Min Jun-ho odiava ser tocado.
A mão dela mal encostou em seu ombro, e o arrepio de repulsa foi instantâneo.
— Não faça isso de novo. — A voz dele era fria.
Era o herdeiro mais novo da família Min, um império construído entre acordos legais e execuções silenciosas. Seu clube era o único território que ele realmente chamava de seu. Mesmo assim, nem ali conseguia respirar em paz.
A mulher recuou, sem graça. Era a diretora financeira da MJ Transport e claramente achava que isso dava passe livre pra invadir o espaço dele.
— Tenho 38, Jun-ho. Ainda posso me divertir, sabia? — disse, tentando um charme.
— Divirta-se à vontade. Só mantenha suas mãos longe de mim.
Ela riu, desconcertada, mas tentou se sentar ao lado dele. Jun-ho ignorou. Preferia observar as dançarinas, não por desejo, mas por respeito. Admirava a dedicação delas. Cada uma ali era impecável: bonitas, simpáticas, confiantes. E, o mais importante, respeitavam seus limites.
— Você é bem bonito, Min... — a mulher insistiu.
— Já deu, Kim. — O tom dele endureceu. — Eu não tô interessado.
Ela deslizou a mão pelo braço dele.
— Tô só curiosa sobre os boatos...
— Segurança. — A palavra saiu firme, seca.
O guarda chegou como se já estivesse esperando.
— Senhorita Kim, peço a senhora se retire. E não volte.
Ela arregalou os olhos, incrédula. Jun-ho só assentiu. Em breve, ela estaria demitida.
Limites existem por um motivo. Ele não odiava a curiosidade das pessoas, odiava quando ignoravam avisos.
Jun-ho levantou e foi direto ao banheiro. Lavou o braço como se estivesse removendo uma mancha invisível, esfregando até a pele arder. Só parou quando a sensação passou.
"Eles nunca escutam. Não importa o quanto eu seja claro."
Quando voltou, cruzou o olhar com uma das dançarinas. Ela sorria com timidez. Era bonita. Profissional. Mas, acima de tudo, sabia manter distância. Por isso ele gostava dela. Ela existia ali, no palco. Só ali. E bastava.
No fim do corredor, um homem o esperava.
— Deseja que eu dirija, senhor?
— Não. Vou sozinho.
— É uma cobrança. Lembre-se que não precisa usar força...
— Você acha que eu não sei avaliar uma situação? Posso até perdoar a dívida se achar necessário.
— Seu pai não vai gostar disso.
— Então ele pode descontar do seu salário.
O silêncio do segurança respondeu por si. O velho Min só se importava com números batendo certo. O resto, que se dane.
Na casa do devedor, o cenário era quase cômico. Kim Soo, endividado até o pescoço, esbanjava com a noiva como se fosse bilionário. Flores, jantares caros, alianças ridículas. Uma afronta.
Jun-ho não precisava usar violência. Bastava pegar o anel de noivado como garantia. Era o bem mais valioso que o idiota possuía no momento. Mas usou. E o problema foi resolvido.
Voltando pro clube, o celular tocou. Mãe na linha.
— Marquei um encontro pra você amanhã, meu filho! Ela é uma moça ótima.
— Eu disse para parar com esses encontros.
— É só um jantar, você deve ir. Vai que você se apaixona?
Jun-ho suspirou.
— Claro, mãe. Obrigado. — Ele disse, mesmo sabendo que seria só mais uma perda de tempo.
Ele não tinha libido. Nunca teve.
O toque físico repelia, causava náusea. Já tentou. Tentou tanto que foi traído. Humilhado. A vergonha destruiu o que restava da sua reputação , nunca imaginou que isso poderia ser um obstáculo tão grande e os pais ainda exigiam que se ele queria ser o sucessor da Golden... deveria achar, primeiro, “o amor verdadeiro”.
Como se ele fosse o protagonista de um conto de fadas torto.
Faltava um quarteirão pro clube quando um vulto atravessou a rua. Rápido demais.
Jun-ho freou no reflexo. O carro parou a centímetros do rapaz, que caiu de cara no chão.
A multidão começou a se formar. Celulares erguidos. Merda. Atropelar alguém pioraria tudo.
Desceu do carro rápido, antes que filmassem demais.
— Tá vivo?
— Vivíssimo! Quase morri, hein? Você foi rápido. — O garoto sorriu, bêbado, tropeçando nas palavras.
— Você é idiota? Por que atravessou assim?
— Pra chegar do outro lado. — respondeu, sério. Depois tombou de novo, se apoiando nele.
— Não encosta em mim. — Jun-ho recuou. O outro caiu de novo, rindo.
— Ah, relaxa... você veio me buscar, né? Eu te chamei!
— Você não me chamou porcaria nenhuma. Eu não sou motorista de aplicativo.
O rapaz virou o rosto. Cabelos pretos caíram pro lado, revelando o rosto. Jun-ho arregalou os olhos.
— Park Salin?
O garoto piscou, meio aéreo.
— Eu?