Prólogo

A CHUVA CAÍA. Era um terreno inóspito, longe de qualquer civilização ativa, enormes montanhas se mostravam na paisagem. Podia-se ver crateras de todos os tamanhos geradas no chão, formavam-se pequenas e grandes poças a partir delas, aparentemente provindas de fortes impactos.

Dois indivíduos se destacavam em meio ao temporal.

Um deles passava levemente o dorso de sua mão no canto de seus lábios, para limpar o pouco de sangue que escorria. Em seguida, cuspia e deixara a saliva vermelha marcada no solo.

— Você até que é bem forte. Sujou meu manto de comando inteiro de sangue, não está vendo que ele é branco? Sabe o quão chato vai ser para limpar?

Ele portava uma Glaive em suas costas, ainda não a havia empunhado. Ela aparentava ser muito pesada, mas o homem não se esforçava para se mover. Em volta de seu pescoço, estava enrolado seu crachá de identificação profissional.

Líder da II Divisão - C.E.R

Takahashi Amane. Operador.

— Ei, não ouviu o que eu disse? Ei, Cataclismo, seja educado e me responda! — zombava Amane.

Cataclismo apenas grunhia, se manteve calado todo o combate, estava agitado, não conseguia conter sua vontade de matar. Estava tão sedento de sangue que não tinha a capacidade de formular frases. Vestígios de seu smoking estavam presos em seu tórax e trapézios, estava descalço e repleto de hematomas em seu corpo rígido e imponente. Portava uma Kusarigama, porém, tanto a corrente, quanto a foice ligada à ela estavam desgastadas.

Exceto por algumas feridas leves, Amane permanecia irretocável.

— Vai ficar calado mesmo? Cansei de lutar com as mãos nuas, você nem quer se divertir, só está tentando me matar a todo custo. Quer saber?

Amane erguia a Glaive de suas costas, a girava como se tivesse o peso de uma pena e apontava-a em direção ao Cataclismo, eles estavam em uma distância considerável. Mesmo em meio à tromba d'água, sua lâmina brilhava e reluzia.

— Você vem aqui ou eu vou aí?

Cataclismo se assustava, sentia a aura poderosa e opressora de Amane. Instintivamente pôs-se em posição de combate, enrijecendo todos os músculos de seu corpo e emitindo sua Kusarigama, com o intuito de se preparar para uma possível investida.

Amane sorriu.

— Ah, acho que agora eu entendi.

Amane firmava seu pé esquerdo à frente. Seu pisar era tão forte que seu calcanhar afundava no solo. Erguia sua Glaive e inclinava seu corpo para trás.

— Eu devo ir.

Arremessara sua Glaive em rumo ao Cataclismo. Em diferença de milissegundos, lançava-se em uma investida. O impacto do impulso gerava outras crateras, além de interferir nas já existentes, as menores se estendiam e as maiores dobravam de tamanho.

A poucos centímetros da Glaive atingir Cataclismo, que já se preparara para desviar, Amane se manifestava em sua frente e tomava a Glaive em pleno voo e atacava com o intuito de cortar seu oponente diagonalmente.

Cataclismo se esquivava por puro instinto, por milímetros a morte não o atingia. O impacto sonoro do golpe fazia seus ouvidos sangrarem, as gotas d'água eram cortadas, até o ar parecia cortado. Ele via seu braço esquerdo indo pelos ares, mas não havia tempo para se preocupar com a dor.

Amane via a fisionomia rígida de seu oponente se dissipar, o sorriso, já estampado em seu rosto, se mostrava ainda mais intenso. Mais um golpe, dessa vez horizontal, era lançado. Em uma posição de esquiva extrema, Cataclismo inclinava seu corpo para trás e se sustentava apenas pela força de seus calcanhares. Com um mortal para trás, saltava e, com apenas um braço e mão disponíveis, desferia um golpe com sua Kusarigama. A corrente de aço se esticava e a lâmina se aproximara ao rosto de Amane, que não fez esforço para desviar.

Cataclismo lançava uma sequência de golpes com sua ferramenta de combate, a velocidade com qual se desferia os golpes os tornavam impossíveis de serem sequer percebidos a olho nu por um ser humano comum. Porém, ele não via Amane mostrando o mínimo de dificuldade em se esquivar, pelo contrário, seu tédio era irreprimível.

— Espera, você realmente acha que vai conseguir me matar com esse brinquedinho?

Cataclismo se enfurecia, ele já havia cortado regiões inteiras com sua arma, havia dilacerado diversos conjuntos e grupos de assassinos treinados com esse apetrecho, por qual motivo ele não conseguia apenas cortar aquele cara?

No último dos inúmeros ataques lançados, Amane segurava a lâmina com a ponta dos dedos indicador e polegar, como se fosse uma simples caneta esferográfica. Cataclismo tentava tomar seu instrumento letal de volta, mas a força dos míseros dedos daquele Líder de Divisão parecia ser superior a de todo seu corpo.

— Eu tinha mais expectativa sobre você. Estou sendo sincero, mano.

Amane apertava e destroçava a lâmina de aço carbonado em pedaços, e em seguida, enrolava a corrente restante em seu punho e puxava Cataclismo, o tirando do solo. Com seu adversário no ar, desferia mais um golpe, fluido, limpo e perfeitamente preciso, cortando horizontalmente ambas as suas pernas. No instante seguinte, pôs sua mão em volta do pescoço de seu oponente, mantendo-o suspenso e erguido.

— Pena que você é fraco, amigo. Não sei se percebeu, mas até agora eu só te chamei pelo seu rótulo de nível, não gostaria de dizer seu nome antes de morrer? É para a lista de "Devastadores" que eu já matei. É um hobby bem legal, mano.

Cataclismo, com suas últimas forças, cuspia no rosto de Amane.

— Vai se ferrar, Operador de merda.

Amane fechava os olhos e dava um suspiro de decepção. Imediatamente, mais veloz que um piscar de olhos, passava a Glaive pelo pescoço de Cataclismo, decapitando-o e deixando seu corpo colapsar no chão.

O Líder olhava para baixo, decepcionado e triste. Ficou estático na mesma posição por alguns consideráveis segundos.

Em seguida, colocava seu instrumento de volta nas costas e agachava-se tirando uma pequena sacola amassada do bolso de seu manto. Com uma expressão enojada, puxava a cabeça pelos cabelos, abrira a sacola e colocava a estrutura craniana, já falecida, dentro, fechando o saco com um nó bem dado. Amane virava-se e partia, segurando a embalagem pelo nó. A chuva ainda não havia parado.

— Ah, mas que droga! Mais um que vou precisar inventar o nome para pôr na lista.