Capítulo 55: A Trilha da Reversão

O mundo parecia ter parado. A imensidão da floresta de Varnell havia ficado para trás, mas o peso do que tinham acabado de enfrentar continuava a pesar nos ombros de Ethan e Ireth. A mensagem de Kaelya não saía da mente deles: Zareth havia acordado algo além do Véu, algo tão antigo que sua simples presença era suficiente para distorcer o próprio tempo.

Ele acordou a Entidade da Reversão. — Ireth murmurou, quebrando o silêncio enquanto caminhavam pela trilha escura. — Mas o que isso significa? Como isso pode mudar tudo o que estamos fazendo?

Ethan permanecia pensativo, seus passos firmes, mas sua mente inquieta. Ele sabia que o que enfrentavam agora não era mais uma simples corrida para reunir os fragmentos. Era uma batalha contra algo que desafiava as leis do próprio universo. A Entidade da Reversão não apenas ameaçava destruir os fragmentos, mas refazer a própria linha do tempo.

O que sabemos sobre ela? — Ethan perguntou. — Onde ela está?

Ireth olhou para o horizonte, onde as montanhas do Império da Névoa se erguiam no distante, como silhuetas ameaçadoras contra o céu crepuscular.

É uma entidade antiga. Uma força primitiva do Véu. Em algum momento, os primeiros seres do Véu perceberam que a verdadeira destruição não vinha da morte ou do esquecimento, mas da reversão — a habilidade de refazer tudo o que já foi. O que a Entidade da Reversão busca é alterar o fluxo do tempo, apagando e recriando as escolhas do passado. Cada erro, cada decisão... ela quer refazê-los.

Ethan franziu o cenho. O poder de alterar o tempo... isso ia muito além de qualquer força que já haviam enfrentado. O pensamento de que Zareth agora controlava essa força primitiva causava-lhe uma sensação de impotência.

Mas isso não faz sentido. Se ele tivesse esse poder, por que estaria atrás dos fragmentos? Por que criar algo tão destrutivo, algo que desafia até mesmo o Véu?

Porque Zareth não quer apenas reverter o tempo. Ele quer dominar tudo o que já foi, tudo o que será. Ele acredita que a verdadeira liberdade vem da total destruição das possibilidades, tornando tudo previsível, controlável. Se ele restaurar a Entidade da Reversão completamente, será como um deus sobre a existência. Ele poderá apagar tudo o que desejar e refazê-lo do jeito que achar correto. — Ireth completou, com a voz grave.

Ethan parou por um momento, sentindo o peso das palavras de Ireth. O conceito de um poder tão absoluto era assustador. Ele havia enfrentado muitos inimigos antes, mas nenhum com uma capacidade de distorcer o próprio tecido da realidade.

Então, o que podemos fazer? Como podemos derrotá-lo se ele tem o poder de reescrever o tempo?

Ireth olhou para ele, com um brilho determinado nos olhos.

A única maneira de vencê-lo é impedir que ele complete o que começou. Precisamos dos últimos fragmentos. E, mais importante, precisamos evitar que ele se una completamente à Entidade da Reversão. Caso contrário, o Véu será obliterado.

Ethan respirou fundo. Ele sabia que a missão estava se tornando cada vez mais complexa, mais perigosa. Mas havia algo dentro de si que se recusava a aceitar a ideia de falhar, de permitir que Zareth levasse tudo para um futuro sombrio e sem esperança.

Eles seguiram viagem em silêncio, enquanto a noite avançava, cobrindo o mundo com seu manto escuro. A cada passo, a sensação de serem observados crescia. Algo os caçava. Ou talvez... alguém.

Quando chegaram aos pés das Montanhas Nebulosas, uma barreira de névoa espessa se ergueu diante deles. Era como se a própria montanha estivesse viva, respirando. Um calor estranho emanava da névoa, uma energia pulsante que parecia sugerir que não estavam sozinhos.

Estamos chegando perto. — disse Ireth, seus olhos fixos na névoa. — Esse é o último fragmento. Dentro dessa montanha está o templo de Zareth, onde ele planeja fundir o poder da Entidade da Reversão. Precisamos apressar.

Ethan assentiu, a tensão crescendo em seu peito. Eles estavam prestes a entrar no domínio de Zareth, no centro de todo o caos que ele estava criando. E, com o último fragmento, a verdadeira batalha começaria.

O ar estava denso, como se a própria montanha estivesse tentando impedir sua entrada. Mas Ethan não hesitou. Ele avançou, tocando a névoa, que se afastou lentamente, como se reconhecesse sua presença.

À medida que avançavam pelas montanhas, o terreno se tornava mais traiçoeiro, com penhascos à beira de cada lado, e o som de correntes de ar cortando as rochas. Em determinado ponto, chegaram a uma grande abertura — a entrada para o templo de Zareth.

A arquitetura era imponente, formada por pilares de cristal negro e paredes forjadas em uma mistura de obsidiana e metais que pareciam distorcer a luz ao seu redor. As ruínas estavam cobertas por símbolos e inscrições, mas nenhuma delas parecia familiar.

Isso... isso é recente. — Ireth observou, tocando uma das inscrições. — Zareth deve ter começado a reconstruir essa estrutura depois que adquiriu o poder da Entidade da Reversão.

Antes que pudessem avançar, uma figura encapuzada apareceu na entrada do templo. A silhueta era humana, mas havia algo estranho em sua postura. Ele estava completamente imóvel, como se fosse uma estátua viva.

Você está atrasado, Ethan. — disse a voz baixa, mas clara, que parecia reverberar dentro de suas mentes.

A figura se virou, revelando um rosto parcialmente encoberto pelo capuz, mas os olhos eram inconfundíveis. Zareth.

Eu sabia que chegariam até aqui. — continuou Zareth, um sorriso sombrio surgindo em seus lábios. — Mas a luta já acabou. O tempo não os favorece mais. A Entidade da Reversão está mais próxima de ser restaurada do que vocês imaginam. E quando ela for, o Véu será nada mais do que um eco do que poderia ter sido.

Ethan deu um passo à frente, seu olhar desafiador.

Não vamos deixar você refazer o mundo ao seu gosto, Zareth. Nós vamos parar você.

Zareth riu, um som frio e sem alegria.

Você ainda não entende, Ethan. O mundo não precisa ser salvo. Ele precisa ser reconstruído. Como uma tela em branco. Você... e Ireth, podem ser peças-chave nesse processo. Não têm escolha.

Com um gesto, Zareth fez com que as paredes do templo começassem a se mover. O chão tremeu, e uma série de cristais afiados começaram a emergir do solo, cercando-os.

Vocês vão ver. O Véu não é o fim. É apenas o começo de algo maior. Algo que vocês não podem compreender. — Zareth concluiu, sua voz se misturando ao som crescente da destruição ao seu redor.

Ireth se preparou para atacar, mas Ethan a segurou.

Espere. — ele disse. — A verdadeira luta não é aqui. Ainda. O fragmento está mais perto do que imaginamos.

E, com um olhar determinado, ele avançou em direção a Zareth, que sorriu.

Vamos ver quem prevalece, então.

A batalha entre o destino e o tempo estava prestes a começar.