Um Lugar para Chamar de Lar (1)

Ainda me lembro da dor de cabeça daquele dia, acabei descansando por três dias seguidos e completamente apagada.

Para minha sorte, eu já sabia o que iria acontecer então pedi para Stark seguir com a distribuição das funções e orientar os outros, junto com Gashdo e Anthalia, sorte a minha acabou dando tudo certo e em meu despertar, como esperado todos os orcs nomeados evoluíram e já foram atribuídas ás suas funções.

Dois meses se passou desde então.

Muita coisa acabou acontecendo, talvez para melhor.

Dessa vez permaneci na aldeia durante esse tempo, nem sequer tive a ousadia para sair dela por enquanto, afinal alguém precisava colocar ordem na casa.

Os projetos para a Aldeia dos Orcs seguiu como o planejado, após o meu despertar.

Atualmente contamos com 200 Orcs e 60 Formigas, a população aumentou consideravelmente, cada uma dessas espécies quase triplicou em quantidade por cabeça.

Dito isso em paralelo a mão de obra aumentou então cada um deles acabou recebendo alguma função específica. Eles não ousariam pensar que seria de graça sua permanência em nossa aldeia, caramba, se quer possuir um novo lar ao menos trabalhe duro para ser digno de um!

Para começar á cadeia de comandos acabou aumentando.

Os orcs que eram líderes de seus respectivos bandos agora seguem a deixa de Gashdo que acabou se tornando o representante geral dos Orcs.

Acredito que chamá-lo de líder já supriria esse cargo porém com essa promoção ele prometeu se dedicar ao máximo, sem falar que ele quase desmaiou ao receber tal responsabilidade, talvez isso seja o que chamam de efeito placebo. Foi quando da vez um dos meus Kouhais acabou sendo promovido á sub-gerente do setor de negócios, quer dizer sua função ainda era a mesma porém apenas fazia um relatório á mais sobre o andamento de sua seção, claro o seu salário aumentou um pouco mas no geral as funções eram similares.

Continuando, Anthalia também acabou recebendo uma promoção, ela vai ser á coordenadora das expedições de nossa aldeia.

Graças á rede de comunicação do [Elo Mental] das formigas, a observação dos arredores se tornará mais eficiente, como antes elas eram poucas em números seu alcance era extremamente limitado, mas como o formigueiro se expandiu o mesmo aconteceu com o seu alcance.

No momento não planejamos expandir muito, afinal mesmo com uma grande quantidade ainda precisaríamos priorizar nossas necessidades básicas.

Mesmo com a distribuição prévia das funções de cada indivíduo, a questão logística ainda era precária, felizmente cuidamos disso nesses dois meses.

Nizalia foi aquela quem ficou responsável de criar ferramentas, graças ao seus dons na forja, a eficiência de algo feito de maneira rústica utilizando pedras e madeira acabou se tornando bem mais eficiente, ainda não temos acesso á minérios de qualidade mas graças à ela, mesmo lidando com itens tão básicos quanto madeiras e pedras acabamos seguindo em frente com os nossos objetivos.

Sem falar que por serem recursos abundantes sua produção e reparos eram constantes, claro não iríamos derrubar á floresta toda, não queremos causar um caos desregular na área apenas derrubamos o que achamos necessários, sem falar que nessa parte da floresta ás árvores eram desoladas então um pequeno desmatamento se fez necessário para nossa expansão.

Em paralelo ela ensinou alguns de nós o básico da forja, caso houvesse a necessidade de afiar algum machado ou reparar alguma ferramenta que acabou se soltando agora nós sabemos o que fazer, não vou ocupá-la com um trabalho tão básico quanto isso.

Para compensá-la construímos primeiro á sua oficina, era uma estrutura um tanto provisória, utilizamos pedras e madeira para á estrutura, mas o processamento acabou sendo feito de maneira adequada, graças á mão de obra Orc e suas instruções, mesmo sendo uma instalação provisória acabou se tornando sua forja temporária, acredito que ela gostaria de um pouco mais de privacidade em alguns de seus trabalhos.

Como posso dizer, todos passaram um bom tempo trabalhando para a limpeza da área, em referência diria que o local está do tamanho de um pequeno bairro em uma área rural, uma visão agradável de todo nosso esforço e trabalho duro.

Após toda a limpeza, seguimos adiante após resolvermos essa questão e construir mais algumas estruturas, quero dizer, chamá-las desse jeito soa adequado já que está longe de ser considerado uma casa.

Ignorando esse fato, seguimos a deixa de outra das irmãs, Tifi.

Agora com o tempo necessário ela podia cuidar da produção das roupas.

Ela acabou ensinando o método de curtição de couro para alguns orcs, que estariam encarregados de auxiliá-la, como apenas possuímos em nosso estoque uma grande quantidade de peles e couro de predadores, ela teria que trabalhar apenas com os recursos básicos.

Ainda assim nem tudo estava perdido, nessa parte eu poderia ajudar ela, acabei cedendo uma enorme quantidade de meus [Fios de Seda] para auxiliar na sua produção. Ela reclamou diretamente comigo por não informar á ela que eu possuía a capacidade de produzi-los e com razão, achei que não seria necessário, mas acabei fazendo besteira não a informando, pedi desculpas por isso.

Mas graças ao meu auxílio ela podia utilizar esses fios da sua própria maneira, sem falar que dependendo das flores ou minérios utilizados em seus métodos ela podia dar uma cor diferente para cada uma das roupas se necessário, mas por enquanto não somos tão vaidosos á esse ponto.

Seu trabalho por si só assim como Nizalia utilizando apenas itens básicos ainda assim é impressionante.

Toda a pele acabou sendo transformada em uma roupa, nem sequer sabia que isso era possível, mesmo com minhas noções básicas de cuidados para o lar para solteiros eu jamais poderia fazer uma pela de roupa como essa.

Para facilitar ela fez vários casacos de pele para os homens e calças de couro, para os mais jovens ela fez um tamanho mais curto dessas mesmas peças, com a pelugem da pele de alguns animais ela aproveitou e as utilizou para ornamentar a vestimenta.

Para nossas belas fêmeas, ela acabou fazendo vestidos para algumas e tops para outras.

O vestido foi feito utilizando meus [Fios de Seda] assim como os tops, um tecido mais confortável era necessário para essa parte do corpo, assim como os homens algumas delas utilizavam calças, saias ou shorts, ela também fez questão de fazer luvas e meias para algumas.

O que posso dizer, todos eles eram um colírio para os olhos antes, mas tamanha exposição era um problema, mesmo assim admiro o senso de inocência dos orcs, mas para quem enxerga de fora como eu poderia ser um baita problema ver todos expostos dessa maneira, mas esse problema acabou sendo resolvido.

Infelizmente para Anthalia seria necessário uma roupa com tecido mágico, da qual seria feita por Nizalia e Tifi futuramente, como ela tem a capacidade de se transformar, toda vez que ela o faz seu tamanho acaba mudando, nem preciso dizer que roupas comuns iriam ser um problema para ela.

Isso felizmente está sendo resolvido, ela também merece uma recompensa como essa por nos ajudar junto com ás outras.

Lares construídos, roupas produzidas, acabamos resolvendo os problemas triviais.

Seguindo com a situação da nossa pequena expansão, precisávamos resolver o problema da logística.

Alguns orcs ficaram encarregados da coleta de alimentos silvestres, em específico aqueles que poderiam ser cultivados, como trigos, cogumelos e outros tubérculos com raízes no geral.

Nenhum deles conseguiu compreender tal pedido, afinal caçavam o que era necessário para se manter e não ligavam muito para os métodos de cultivo, foi um grande processo de coleta e seleção dos mais adequados, mas ainda assim acabou sendo feito.

Zumi assumiu á posição dessa vez, ela cuidou não só de alguns problemas relacionado ás roupas, mas também com a questão do cultivo.

Acabamos esbarrando em uma fonte de água nos arredores ,por enquanto seria o local perfeito para se fazer uma plantação devido á umidade do lugar.

Um pequeno terreno acabou sendo arado e seguimos com o plantio seguindo suas instruções, sendo ela uma herbolista ela entendia muito bem desse método, então acabamos plantando alguns tubérculos e em algumas semanas os resultados foram evidentes, ainda dependemos um pouco da caça em algumas situações, mas agora temos acesso á nossa produção de alimentos.

Mesmo em um local adequado, algumas coisas também poderiam ser cultivadas em locais áridos, algumas espécies de frutas silvestres e alguns cogumelos não venenosos poderiam ser cultivados dentro da aldeia, sem falar que após coletados elas serviriam como um fertilizante natural para o replantio dos mesmos.

Eu havia perguntado á respeito da erva naki que havia coletado, se poderíamos cultivá-la em nossa aldeia, infelizmente tal método ainda não será possível.

Elas só podem ser produzidas em ambientes fechados, úmidos e frios, como uma caverna, isso explica sua abundância no local em que eu fui invocada.

Talvez seja necessário fazer uma exploração em alguma dessas cavernas tanto para á extração de recursos quanto para o próprio cultivo dessas ervas.

Felizmente não iremos precisar delas por enquanto, mas achei que seria interessante para Zumi por conta de seus dons, quem sabe poderia ser uma distração fazer algumas poções, sem falar que elas podem ser necessárias futuramente, nem mesmo eu poderia contar constantemente com meus poderes de cura.

Por falar em distração, quem está mais entretido dentre nossos convidados com certeza é Malark.

Como havíamos conversado ele cuidaria da arquitetura e do processo de construção da nossa aldeia.

O que posso dizer, ele me parece ser uma pessoa focada porém se anima facilmente com qualquer coisa.

Ele seguiu apresentando suas ideias mostrando o conceito de estruturas básicas de uma residência para os orcs, claro que eles não o entenderam, porém eles fariam qualquer coisa se fossem instruídos adequadamente.

Seus projetos em andamento já estão quase concluídos, seguimos com a reforma dos lares que já estavam levantados e na construção de outros novos, graças á nossa expansão tivemos que abrir mão das barricadas, ainda assim ele tem planos para o sistema de proteção do vilarejo, baseado na construções de muros ao redor e uma torre de vigilância para fazermos a observação quando necessário.

Por enquanto trabalharíamos apenas com o básico, mas ele acabou dando várias ideias, um sistema de redirecionamento de água para dentro de nossa aldeia, seguindo esse mesmo raciocínio sugeriu também a escavação de um poço, a elaboração de uma área de cultivo em um local mais elevado e árido, o projeto de construções de carroças e carrinhos de transportes para nossos recursos e a pavimentação das estradas de acesso dentro da aldeia.

De imediato em meio á essas ideias acabei dando um basta nele dizendo que por enquanto seguiríamos com o plano padrão de reconstrução e expansão, mas também prometi á ele que seguiríamos seus planos após concluirmos nossas prioridades.

Suas ideias são excelentes e prezam pelo bem da aldeia e da facilidade dos moradores, eu apoio a ideia da pavimentação e do sistema de água, ter um acesso mais favorável dentro da aldeia e consegui um recurso vital aqui mesmo de fato foi algo bem pensado, mas isso demandaria muitos recursos dos quais nem temos acesso ainda.

Parando para pensar até mesmo Nizalia possuía algumas ideias consideráveis quando tivemos uma conversa há alguns dias atrás.

Um sistema de forja automático para fabricação constante de armas, uma maneira de locomover equipamentos e recursos dentro da aldeia, a possibilidade de criação de uma arma mágica que seria utilizada para o sistema de defesa, de fato são surreais , sem falar que não temos tecnologia para isso.

Mas não a ridicularizei ou falei algo negativo, pelo contrário eu apenas concordei e complementei com algumas outras ideias.

Em meu mundo a tecnologia apenas teve seu desenvolvimento graças á pessoas sonhadoras e com inspirações em seus corações, desencorajá-la não seria a atitude certa, quem sabe quando a aldeia estiver adequada em vários sentidos eu tenha uma discussão mais aprofundada com esses dois á respeito de suas ideias mirabolantes, até eu mesma fico animada só de pensar nesse assunto.

Parecia estar tudo ás mil maravilhas, todos andando na linha e seguindo suas funções, por mais que eu tenha coordenado um setor inteiro de uma grande empresa em meu mundo, nem mesmo eu sozinha poderia conseguir tal feito sem a ajuda de meus colaboradores e claro daqueles que tinham mais experiência.

Então precisei da ajuda de meu novo braço direito, Stark.

Como sei um pouco de suas experiências passadas ele sem dúvidas é a pessoa mais adequada para supervisionar á todos e manter o controle da situação.

Mesmo sabendo comandar um certo grupo, eu ainda precisaria de uma ajuda nisso, não posso agir sozinha.

Ele acabou se encarregando de dividir algumas das funções dos monstros aqui dentro, seu planejamento meticuloso junto com a colaboração dos orcs e formigas foi o que tornou tudo possível dentro da aldeia.

Aproveitei e reuni á todos e oficializei sua posição como o Segundo no comando, contanto que ás ordens não fossem absurdas ele era livre para tomar qualquer decisão pelo bem da aldeia.

Sei que ele não tomaria uma decisão imprudente na situação em que estamos, até o momento ele tem nos ajudado firmemente, colocando os outros para trabalhar e cuidando da moral alheia, tudo pelo nosso progresso.

Em meio á esse processo o chamei para testar uma coisa junto com Anthalia.

Graças á conexão que possuo com Anthalia acabamos utilizando o [Elo Mental] para nos comunicarmos de toda situação em torno da aldeia.

Segundo ela, consiste em uma habilidade que envolve um pouco de confiança alheia.

Não é como se eu lesse sua mente por querer, ela precisaria permitir tal conexão para podermos nos comunicar uma com a outra.

Dito isso após suas instruções decidi tentar com Stark um [Elo Mental] foi confuso no início mas acabamos conseguindo sucesso.

Caso alguma das formigas esteja por perto, podemos compartilhar uma conexão mental para uma comunicação á longa distância.

Como Anthalia assim como ás outras são formigas quimeras, elas podem se comunicar á uma longa distância, agora posso fazer a mesma coisa com ele.

Caso um de nós se distancie e o outro esteja presente na aldeia, poderemos trocar informações de como está a situação ao nosso redor, sem falar que poderemos facilitar nossa coordenação independente da distância em que estivermos, de fato um poder bem útil e conveniente.

Depois de ter feito tudo isso, acabei indo refletir sozinha por um momento.

Havia um ponto alto em nossa aldeia da qual eu podia ver tudo em uma visão panorâmica.

As casas levantadas, as estradas de terra em várias direções, toda a natureza que cobria esse lugar, os habitantes transitando para todos os lados, nossas crianças correndo livremente e brincando umas com ás outras.

Não sei qual a razão mas eu me senti feliz. De certa forma aos poucos estou atingindo o meu objetivo nessa nova vida.

Claro estamos longe de dizer que nos encontramos em uma situação de paz, por enquanto estamos lidando com um processo pacifico, mas nada garante o dia de amanhã.

De repente toda essa paz pode acabar caindo por terra, alguma calamidade pode nos assolar quando menos esperarmos.

Infelizmente faço parte do time do pessimismo, não consigo me conformar com uma situação mesmo me dando bem, talvez aquela tal Grunhild, a Rainha dos anões pense da mesma maneira visto todo o escândalo que passei naquele lugar e todo incômodo que causei à ela.

Não sou uma governante, estou longe disso, jamais pensaria em tomar tal decisão, mas farei o que for possível para manter essa paz, ainda assim, sei de uma coisa, não estou sozinha, todos aqui estão em busca do mesmo objetivo e não vou desapontá-los.