O Peso da Verdade

Mais tarde naquela noite, Minjae chegou em casa. Tudo parecia calmo. Na cozinha, ele pegou um copo d'água, tentando relaxar, até que uma das funcionárias se moveu, hesitante.

Senhor Minjae. .. — disse ela, inquieta. — É sobre a senhorita Jiwon.

Minjae pousou o copo com força na pia, o olhar aguentando.

O que aconteceu?

A funcionária contornou rapidamente. A cada palavra, o sangue dele fervia ainda mais.

Sem pensar duas vezes, Minjae subiu as escadas. Ia tirar satisfações com a mãe. Quando chegou à porta do quarto, chegou a bater, parou. Ouviu a voz do pai do outro lado, em tom grave:

Você merece saber a verdade sobre o Jiwon. Vou te contar tudo.

Minjae congelou. Em silêncio, encostado à parede, o coração batendo acelerado.

Dentro do quarto, Kyungwoo parecia pesar cada palavra.

Mira... — ele começou, respirando fundo, como quem carrega um fardo há anos. — Você se lembra de oito anos atrás, quando eu disse que precisava passar alguns meses fora por causa de um novo trabalho?

Houve um breve silêncio antes de ele continuar.

Acontece que aquele trabalho era algo sujo. Muito pior do que eu imagino. Eu preciso "limpar a sujeira" dos outros. No meu primeiro dia, me levaram até uma casa isolada. Quando entrei, eles me mostraram uma menina... Ela tinha apenas dez anos. Estava ensanguentado, mas ainda vivo.

Kyungwoo fez uma pausa, uma voz embargada.

Eu fiquei em choque. Não sabia o que fazer. Eles me disseram que aquela seria a prova de que eu estava pronto. Perguntei o que queriam que eu fizesse... e eles disseram... que eu deveria matá-la.

Mira, solta um leve suspiro.

Do lado de fora da porta, Minjae fechou os olhos, tentando conter a raiva e o horror.

Eu recusei, é claro — prosseguiu Kyungwoo, a voz cada vez mais falha. — Mas então... eles apontaram uma arma para mim. Disseram que seria ela ou eu. Me entregaram a arma e saíram, esperando que eu resolvesse. E eu tinha que enviar a elas a foto como prova e tinha que inserir a foto e enviar também.

Outro silêncio pesado.

Quando fiquei sozinho, eu não consegui.. .—a voz dele corta. — Era só uma criança. Eu estava apavorado, enojado, e sabia que não conseguiria viver comigo mesmo se a matasse. Até porque eu nunca tinha matado ninguém. Imagina uma criança fracassada e indefesa? Então, tive uma ideia desesperada: peguei tinta vermelha que encontrei na casa e espalhei sobre o corpo dela. Ela estava muito machucada e desmaiada... não foi difícil fazer parecer que estava morta. Tirei uma foto e invejei para eles. Depois, cavei um túmulo falso no terreno e mandei mais uma foto.

Kyungwoo respirou fundo, as palavras pesando como chumbo.

Eu não poderia deixa-la ali. Se descobrissem que ela estava viva, matariam a mim... e também a você e nosso filho. Eu não tinha escolha. — Sua voz falhou, passando as mãos trêmulas pelo rosto. — Peguei Jiwon nos braços, enrolei-a numa manta e corri até o carro. Cada segundo parecia uma eternidade.

Ele engoliu em seco. 

Dirigi até um hospital a quase duas horas dali. O tempo todo olhando no retrovisor, achando que a qualquer momento eles poderiam aparecer... Mas graças a Deus, ninguém nos abalou.

Kyungwoo fechou os olhos, revivendo o terror.

No hospital, os médicos disseram que, apesar da aparência terrível, ela não tinha danos internos graves. Era mais o trauma, os hematomas, a desidratação. Ela só precisa de cuidado... e amor. — Sua voz cortada nessa última palavra. — E eu sabia que não podíamos voltar à antiga vida. Eles poderiam nos encontrar.

Ele suspirou, a culpa transbordando.

Inventei uma história: disse que ela era minha sobrinha, filha de um primo distante que morreu num acidente. Falsifiquei documentos, criei uma nova identidade para ela. E sugeri que nos mudássemos para Busan... Fingindo que era por um novo emprego no porto. Na verdade, era para nos esconder.

Kyungwoo chamou os olhos para Mira, cujo rosto agora tremia de raiva e mágoa.

O quarto mergulhou num silêncio sufocante.

De repente, Mira se lançou contra ele, golpeando o peito de Kyungwoo com os punhos cerrados, chorando desesperadamente.

—POR QUE?! — significativamente, as lágrimas correndo pelo rosto. — Por que se meteu nisso? Por que não me contou? Eu era sua esposa, seu porto seguro! — ela soluçava, batendo mais uma vez contra ele. — Você me fez odiar uma criança inocente! Uma criança que só precisa de amor! — sua voz se despedaçou. — Eu me sinto um monstruoso! Eu... eu...

Ela caiu de joelhos no chão, abraçando o próprio corpo, dominada pela culpa.

 Kyungwoo se ajoelhou rapidamente ao seu lado, segurando-a com ternura..

Perdoe. . — ele sussurrou, a voz rouca de remorso. — Eu só queria proteger você... proteger nossa família. Achei que estava fazendo certo...

Mira soluçava, sem conseguir se conter.

— Tudo que ela queria era ser amada. .. — murmurou entre lágrimas.

— Não podemos contar isso ao Minjae, não agora. Por favor! 

Kyungwoo abriu o peito, carregando o peso dos próprios pecados.

Minjae, parado do lado de fora da porta, sentiu cada palavra como uma faca cravada no peito.

O soluço da mãe cortou-o ainda mais fundo. Inclinando-se contra a parede, as mãos trêmulas, ele fechou os olhos, tentando conter as lágrimas.

Fechou os olhos, tentando conter as lágrimas que surgiam.

Desde o primeiro momento que a viu — pequena, assustada, com aqueles olhos grandes e tristes —, ele soube. Mesmo sem entender, ele se sentiu.

Era ela. Era uma pessoa que ele queria proteger para sempre.

Minjae encostou a testa na porta, os punhos cerrados, a respiração pesada. "E agora... ela sofreu de novo. E era culpa deles".

Um turbilhão de sentimentos explodindo dentro dele.

Ele respirou fundo, enxugando o rosto com a manga da camisa.

Uma decisão crescida dentro dele como uma chama: faria qualquer coisa para examiná-la. Qualquer coisa.

Silenciosamente, retire-se da porta, o coração consumido por uma nova determinação.

Enquanto isso, Jiwon caminhava sem rumores, as lágrimas embaçando sua visão e o frio cortando sua pele.

Sentou-se no banco frio da praça de Gwangalli, parecendo ainda menor diante da imensidão cinza do céu. Abraçava os próprios braços, encolhida, querendo desaparecer. A baixa cabeça, o peito doía, os pensamentos giravam desordenados.

O tempo parecia ter parado. Tudo que ela ouvia era sua respiração trêmula e o som distante das ondas quebrando na praia.

De repente, um par de sapatos surgiu à sua frente. Jiwon notou pela visão periférica, mas não se moveu.

Uma mão estendeu-se, oferecendo-lhe um copo de café quente. O vapor subia suavemente, aquecendo o ar gelado ao redor.

Com o coração batendo forte, Jiwon falou os olhos, devagar, seguindo o movimento da mão até encontrar o rosto de quem lhe oferece conforto.

Seus olhos se arregalaram levemente. Era Park Seojun, o professor substituto.

No instante em que seus olhares se cruzaram, o céu pareceu estremecer. Pequenos flocos de neve caíram no chão, macios e silenciosos, como um presente inesperado.

Era a primeira neve do ano, descendo devagar, abençoando aquele momento.

Sob a dança lenta dos primeiros flocos de neve, algo invisível e profundo escrito entre eles — algo que nenhuma palavra poderia descrever.