Doce de Fato

"Alguém quer me dizer o que está acontecendo aqui?" exigiu René enquanto seu olhar passava rapidamente entre seus companheiros de equipe. "Porque eu preciso de uma boa razão para o fato de toda a minha equipe estar atualmente no banheiro feminino com aquela coisa."

Ele e Salvatore tinham passado cerca de quatro horas limpando os andares inferiores de qualquer palhaçada que estava acontecendo, matando pessoas. Eles pareciam os zumbis que ele costumava assistir na TV quando criança, mas isso era impossível. Zumbis não eram reais.

Maldito gris-gris.

E então, assim que chegaram ao andar superior, ele viu praticamente todos os seus amigos fazendo olhares bobos para algo que parecia ter saído de um túmulo. Agora ele tinha que lidar com uma mulher gritando como uma Banshee, companheiros de equipe pensando com o pau, e maldito gris-gris.

Assim que ele falou, a estranha competição de olhares entre Dimitri e Luca se quebrou quando ambos se viraram para olhá-lo. "Você gostaria de tentar essa frase novamente?" perguntou Luca suavemente, com a cabeça inclinada para o lado enquanto encarava René.

René zombou do olhar que seu melhor amigo estava lhe dando. Embora ele tivesse visto o que Luca podia fazer com um estranho, ele não tinha motivo para se preocupar. Os dois eram mais próximos que qualquer sangue; ele não o tocaria.

"Eu tô achando que fui claro," ele resmungou em resposta, seu sotaque da Cidade O escapando mais do que ele queria. Enquanto Luca ficava refinado quando estava irritado, o Capitão ia para o outro lado. "Cês têm gente lá fora precisando de vocês, e cês tão todos aqui... num banheiro."

"É," concordou Désiré, "Foi isso que eu pensei que você disse." O homem estava apoiado no balcão, seus braços cruzados sobre o peito e as mangas de seu uniforme enroladas o suficiente para mostrar sua extensa tatuagem. "Eu não sabia que cê tinha tanta vontade de morrer. Sabe, tem jeitos mais fáceis de morrer."

"Fermez-la," rosnou René, sem paciência para lidar com essa merda. Ele já tinha muito no prato e mais papelada para fazer, graças a esse desvio. O Sergeant estaria procurando por eles em breve, e ele não estava com humor para ser humilhado.

"Foi só um lembrete amigável, meus amigos," deu de ombros Désiré. "Não é culpa nossa se cê tá com a cabeça tão enfiada na bunda que não consegue ver o que tá acontecendo na sua frente."

"René?" murmurou uma voz suave atrás do homem gigante, e ele pôde sentir uma sensação ardente de uma mão nas costas de seu colete à prova de balas. "Por favor, me diz que é você." A voz se engasgou na garganta da mulher enquanto ela tentava conter seu medo e suas lágrimas.

"Alicia," suspirou René enquanto se virava, tomando a delicada mulher em seus braços. Ela era uma fração do seu tamanho, talvez por volta de 1,73m, com longos cabelos loiros caindo pelas costas em cachos soltos. Ela estava usando apenas um suéter fino e uma saia, e partiu o coração de René sentir o quão fria ela estava em seus braços. "Como?"

Ele queria exigir um monte de respostas da única mulher que era seu mundo pelos últimos seis anos. Ela tinha ficado ao seu lado nos momentos bons e ruins, nunca vacilando em sua dedicação e cuidado com ele. Parte dele odiava o fato de que ela estava presa neste shopping com aquelas criaturas caçando, mas uma parte maior dele estava feliz que ela estivesse em algum lugar onde ele pudesse protegê-la.

"Seu aniversário está chegando, e eu queria encontrar um presente para você," respondeu Alicia, sua voz como o mais doce mel. Era tão potente que René podia sentir todo o estresse e tensão derretendo com sua proximidade.

O fato de que ela podia manter a voz longe era um bônus ainda maior.

"Quem é ela?" arrastou um homem encostado em uma parede distante ao lado do secador de mãos. Suas palavras eram lentas como se cada letra demorasse uma eternidade para sair de sua boca. Seus olhos semicerrados pareciam fechados, mas todos na sala sabiam que aquilo era apenas disfarce.

Ronan Pothier podia se mover rápido quando queria; ele só escolhia não fazer isso na maioria das vezes.

"Pequena Pilha," respondeu Luca ao mesmo momento que Dimitri respondeu, "Gatinha."

"Ela tem um nome de verdade? Ou a gente tá só inventando um pra ela? Porque então eu vou chamar ela de Querida." O jeito que ele disse querida soou mais como 'sha' e foi tão arrastado que quase era uma frase por si só.

Também era possessivo, o que irritou Dimitri.

"Hattie LaRue," respondeu Max enquanto pegava um dos cachos que caíam sobre o braço de Dimitri. Todos os homens pareciam iguais, exceto por Luca com seus cabelos pretos, corpo musculoso e tatuagens, mas eles tinham crescido no mesmo orfanato, então não era de se admirar que parecessem irmãos.

Luca levantou uma sobrancelha enquanto observava René murmurando palavras suaves para sua noiva. Ele honestamente pensou que o Capitão teria reagido ao nome dela, mas ele ou não estava ouvindo, ou tinha completamente esquecido daquela noite.

De qualquer forma, era uma competição a menos.

"Me dá ela aqui," chamou Ronan enquanto se afastava da parede e caminhava em direção a Dimitri. Ao olhar desafiador de Dimitri, Ronan revirou os olhos. "Cê vai querer arranjar um lugar mais confortável pra ela dormir. Ela pode ser pequena, essa garota, mas ela tem necessidades. Claro... se cê não tiver querendo atender essas necessidades..."

Ele deixou sua voz morrer enquanto lançava um olhar de desafio para Dimitri. Nenhum homem podia aceitar o insulto de não atender às necessidades de sua mulher, e Dimitri não era diferente.

Agora, Ronan estava mais que disposto a deixar os outros fazerem todo o trabalho enquanto ele colhia as recompensas.

E as recompensas dessa pequena garota seriam doces de fato.