Capítulo 91: A Travessia do Nexus

Elyss e Tang San caminharam pelo portal do Nexus, a sensação de deslocamento imediata e avassaladora. O espaço ao seu redor não tinha mais forma definida. Era como se o próprio tempo tivesse se desfeito, deixando apenas uma vastidão sem limites, onde passado, presente e futuro se entrelaçavam de maneira caótica e sem sentido. Não havia mais chão sob seus pés, nem céu acima. Somente uma imensidão de luzes cintilantes e sombras fugidias.

Eles estavam flutuando, mas a sensação não era de peso ou de leveza, era apenas... vazio. E no entanto, mesmo nesse vazio, uma presença incomparável parecia os observar. Uma consciência antiga, que transcende tudo o que era conhecido. Era como se o Nexus os estivesse engolindo, tornando-os parte de sua essência.

Elyss estendeu a mão para Tang San, como se buscasse uma âncora em meio àquele mar de incertezas.

— O que está acontecendo? — sua voz ecoava, mas parecia se perder na vastidão ao redor. Não havia resposta, apenas o som do vazio.

Tang San apertou sua mão, a conexão entre eles fortalecendo-se à medida que enfrentavam a experiência juntos.

— Eu não sei — ele respondeu, sua voz baixa e focada. — Mas precisamos confiar. Luce nos trouxe até aqui, e agora temos que ir além do que é visível.

De repente, o espaço começou a se distorcer. As luzes e sombras ao redor começaram a formar imagens, fragmentos de momentos e cenas, como se o próprio Nexus estivesse jogando suas memórias sobre eles. As imagens eram rápidas e distorcidas, mas algumas eram nítidas o suficiente para arrancar suspiros de surpresa e dor.

Elyss viu a figura de Ethan, seu rosto marcado por um sofrimento profundo. Ela tentou se aproximar, estender a mão, mas a imagem desapareceu tão rapidamente quanto surgiu. Ela sentiu uma dor aguda no peito, como se a perda dele fosse um peso ainda maior, algo que ela não poderia carregar sozinha.

Tang San observou também, mas suas visões foram diferentes. Ele viu sua infância, a morte de seu pai, a perda de seus companheiros, momentos que o marcaram profundamente. Aqueles momentos de solidão e dor, que ele havia tentado enterrar, agora estavam diante de seus olhos, revivendo as emoções que ele pensava ter superado.

— Isso é o Nexus? — Elyss perguntou, sentindo a tensão crescer. Ela olhou para Tang San, procurando uma resposta, mas ele parecia perdido em seus próprios pensamentos, imerso nas imagens que o Nexus projetava diante dele.

— Sim — ele disse com a voz embargada. — O Nexus não é apenas um portal. Ele é um reflexo de tudo o que somos, de tudo o que fomos e de tudo o que deixamos para trás.

A realidade à sua volta começou a se transformar novamente. As imagens se tornaram mais vívidas, mais intensas. Elyss viu uma versão de si mesma, mais jovem, com um sorriso genuíno no rosto, ainda inocente e cheia de esperanças. Mas, à medida que a imagem se aproximava, ela viu uma sombra à espreita atrás dela, uma figura que a observava com olhos famintos e cruéis.

Era o reflexo de seus próprios medos, o peso das escolhas que ela fizera em sua busca por poder e vingança. Ela sentiu um arrepio percorrer sua espinha, mas, ao olhar para Tang San, encontrou um semblante calmo e decidido.

— Não podemos fugir de quem somos — ele disse, como se entendesse a angústia que ela sentia. — O Nexus nos força a encarar nossas verdades mais profundas.

Elyss fechou os olhos por um momento, sentindo as emoções tumultuadas se acalmarem dentro de si. Ela havia passado tanto tempo tentando afastar seu passado, tentando esquecer as cicatrizes que o poder e a vingança haviam deixado. Mas agora, aqui, ela tinha que confrontar tudo. As escolhas que fizera. As pessoas que machucara. Tudo o que ela havia sacrificado para alcançar seus objetivos.

Luce apareceu, como uma presença que emergia da névoa do Nexus, sua figura esguia e serena. Ele olhou para Elyss e Tang San com uma expressão que parecia compreender as tormentas internas que estavam enfrentando.

— O Nexus não é apenas uma prova física — disse Luce, sua voz reverberando com uma sabedoria infinita. — Ele é a prova da alma. Aqui, o que importa não são as batalhas travadas no mundo físico, mas aquelas travadas dentro de cada um de vocês. Somente enfrentando seus próprios demônios é que poderão chegar ao que procuram.

Elyss sentiu um peso nas palavras de Luce. Ela sabia que essa jornada não era apenas sobre salvar Ethan. Era sobre confrontar suas próprias falhas, os fantasmas de seu passado e as escolhas que a tinham moldado.

Tang San, por outro lado, parecia imperturbável, mas seus olhos demonstravam que ele também estava ciente da magnitude da tarefa diante de si.

— Estamos prontos — ele disse, sua voz firme. — Não importa o que o Nexus nos mostre. Estamos aqui para ir até o fim.

Elyss olhou para ele, sentindo a mesma determinação crescendo dentro de si. Juntos, eles haviam superado tantas adversidades. Não poderiam retroceder agora.

O Nexus começou a se fechar ao redor deles, as imagens fragmentadas diminuindo até que tudo se tornou uma vasta escuridão. Não havia mais luz, nem sombra, apenas a sensação de estar sendo puxado para algo muito maior, muito mais distante.

De repente, uma luz intensa surgiu à frente, um brilho tão puro e forte que cegava tudo ao redor. Elyss e Tang San estenderam as mãos, sentindo o calor da luz envolver seus corpos. Era a passagem final, o fim da jornada, mas também o começo de algo novo. Algo que ainda não podiam compreender completamente.

Eles foram puxados para a luz, e tudo o que puderam fazer foi se agarrar um ao outro enquanto o Nexus os envolvia.