Capítulo 83: Portões do Abismo

A vastidão diante deles era silenciosa. Um silêncio pesado, denso, capaz de sufocar até os mais poderosos entre os homens. O Abismo Sem Fim não era apenas um lugar — era uma entidade. Um espaço onde o tempo hesitava em seguir seu curso, onde as leis da realidade se contorciam sob um peso ancestral.

Ethan olhava para a fenda colossal que se abria à frente do grupo. Não era apenas uma cratera no solo. Era uma rachadura entre mundos. Uma porta... ou um túmulo.

O grupo formado por Ethan, Tang San, Xiao Wu, Elyss, Dai Mubai, Ning Rongrong e um silencioso Zhu Zhuqing permanecia reunido sobre um platô de rocha escura. Atrás deles, quilômetros de terreno desértico os separavam do último vestígio de civilização. À frente... apenas a escuridão.

— Estamos prontos? — Ethan perguntou, a voz firme.

Tang San assentiu.

— Prontos ou não, não há mais volta.

Com uma troca de olhares silenciosa, eles avançaram.

A entrada do abismo era envolta por uma barreira invisível, uma espécie de campo energético que pulsava como o batimento de um coração. Elyss foi a primeira a tocá-la. Seus dedos tremeram, mas ela não recuou.

— É uma membrana quântica — murmurou. — Criada com base na energia primitiva. Isso não foi feito por Deuses. Foi feito por algo... além deles.

— Conseguimos passar? — perguntou Dai Mubai, impaciente.

Ethan respirou fundo. Com um gesto, canalizou sua energia espiritual e tocou a barreira com a palma da mão. A marca do infinito que brilhava em seu peito brilhou intensamente, e a barreira... cedeu.

Não se rompeu. Não quebrou. Simplesmente permitiu que ele passasse.

Um a um, os outros seguiram, guiados pela energia dele.

Ao atravessar, sentiram imediatamente a mudança. O ar era pesado. A gravidade os puxava como se quisesse esmagá-los. A luz do mundo externo desapareceu, substituída por uma penumbra azulada que emanava das próprias paredes do abismo.

— Isso não é uma caverna — murmurou Xiao Wu. — É... um organismo. Estamos dentro de algo vivo.

Ethan apenas assentiu.

— E esse "algo" sabe que estamos aqui.

Horas se passaram enquanto desciam por passagens estreitas e corredores curvos. O caminho parecia guiá-los, como se estivesse vivo, reagindo às suas presenças. Por vezes, as paredes pulsavam. Por vezes, sussurros ecoavam de lugares que não podiam ver.

Tang San caminhava ao lado de Ethan.

— Já estive em muitos locais corrompidos. Mas isso... isso está em outro nível. Nem mesmo as Ruínas do Deus Asura tinham essa sensação de... vigília.

— É porque o que está aqui não foi criado. Foi deixado — respondeu Ethan. — Como uma armadilha. Ou um teste.

A descida abrupta terminou em uma câmara imensa. Um salão circular, com pilares negros que pareciam feitos de ossos de dragão. No centro, um altar flutuava sobre uma plataforma de pedra suspensa por correntes de energia.

Sobre o altar... estava o primeiro Nexus.

Uma esfera negra, envolta por anéis giratórios com inscrições que nenhum deles conseguia decifrar. Mas todos... sentiam.

O Sistema tremia dentro da mente de Ethan. A interface piscava.

[NÚCLEO MATRIZ IDENTIFICADO][Acesso negado. Permissão bloqueada por Protocolo Arcônida]

— Eles sabem que estamos aqui — disse Ethan.

E então, uma presença se revelou.

Do vazio acima deles, uma figura desceu. Vestia-se com mantos translúcidos, e seus olhos brilhavam em branco puro. Sua pele era pálida como a lua, e sua presença fazia até mesmo Tang San recuar instintivamente.

— Um Arconte — murmurou Elyss, em um sussurro quase inaudível.

A figura os observou, flutuando levemente acima do solo.

— Vocês... chegaram longe demais — disse, a voz ecoando como várias sobrepostas.

— Quem é você? — exigiu Ethan.

— Sou o Guardião do Nexus Um. Chamem-me de Khael'tur. Fui criado para impedir a corrupção do código original. E você... é o maior erro desta simulação.

Ethan avançou um passo, sem medo.

— Não sou um erro. Sou a resposta. A correção. O equilíbrio que vocês negaram por eras.

Khael'tur olhou para ele, e algo como uma sombra se espalhou pelo chão.

— Você acredita ter alcançado algo além. Mas a verdade é que ainda rasteja na beira do abismo. Você... é um avatar quebrado. Um fragmento corrompido por escolhas que não compreende.

Tang San, agora ao lado de Ethan, ergueu sua Lança do Marra Azul. Sua aura divina explodiu.

— Se tentar nos impedir, vamos lutar.

Khael'tur suspirou. Um som profundo, triste.

— Então lutarão contra aquilo que nunca deveriam ter despertado.

A batalha começou com um único gesto.

Khael'tur ergueu a mão e o espaço ao redor se rompeu em milhares de fragmentos. Cada um se tornou uma criatura — entidades feitas de puro código corrompido, com formas distorcidas e bocas que gritavam sem emitir som.

Ethan avançou, envolto em sua aura dupla. Luz e trevas colidiam ao seu redor, criando explosões que destruíam as criaturas antes mesmo de tocá-lo. Tang San e Xiao Wu lutavam lado a lado, suas energias divinas combinando em ataques de precisão letal. Elyss invocava escudos de matéria negra, protegendo o grupo dos ataques dimensionais.

O Nexus tremia no altar.

Khael'tur desceu como um raio, colidindo com Ethan.

O impacto quebrou o chão. A câmara tremeu. Mas Ethan não recuou.

— Eu sou a exceção à sua regra! — gritou, enquanto lançava seu punho envolto em energia primordial contra o rosto do Arconte.

Khael'tur recuou, pela primeira vez.

— Então venha, exceção. Mostre se pode alterar o fim.

A batalha durou horas.

Mas Khael'tur, embora poderoso, não era invencível. Ele era um programa. Um código. E Ethan, agora fundido com o Sistema e o Véu, aprendeu a ler aquele código.

Durante um momento de distração, Ethan canalizou tudo o que havia aprendido. Sua alma ressoou com o Nexus. E então...

[Override Iniciado...][Protocolo Arcônida: Reescrito]

Khael'tur caiu de joelhos.

— Você... quebrou o núcleo... — sussurrou, antes de se dissolver em partículas de luz e sombra.

O Nexus brilhou.

E então, uma nova interface surgiu para Ethan.

[Núcleo Primordial Desbloqueado][Escolha o Caminho: Destruir, Reiniciar ou Reescrever]

Ele olhou para seus aliados. Todos estavam feridos. Cansados. Mas vivos.

E então, sem hesitar, Ethan tocou a esfera.

— Reescrever.

O mundo tremeu.

Não apenas o físico. O próprio tecido da realidade oscilou. Em todos os cantos de Douluo, aqueles sensíveis ao espírito ou à energia espiritual sentiram uma mudança. Como se uma partitura antiga houvesse sido apagada e substituída por uma nova melodia.

As bestas espirituais uivaram. Os Deuses despertaram.

E os Arcontes... olharam para baixo.

Ethan, de olhos fechados, sentiu tudo.

— Ainda não acabou — disse em voz baixa. — Mas agora... jogamos pelas minhas regras.