

Era uma oportunidade para todos recomeçarem.

A casa estava cheia de novas possibilidades, e, no fundo, todos sabiam que aquele momento marcararia o início de algo novo.

A noite seguia tranquila. Ayla já estava na cama, e Christopher ainda estava na sala, assistindo TV. Oliver levantou do sofá e se dirigiu para o quintal. Evelyn, sempre com um espírito travesso, decidiu segui-lo nas pontas dos pés, tentando surpreendê-lo.

No entanto, Oliver já havia percebido sua presença e, sem virar-se, disse calmamente:

— Não vai conseguir me assustar, Evelyn.

Ela parou, surpresa por não ter conseguido aproximar-se sem ser notada. Mas, com um sorriso, ela respondeu:

— Esse é o meu detetive.

Oliver corou de leve, algo raro, e seu rosto ficou ligeiramente mais vermelho. Evelyn conseguiu, finalmente, deixá-lo sem palavras. Ela sorriu ao ver sua reação.

— Eu sabia que conseguiria. — ela brincou, se divertindo com o momento.

Mas, antes que ela pudesse comemorar, Oliver usou sua telecinese para levantá-la suavemente do chão. Ela flutuou, suspensa, enquanto Oliver a puxava para perto de si.

— Não se esqueça, Evelyn. Você ainda tem muito o que aprender. — disse ele, com um sorriso malicioso.

Eles começaram a voar juntos, subindo lentamente até ultrapassar as nuvens. Evelyn, com os olhos arregalados, ficou encantada com a vista. O brilho da lua refletia ao redor deles, e a sensação de estar tão alto era indescritível. Ela olhou para Oliver, ainda impressionada com a liberdade que ele lhe proporcionava.

Oliver, por sua vez, estava admirando Evelyn de uma forma que não conseguia esconder. Ele olhava para ela, maravilhado com a maneira como ela se adaptava a tudo o que estava acontecendo. Ele a via de forma diferente agora, não apenas como alguém que fazia parte de sua vida, mas como alguém que compartilhava a mesma liberdade que ele.

— É bonito aqui em cima, não é? — ele disse suavemente, sem tirar os olhos dela.

Evelyn, ainda maravilhada, não conseguia tirar os olhos do céu.

— É incrível. Nunca pensei que veria o mundo assim. — respondeu ela, com um brilho nos olhos.

Foi então que Oliver, com um leve sorriso, falou:

— Vou te deixar controlar um pouco. Você vai poder se guiar com sua mente enquanto eu te sustento.

Evelyn olhou para ele, surpresa.

— Você me deixa controlar? — ela perguntou, com um tom de incredulidade.

— Sim, vou confiar em você. — Oliver respondeu calmamente. — Se você conseguir me pegar, eu te pedirei em casamento.

Evelyn congelou por um momento, completamente sem saber como reagir. A proposta, tão inesperada, a fez travar, mas logo ela se recompôs e olhou diretamente para ele com um sorriso confiante.

— Desafio aceito, Oliver. — disse, decidida, e começou a se concentrar.

Com a mente, ela direcionou os movimentos, sentindo a telecinese de Oliver lhe dar liberdade para flutuar e guiá-la no ar. Ela foi em direção a ele, determinada a mostrar que conseguiria pegar o que ele havia proposto.

Evelyn voava com confiança, a mente concentrada, guiando-se pela telecinese de Oliver.

Ela se sentia poderosa, como se tivesse o controle completo sobre o movimento. A sensação de liberdade era intensa, mas Oliver ainda estava à frente dela, com um sorriso travesso.

Ele a desafiava.

Dançavam no ar, movendo-se suavemente entre as nuvens. A cada movimento, Evelyn se aproximava mais de Oliver.

Ela esticou a mão, tentando alcançá-lo.

Oliver desviava com facilidade, mantendo sempre uma distância. Mas a determinação de Evelyn crescia a cada segundo.

Ela estava quase lá.

Por fim, com um movimento ágil, Evelyn tocou a mão de Oliver.

Ele parou, olhando para ela com um sorriso genuíno.

— Você conseguiu. — Ele disse, com um olhar de respeito.

Evelyn estava ofegante, mas sua felicidade era visível.

— Você... Você deixou... — Disse inchando as bochechas.

Oliver a observava, seu sorriso suavizando. Ele então disse, com um tom sério:

— Então, agora, como prometido...

Evelyn o olhou, curiosa.

Ele a segurou mais firme e, com uma suavidade única, perguntou:

— Evelyn, você aceitaria... se casar comigo?

A pergunta pairou no ar, e por um momento, Evelyn ficou sem palavras.

O brilho da lua iluminava o céu e, no silêncio, Evelyn sorriu. Não precisou de muito tempo para pensar.

— Sim. — Ela respondeu, seus olhos brilhando. — Eu aceito, Oliver. Eu aceito.

O vento era suave enquanto Oliver e Evelyn flutuavam, o silêncio entre eles se tornando mais profundo, mais significativo.

A noite estava quieta, mas em seus corações, algo estava mudando.

De repente, Oliver sentiu um leve desconforto nos dedos. O anel que lembrava o mar ao anoitecer que usava, presente de momentos antigos, começou a escorregar.

Sem que ele percebesse, o anel simplesmente deslizou, caindo até desaparecer no vazio do ar.

Evelyn, em sua mão, sentiu o mesmo.

O anel carmesim que Oliver havia dado a ela começou a ceder, deslizando lentamente do seu dedo, como se estivesse sendo guiado por uma força invisível.

Oliver fechou os olhos por um breve momento, concentrando-se. Usando seus poderes, ele fez os aneis se desintegrarem, quebrando-os em pequenos fragmentos.

As pequenas partes flutuaram ao seu redor, dividindo-se ainda mais, como se os dois elementos estivessem se transformando em algo novo.

Em um movimento suave, os fragmentos começaram a se reunir novamente.

Cada pedaço se encaixava perfeitamente, criando dois círculos sólidos, sem falhas. As alianças haviam se formado.

Os pingentes dos cordões de Evelyn e Oliver começaram a se mover, a força invisível que os envolvia liberando-os de suas correntes.

O Sol de Evelyn e a Lua de Oliver se soltaram e flutuaram no ar, enquanto seus fios se desintegravam, deixando os pingentes livres.

Cada um deles começou a se desmontar, os metais e pedras se desintegrando lentamente.

Mas, ao invés de se perderem, se reorganizaram, agora se tornando algo mais.

Os fragmentos se tornaram pedras.

As pedras formaram dois objetos distintos, mas ligados.

A pedra de Evelyn tinha uma forma arredondada, com um brilho quente, como o reflexo do Sol ao amanhecer.

Era de um tom âmbar intenso, vibrante e acolhedor.

A pedra de Oliver, por outro lado, era mais escura, mas não de uma cor triste. Tinha uma tonalidade mística, quase como a luz da lua refletida na água.

Era azul escuro, com um brilho suave, que parecia absorver a luz ao seu redor.

As duas pedras flutuaram por um momento, girando lentamente uma em direção à outra. Eram diferentes, mas complementares.

Oliver e Evelyn olharam um para o outro, sentindo que a transformação não era apenas física.

Havia algo mais profundo acontecendo, como se suas essências agora estivessem mais unidas do que nunca.

Enquanto as pedras continuavam a flutuar, eles sabiam, sem dizer uma palavra, que algo havia mudado entre eles.

O destino parecia estar se cumprindo, de uma maneira mais sutil, mais misteriosa.

E, com o suave toque da telecinese de Oliver, as pedras começaram a se aproximar, ficando mais próximas, mais conectadas. Algo novo estava começando, mas ainda estava por vir.

Eles flutuaram juntos, um momento eterno no ar, como se o tempo tivesse parado para eles. O mundo ao redor desapareceu.

Finalmente, com um sorriso tranquilo, Oliver os fez descer lentamente, com a certeza de que algo novo começou ali naquele instante.

[ Dia 23 - Março - 2039]

[ Local: Residência Marin ]

[ Escritório ]

Eae meus leitores? Se divertiram lendo o livro da minha vida? Literalmente?

Já fazem 3 anos desde a eliminação total da Apex Extraction, ou como prefiro chamar, AEX.

Meu nome? Já devem saber, Oliver Nash.

Meus poderes? Devem saber também, Telecinese, Teleporte, Regeneração, entre vários outros que não usei, afinal, contra quem eu usaria?

Quebrando a quarta parede? Pois é... Parece que eu realmente, não tenho limites.

Minha aparência? Se lembram bem, por conta dos meus sentimentos terem voltado, meus cabelos ficaram brancos com a neve e meus olhos vermelhos se fundiram com rosa.

Me casei com a mulher da minha vida, Evelyn Marin, uma advogada bem... Folgada e bem, bem, possessiva.

Ela realmente achou que conseguiria esconder esse sentimento de mim? Coitada...

Que tal eu atualizar vocês sobre tudo?

Christopher se casou com uma modelo chamada Raphaella Leonhart.

Vocês acreditam que no começo ele não sabia como responder ela? Pois é... Eu não julgo, ele é mais novo que eu.

Sobre a Ayla? Minha filha adotiva? Então, ela terminou o ensino médio, e facilmente entrou em uma faculdade de artes, mas ela quer seguir meus passos... Seguir os passos da... Coruja Negra.

Acho que para ela, seria certo o termo, Coruja dourada. Pois é, ela quer virar detetive.

Falando em coruja negra... Agora que meu cabelo realmente ficou dessa cor e provavelmente não vai voltar ao normal? Eu deveria me chame como? Coruja Prateada ou das Neves?

Gerarld e Cynthia tiveram uma filha, ele surtou quando ficou sabendo disso, e eu digo mesmo, foi engraçado.

O nome dela? Raviel Vesper Marin, e sim, Vesper é o sobrenome da Cynthia, bonito não acham?

Aliás, vocês acreditam que o Thomas e a Crystal começaram a namorar? Mas era bem óbvio não acham? Eles viviam chamando pra celebrar algo, tinha algo a mais naquela relação.

Mas deixem me adivinhar, querem saber de mim e da Evelyn certo? É... Já esperava.

Nós tivemos um filho, atualmente ele tem 2 anos, seu nome? Damian.

Sinceramente? A Evelyn ficou um pouco surpresa. O garoto puxou a minha cara, mas é energético que nem ela.

Tivemos um pequeno probleminha há algumas horas atrás, o Damian despertou seus poderes... De novo...

Mas a Evelyn conseguiu dar conta sozinha, como? Durante a gestação, ele estava liberando pequenas frações de telecinese, e eu tive que ficar 24 horas acordado, quase não dormia, só para estabilizar e proteger ambos.

E por conta disso, a Evelyn acabou adquirindo uma pequena fração.

Os poderes dela não ficam mais forte, e eu acho isso até bom, se ela normalmente já dava trabalho, imagina se chegasse no meu nível? Brincadeiras a parte.

Ela consegue levantar pequenos objetos e usou isso para segurar o Damian até eu chegar em casa.

Onde eu estava vocês me perguntam? Ensinando a Ayla a como adquirir o título de coruja.

Christopher também ajudou muito durante esse tempo, apagando algumas e outras coisas.

Ele contou pra Raphaella? Contou, afinal, quando amamos alguém de verdade, devemos confiar nela... Ou então... Ter apenas um... Pequeno segredo que fica somente entre vocês.

Então é isso, esse é o final, acabou, será que vejo vocês futuramente? Talvez não, mas quem sabe.

Mas olha... Ninguém sabe que estou contando isso pra você, então...

Vamos fazer um acordo? Esse é o nosso, pequeno mistério.