O silêncio que se seguiu à pergunta de Helena era denso, carregado de uma tensão palpável. Seus olhos castanhos me fitavam com uma intensidade incomum, aquele sorriso travesso ainda dançando em seus lábios. Eu sabia que tentar desviar ou mentir seria inútil. Helena sempre teve um jeito de farejar segredos, uma intuição afiada que herdara de Leona.
Respirei fundo, tentando organizar meus pensamentos. Como explicar algo tão inacreditável? Reencarnação, um sistema, desbloquear universos através de jogos... soava como uma trama de ficção científica barata. Mas Helena merecia a verdade, ou pelo menos, uma versão dela que sua mente pudesse processar.
"É complicado, Helena", comecei, sentando-me na poltrona em frente ao sofá onde ela estava relaxada. "Lembra quando eu disse que meus jogos eram... diferentes?"
Ela assentiu lentamente, seus olhos ainda fixos nos meus.
"Bem, eles são mais diferentes do que você imagina. Não sou apenas um desenvolvedor comum."
Hesitei por um momento, ponderando minhas próximas palavras. Alfred, como sempre, estava pronto com sugestões discretas em minha mente.
"Digamos que... tenho acesso a tecnologias e conhecimentos que não são exatamente deste mundo", continuei, tentando soar o mais plausível possível. "Os jogos são uma forma de introduzir essas coisas gradualmente, de uma maneira que as pessoas possam entender e aceitar."
Helena franziu a testa, sua expressão agora mais curiosa do que acusatória. "Que tipo de tecnologias? E o dinheiro... de onde realmente vem?"
"O dinheiro é gerado pelas vendas dos jogos, como qualquer outro desenvolvedor", expliquei, omitindo a parte dos pontos do sistema e a loja interdimensional. "Mas a tecnologia por trás dos jogos... é... avançada. Extremamente avançada. Pense em realidade virtual que é quase indistinguível da realidade, inteligência artificial que pode criar mundos inteiros... coisas que ainda não existem aqui."
Ela se inclinou para frente, seus olhos brilhando de interesse genuíno. "Você está falando sério? Como você conseguiu acesso a tudo isso?"
"É uma longa história", suspirei. "Envolve... contatos fora do nosso planeta, de certa forma."
Eu sabia que estava soando como um lunático, mas precisava testar suas reações. Para minha surpresa, Helena não riu nem me chamou de louco. Ela parecia genuinamente intrigada.
"Contatos fora do planeta?", ela repetiu, pensativa. "Tipo... alienígenas?"
"Não exatamente como nos filmes", tentei esclarecer. "É mais... uma rede de entidades, digamos assim, que compartilham conhecimento e tecnologia sob certas condições."
"E você é um desses... contatos?", ela perguntou, sua voz carregada de uma mistura de incredulidade e fascínio.
"De certa forma, sim", admiti. "Fui... escolhido para ser um elo, um intermediário."
Helena ficou em silêncio por um longo momento, processando a informação. Eu podia ver as engrenagens em sua mente girando rapidamente. Finalmente, ela falou:
"E os jogos são sua maneira de... testar as águas? De ver como as pessoas reagem a essas novas ideias?"
"Exatamente", confirmei, sentindo um alívio imenso por ela não ter me descartado como um completo maluco. "E as recompensas... são uma forma de introduzir algumas dessas tecnologias de maneira limitada e controlada."
"A nave espacial... aquela garota realmente ganhou uma nave espacial?", ela perguntou, seus olhos arregalados.
"Sim", respondi. "Mas é uma tecnologia específica, projetada para ser segura e rastreável. Não é algo que possa ser usado para causar destruição em massa."
Helena mordeu o lábio inferior, pensativa. "Isso é... inacreditável. Mas de alguma forma... faz sentido. Sempre achei que você era diferente, Evan. Tinha essa... intensidade, esse conhecimento que parecia ir além da sua idade."
Um leve sorriso se formou em meus lábios. Talvez não fosse tão difícil quanto eu imaginava.
"Mas por que o segredo?", ela perguntou. "Por que não contar para a tia Leona? Ou para mais pessoas?"
"Porque é perigoso, Helena", respondi, meu tom agora sério. "Essa tecnologia é muito avançada, e nem todos reagiriam bem. Alguns tentariam explorá-la, outros teriam medo. O segredo é uma forma de me proteger e proteger aqueles ao meu redor."
Ela assentiu, sua expressão agora compreensiva. "Entendo. É muita responsabilidade."
"É", concordei. "E preciso da sua ajuda para manter esse segredo. Você é a primeira pessoa a quem eu realmente contei a verdade."
"Você pode confiar em mim, Evan", disse Helena com firmeza. "Nunca contaria nada a ninguém que pudesse te prejudicar."
Senti um peso enorme ser retirado dos meus ombros. Ter alguém em quem confiar com esse segredo era um alívio imenso.
"Obrigado, Helena", disse sinceramente.
Naquele momento, a campainha tocou. Alfred informou em minha mente que eram Izuku e Inko Midoriya. Eu os havia convidado para jantar também, querendo fortalecer nossos laços e compartilhar um pouco da minha nova vida.
"São Izuku e a Sra. Midoriya", avisei Helena, levantando-me para abrir a porta.
Izuku, com seus característicos cabelos verdes e olhos arregalados, e Inko, com seu sorriso gentil e acolhedor, entraram no apartamento, trazendo consigo uma atmosfera calorosa e familiar.
"Evan, que bom te ver!", disse Inko, me abraçando apertado. "E Helena, que surpresa boa te encontrar aqui!"
"Oi, Sra. Midoriya! Tio Evan me sequestrou para um jantar especial", brincou Helena, piscando para mim.
Enquanto nos acomodávamos na sala de jantar, a conversa fluiu naturalmente. Inko elogiou o cheiro delicioso que vinha da cozinha, e Izuku, sempre curioso, perguntou sobre meus projetos de jogos.
"Estou trabalhando em algumas coisas novas", respondi vagamente, trocando um olhar significativo com Helena, que sorriu discretamente.
Durante o jantar, evitei falar diretamente sobre a natureza extraordinária dos meus jogos, mas mencionei o sucesso de Outer Wilds e a comunidade de jogadores que estava se formando. Izuku parecia particularmente interessado nos aspectos de exploração e mistério do jogo.
"Parece incrível, Evan! Adoraria jogar um dia", disse ele com entusiasmo.
"Com certeza, Izuku. Posso te dar uma cópia assim que estiver mais acessível", respondi.
Inko, observando a interação entre nós, sorriu. "É bom ver vocês dois se dando tão bem. Sempre soube que vocês tinham uma conexão especial."
Após o jantar, enquanto ajudávamos a limpar a mesa, Helena se aproximou de mim discretamente.
"Você vai contar a eles?", sussurrou, referindo-se ao meu segredo.
Pensei por um momento. Inko e Izuku eram pessoas genuinamente boas e confiáveis. Mas o segredo ainda era arriscado demais para ser compartilhado com mais pessoas, pelo menos por enquanto.
"Ainda não", respondi em voz baixa. "Preciso ter mais certeza. Mas confio em vocês dois."
Helena assentiu, compreendendo minha hesitação.
A noite terminou com uma atmosfera agradável e descontraída. Ao se despedirem, Inko me abraçou novamente, expressando sua felicidade em me ver bem e produtivo. Izuku apertou minha mão com um brilho de admiração nos olhos.
Assim que fechei a porta atrás deles, me virei para Helena, que me observava com um olhar sério.
"O que vamos fazer agora?", ela perguntou, a realidade do meu segredo pesando sobre nós dois.
"Agora", respondi, um novo senso de determinação em minha voz, "vamos descobrir como usar esse conhecimento para fazer algo de bom. E vamos proteger esse segredo a todo custo."
Naquela noite, sob o olhar atento de Alfred, Helena e eu começamos a traçar planos, conscientes da extraordinária e perigosa verdade que agora compartilhávamos. O mundo, eu sabia, estava prestes a se tornar muito mais interessante.