Capítulo: As Sombras de Lois
Cena: Apartamento de Lois e Clark, Metrópolis, Madrugada de Sábado
A cidade de Metrópolis dormia sob um véu de estrelas, mas no apartamento de Lois Lane e Clark Kent, o silêncio era pesado. Lois estava sentada no sofá, envolta em um cobertor, com uma caneca de chá intocada na mesinha à sua frente. A luz suave da lua entrava pela janela, iluminando seu rosto, onde lágrimas silenciosas deixavam rastros. Ela não chorava com frequência
— Lois Lane era feita de aço, ou pelo menos era o que todos pensavam. Mas naquela noite, algo dentro dela havia rachado. Clark, ainda acordado, saiu do quarto ao ouvir o leve som de um soluço abafado. Ele se aproximou com cuidado, sem o uniforme de Superman ou os óculos de Clark Kent, apenas como o homem que a amava.
Sentou-se ao lado dela, sem dizer nada, apenas oferecendo sua presença.“Lois,” ele finalmente falou, a voz suave como uma brisa, “o que está acontecendo? Você não está bem desde Atlântida. Ou... antes disso. Fala comigo.
”Lois enxugou o rosto com as costas da mão, tentando sorrir, mas o gesto saiu frágil. “Não é nada, Clark. Só... uma noite ruim. Você não precisa se preocupar.”Clark inclinou a cabeça, os olhos cheios de preocupação. “Você enfrentou lobos holográficos, rebeldes atlantes e até o Homem-Brinquedo sem piscar. Mas isso não é uma aventura, Lois.
É você. E eu sei que algo está te machucando.”Ela olhou para as mãos, apertando o cobertor. Por um momento, o silêncio voltou, pesado como o oceano que ela viu em Atlântida. Então, com a voz trêmula, ela começou a falar.“Às vezes, sinto que estou correndo sem parar, Clark.
Como se cada história, cada furo, fosse uma forma de provar que eu sou... suficiente. Mas ultimamente, não importa o quanto eu escreva, o quanto eu veja — Atlântida, Metrópolis, você voando pelo céu
—, parece que falta algo. E eu não sei o que é. Ou talvez eu saiba, e só não quero admitir.”Clark segurou a mão dela, esperando. Ele sabia que Lois precisava de espaço para deixar as palavras saírem no seu próprio tempo.“Quando eu era criança,” ela continuou, “meu pai... o General Lane... ele sempre deixou claro que eu precisava ser a melhor.
Não era só sobre ser boa, Clark, era sobre ser perfeita. Ele queria um filho que fosse um soldado, não uma filha que sonhava em contar histórias. E mesmo agora, depois de tudo
— Pulitzer, o Planeta Diário, você
—, às vezes ainda ouço a voz dele na minha cabeça, dizendo que eu não fiz o suficiente.
Que eu não sou o suficiente.”Ela fez uma pausa, os olhos marejados. “E tem mais. Ver você e Kara, com esses poderes, salvando o mundo... eu me sinto pequena às vezes. Não porque eu não te amo ou porque não acredito no que faço.
Mas porque, no fundo, me pergunto: o que eu, Lois Lane, posso oferecer ao lado de um kryptoniano? Um artigo? Uma manchete? Às vezes, parece que estou só...
gritando no vazio.”Clark apertou a mão dela, o coração pesado. Ele sempre viu Lois como a mulher mais forte que conhecia, mas agora entendia que até o aço podia carregar rachaduras invisíveis. “Lois, você não é pequena. Nunca foi.
Você é a pessoa que me faz querer ser melhor, não como Superman, mas como Clark. Você vê o mundo de um jeito que eu nunca vou ver, porque você luta por ele com palavras, com coragem, com verdade. E isso é mais poderoso do que qualquer superforça.”Lois deu um riso fraco, enxugando outra lágrima.
“Você sempre sabe o que dizer, Smallville. Mas não é só isso. Tem outra coisa... algo que eu não contei pra ninguém.”Ela hesitou, o peso da confissão visível em seus ombros. “Depois de Atlântida, comecei a pensar sobre o futuro. Sobre nós. Eu te amo, Clark, mais do que qualquer coisa.
Mas você é praticamente imortal. E eu... eu sou humana. Um dia, vou envelhecer, vou...” Ela parou, a voz falhando. “E você ainda vai estar aqui, jovem, voando, salvando o mundo. E eu fico pensando: como vamos lidar com isso? Como eu lido com isso?”Clark ficou em silêncio por um momento, processando a dor nas palavras dela.
Ele nunca havia falado abertamente sobre sua longevidade kryptoniana, mas sabia que era uma sombra que pairava sobre eles. “Lois,” ele disse, puxando-a para um abraço, “eu não sei o que o futuro reserva. Mas sei que cada momento com você vale mais do que uma eternidade sem você. Não importa o que aconteça, vamos enfrentar isso juntos. Como sempre fizemos.”Lois se permitiu relaxar no abraço, mas a tristeza ainda estava lá, como uma corrente submarina.
“Eu só... preciso de um tempo pra entender isso tudo, Clark. Não quero que você ache que estou desistindo, porque não estou. Mas às vezes, sinto ele — esse vazio. E não sei como preenchê-lo.
Cena: Cobertura do Planeta Diário, Amanhecer Na manhã seguinte]
Lois insistiu em ir trabalhar, mesmo com Clark sugerindo que ela tirasse o dia para descansar.
No telhado do Planeta Diário, ela encontrou Kara, que havia prometido passar para “um café e uma fofoca”. Kara, com seu jeito leve, notou imediatamente o peso nos olhos de Lois.“Ok, Lois, sem rodeios,” disse Kara, entregando um copo de café. “Você tá com cara de quem enfrentou o Lex Luthor e perdeu. O que tá rolando?”Lois hesitou, mas algo na energia de Kara
— tão jovem, tão cheia de vida
— a fez se abrir.
Ela contou tudo: as inseguranças sobre seu valor, o eco das expectativas do pai, o medo do futuro com Clark. Kara ouviu em silêncio, seus olhos azuis cheios de empatia.“Quer saber?” disse Kara, quando Lois terminou. “Eu também me sinto pequena às vezes. Sou uma kryptoniana, mas cresci em um planeta que não era meu, tentando entender quem eu sou. E você, Lois, me inspirou desde que te conheci.
Você não tem superpoderes, mas enfrenta o mundo com uma coragem que eu invejo. E sobre o futuro com Kal... ninguém tem todas as respostas. Mas vocês têm agora. E isso é o que importa.”Lois sorriu, tocada pela sinceridade de Kara. “Você é boa nisso, sabia? Talvez devesse ser repórter.”Kara riu, balançando a cabeça. “Deixo isso pra você. Mas, ó, se precisar de uma amiga pra voar por aí e desabafar, eu sou sua garota.
”Cena: Redação do Planeta Diário, Tarde De volta à redação]
Lois sentou-se à sua mesa, o caderno aberto. Ela ainda sentia o vazio, mas as conversas com Clark e Kara haviam acendido uma pequena faísca. Talvez a resposta não estivesse em preencher o vazio, mas em aceitá-lo como parte de quem ela era. Ela pegou a caneta e começou a escrever
— Não um artigo, mas algo pessoal, um diário.“Hoje, me permiti ser vulnerável,” escreveu. “E descobri que não preciso ser perfeita para ser suficiente. Sou Lois Lane, e isso é o bastante.”Enquanto escrevia, Clark se aproximou, colocando uma xícara de café fresco na mesa. Ele não disse nada, apenas sorriu, e Lois sentiu um calor que não vinha do café.
O vazio ainda estava lá, mas pela primeira vez em dias, ela sentiu que poderia enfrentá-lo.