Capítulo 18 – Entre Sombras e Suspiros

O campo estava em silêncio.

Depois do ataque da Ordem da Névoa, não houve mais investidas. Só o som do vento e o farfalhar das árvores. Mas sabíamos... aquilo era só o começo.

Ryujin intensificou os treinos, mas havia uma tensão no ar — como se algo maior estivesse sendo costurado nas trevas, esperando o momento certo para cair sobre nós.

Naquela noite, o céu estava claro. A lua banhava tudo com um brilho pálido, quase melancólico. Velka e eu nos afastamos da fogueira, sem combinar nada. Só... andamos.

— Você parece mais quieto ultimamente — ela comentou.

— Estou pensando.

— Sobre ele?

Assenti.

— Caos. A dimensão. O que ele quer de mim... e o que está dentro de mim.

Ela caminhou ao meu lado, os cabelos brancos balançando ao vento.

— Você não é ele, Akira.

— Mas parte de mim é. Ele disse isso. Ryujin confirmou. Eu sinto... como se uma besta estivesse crescendo dentro de mim. Uma que quer destruir tudo.

Velka parou. Ficou em silêncio por um tempo. Depois, disse:

— Então deixe que eu segure essa parte, se ela tentar escapar. Eu estou aqui, Akira.

A forma como ela disse aquilo… firme, decidida.

Meu peito apertou.

Olhei para ela. Para os olhos cinzentos que já viram morte demais, dor demais... e ainda assim tinham espaço para mim.

— Por que você faz isso?

Ela sorriu. Triste.

— Porque desde que te conheci, você nunca fugiu. Nem da dor. Nem de mim.

O silêncio voltou, mas era diferente. Tinha peso. Tinha calor.

Me aproximei.

— Eu não sou bom nisso. Sentimentos. Palavras certas.

— Eu sei — ela riu de leve.

— Mas… se você quiser... pode ficar. Mesmo que tudo piore.

Ela estendeu a mão, encostando na minha.

— Já estou aqui, Akira.

Ficamos ali. Sem beijos. Sem promessas vazias. Só duas almas quebradas dividindo o mesmo fardo.

A lua nos observava.

A Ordem da Névoa nos vigiava.

E no fundo da realidade, Caos sorria.