Capítulo 141: A Garça-Real-Europeia (Ardea cinerea)
A manhã estava tranquila quando Noah avistou uma figura esguia e elegante à beira do rio. Seu longo pescoço formava um “S” gracioso enquanto observava pacientemente a água rasa. De repente, com um movimento rápido e preciso, mergulhou o bico e emergiu com um peixe brilhando entre as mandíbulas afiadas. Era a garça-real-europeia (Ardea cinerea), uma das aves mais imponentes dos corpos d’água do Velho Mundo e, curiosamente, presente também no Brasil como uma espécie visitante.
Características e Identificação
A garça-real-europeia é uma ave de grande porte pertencente à família Ardeidae, a mesma de outras garças e socós. Suas principais características incluem:
Tamanho: Mede entre 90 e 100 cm de altura e pode atingir uma envergadura de 175 a 195 cm.
Peso: Normalmente varia entre 1 e 2 kg.
Plumagem: Predominantemente acinzentada, com dorso e asas cinza-escuro, pescoço esbranquiçado com estrias negras e um topo da cabeça preto que se estende até a nuca, formando uma pequena crista.
Bico: Comprido, afilado e de coloração amarelada ou alaranjada, essencial para sua técnica de caça.
Pernas: Longas e amareladas, permitindo que caminhe em águas rasas sem dificuldades.
Durante a época de reprodução, a coloração do bico e das pernas pode ficar mais intensa, tornando-se um laranja vibrante.
Distribuição e Presença no Brasil
A garça-real é amplamente distribuída na Europa, Ásia e África, sendo uma das garças mais comuns em diversos habitats aquáticos do Velho Mundo. Apesar de não ser uma espécie nativa do Brasil, alguns indivíduos foram avistados em estados do Nordeste e Sudeste, provavelmente vindos da África Ocidental. Esses registros são raros, mas indicam que a espécie pode estar expandindo seu território ou ocasionalmente migrando para novas áreas.
Habitat e Comportamento
Essa ave prefere regiões úmidas e é frequentemente encontrada em:
Lagos, rios e estuários.
Manguezais e pântanos.
Áreas costeiras e baías protegidas.
Campos alagados e arrozais.
Possui hábitos solitários ou vive em pequenos grupos, exceto na época de reprodução, quando forma colônias. Durante o dia, é comum vê-la empoleirada em árvores ou pousada em águas rasas, sempre alerta e imóvel, aguardando o momento ideal para capturar sua presa.
Alimentação e Técnica de Caça
A garça-real é um predador oportunista e sua alimentação varia conforme o ambiente em que vive. Seu cardápio inclui:
Peixes – sua principal fonte de alimento.
Anfíbios – como rãs e sapos.
Invertebrados aquáticos – caranguejos e moluscos.
Pequenos répteis e mamíferos – em algumas ocasiões, pode capturar lagartos e roedores.
Pássaros e filhotes de outras aves – casos raros, mas documentados.
Seu método de caça consiste em ficar imóvel por longos períodos, observando a água atentamente. Quando avista uma presa, move-se lentamente até a posição ideal e ataca com um golpe certeiro do bico, perfurando ou agarrando o alimento antes de engoli-lo inteiro.
Reprodução e Ciclo de Vida
A época de reprodução varia conforme a região, mas geralmente ocorre na primavera. Durante esse período, as garças formam colônias chamadas garçários, muitas vezes compartilhadas com outras espécies de garças e aves aquáticas.
Os ninhos são construídos em árvores altas ou em arbustos densos próximos à água.
São feitos de galhos secos e folhas, podendo ser reutilizados ano após ano.
A fêmea põe 3 a 5 ovos, que são incubados por cerca de 25 a 28 dias.
Ambos os pais se revezam para alimentar os filhotes, que deixam o ninho após 7 a 8 semanas, mas continuam dependendo dos adultos por um tempo.
Predadores e Ameaças
Embora seja uma ave relativamente grande e bem-sucedida na caça, a garça-real ainda enfrenta alguns predadores naturais:
Águias e gaviões – podem capturar filhotes e jovens inexperientes.
Mamíferos como guaxinins e raposas – atacam ovos e filhotes em ninhos mais baixos.
Grandes cobras – em algumas regiões, podem escalar árvores e atacar ninhos.
Além disso, ameaças humanas também impactam sua população:
Destruição de habitats úmidos devido à urbanização e drenagem de pântanos.
Poluição da água e contaminação por metais pesados, afetando sua dieta.
Distúrbios em áreas de nidificação, pois são sensíveis à presença humana.
Apesar desses desafios, a garça-real é considerada espécie pouco preocupante em termos de conservação, devido à sua ampla distribuição e capacidade de adaptação.
Curiosidades sobre a Garça-Real
Durante o voo, retrai o pescoço para formar um formato de “Z”, diferentemente de cegonhas e grous, que mantêm o pescoço estendido.
Pode permanecer imóvel por vários minutos, aguardando o momento certo para atacar uma presa.
Em algumas culturas, a garça-real é símbolo de paciência e sabedoria, devido ao seu comportamento meticuloso de caça.
Seu nome científico, Ardea cinerea, significa literalmente “garça cinza” em latim.
Conclusão
Noah observou a garça-real levantar voo, suas asas largas batendo lentamente contra o céu azul. Em meio à sua jornada de aprendizado sobre a fauna ao redor do mundo, aquele encontro o fez refletir sobre como até mesmo aves de terras distantes podem surgir em lugares inesperados. A natureza sempre guarda surpresas – e a presença da garça-real-europeia no Brasil era mais uma prova disso.