Tomando um Novo Rumo (2)

Não temos muitos recursos para montar um acampamento então como sempre, improvisamos.

Com meus [Fios de Seda] improvisei uma tenda utilizando ás próprias árvores como apoio, apesar da noite não estar fria isso serviria para nos cobrir em caso de uma chuva inesperada, cuidado nunca é de mais!

Em seguida juntamos alguns galhos e fizemos uma fogueira, ás formigas acabaram exagerando mas aprecio seu esforço.

Ao agruparmos pedi para que Dait utilizasse sua magia para uma pequena centelha, utilizar minhas [Chamas Negras] provavelmente faria os galhos e folhas queimarem de imediato.

Porém quando ele usou sua magia pude notar que estava bem mais forte do que a primeira vez que ele usou, talvez os benefícios da evolução tenham afetado isso.

Embora ele não tenha certa experiência acredito que ele possa controlar bem suas chamas com um certo treinamento, mas acredito que eu não seja a pessoa ideal para ensina-lo, já que nem eu mesma sei a extensão dos meus próprios poderes.

Disse para Anthalia e ás outras descansarem um pouco após se alimentarem, se elas pouparem energia poderemos continuar viagem daqui em diante sem nenhuma pausa pela manhã seguinte.

Starko'gus por sua vez se sentou apoiado em uma das árvores, apesar de não ter se enjoado da viagem, seguir daquela maneira é bem exaustivo.

De qualquer forma estávamos apenas eu, Starko'gus e o jovem Dait despertos, eu ia continuar vigiando por um tempo mas acho que esse momento não pode ser algo desconfortável.

— Dait, como é que você se sente? (Satouma)

— Satouma-Sama? Por que a pergunta? (Dait)

— Não se preocupe, é apenas para puxar assunto, como você agora está sob minha responsabilidade eu tenho que estar ciente, mas eu fui bem vaga, eu me refiro como você se sente após ter evoluído? (Satouma)

— Sim! Eu me sinto incrível! Parece que minha força aumentou bastante, meu corpo até mesmo mudou como a Senhorita pode ver. (Dait)

— Você parece empolgado, isso é bom eu suponho, pude ver que até suas chamas estão mais fortes. (Satouma)

— Sim, graças á evolução! Antes disso eu nem sequer podia fazer uma bola de fogo sem ficar exausto. (Dait)

— Eu não sabia que Orcs podiam fazer magia também, quer dizer os outros parecem não saber. (Satouma)

— Orcs de certa forma são uma espécie consideradas primitivas, assim como algumas outras, mas há poucos sortudos dentre eles que possuem a capacidade para fazer magia, se vosso jovem orc fosse experiente no que faz poderia ser considerado um majin caso atinja seu auge. (Starko'gus)

— Majin?

— Diferente de espécies mais comuns como humanos, elfos e até mesmo nós anões, alguns possuem direito á essa nomenclatura, majins são casos raros dentre espécies de monstros comuns, demônios e celestiais são mais comuns pertencerem á essa classe, são seres extraordinários. (Starko'gus)

Mais uma surpresa acaba sendo revelada.

Parece que Dait é um caso único em meio á todos os outros Orcs.

Monstros comuns com a capacidade de fazer magia são considerados majin também.

Pode ser que realmente sejamos especiais nesse quesito se não até mesmo os orcs no geral poderiam fazer magia.

Acho que se esse fosse o caso provavelmente não iriam pedir a minha ajuda naquela investida contra ás formigas.

— É mesmo, por falar nisso o filho de Gashdo, ele não era um monstro nomeado? Ele também podia fazer magia? (Satouma)

— Eu não sei, eu era bem pequeno naquela época mas nenhum de nós orcs podia fazer magia, mas o filho do Líder Gash era um dos mais fortes de nossa aldeia, nos protegia dos maiores perigos e nos guiava para os lugares certos. (Dait)

— Saberia quem o nomeou? (Satouma)

— Não sei ao certo, mas em uma das expedições da qual ele retornou, mencionou para todos nós que um demônio havia o nomeado, e acabou se tornando o protetor da nossa aldeia. (Dait)

— Hmm, achava que monstros nomeados ganhavam a capacidade de fazer magia livremente. (Satouma)

Já que esse foi o meu caso.

Graças á nomeação de Syphus pude herdar alguns de seus dons, elevar minha própria força e minha própria magia.

Mesmo assim é surpreendente, eu já não engoli muito a conversa de Starko'gus antes mas a ideia da existência de demônios é algo surreal.

Em meu mundo isso seria interpretado de uma maneira diferente, mas tenho uma certa imagem deles em minha mente.

— Esse conceito de nomes é um tanto confuso para nós, alguns ganham força extraordinária, outros aumentam sua capacidade mágica á níveis inimagináveis, mas isso vai de acordo com o poder e a capacidade de quem o nomeou. (Starko'gus)

— Então se eu fosse mais forte magicamente os Orcs poderiam evoluir ainda mais? (Satouma)

— É possível, mas também imprevisível, a nomeação é um ritual de grande importância, dependendo da vontade de quem nomeia monstros podem evoluir para o melhor...ou podem acabar em uma situação não tão favorável. (Starko'gus)

Acho que pude entender as entrelinhas.

De fato eu os nomeei apenas por proteção, não tenho intenção alguma de usá-los para mal, muito menos para fazer o bem alheio, só quero que vivam suas vidas de acordo com sua vontade.

— Sobre esse tal orc nomeado, eu não sei ao certo sua origem, mas para ter ganho tal privilégio, talvez o objetivo desse demônio fosse recrutar para o possível exército de seu Lorde. (Starko'gus)

— Seu lorde...deve estar se referindo á um lorde demônio. (Satouma)

— Está familiarizada com esse termo? (Starko'gus)

— Vagamente, e antes que presuma algo não, eu não fui nomeada por um demônio, muito menos pertenço á algum exército dos mesmos. (Satouma)

— Eu não cheguei á pensar nisso, mas depois que a conheci essa ideia se tornou algo inviável para minha mente. (Starko'gus)

É bem mais complicado do que isso...

— As forças de um Lorde demônio são relativas, alguns juram lealdade por livre e espontânea vontade, outros passam por esse mesmo processo de nomeação, e em raros os casos acabam com o líder de uma espécie tomando para si o controle das outras. (Starko'gus)

— Acabar com o líder de uma espécie...(Satouma)

— Algum problema? (Starko'gus)

— Nenhum...só estava devaneando um pouco...aliás Dait, como foi sua estadia no reino dos anões? (Satouma)

— Também estou curioso para saber, cada espécie tem uma experiência relativa em meu antigo lar. (Starko'gus)

Starko'gus deve ter percebido minha mudança brusca de assunto, a conversa estava tomando rumos desproporcionais.

— Posso não me lembrar de muita coisa, mas vou me esforçar. Nós demoramos um tempo para chegar ao reino, mas não ficamos lá por muito tempo, nossa espécie não era bem vinda por conta de comportamento hostil. (Dait)

— Comportamento hostil? (Satouma)

— Há uma lei rigorosa em nosso reino, quando algum membro de uma espécie causa encrenca ou algo relacionado todos os que possuem relação são punidos, seja com banimento ou represália. (Starko'gus)

— Vocês tem algumas leis um tanto rigorosas. (Satouma)

— Cortesia de vossa majestade, ela está disposta á negociar por um bem maior de todas as espécies, assim como você, mas se ela tiver que preservar os cidadãos legais de seu reino ela vai priorizar a vida daqueles que lhe são mais próximos. (Starko'gus)

— Então vocês são governados por uma Rainha? Você chegou á conhecê-la? (Satouma)

— Senhorita, um humilde anão como eu não iria tão longe assim não acha? (Starko'gus)

— *Sorri* Eu não sei, você tem um jeito um tanto ousado. (Satouma)

— HM? (Dait)

— Mudando de assunto, quanto tempo falta para chegarmos até lá? (Satouma)

— Bem...

Starko'gus se levanta e pega um galho seco e começa á fazer uns rabiscos na areia.

Aos poucos um desenho foi-se formando, era um tipo de mapa.

— Se continuarmos pela manhã nesse mesmo ritmo e fizermos uma parada podemos chegar lá pela tarde do dia seguinte ou durante á noite, de qualquer forma encurtaremos a viagem. (Starko'gus)

— Isso é ótimo. Estive pensando, você conhece ás pessoas certas, temos uma ideia em mente, mas ainda assim acha que pode convencê-los? (Satouma)

— Como eu te disse essa parte é com você, eu apenas farei ás apresentações, mas devo complementar que alugá-los não será algo tão fácil quanto pensa, alguns me devem favores, posso cobrá-los se for o caso, mas não será o suficiente para convencê-los. (Starko'gus) 

No final das contas até nesse mundo eu tenho que ser a mestra da arte dos negócios.

Felizmente eu tenho anos de experiência nas costas, embora talvez uma boa parte do meu conhecimento seja inútil em relação aos anões.

[...]

Nossa conversa perdurou por um tempo.

Falamos um pouco mais sobre o reino dos anões.

Para resumir é uma área predominada pelo comércio, em todo lugar segundo Starko'gus há um estabelecimento em específico.

Seja para equipamentos de aventureiros, á coisas triviais como poções, ervas, especiarias entre outras coisas.

Seria interessante aproveitar essa oportunidade e vender alguns de meus minérios e ervas recolhidos daquela caverna, quando pararmos em um estabelecimento adequado vou pedir a orientação de Starko'gus para ter uma noção quanto ao valor.

Porém eu ainda precisava resolver um dilema em minha mente.

Starko'gus mencionou algo vagamente á respeito dos Lordes Demônio, quanto sua abordagem para a conquista de poder.

— Alteza, ainda não foi dormir? (Anthalia)

Mais uma vez ela mudou o termo, sério só me chame de Satouma...

Acredito que dizer isso à ela não vai adiantar, está mais para um tique.

— Não se preocupe eu posso ficar assim á noite toda, não é problema. (Satouma)

— Algo á incomoda? (Anthalia)

— Para falar a verdade sim... Anthalia, você jurou sua lealdade á mim, mas foi por ter matado sua rainha, não quero que pareça que reivindiquei o direito da liberdade vocês, afinal resolveram me seguir por medo? (Satouma)

Eu não sabia como formular essa pergunta, ela poderia ser interpretada de várias maneiras.

Anthalia me segue apenas por me temer ou por seu instinto como espécie?

Eu não quero pensar que estou abusando dela e de suas outras irmãs até agora.

— Com todo respeito, alteza, esse pensamento não se passou em minha cabeça, de fato nós formigas temos a tendência de seguir uma rainha que demonstre certo poder, nossa hierarquia era decidida dessa maneira, os mais fracos seguiam os mais fortes, não podíamos questionar ás ordens da nossa rainha, apenas seguíamos realizando ás suas vontades, mas ao seu lado é algo completamente diferente, você não pensa apenas em si mas em todo formigueiro e até mesmo os orcs, pude até mesmo ser agraciada com um nome, não poderia temer alguém tão benevolente quanto você. (Anthalia)

— Bem...eu não esperava uma resposta como essa, mas devo confessar que no mínimo esperava que você fosse se vingar de sua rainha. (Satouma)

— Keke~~ Se eu realmente á seguisse por medo teríamos pensado nessa possibilidade, mas com certeza não teríamos chance alguma contra vossa alteza, se você tivesse nos enfrentado seriamente teríamos levado á pior, até mesmo a extinção de nosso formigueiro, mas você acabou nos acolhendo então só podemos retribuir á você com nossa lealdade. (Anthalia)

Heh, ao menos esse mal entendido pode ser esclarecido.

Anthalia demonstrou certa maturidade nessa conversa da qual eu não estava esperando, com certeza fiz bem em nomeá-la como líder das formigas.

— Conto com todas vocês. (Satouma)

— Faremos nosso melhor para servi-la. (Anthalia)

A conversa pode ter terminado de um jeito amigável, mas ainda assim é difícil acreditar que ela não sentiu medo de mim naquele momento.

Matar sua rainha, absorvê-la diante delas, deve ter no mínimo ás assustado.

Caso chegue a hora delas me deixarem por conta de remorso, eu não vou as impedir de irem embora.

— Ah, sim quase me esqueço, tentem não exagerar muito na velocidade, não quero que fiquem exaustas. (Satouma)

— Não se preocupe, nós formigas não precisamos descansar o bastante, poderíamos seguir essa viagem pelos próximos dias sem parar se fosse necessário. (Anthalia)

— Isso é impressionante, mas por favor, tentem não exagerar. (Satouma)

Embora tenha pedido um favor para Anthalia isso acabou não sendo feito.

Seguimos a viagem nos próximos dias, ao todo se passaram apenas três, como previsto.

Depois de subir um pequeno trecho pelas montanhas enfim chegamos á bendita cordilheira.

A vista realmente era impressionante.

— Senhorita Satouma, meu jovem orc, amigas formigas, dou-lhes boas vindas antecipadas em nome do Reino dos anões, eis aqui a nação fortificada de Norgriw. (Starko'gus)