Capítulo 199: Gavião-galinha (Astur cooperii, sinônimo de Accipiter cooperii)
O gavião-galinha (Astur cooperii, mais comumente conhecido como Accipiter cooperii), em inglês "Cooper’s hawk", é uma ave de rapina da família Accipitridae, nativa da América do Norte. Esta espécie é um predador ágil e furtivo, reconhecido por sua habilidade de caçar em florestas densas e áreas suburbanas, onde frequentemente captura aves menores. Seu nome em português, "gavião-galinha", reflete uma antiga associação com ataques a aves domésticas, enquanto o nome científico homenageia o naturalista americano William Cooper. No Brasil, não ocorre naturalmente, mas é um exemplo clássico de gavião florestal em estudos ornitológicos. Neste capítulo, exploraremos em profundidade todos os aspectos do gavião-galinha, desde suas características físicas até seu habitat, comportamento, ecologia, reprodução e curiosidades, oferecendo uma análise detalhada e abrangente dessa ave impressionante.
Características Físicas
O gavião-galinha é um rapinante de tamanho médio, com traços que refletem sua especialização como caçador em ambientes arborizados, exibindo dimorfismo sexual pronunciado e variações entre idades:
Tamanho:
Fêmeas: Comprimento de 42 a 50 cm, envergadura de 75 a 94 cm, peso entre 450 e 650 gramas.
Machos: Menores, com 36 a 46 cm de comprimento, envergadura de 62 a 85 cm, e peso entre 280 e 400 gramas.
Plumagem:
Adultos: Dorso cinza-azulado escuro, contrastando com o ventre branco riscado de ferrugem ou laranja (barras horizontais finas). Cabeça cinza com uma "capa" distinta, olhos vermelho-alaranjados intensos e cauda longa e arredondada com faixas pretas e brancas.
Juvenis: Marrom-acinzentado no dorso, com estrias verticais marrons no peito e ventre brancos, olhos amarelos que escurecem com a idade. A plumagem adulta é adquirida após 1-2 anos.
Bico: Curto, curvo e preto com base cinza (cere), projetado para rasgar carne, típico dos Accipiter, com um "dente" na mandíbula superior para quebrar vértebras de presas.
Olhos: Grandes e voltados para a frente, proporcionando visão binocular aguçada; a cor varia de amarelo (juvenis) a vermelho vivo (adultos), refletindo maturidade.
Patas: Amarelas, com garras longas e afiadas (talões), adaptadas para agarrar presas em voo ou em galhos. As pernas são relativamente curtas, mas musculosas.
Dimorfismo sexual: Fêmeas são até 30% maiores que machos, uma característica comum em aves de rapina (dimorfismo sexual reverso), permitindo nichos de caça distintos entre os sexos.
Habitat e Distribuição
O gavião-galinha tem uma distribuição ampla na América do Norte, prosperando em ambientes florestais e suburbanos:
Distribuição geográfica:
Nativo do Canadá (sul de British Columbia até Nova Escócia), EUA (do Maine à Flórida, oeste até a Califórnia) e norte do México (Sonora, Chihuahua).
No inverno, populações do norte migram para o sul dos EUA, México e, raramente, América Central (ex.: Honduras). Não ocorre na América do Sul, incluindo o Brasil.
Habitat preferido:
Florestas decíduas e mistas (carvalhos, pinheiros), bordas de bosques, matagais densos e áreas suburbanas com árvores maduras (ex.: parques, quintais). Prefere locais com cobertura para emboscadas e postes ou galhos para observação.
Evita áreas abertas extensas, como pradarias, onde sua técnica de caça furtiva é menos eficaz.
Migração:
Populações boreais (Canadá) migram para o sul entre setembro e novembro, retornando entre março e maio. As do sul dos EUA são residentes ou fazem movimentos curtos.
Rotas migratórias seguem corredores florestais, com concentrações notáveis em locais como Hawk Mountain (Pensilvânia, EUA).
Comportamento
O gavião-galinha exibe comportamentos que destacam sua agilidade, furtividade e inteligência como predador especializado:
Locomoção:
Voo: Rápido e manobrável, com batidas curtas e alternadas por planar, permitindo navegar entre árvores e perseguir presas em espaços apertados. Pode atingir velocidades de até 50 km/h em ataques.
Em terra: Raramente caminha, mas pode saltar entre galhos ou pousar no solo para consumir presas grandes.
Vocalizações:
Chamado típico é um "kek-kek-kek" agudo e rápido, usado para comunicação entre parceiros ou defesa territorial, especialmente perto do ninho. Juvenis emitem um assobio estridente para pedir comida.
Durante a caça, é silencioso, evitando alertar presas.
Sociabilidade:
Solitário fora da reprodução, exceto em pares formados na época de acasalamento. Machos e fêmeas defendem territórios agressivamente contra outros gaviões ou predadores.
Durante a migração, pode ser visto em grupos pequenos, mas sem interação social significativa.
Forrageamento:
Caçador de emboscada, usa a cobertura de árvores para se aproximar furtivamente de presas, lançando ataques surpresa em voo ou de um poleiro. Persegue aves em alta velocidade, capturando-as com as garras ou forçando-as contra obstáculos.
Após a captura, leva a presa a um galho ou ao solo, arrancando penas antes de comer. Pode armazenar sobras em galhos para consumo posterior.
Dieta
O gavião-galinha é um carnívoro especializado, com uma dieta focada em aves, mas incluindo outros pequenos vertebrados:
Alimentos principais:
Aves de pequeno a médio porte (pombos, melros, tordos, pardais, estorninhos, codornizes), representando 80-90% da dieta.
Pequenos mamíferos (esquilos, ratos, coelhos jovens) e, raramente, répteis (lagartos, cobras pequenas) ou insetos grandes (ex.: gafanhotos).
Método de alimentação:
Captura presas em voo com as garras, matando-as por esmagamento ou quebrando o pescoço com o bico. Consome carne crua, começando pela cabeça ou peito, descartando penas e ossos maiores.
Fêmeas, por serem maiores, caçam presas mais robustas (ex.: pombos), enquanto machos focam em aves menores (ex.: pardais).
Sazonalidade:
Durante a reprodução (primavera-verão), prioriza aves para alimentar os filhotes. No inverno, pode incluir mais mamíferos ou carniça em áreas urbanas.
Impacto: Controla populações de aves comuns, influenciando a dinâmica de espécies em florestas e quintais.
Ciclo de Vida e Reprodução
O gavião-galinha tem um ciclo reprodutivo anual, centrado na primavera, com forte cooperação entre o casal:
Época de acasalamento: Março a maio, com exibições de cortejo que incluem voos sincronizados, mergulhos e entrega de presas pelo macho à fêmea.
Ninhos:
Construídos em árvores altas (10-20 m), geralmente coníferas ou decíduas (ex.: pinheiros, carvalhos), em forma de plataforma com galhos e forrados com casca ou penas. Reutilizam ninhos de anos anteriores ou de outras aves (ex.: corvos).
Localizados em áreas florestais densas, longe de bordas, para proteção contra predadores e humanos.
Ovos:
Põe de 3 a 6 ovos (média de 4), azul-claros a brancos, às vezes com manchas sutis, medindo cerca de 4,5 cm. Incubados por 30-36 dias, quase exclusivamente pela fêmea, enquanto o macho caça e provê alimento.
Criação:
Filhotes nascem com penugem branca, indefesos, e são alimentados com pedaços de carne pelos pais. Crescem rapidamente, voando após 27-34 dias, mas dependem dos pais por mais 4-6 semanas.
Após deixarem o ninho, juvenis praticam caça sob supervisão, tornando-se independentes no outono.
Longevidade: Vive de 5-10 anos na natureza, com registros de até 20 anos em cativeiro ou sob condições ideais.
Ecologia
O gavião-galinha desempenha um papel crucial como predador de topo em ecossistemas florestais:
Relação com presas:
Regula populações de aves pequenas e médias, prevenindo superpopulação em áreas suburbanas e florestas.
Sua presença afeta o comportamento de presas, que se tornam mais cautelosas, alterando padrões de forrageamento.
Predadores:
Ovos e filhotes são vulneráveis a corujas (Bubo virginianus), falcões maiores (Buteo spp.) e guaxinins. Adultos têm poucos predadores naturais, mas podem ser atacados por águias ou gaviões maiores em raras ocasiões.
Impacto ecológico:
Indicador de florestas saudáveis com alta densidade de aves. Sua adaptação a áreas suburbanas reflete resiliência, mas também aumenta conflitos com humanos.
Competição: Concorre com o gavião-de-cauda-curta (Accipiter striatus), mas ocupa nichos distintos devido a diferenças de tamanho e preferências de presas.
Interações com Humanos
O gavião-galinha tem uma relação complexa com os humanos, marcada por admiração, conflito e conservação:
História:
Conhecido desde o século XIX, descrito por Charles Lucien Bonaparte em homenagem a William Cooper. Era temido por criadores de galinhas, daí o nome "gavião-galinha".
Populações diminuíram no início do século XX devido à caça e ao DDT, recuperando-se após a proibição do pesticida nos anos 1970.
Cultura:
Nos EUA, é uma ave icônica entre observadores de aves, aparecendo em guias ornitológicos e simbolizando a vida selvagem suburbana.
Associado à precisão e furtividade na cultura popular, refletindo sua técnica de caça.
Observação:
Frequente em quintais e parques, onde caça em comedouros de pássaros, atraindo birdwatchers. Identificado pelo voo rápido e cauda longa em "leque".
Durante a migração, é avistado em grandes números em pontos como Cape May (Nova Jersey) e Veracruz (México).
Impacto:
Benéfico: Controla populações de aves invasoras (ex.: estorninhos) e pragas em áreas urbanas.
Negativo: Ataca galinhas e pássaros de estimação, gerando conflitos com criadores e moradores. Pode colidir com janelas durante perseguições, resultando em mortalidade.
Interação direta: Não é agressivo com humanos, mas defende ninhos com voos rasantes e gritos se ameaçado.
Conservação
O gavião-galinha é uma espécie resiliente, mas sua história reflete os desafios enfrentados por aves de rapina:
Status: Classificado como "Least Concern" pela IUCN, com populações estáveis ou crescentes (estimadas em 700.000 indivíduos nos EUA e Canadá).
Ameaças:
Históricas: Caça indiscriminada e DDT (que afinava cascas de ovos) reduziram números até meados do século XX.
Atuais: Perda de florestas maduras, colisões com estruturas humanas (janelas, carros) e exposição a rodenticidas via presas contaminadas.
Esforços de conservação:
Proibição do DDT e proteção legal nos EUA (Migratory Bird Treaty Act) impulsionaram a recuperação.
Preservação de habitats florestais e educação pública (ex.: evitar venenos em quintais) ajudam a sustentar populações.
Curiosidades
O gavião-galinha é repleto de fatos intrigantes que enriquecem seu perfil:
Nome científico: Originalmente Astur cooperii, foi revisado para Accipiter cooperii ("accipiter" = caçador rápido em latim), refletindo taxonomia moderna.
Velocidade: Pode mergulhar a 80-100 km/h em ataques, usando a cauda como leme para manobras entre árvores.
Comedouros: Em áreas suburbanas, é um "visitante regular" de comedouros, onde embosca pássaros, dividindo opiniões entre amantes da natureza.
Confusão: Frequentemente confundido com o gavião-de-cauda-curta (A. striatus), mas distinguido por seu tamanho maior e cauda arredondada.
Adaptação urbana: Estudos mostram que gaviões em cidades têm territórios menores, mas densidades maiores, aproveitando abundância de presas como pombos.
Conclusão
O gavião-galinha (Accipiter cooperii) é uma ave de rapina de presença marcante – sua agilidade, plumagem distinta e papel como predador florestal o tornam um ícone da fauna norte-americana. Sua recuperação após declínios históricos e adaptação a ambientes humanos refletem a resiliência da vida selvagem diante de desafios modernos. Como caçador silencioso das copas e quintais, o gavião-galinha conecta a natureza intocada às paisagens alteradas, lembrando-nos da força e delicadeza que coexistem no reino das aves.