Capítulo 11 – Espelhos Quebrados

A Torre Negra não parecia uma construção.

Era como se o tempo tivesse derretido uma montanha e deixado só o vazio.

Seus degraus afundavam no chão como dentes, e o ar ao redor era feito de vapor frio e sussurros.

Velka e eu não dissemos nada enquanto entrávamos.

A porta se fechou atrás de nós por vontade própria.

O interior era escuro, mas não por falta de luz. Era como se a própria torre quisesse que não víssemos nada além do que ela mostrasse.

— Estamos separados — ouvi a voz de Velka desaparecer à distância. — Akira?!

Tentei correr, mas meus pés afundaram. O chão virou líquido. Um espelho.

Então eu vi.

Minha mãe.

Viva.

Estava ajoelhada, suja, chorando... segurando o corpo ensanguentado de alguém. Um homem.

Meu pai.

— Isso... não é real.

Mas era.

A torre me mostrava o que mais queria esquecer.

— Você nos deixou morrer — disse a ilusão com a voz da minha mãe. — E agora carrega o sangue daquele que destruiu tudo.

A cena se quebrou.

Cacos de vidro caíram do teto e formaram outra imagem.

Caos.

Sentado no trono de espinhos, olhando diretamente para mim.

— Você está me sentindo, não está?

— Saia da minha cabeça.

— Eu sou sua cabeça.

Avancei. Tentei cortar a imagem. Mas cada golpe abria mais cenas.

Eu, criança, gritando por ajuda.

Velka, em uma cela, sendo marcada.

Um campo em chamas.

Pessoas que eu matei.

Pessoas que me amaram e eu não salvei.

Comecei a gritar. As vozes não paravam.

Até que senti.

Uma mão.

Real.

— Akira. Ei... olha pra mim.

Velka.

— Como...?

— Eu te ouvi gritar. Segui sua dor. — Ela me segurou forte. — Você não está sozinho nisso.

— Eu vi tudo. Minha mãe. Meu pai. Caos... ele tá dentro de mim.

— E eu também estou. Não vou te deixar ser engolido por ele.

Ela me puxou para perto. Nossos corpos colidiram como fogo e tempestade. Não nos beijamos. Não precisávamos. O toque, o calor, o choro dela contra meu ombro... era amor.

Cru, quebrado, imperfeito.

Mas real.

— Se eu me perder — sussurrei — me mata.

— Não. Eu vou te encontrar. Mesmo que tenha que atravessar mil infernos.

A torre começou a tremer.

Os espelhos se despedaçaram.

No centro da sala, um selo de pedra brilhou em vermelho — rachando.

Primeira corrente... quebrada.

Mas nós ainda estávamos de pé.

Juntos.