Naquele dia, Daehyn decidiu ignorá-la. Evitaria qualquer contato, afastaria qualquer pensamento e seguiria sua rotina como se nada tivesse acontecido. Mas estava sendo muito difícil. Cada movimento de Harin, cada troca de olhares, cada sorriso confuso e hesitante só reforçava o quanto Daehyn estava fugindo de algo impossível de evitar.
Daehyn não conseguiu se concentrar. O beijo passava em looping na sua cabeça, repetindo-se inúmeras vezes como um eco inescapável. Sua mente não aceitava que seu primeiro beijo tivesse sido com Harin. Seu coração, por outro lado, reagia em conflito, acelerando cada vez que a lembrança surgia.
Harin parecia confusa com sua "rejeição", mas não forçou nada. Apenas respeitou o espaço que Daehyn claramente estava tentando estabelecer. O problema era que, quanto mais distância Daehyn tentava criar, mais ela se via puxada para perto.
Quando a aula extra terminou, Daehyn saiu apressada, sem se despedir de ninguém. O céu, que antes ameaçava desabar, finalmente cumpriu sua promessa: a chuva veio forte, pesada, ensopando suas roupas em poucos segundos. Mas, em vez de correr para casa, Daehyn seguiu por um caminho diferente. Seus pés a guiavam sozinhos, sem que sua mente pudesse contestar.
Ela parou diante da imensa mansão de Harin, com o corpo encharcado e os cabelos colados à pele. O coração martelava tão forte que era difícil respirar. Levantou a mão e bateu na porta. Uma vez. Duas. Três. Até que finalmente a porta se abriu, revelando Harin com um moletom largo e uma expressão incrédula.
— Daehyn?! — O tom de Harin era uma mistura de surpresa e preocupação. — O que você está fazendo aqui nessa chuva? Você tá... você tá tremendo!
Daehyn, de fato, tremia, mas não era pelo frio. Suas palavras saíram atropeladas, sem sentido.
— Eu não sei o que fazer. Eu não sei... eu não sei lidar com isso! — Seus olhos estavam perdidos, angustiados. — Por que você me beijou, Harin? Por quê?
O silêncio se estendeu entre elas, interrompido apenas pelo som da chuva batendo contra o chão. Harin engoliu em seco, observando cada detalhe da expressão de Daehyn, como se buscasse as palavras certas para dizer.
— Porque eu quis — respondeu finalmente, sua voz baixa, mas firme.
A resposta fez Daehyn sentir algo que não conseguia descrever. Antes que pudesse se controlar, deu um passo para trás, mas Harin segurou seu pulso, puxando-a levemente para perto.
— Daehyn... — murmurou, seus olhos procurando os dela.
— Eu não consigo entender — Daehyn sussurrou, a respiração acelerada. — Eu... não sou como você. Eu não sou alguém que... que as pessoas gostam dessa forma.
Harin franziu o cenho, sua expressão suavizando ao perceber a confusão na voz da outra.
— Você não percebe, não é? — disse, com um pequeno sorriso. — Eu gosto de você, Daehyn. Não importa o que você pense sobre si mesma.
O coração de Daehyn falhou uma batida. Antes que ela pudesse responder, antes que pudesse sequer organizar os pensamentos, Harin se inclinou novamente e, dessa vez, Daehyn não fugiu.
Os lábios de Harin tocaram os seus em um beijo intenso, molhado pela chuva que ainda caía ao redor delas. Daehyn fechou os olhos, deixou-se sentir. Não havia pensamentos racionais, não havia cálculos ou tentativas de entender o que acontecia. Apenas o calor de Harin, a suavidade do toque e a certeza avassaladora de que, naquele instante, ela não queria estar em nenhum outro lugar.
Quando se afastaram, ambas estavam sem fôlego, o olhar de Harin cheio de expectativa e receio.
— Agora... você entende? — Harin perguntou, quase num sussurro.
Daehyn não respondeu. Apenas olhou para ela, sentindo seu peito se apertar de uma forma que não era ruim. Então, finalmente, assentiu, um pequeno sorriso surgindo em seus lábios.
Ela estava pronta para parar de fugir. (...)
A chuva ainda tamborilava suavemente contra a janela do quarto de Harin, enquanto as duas se acomodavam na cama, agora vestindo roupas secas. O silêncio pairava entre elas, mas não desconfortável. Era um momento de assimilação, de aceitar a nova realidade que se formava entre as duas.
Daehyn puxou o cobertor até os ombros e observou Harin de soslaio. Seu coração ainda batia descompassado, ainda sentindo os resquícios do beijo que haviam compartilhado sob a chuva. Era um turbilhão de emoções.
— Você está bem? — perguntou Daehyn.
Harin virou o rosto para encará-la, um pequeno sorriso se formando.
— Estou mais do que bem. — Seus olhos brilhavam, refletindo um sentimento terno.
Daehyn, no entanto, não conseguia se livrar de uma preocupação insistente.
— Mas você estava doente... E saímos na chuva... E se você piorar de novo? — Ela franziu o cenho, claramente aflita.
Harin achou aquilo adorável. O jeito como Daehyn se preocupava, mesmo tentando manter sua fachada séria, a fazia sorrir involuntariamente. Sem pensar muito, se aproximou e depositou um beijo suave na bochecha da outra, deslizando os dedos pelo braço dela em um carinho sutil.
— Eu estou bem, Daehyn. De verdade. Mas se você continuar assim, acho que vou acabar me apaixonando. — murmurou, sua voz baixa e carregada de doçura.
O rosto de Daehyn esquentou no mesmo segundo, seu coração acelerando perigosamente. Ela abriu a boca para falar, mas nenhuma palavra saiu. Harin riu baixinho diante da expressão perdida da outra e se aproximou ainda mais, encostando seu ombro no dela. Os rostos estavam próximos o suficiente para que Daehyn sentisse a pele quente de Harin.
— Você pode relaxar agora? — Harin sussurrou, seus dedos deslizando pelo rosto de Daehyn, contornando sua mandíbula de forma lenta e envolvente.
Daehyn não respondeu com palavras, apenas permitiu que seu corpo se aproximasse instintivamente, seus olhos se fechando ao sentir os lábios de Harin sobre os seus mais uma vez. Era diferente do beijo na chuva. Dessa vez, não havia dúvidas ou receios. Apenas a entrega de duas pessoas tentando entender a conexão que existia entre elas.
As mãos de Harin deslizaram pelos braços de Daehyn, puxando-a para um abraço suave. Seus dedos traçaram círculos preguiçosos em suas costas, transmitindo um conforto silencioso. Daehyn apoiou a mão sobre o peito de Harin, sentindo a batida ritmada do coração dela. E, de alguma forma, aquilo a acalmou.
Por um longo tempo, elas permaneceram assim, trocando carícias sutis, beijos preguiçosos e risadas baixas. Harin sussurrava pequenas provocações, se deliciando com a forma como Daehyn se escondia no travesseiro para disfarçar o embaraço. Era um novo tipo de intimidade, uma que não precisavam apressar. Apenas existiam ali, compartilhando aquele espaço e aquele momento.
Quando finalmente o sono começou a pesar sob as duas, Harin puxou Daehyn para mais perto, entrelaçando seus dedos.
— Você não precisa fugir, sabia? — sussurrou, já sentindo a respiração de Daehyn desacelerar ao seu lado.
Daehyn apertou sua mão em resposta, seus lábios se curvando levemente.
— Eu sei.
Elas dormiram em paz. Cientes dos sentimentos que começavam a sentir uma pela outra.