Capítulo 20: O Peso da Escolha

Quando a esfera tocou a palma de Ethan, uma onda de energia o envolveu, e o mundo ao seu redor desapareceu. A clareira, a árvore, a figura encapuzada — tudo se desfez como se fosse um sonho. Ele não sentiu mais o chão sob seus pés, nem o ar frio da floresta ao seu redor. Em vez disso, foi como se ele estivesse flutuando em um vácuo interminável, sem direção, sem tempo.

Por um breve momento, Ethan sentiu uma paz incomum. Era como se sua mente estivesse sendo limpa de todos os pensamentos e preocupações. Ele não sentia mais o peso da responsabilidade que carregava, nem as memórias dolorosas de sua irmã ou de sua família. Tudo estava em suspensão, quieto, sem pressa de avançar.

Mas essa sensação de tranquilidade logo foi substituída por uma pressão crescente. A paz desapareceu tão repentinamente quanto surgiu, e uma força desconhecida parecia apertar seu corpo e sua mente, como se ele estivesse sendo esmagado por uma força invisível. Ele tentou gritar, mas sua voz não saiu. Tentou mover-se, mas seu corpo parecia imobilizado, como se a própria essência de sua existência estivesse sendo analisada e manipulada.

De repente, ele viu algo.

Imagens. Milhares de imagens, todas girando ao redor dele como se estivessem sendo projetadas em um espaço infinitamente vasto. Ele viu rostos, lugares, momentos e eventos que ele não reconhecia, mas que, de alguma forma, sentia que estavam ligados a ele. Havia luzes brilhantes e sombras dançando nas bordas da visão, como se diferentes possibilidades estivessem se desdobrando diante de seus olhos.

A figura encapuzada apareceu novamente, mas agora ela não estava mais distante. Ela estava dentro dessas imagens, andando por elas, como se fosse parte de todos aqueles eventos, como se tivesse vivido todas aquelas vidas.

Você tocou a luz, Ethan. — A voz da figura soou, agora mais profunda e ressoante, como se viesse de todo o universo ao mesmo tempo. — Agora, você está vendo a rede das possibilidades. O que você escolheu, a decisão que fez, não é apenas sua. Ela vai ecoar através de todos os mundos. Cada ação que você tomou, cada escolha que você fez, todas têm uma consequência. O que você verá agora não é o futuro, mas uma reflexão das escolhas feitas em outros momentos, em outras realidades.

Ethan tentou falar, mas nada saiu. Ele sentiu uma pressão em seu peito, como se estivesse sendo forçado a entender o que estava diante de si. As imagens ao redor dele começaram a se desdobrar mais rapidamente, como se ele estivesse sendo arrastado por uma corrente de tempo e destino que ele mal podia controlar.

Em uma dessas imagens, ele viu sua irmã, mais jovem, correndo por um campo de flores. Ela sorria, e parecia tão feliz, tão livre de todo o sofrimento que ele tinha conhecido. Mas, conforme a imagem se aproximava, a felicidade de sua irmã começou a se desfazer. A terra sob seus pés se partiu, e o céu se escureceu, engolindo a luz ao redor dela. Ethan viu sua irmã cair, sua mão estendendo-se para ele, mas ele não podia alcançá-la. A imagem se desfez rapidamente, e ele se viu em outro lugar.

Agora, ele estava em uma cidade que não reconhecia. As ruas estavam desertas, as casas em ruínas. Havia fumaça no ar e o som distante de algo… muito mais sombrio. Ele viu uma figura familiar no horizonte, caminhando entre as sombras. Era ele. Mas era uma versão de si mesmo que ele nunca tinha visto. Ele estava mais velho, com uma expressão fria e implacável, carregando uma espada enorme, como se estivesse em guerra. No momento em que seus olhos se cruzaram, a versão mais velha de Ethan sorriu, mas não era um sorriso de conforto. Era um sorriso de alguém que sabia o que estava por vir e estava preparado para enfrentá-lo.

A visão se desfez mais uma vez, e Ethan se viu em um campo vasto, onde a luz do sol começava a desaparecer, dando lugar a uma escuridão crescente. No centro desse campo, ele viu a árvore. Mas não era a árvore que ele havia visto na floresta. Era uma versão distorcida e corroída, com raízes retorcidas que se estendiam como tentáculos, consumindo tudo ao redor. A árvore parecia estar viva, mas sua vitalidade estava corrompida, transformada em algo monstruoso.

Ele ouviu uma voz, sua própria voz, vindo de dentro da árvore. Era um grito de dor, um grito de alguém que estava perdido, alguém que havia falhado.

Você falhou, Ethan. — A voz ecoou, profunda e angustiante. — Você fez escolhas erradas. Agora, tudo o que resta é a escuridão.

Ethan tentou se mover novamente, mas as imagens não paravam de se desdobrar. Cada uma delas trazia uma versão de sua vida, de suas escolhas, de tudo o que ele havia feito até aquele momento. Ele viu o que poderia ser, e o que poderia ter sido, e percebeu que cada decisão tinha criado um caminho diferente, um futuro alternativo.

Ele não sabia mais o que pensar. As possibilidades eram infinitas, e a pressão de ter que escolher a direção certa parecia esmagadora.

Mas então, a figura encapuzada apareceu novamente, desta vez mais próxima. Ela olhou para Ethan com um semblante sério, como se estivesse esperando por algo.

Você entende agora, Ethan? — Perguntou a figura, com uma suavidade incomum. — Cada escolha que você faz cria um novo caminho. Cada ação, cada palavra, gera consequências que reverberam em todas as realidades. Você está aqui, neste momento, porque você escolheu. Mas o que você fará com essa escolha? O que você deseja?

Ethan fechou os olhos, tentando se concentrar. Ele sentia o peso de tudo ao seu redor, o peso das possibilidades, das realidades alternativas. Ele sabia que a árvore representava algo muito maior do que ele poderia compreender. Ela não era apenas uma fonte de poder, mas um reflexo de tudo o que ele poderia ser, tudo o que ele poderia fazer, ou deixar de fazer.

Quando ele abriu os olhos, a árvore diante dele parecia mais distante, como se estivesse aguardando sua decisão. Ele sentia que não havia mais tempo. O futuro estava ali, à sua frente, esperando para ser moldado, mas ele precisava escolher qual caminho seguir.

Ele olhou para a figura encapuzada, seus olhos encontrando os dela, e soube que a decisão era dele, e dele apenas.

Estou pronto para fazer a escolha. — Ele disse, sua voz firme.

A figura sorriu, mas não com um sorriso de vitória. Era um sorriso de compreensão.

A escolha será sua, Ethan. Mas lembre-se... o preço que você pagará, por mais que não o saiba agora, será grande.

E então, tudo se silenciou. O vácuo desapareceu, e Ethan estava de volta à clareira, diante da árvore. A esfera de luz em sua mão ainda brilhava, agora com uma intensidade que ele nunca havia visto antes. O caminho à frente estava aberto.

Ele respirou fundo, sentindo a energia pulsando ao seu redor. A decisão estava feita. Mas o que ele faria com ela? O que ele escolheria para o futuro?